quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Diretor diz que aluno ideal de Odontologia deve gostar de conversar, ouvir e explicar

Cris Olivette, de O Estado de S. Paulo

De acordo com o diretor do curso de Odontologia da Universidade Paulista (Unip), Carlos Allegretti, o objetivo do curso é formar profissionais generalistas, com uma visão humana e reflexiva, para que possam atuar tanto na área de saúde básica quanto na pesquisa.

"O perfil ideal do aluno para que ele seja um bom profissional é ser curioso, interessado e humano, gostar de conversar, ouvir e explicar. Também estimulamos que os alunos sejam críticos e questionadores", diz.

Segundo o diretor, a promoção da saúde é enfatizada durante todo o curso porque várias doenças têm reflexo na boca e podem ser diagnosticadas por um bom profissional.

O estágio é obrigatório para obter a graduação e 20% da carga horária é dedicada a ele. Na Unip, o período de aprendizado é feito na sua clínica odontológica e em visitas mensais a comunidades carentes.

"Duas vezes por semestre, os alunos fazem atendimento comunitário em outras cidades, a partir de convênios firmados com prefeituras. Usamos um ônibus equipado com dois consultórios", explica Allegretti.

Os recém-formados em odontologia podem fazer concurso para trabalhar em hospitais públicos, unidades básicas de saúde (UBS) ou na área administrativa desses locais. Também podem seguir carreira como pesquisadores, atuar em clínica odontológica, ou abrir seu próprio consultório.

ITINERANTE

Carlos Allegretti
Diretor do curso de Odontologia da Unip

“Os alunos fazem atendimento comunitário em outras cidades duas vezes por semestre, conforme convênio com as prefeituras. Nessas ocasiões, usamos um ônibus equipado com dois consultórios.”

ODONTOLOGIA


Salário inicial
R$ 3 mil

Duração do bacharelado
4 ou 5 anos

Disciplinas
Cirurgia, saúde coletiva, dentística, endodontia, fisiologia, anatomia, patologia, implantodontia, ortodontia e ortopediatria


ARTIGO: 'Para que devem ser formados os novos engenheiros?'

Médicos e advogados escapam da especialização precoce imposta aos engenheiros, que impede a formação de profissionais capazes de inovar



Roberto Leal Lobo e Silva Filho - Ex-reitor da USP e presidente do Instituto Lobo para Desenvolvimento da Educação, Ciência e Cultura

A Engenharia é um fator determinante para o desenvolvimento econômico das nações. Cada vez mais a criação e a produção de bens de grande valor agregado fazem a diferença na balança comercial do mundo globalizado. A capacidade de inovação depende de vários fatores, entre eles a existência, quantidade e qualidade de profissionais de Engenharia. Com a rápida evolução da tecnologia e a consequente obsolescência das existentes, a formação do engenheiro deve privilegiar os conteúdos essenciais, ensinando-o a se adaptar rapidamente aos novos conhecimentos e técnicas.

Por essa razão, a pulverização de especialidades estanques não é uma política profissional desejável. Além da necessidade de revisão dos currículos e das formas de integrar os conhecimentos científicos, tecnológicos, econômicos e mercadológicos, é preciso estabelecer uma nova política para o corpo docente das faculdades de Engenharia, associando a formação acadêmica avançada à experiência prática dos melhores profissionais do mercado, criando condições para uma coexistência altamente produtiva.

A INOVAÇÃO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO


Em junho de 2008, durante sua 32ª reunião, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas (Cepal/ONU), que aconteceu em Santo Domingo na República Dominicana, recomendou em seu estudo “A Transformação Produtiva 20 Anos Depois” a inovação como um dos pontos chaves para o desenvolvimento da América Latina e do Caribe.

O estudo destacava a relevância do setor público para impulsionar o processo de inovação, que seria reforçado em cada região da América Latina e do Caribe de acordo com a etapa de desenvolvimento, a importância dos recursos naturais e da estrutura produtiva de cada uma.

Para isso, a Cepal considerava essencial o desenvolvimento de uma cultura de inovação - que permitisse criar e aproveitar oportunidades sem a necessidade de transitar por caminhos já percorridos - e a capacidade de detectar e fazer bom uso das
oportunidades que o mundo já oferecia, ou viria a oferecer, permitindo o aprendizado a partir das experiências e avanços de outros países.

De lá para cá, só cresceu o consenso sobre o papel fundamental da inovação no desenvolvimento econômico das nações.

A inovação é um processo complexo que exige grande interação social, estoque de conhecimento acumulado, gestão específica e injeção de capital. Segundo W. Brian Arthur, em “The Nature of Technology”, as novas tecnologias
aparecem pela combinação de tecnologias já existentes e, portanto, pode-se dizer que as tecnologias existentes geram as novas tecnologias.

As novas tecnologias, depois de algum tempo, se tornam possíveis componentes - como se fossem tijolos - para a construção de tecnologias ainda mais novas. As tecnologias se criam por si mesmas e de si mesmas. É um modelo de evolução combinatória.

A evolução da tecnologia depende, também, e fundamentalmente, dos novos conhecimentos a respeito dos fenômenos naturais. É o conhecimento científico (que está ligado às ciências naturais) que embasa parte do desenvolvimento tecnológico, sendo o principal responsável pelas novas invenções.

A inovação tecnológica depende, portanto, das tecnologias existentes, das demandas sociais (uma vez que a tecnologia se caracteriza por atender a um mercado demandante e à cultura de um povo que exige maior qualidade e inovação dos produtos ofertados) e do estoque de conhecimentos científicos disponível.

Para entender e padronizar o que chamamos aqui de “inovações tecnológicas”, é preciso definir tecnologia. Uma definição possível e aceita é a elaborada pelo próprio Brian Arthur:

“Tecnologia é uma coleção de componentes e práticas disponíveis a uma cultura que têm o objetivo de atender a uma demanda humana. As tecnologias consistem de partes que compõem um sistema organizado de componentes, ou módulos. Neste sentido, tecnologia é uma forma de organizar e utilizar fenômenos para uso humano.”

Como aponta Brian, as demandas da sociedade criam exigências e mercados que estimulam o uso da tecnologia e a própria inovação tecnológica. Por isso, sociedades mais cultas e exigentes tendem a fazer com que novas tecnologias surjam com mais frequência em seu próprio benefício.

Quanto maior o estoque de tecnologia, mais provável é para uma sociedade gerar mais e novas tecnologias. O mesmo se dá com o domínio por parte da sociedade dos conhecimentos sobre a natureza.

Mecanismos que facilitem a comunicação entre os conhecimentos da natureza e os desenvolvedores de tecnologias, tanto quanto entre estes e as demandas sociais, são mecanismos fundamentais para a produção de novas tecnologias.

Se não houver uma forte e eficaz ligação entre estes segmentos, o desenvolvimento tecnológico é imensamente prejudicado. Não basta inflar com projetos e recursos os círculos relativos aos conhecimentos da natureza e às demandas sociais: é preciso alargar as conexões entre estes círculos e o estoque de tecnologia.

Não sendo a inovação tecnológica mera aplicação da ciência - uma vez que ela precisa não só do conhecimento científico, mas do próprio estoque de tecnologia existente, da demanda social, com seus aspectos econômicos e comerciais, e dos fluxos entre estes três componentes - investir somente em ciência não faz com que a geração de inovação prospere.

É na oxigenação permanente e na ligação eficaz entre os três componentes (conhecimentos da natureza, as demandas sociais e estoques de tecnologia) que se efetiva a geração da inovação.

A INOVAÇÃO NO BRASIL


O volume e a qualidade da inovação no Brasil têm sido motivo de preocupação e do desenvolvimento de vários programas para colocar o País em posição mais competitiva em relação ao mercado internacional.

A inovação deve ser um objetivo relevante da política industrial, tecnológica e de comércio exterior de qualquer país na medida em que as empresas que inovam dão uma contribuição maior para o seu desenvolvimento econômico. Tanto no Brasil como em outros países observa-se que as empresas inovadoras crescem mais e são mais bem-sucedidas do que as que não inovam.

Entretanto, a grande maioria das inovações no Brasil é nova para a firma, mas não para o mercado, pois predominam na economia brasileira processos de difusão de tecnologia: compra-se a tecnologia inovadora já pronta e repassa-se ao novo mercado, ou seja, a forma mais frequente de inovação é incentivada por aquisição de novas máquinas, ou da tecnologia incorporada que está contida em equipamentos prontos, como bens de capital, matérias primas intermediárias e componentes.

Entre as duas estratégias possíveis de inovação - inovar em produto, ou inovar em processo - já está estudado que a inovação de produto se mostra superior. Há, também, um elo mais positivo entre inovação de produto e crescimento do emprego.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), “Inovações, padrões tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras” (2005), aponta, por um lado, dois problemas inter-relacionados da indústria brasileira que são: a baixa taxa de inovação e a predominância, entre os inovadores, da inovação de processo.

As empresas brasileiras que inovavam e diferenciavam os produtos representavam somente 1,7% da indústria brasileira, mas eram responsáveis por 25,9% do faturamento industrial e por 13,2% do emprego gerado.

O fato de que as commodities primárias representavam 40% do total das exportações brasileiras, os produtos de baixa intensidade tecnológica representavam, aproximadamente, 18% da pauta e os produtos de média e alta intensidade tecnológica chegavam a um pouco mais de 30%, já eram reflexos da pouca inovação de produtos no Brasil.

Para uma comparação, é importante citar que, no mundo, 60% dos produtos exportados já eram de média e alta intensidade tecnológica e a participação de commodities na exportação representava apenas 13%.

Embora o Brasil tenha procurado, nos últimos anos, incentivar a inovação por meio de algumas políticas, as estruturas educacional, jurídica, tributária, econômica e empresarial não têm favorecido a comercialização competitiva, nacional e internacionalmente, de nossos produtos, que quase não são inovadores.

A expansão de mercados globais - com o aumento da concorrência internacional por bens e serviços em cenários de inovação contínua - provoca efeitos negativos crescentes na agregação de valor econômico e empregos especializados no Brasil.

Se o Brasil tem apresentado um fraco desempenho no que diz respeito à inovação, é preciso destacar que os engenheiros serão parte de vital importância para a melhoria desse quadro.

A INOVAÇÃO E AS ENGENHARIAS


O Brasil vem se projetando internacionalmente e seu desenvolvimento (e potencial de crescimento) permitiu que fosse incluído na sigla criada em 2002 em referência aos quatro maiores mercados emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China) que caracterizou o grupo conhecido como BRIC.

No mundo real, há, no entanto, indicadores de sobra que colocam o Brasil abaixo da média dos demais países do BRIC, entre eles, o número de novos engenheiros formados por ano. Essa é uma má notícia diante do inegável fato de que a força da Engenharia em um país está estreitamente ligada à sua capacidade de inovação tecnológica e competitividade industrial.

Há vários anos, estudiosos das condições necessárias para o crescimento nacional se preocupam com o gargalo representado pela pequena proporção de estudantes de Engenharia nas matrículas de graduação do sistema nacional de ensino.

Acrescenta-se a essa realidade a alta evasão de alunos nos dois primeiros anos dos cursos de Engenharia e, consequentemente, a baixa quantidade de egressos, a modesta produção de trabalhos científicos com impacto internacional na área e o irrisório número de registros de patentes de inovação tecnológica e teremos a consciência de que a cultura da inovação no Brasil não é uma realidade.

Dos países do BRIC, o Brasil é o que menos forma engenheiros por ano. Apesar do crescimento recente ainda eram formados (pelo último Censo do MEC/INEP - 2009) somente 38 mil Engenheiros (com indicador de 20 engenheiros por 100.000 habitantes), enquanto a Índia formava 220 mil (sete vezes mais e com indicador de 18 engenheiros por 100.000 habitantes), a Rússia 190 mil (seis vezes mais e com indicador de 136 engenheiros por 100.000 habitantes) e a China 650 mil (dezessete vezes mais, com indicador de 50 engenheiros por 100.000 habitantes, incluindo os cursos de três anos).

Ainda que as populações destes países sejam diferentes, as discrepâncias ficam ainda mais palpáveis ao se comparar a percentagem de Engenheiros formados em relação ao total de concluintes no ensino superior.

Segundo a OECD, a média dos países é de 14%, sendo que no Japão essa percentagem é de 19% dos formados, na Coréia é 25% e na Rússia é de 18%. No Brasil só cerca de 5% dos concluintes estavam em 2009 nas áreas de Engenharia. Esse dado é considerado um bom indicador para analisar a vocação e o incentivo que cada país dá para a inovação tecnológica.

Embora estes números sejam aproximados, visto que o conceito e os critérios da formação do engenheiro - duração do curso, pertinência das especialidades para a inovação, etc. - não obedecem a critérios homogêneos nos diferentes países, o resultado final não deixa de ser a comprovação de que estamos atrasados, o que é preocupante para o Brasil.

Consequência direta dessa situação é a produção científica brasileira na área de Engenharia, que é muito inferior aos demais países do BRIC, realidade agravada pela deficiência da formação científica da média dos engenheiros brasileiros.

O mesmo ocorre no Brasil em relação às patentes. Os principais centros internacionais apontam registros de patentes brasileiras em patamar muito aquém dos demais países do BRIC. Conforme o WIPO Statistics Database de 2008, o Brasil detinha, em 2007, o registro de 397 patentes, contra 28.085 da Rússia (a maioria registrada na própria Rússia, somente 580 fora da Rússia), 5.206 da China e 2.808 da Índia.

Embora em alguns casos, questões de natureza comercial e de estratégia de negócios possam explicar a diminuição das patentes do Brasil em relação aos demais países, o importante é demonstrar que, mesmo a partir de uma interpretação cuidadosa, é óbvia a grande defasagem brasileira nesse indicador frente aos nossos principais competidores diretos.

Quando se faz uma projeção, levando-se em conta os dados nacionais a respeito da formação de engenheiros e sua correlação direta com esse grupo de indicadores de resultado, verifica-se a tendência de aumento dessa defasagem, o que se configurará em um gargalo de alta repercussão em vários outros setores da economia brasileira.

Em relação ao Índice de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, revisto anualmente, a posição do Brasil vem se alterando da seguinte forma: 66° posição em 2006-2007 (entre 127 países), 72° em 2007-2008 (entre 131 países), 64° em 2008-2009 (em 131 países). A conclusão do estudo é que o Brasil se manteve mais ou menos estagnado. No Índice de Prontidão Tecnológica do Fórum Econômico Mundial, o Brasil
ocupava a 59° posição entre 175 países.

Entretanto, o Brasil alcançou o status, também em 2009, de 8ª economia do mundo, de acordo com a consultoria britânica CEBR, graças aos produtos primários e às commodities, o que trará repercussões no nosso desenvolvimento futuro.

A FORMAÇÃO DO ENGENHEIRO E A INOVAÇÃO


Engenheiros e profissionais da área tecnológica são formados para atender a demandas da sociedade onde estes conhecimentos e práticas são indispensáveis.

Na antiguidade, as técnicas artesanais eram reservadas aos escravos, enquanto os cidadãos dedicavam-se ao desenvolvimento do conhecimento mais abstrato, ao treinamento para a guerra, ou para o esporte e o lazer.

A habilidade do artesão, que era chamada techné na Grécia antiga, não se baseava em uma metodologia científica, mas era alicerçada na experiência, na melhoria dos processos e no uso de materiais gerados por cada artesão que transmitia esses
ensinamentos aos mais jovens.

Os estudos das ideias de Platão, ou da natureza e da política por Aristóteles ou, ainda, da retórica e da dialética pelos sofistas não contemplavam a techné, uma vez que a utilidade prática e materialista do conhecimento não era objeto de seus estudos.

Até a Idade Média a técnica ainda não era considerada como uma atividade humana socialmente respeitável. Sua evolução se dava, ainda e em grande parte, por tentativa e erro.

Com o Renascimento e o Iluminismo, a importância da busca da explicação racional para todos os fenômenos e atividades fez com que as técnicas, até então totalmente empíricas, fossem analisadas, metodologicamente, à luz dos conhecimentos científicos da época.

Surge daí a tecnologia, isto é, a techné (técnica) aliada ao logos (razão). Já não bastava, portanto, saber que uma ponte construída de certa maneira não cairia, mas sim a razão pela qual ela se sustentava, o que permitia criar modificações caso fossem alteradas as condições do terreno, dos materiais de construção ou da carga a ser suportada.

Por outro lado, é importante ressaltar a criatividade dos construtores antigos, que eram capazes de inovar e buscar novas soluções para desafios emergentes mesmo sem contar com uma base científica que respaldasse este progresso.

A tecnologia, desenvolvida muitas vezes empiricamente, foi posteriormente justificada pela ciência, assim como novas tecnologias provocaram o desenvolvimento da ciência, principalmente nas áreas experimentais. Desde o Renascimento há um importante diálogo entre a ciência e a tecnologia. Na verdade, a grande diferença entre a ciência e a tecnologia está relacionada ao seu objetivo: a tecnologia busca a utilidade e a ciência, o puro conhecimento.

Resumindo, a tecnologia poderia ser entendida como o conhecimento aplicado à criação de utilidades. Por esta razão, a tecnologia não deve ser entendida como ciência aplicada, uma vez que ela pode avançar onde a ciência estacionou e, até mesmo, criar desafios para a ciência do momento. Ciência e tecnologia se desenvolvem em conjunto, mantendo uma interação dialética de grande importância para ambas.

A tecnologia não se resume ao domínio de técnicas, ela envolve conhecimentos e atributos que estão nas pessoas. Por isso a cultura da inovação tecnológica não pode ser simplesmente transferida em um processo comercial. Neste sentido, não há,
verdadeiramente, na maioria dos processos chamados de “transferência de tecnologia” a transferência da capacidade de criar ou inovar, mas somente o ensinamento de uma técnica!

Por essa razão, os países precisam desenvolver internamente sua base cultural de inovação tecnológica, mas isso não é fácil, nem rápido. É um processo estratégico, demorado e precisa de consistência e vontade política, porque vai exigir esforços desde a Educação Básica até a formação dos profissionais de mais alto nível, além de recursos financeiros, de um sistema jurídico eficiente e de políticas públicas adequadas.

Neste contexto, para que uma política nacional de desenvolvimento de inovação tecnológica possa ser bem sucedida, inclusive - e principalmente - com impacto comercial, um grande desafio se impõe: avaliar e direcionar a formação dos Engenheiros para que possam ser um pilar adequado e competente de sustentação desta política.

A ATUAÇÃO DO ENGENHEIRO NO BRASIL


Os profissionais da área tecnológica, em especial os engenheiros, atuam em um largo espectro de atividades que vão desde o chamado chão de fábrica (onde resolvem problemas cotidianos e estão sempre procurando aprimorar os produtos, ou aumentar a eficiência dos processos) até as funções gerenciais para as quais a formação tecnológica - com base matemática e capacidade de análises quantitativas, que associa formação científica e visão pragmática dos problemas à uma grande capacidade de construir e analisar modelos matemáticos - é requisito que faz dos engenheiros administradores
requisitados.

Por isso, como ocorre em outros países (nos EUA, por exemplo), somente um terço dos engenheiros brasileiros atua diretamente na área de formação, o que o torna um profissional polivalente. Com isso, muitos se empregam em outros ramos da economia e parte expressiva segue a carreira docente nas instituições de ensino superior. Estes docentes, na maioria das vezes, não mantêm outros vínculos empregatícios, ou atividades empresariais ligadas à Engenharia.

A falta de vivência no mercado dos docentes que optaram pela carreira acadêmica em dedicação exclusiva e tempo integral é mais aguda quando o professor obtém titulação pós-graduada, valorizada nos processos de seleção para contratação e na promoção na carreira. Por isso, os docentes tendem a priorizar as atividades de ensino e pesquisa em detrimento da atividade profissional, restringindo seus conhecimentos ao círculo da academia e à discussão entre seus pares.

Não seria justo, no entanto, colocar a responsabilidade desta situação no docente engenheiro, uma vez que as empresas brasileiras, ou aqui radicadas, não valorizam a formação mais ampla dos profissionais que recruta para seus quadros, ou seja, não busca mestres e doutores como um diferencial de seleção.

A razão talvez possa ser uma falta de vocação destas empresas para a inovação e a competitividade internacional, situação em que profissionais com formação mais completa e aprofundada academicamente é recomendável, em geral, como um
diferencial.

Os motivos desta timidez das nossas empresas em relação à competitividade internacional e à inovação de produtos e processos para o mercado são muitos e também não se encontram somente nelas próprias. É um assunto amplo que tem sido bastante discutido.

O profissional mais titulado, o doutor, preparado ao longo de sua longa formação para a pesquisa científica e tecnológica altamente especializada é, em todo o mundo, uma importante alavanca para o desenvolvimento das tecnologias sofisticadas baseadas em processos inovadores de P&D nas empresas.

O fato de que esse profissional é considerado extremamente importante nas empresas dos países tecnologicamente mais desenvolvidos pode ser comprovado pelas estatísticas. Nos EUA, 80% dos pesquisadores estão empregados nas empresas privadas (somente 15% estão em instituições de ensino superior), enquanto no Brasil este número não chega a 27%. No Japão e na Coréia 75%, dos pesquisadores estão nas empresas, sendo que, no Japão, somente 19% estão em instituições de ensino superior (IES) e na Coréia somente 15%, como nos EUA.

Em 2010, havia no Brasil cerca de 87 mil doutores no setor de P&D, 5.000 em órgãos governamentais e somente 1.830 nas empresas e instituições privadas sem fins lucrativos (somente 2% do total), sendo que 80 mil trabalhavam nas instituições de ensino superior! Nos EUA, 60% dos Engenheiros doutores estão nas empresas, os 40% restantes é estão ligados às universidades e a órgãos de governo.

Enquanto as empresas brasileiras (mesmo as que possuem vocação mais inovadora) não priorizam a contratação de mestres e doutores, as nossas instituições de ensino superior são pressionadas pelas avaliações governamentais para crescer constantemente a titulação do corpo docente, criando um círculo vicioso para um país que ainda precisa crescer muito o acesso ao ensino superior.

Estes dois fatos estão levando as IES a comporem seus corpos docentes dos cursos de Engenharia com base em profissionais bem titulados, mas, muitas vezes, sem praticamente apresentarem experiência profissional no mercado de trabalho em Engenharia, o que pode prejudicar, em maior ou menor grau, o próprio ensino de Engenharia por dificultar a tão necessária conexão entre a teoria e a prática.

Como decorrência deste mesmo fato, os mestres e doutores engenheiros brasileiros não estão levando diretamente ao setor produtivo seus conhecimentos. É outra fraqueza reconhecida no nosso sistema de C&T (mais notoriamente de P&D).

Aos profissionais formados restam duas alternativas: ingressar e permanecer na academia e, para isso, será preciso continuar sua formação para o nível de mestrado e doutorado (principalmente nas instituições públicas), para enveredar na pesquisa científica e ensinar em dedicação integral, sem exercer efetivamente a profissão de engenheiro escolhida, ou afastar-se da carreira acadêmica, ingressando em um mercado de trabalho que não valoriza e muito menos apóia a formação pós-graduada de seus profissionais de nível superior.

Quando um engenheiro do mercado é contratado em uma IES, sem atender ao exposto acima, é dando, quando muito, algumas aulas em caráter precário, recebendo um salário como horista, de valor inicial bem menor do que os docentes titulados, uma vez que a remuneração nas IES está atrelada à titulação do professor.

Como unir duas características que em nosso país estão andando, infelizmente, na contramão? Por que para ter um Engenheiro no mercado não se valoriza a titulação e nas IES não se valoriza a experiência no mercado?

A resposta mais lógica e simples (mas infelizmente pouco comum por aqui) é que o corpo docente ideal das escolas de Engenharia pudesse ser composto por professores que aliassem a titulação stricto sensu com a experiência do mercado de trabalho já na contratação, ou pudessem, estando um período significativo ativo no mercado, se titular e regressar às IES para trazer a experiência prática aliada a um ótimo conhecimento teórico, como ocorre nas nações mais competitivas.

Nas melhores escolas de Engenharia dos EUA os professores têm o doutorado como formação quase universal ao qual aliam décadas de experiências importantes em empresas de qualidade. No Brasil, estes casos ainda são, infelizmente, poucos.

É importante, também, recordar que a pós-graduação stricto sensu só foi institucionalizada no Brasil na década de 70. Portanto, profissionais mais antigos não viveram o período em que a pós-graduação era uma opção ampla, importante e disponível (principalmente nos estados menos desenvolvidos) para a sua evolução profissional e a exigência de titulação pós-graduada para estes professores parece exagerada e injusta, pois desconsidera toda a sua experiência profissional.

A permanente atividade (e atualização) profissional dos engenheiros docentes tem sido uma preocupação dos gestores universitários em todo o mundo, preocupados com a formação sólida e, ao mesmo tempo, prática dos egressos de seus cursos de Engenharia.

Há duas décadas, o professor da Universidade de Massachusetts Ernest A. Lynton, estudioso americano do sistema universitário daquele país defendia uma idéia de grande importância, pouco conhecida e adotada em nosso país.

Lynton sugeria a implantação de escritórios de Engenharia dentro das universidades para manter os professores em tempo integral, estimulando-os a exercerem suas atividades profissionais em contato com os colegas, estudantes e funcionários da própria IES, com regras de atuação e uma política de remuneração justa para eles e para o que as IES efetivamente desembolsam com seus projetos.

No Brasil, atualmente e até certo ponto, as fundações ligadas às universidades têm procurado desempenhar este papel embora, às vezes, com distorções que geram polêmicas de diferentes matizes.

Seria importante que estas atividades, se consideradas legítimas pelas IES, fossem regulamentadas com clareza, seus custos e benefícios transparentes e bem acompanhados para diminuir o fosso existente entre o que se ensina e o que se pratica no mercado.

ENGENHEIROS ESPECIALISTAS, MAS MÉDICOS E ADVOGADOS GENERALISTAS?


A rapidez do desenvolvimento tecnológico ocorrido no século 20 (e que contamina de forma crescente o início do século XXI) acaba por tornar muitas tecnologias obsoletas em pouco tempo.

Inovar é superar as contradições existentes entre o que se precisa ou se deseja e os obstáculos que impedem esta realização. Uma das ações necessárias para enfrentar o desafio da inovação é rever a formação do engenheiro para as próximas décadas.

A formação atual (e tradicional) dos engenheiros no Brasil tem especializado muito cedo o estudante, e consequentemente, o profissional. Há centenas, e mesmo que se diminua, ainda haverá dezenas de especialidades de bacharelados em Engenharia no Brasil.

É sabido que as tecnologias se tornam rapidamente obsoletas e que muitas delas aprendidas durante um curso de Engenharia já não serão mais adotadas quando o profissional se formar. Por isso, para poder conhecer e utilizar o estoque de tecnologia o Engenheiro deveria ser capaz de associar conhecimentos de várias especialidades diferentes para associá-las de forma a encontrar as soluções desejadas para os problemas identificados.

A especialização prematura está, claramente, em conflito com a visão generalista exigida dos novos profissionais. Seria mais prudente dotá-los de uma formação básica sólida, que demora mais para se tornar obsoleta, fazê-los conhecer os problemas e as ferramentas mais importantes da Engenharia, ao lado do desenvolvimento de características pessoais cada vez mais importantes para as novas funções que os engenheiros passam a desempenhar, fazê-los adquirir uma visão do mundo e das necessidades da sociedade, saber estimar a viabilidade comercial de um produto e dos custos de um projeto, pois esses conhecimentos não dependem especificamente de uma tecnologia transitória e mutável.

Ao contrário de profissões como Medicina e Direito, um engenheiro no Brasil precisa decidir às vezes no processo seletivo do curso (na maioria dos casos tratando-se de jovens recém saídos da adolescência) se desejam ser engenheiros civis, elétricos, mecânicos, etc., ou, até subáreas como Eletrônica, Mecatrônica, Petróleo, ou Estradas.

Já o médico ou o advogado recebem uma formação abrangente sobre as diferentes atividades da profissão para só depois, se assim desejarem, se especializarão formalmente na Medicina por meio da Residência Médica, por exemplo, e, informalmente, ou não no Direito já que não há necessidade de se fazer uma especialização em Direito Tributário para dirigir um escritório nesta área.

É possível que a especialização excessiva e prematura dos engenheiros brasileiros decorra da crença de que eles já devam sair direcionados da graduação para empregos específicos, para imediatamente se inserir na cadeia produtiva da empresa e atender exatamente às necessidades do mercado empregador que não quer gastar tempo e dinheiro para adequar seus profissionais de nível superior às especificidades de seu ramo de atuação.

No entanto, este não é, historicamente, o papel da universidade e não deveria ser um desejo das empresas que contratam profissionais que podem se tornar, rapidamente, inoperantes diante das novas tecnologias por falta de capacidade de migração ou adaptação do que aprendeu ao que de novo se apresenta.

Não é papel da IES formar um engenheiro químico especializado em tintas. A empresa de tintas terá que capacitar seu Engenheiro para trabalhar com tintas e sua formação sólida em química permitirá que ele, rapidamente, além de aprender as especificidades do setor, saberá encontrar, com seus conhecimentos gerais e sólidos, novas soluções para os problemas que decorrem da química e atuam nos processos que também estão ligados à fabricação de tintas.

O papel das universidades, principalmente em seus cursos de graduação, é formar o profissional de nível superior com uma base sólida de tal forma que ele seja capaz de transitar amplamente em sua área do conhecimento. Por que esta área não seria, por exemplo, a própria Engenharia? Por isso, a Resolução nº 48/76 dividia a Engenharia em apenas seis grandes áreas (que até já não seriam demasiadas, se pensarmos nos médicos e dos advogados?).

Não se trata, obviamente, de enxugar nomenclaturas, como ocorreu com outras profissões, mas as atribuições e consequentemente, o perfil do formado. Mudando o perfil do formado, há que se mudar a sua formação.

Neste caso, a exemplo do médico e do advogado, as atribuições dos engenheiros, em geral, deveriam ser ampliadas e, também, generalizadas, o que aumentaria, na mesma proporção, sua autonomia de atuação e sua responsabilidade em relação aos resultados auferidos e eventuais erros profissionais cometidos.

O PROFISSIONAL E O ENGENHEIRO DO FUTURO


Além do problema do baixo número de engenheiros formados no Brasil e da excessiva e precoce especialização, a própria qualidade dos cursos brasileiros de Engenharia tem sido questionada, com algumas e honrosas exceções.

Muitos defendem que isso é reflexo da má qualidade da Educação Básica brasileira. Entretanto, mesmo que a razão da má qualidade dos alunos ingressantes tenha origem nos níveis anteriores da educação, não é possível ignorar o problema. A análise do problema da qualidade dos formados em Engenharia exige uma visão mais ampla, mesmo porque ele não se esgota nas condições do aluno ingressante e é preciso, acima de tudo, enfrentá-lo dentro da realidade da IES que, afinal, acaba por aceitar um aluno como calouro.

O ensino de Engenharia no Brasil (e não só no Brasil) sofre de dois males que prejudicam a participação mais efetiva das Engenharias em projetos de inovação tecnológica com conteúdo científico.

Em primeiro lugar, as disciplinas das áreas básicas não são ensinadas, em geral, com a visão voltada ao objetivo das áreas profissionais (como é a própria Engenharia), mas como se estivessem formando cientistas para atuarem nas áreas básicas, o que afasta e desmotiva os estudantes das áreas profissionais, como já afirmava Ortega y Gasset, nos anos 30, em seu livro “A Missão da Universidade”.

Na verdade, dizia o filósofo espanhol, o estudante das profissões liberais precisa saber fazer uso dos mais modernos conhecimentos científicos relativos à sua área de atuação para poder exercer plenamente e com competência sua profissão, mas ele não precisa e nem deve ser submetido a uma educação voltada à formação de pesquisador em áreas básicas, que ele não pretende e não escolheu ser quando se candidatou a um curso de Engenharia. Em resumo: ensina-se física como se os Engenheiros fossem trabalhar na produção de novos conhecimentos em física, o mesmo ocorrendo com a matemática, a
química etc.

Em segundo lugar, e, infelizmente de forma complementar ao primeiro, os professores do ciclo profissional, na maioria das vezes, não trabalham na relação das disciplinas aplicadas com as áreas básicas que as justificam, fazendo com que os estudantes não assimilem a relação entre a teoria ensinada e a prática a ser desenvolvida, até porque esquecem os fundamentos científicos da Engenharia.

Como a maioria dos professores tem pouca experiência profissional ou, quando a tem, não se aprofundou na teoria que embasa a prática, eles sentem dificuldades em unir os conhecimentos científicos e tecnológicos com seus conhecimentos práticos da Engenharia.

Por essas razões, além de aumentar o número de engenheiros brasileiros formados nas diversas áreas, seria muito importante rever o ensino de Engenharia e estimular a formação dos professores de Engenharia em novos programas de capacitação a partir de novos paradigmas.

Para formação de engenheiros que estão atualmente no mercado de trabalho como verdadeiros e qualificados professores de Engenharia - e que não desejem realizar a pesquisa científica exigida nos mestrados acadêmicos - os Mestrados Profissionais em Docência da Engenharia podem ser excelentes instrumentos para se exercitar as habilidades de professor, unindo a teoria com a sua prática e ajudando a compreender melhor as características dos estudantes de Engenharia e sua forma de adquirir novos conhecimentos.

Para exemplificar a necessidade premente de repensarmos o ensino de Engenharia, pode-se citar os estudos de Richard Felder, que adaptou os modelos dos tipos psicológicos para as formas típicas de aprendizado, cruzando diferentes características e tendências dos estudantes de engenharia em suas diferentes dimensões.

Baseado no trabalho de Myers e Briggs (que introduziram, a partir de trabalhos de Jung, a teoria dos tipos de personalidade e que foram, posteriormente, introduzidos na educação para ajudar os processos de aprendizagem identificando o tipo psicológico dos estudantes e adaptando estratégias diferenciadas de ensino para cada tipo), Felder definiu as formas de compreensão, a recepção da informação, o comportamento, o desenvolvimento dos conteúdos e a organização mental se caracterizam por cinco dimensões, cada com duas posições opostas, que se combinam, esquematicamente, desta forma:

sensorial / intuitiva
visual / verbal
ativa / reflexiva
indutiva / dedutiva
sequencial / global

Qualquer professor experiente sente o quanto de verdade está expressa na análise completa de Richard Felder. No entanto, poucas são as instituições de ensino e professores que utilizam este tipo de análise para aperfeiçoar os processos de aprendizagem, adaptando-os às características dos estudantes, ou utilizando-os para a orientação profissional dos estudantes.

A questão é ainda mais relevante na Engenharia do que em outras áreas porque a tendência da maioria dos alunos de Engenharia, segundo Felder, é ser sensorial, visual, ativa, indutiva e, os melhores, muitas vezes globais enquanto os professores adotam um método de ensino de Engenharia intuitivo, verbal, reflexivo, dedutivo e sequencial.

Nossos engenheiros devem ser capazes de desempenhar importantes funções nos centros de P&D públicos ou privados, nos parques e pólos tecnológicos e nas incubadoras de empresas, tanto atuando como técnicos, como na gestão da inovação e na liderança empreendedora.

A Unesco, no final da década passada apresentou, a partir dos resultados de estudos que agregaram milhares de especialistas, as recomendações para o perfil geral do profissional do futuro, que deveria ter as seguintes características:

Ser flexível;
Ser capaz de lidar com as incertezas;
Ser capaz e disposto a contribuir para a inovação e ser criativo;
Estar interessado e ser capaz de aprender ao longo de toda a vida;
Ter adquirido sensibilidade social e aptidões para a comunicação;
Ser capaz de trabalhar em equipe e desejar assumir responsabilidades;
Tornar-se empreendedor;
Preparar-se para o mundo do mercado de trabalho internacionalizado; por meio do conhecimento das diferentes culturas;
Ser versátil em aptidões genéricas multidisciplinar; e
Ter noções de áreas do conhecimento que formam a base de várias habilidades bprofissionais, por exemplo, das novas tecnologias.

Complementarmente:

Conhecimento de línguas estrangeiras e
Disciplinas que tratem de assuntos internacionais, como direito internacional, ou comércio internacional.

Esta visão não trata de uma profissão específica, mas não deixa de ser válida para os profissionais em geral. Isto pode ser verificado nos estudos do especialista Joseph A. Bordogna, que apontam para as necessidades específicas a serem atendidas pela próxima geração de engenheiros, que se resume na necessidade de desenvolver a inovação pela integração e para isso seria necessário incluir na sua formação o domínio de questões ligadas a sistemas complexos, tais como:

Sustentabilidade - meio ambiente e uso eficiente da energia e materiais (sistemas renováveis);
Micro e nano sistemas - simultaneamente pequenos em tamanho e enormes em capacidade (indispensáveis na maioria dos novos produtos);
Mega sistemas - extraordinariamente grandes e complexos (perigosos, técnica e financeiramente);
Sistemas vivos - sistemas inteligentes que aprendem com o meio ambiente, ajustam a operação e se consertam (uma dimensão além da Bioengenharia).

Além disso, o engenheiro precisará ser capaz de transitar em várias disciplinas e campos, fazendo as conexões necessárias a uma visão mais profunda e criativa e fazer as coisas acontecerem. Só assim terão um valor agregado suficiente para competir no mercado global!

Todos reconhecem que habilidades em matemática e ciências são necessárias para o sucesso profissional do engenheiro. Além disso, o estudante de Engenharia transitar no núcleo das disciplinas ligadas às ciências da Engenharia, para desenvolver o entusiasmo de enfrentar um problema aberto e criar algo que não existia antes. Neste sentido, o engenheiro do século XXI deverá, como afirma Bordogna:

Projetar - cumprir com os objetivos de segurança, confiabilidade, meio ambiente, custos, operacionalidade e manutenção;
Desenvolver produtos;
Criar, operar e manter sistemas complexos;
Entender as bases físicas, além dos contextos econômicos, industriais, sociais,políticos e globais nos quais a Engenharia é praticada;
Entender e participar de processos de pesquisa; e
Ter habilidades intelectuais capazes de permitir um aprendizado contínuo ao longo da vida.

É preciso, portanto, também aproveitar o estoque de conhecimento existente (inclusive de outras áreas) e as novas tecnologias (o que está muito distante de acontecer em todos os níveis de ensino no Brasil) para inovar no ensino superior e, mais especificamente, no ensino das Engenharias!

CONCLUSÕES


Para que o Brasil se insira no contexto das nações inovadoras será necessário ampliar o número de Engenheiros com formação pós-graduada principalmente junto às empresas. O baixo número de engenheiros com formação pós-graduada nas empresas não reduz somente o poder de inovação do setor produtivo nacional, mas prejudica também a formação dos novos engenheiros, uma vez os alunos de Engenharia têm, em geral, pouca convivência com docentes que aliem a ampla formação acadêmica com grande experiência no mercado de trabalho, já que grande parte do corpo docente das Escolas de Engenharia seguiu da graduação para a pós-graduação sem viver a experiência do exercício profissional fora dos muros da universidade. Além disso, será preciso reformular os bacharelados de Engenharia atendendo aos estudos internacionais ligados ao ensino em geral, e à Engenharia em particular, que apontam para a prevalência de uma formação científica mais forte, uma visão integradora das diferentes áreas de atuação do engenheiro, sem a excessiva e precoce especialização que se verifica hoje no Brasil, bem como a capacidade de conciliar as necessidades da sociedade com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente.



Brasil já importa até livro didático

Custo de produção local leva o País a ampliar compras de países como China e Índia, com prejuízos para o emprego no setor gráfico


SÃO PAULO - O avanço das importações chegou ao mercado de livros didáticos. Nos bancos escolares, os estudantes brasileiros estão estudando em livros impressos na China, Índia, Coreia, Colômbia e Chile.

Em 2011, editoras que fornecem material para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do governo federal, ampliaram em quase 70% as encomendas no exterior, estimam empresários da indústria gráfica. Os motivos são o câmbio e o custo Brasil.


Principal cliente para as gráficas do segmento editorial, o governo responde por 24,4% das compras de livros no País, que somam cerca de R$ 4,5 bilhões. No ano passado, o governo fez uma compra recorde de 170 milhões de livros didáticos para o ano letivo de 2012.


Segundo Fabio Arruda Mortara, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), as editoras foram às compras no exterior, com base no argumento de que as gráficas editoriais brasileiras não teriam condições de entregar todas as encomendas dentro dos prazos estabelecidos nos editais.


A consequência disso foi que boa parte das gráficas trabalhou com alguma ociosidade a partir do segundo semestre de 2011, período em que elas costumam rodar livros didáticos. Em dezembro, representantes dos empresários e dos trabalhadores foram ao Ministério da Educação expor a preocupação com o crescimento nas importações.


"Já estamos perdendo empregos", diz o presidente da Abigraf. A indústria gráfica investiu US$ 5 bilhões no Brasil nos últimos quatro anos. Um empresário paulista, que pediu para não ser identificado, conta que demitiu 300 empregados nos últimos dois meses, o equivalente a 25% no quadro de pessoal. Além disso, engavetou um projeto de investimento US$ 20 milhões previsto para este ano. "Eu estava comprando uma máquina de 64 páginas e agora não tenho mais condições", diz o empresário.


O presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), José Carlos Wanderley Dias de Freitas, que participou de uma das reuniões com empresários e trabalhadores do setor, disse ao Estado que o órgão não tem informações diretas sobre aumento nas importações de livros didáticos.


Custo. "A relação de contrato do CNDL é com as editoras e a impressão do livro didático não é uma questão nossa", argumentou Freitas. "Se a editora vai fazer a impressão no Brasil, na China, na Europa ou na América do Sul, é um problema dela."


O avanço das importações não aparece nas estatísticas oficiais porque não existe posição aduaneira específica para o livro didático. Mas a indústria gráfica tem algumas sinalizações sobre o tamanho da encrenca. Uma delas é que, até 2010, as importações de livros medidas em dólares e em toneladas caminhavam praticamente juntas. No ano passado, porém, a quantidade de títulos do exterior saltou 62%, para 31,1 mil toneladas, enquanto o crescimento em valor foi de apenas 27%, para R$ 175,8 milhões.


Na avaliação dos empresários do setor gráfico editorial, o descolamento se deve a um forte aumento na compra de livros didáticos, que custam bem menos que a grande maioria dos livros importados pelo País.


A presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Karine Pansa, prefere não tomar partido no debate. Ela fez questão de ressaltar que a entidade defende os valores éticos do mercado, mas não interfere nas questões comerciais das editoras.


"Gostaríamos que houvesse menos importações em todos os segmentos, não só o livreiro, para o bem do desenvolvimento do Brasil". E acrescenta: "Sabemos que os editores estão buscando a possibilidade de impressão em outros países porque o custo Brasil é prejudicial nesse momento à produção nacional".

MEC confirma cancelamento da edição do Enem de abril


O Ministério da Educação (MEC) confirmou nesta quarta-feira (15) o cancelamento da edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que aconteceriam nos dias 28 e 29 de abril.

Segundo a Folha de S. Paulo, o então ministro Fernando Haddad já havia anunciado o cancelamento da prova no dia 20 de janeiro deste ano. O ministério informou na ocasião que a realização de duas edições no ano "sobrecarregaria as estruturas logísticas do exame".

No entanto, a portaria cancelando a realização do segundo exame neste ano só foi publicada na edição desta quarta-feira no Diário Oficial da União.

Universidades da Alemanha receberão cerca de 10 mil alunos brasileiros até 2014

O governo federal ganhou mais um parceiro para difundir o programa Ciência sem Fronteiras. Em visita ao Brasil, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, anunciou que o país vai participar do projeto. Cerca de 10 mil estudantes brasileiros devem ser recebidos nas universidades alemãs até 2014.

“Buscamos intercâmbio em tecnologia de ponta, associações que revertam benefícios para nossos povos. Esperamos 10 mil estudantes brasileiros. Isso significa que pensamos nossas relações no longo prazo. Não há melhor maneira de fortalecer o intercâmbio entre os países do que formar jovens científicos”, disse o ministro alemão.

O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, também vê o acordo para qualificar o ensino nas universidades brasileiras como uma parceria de longo prazo. “A iniciativa nos dá certeza que as duas sociedades continuarão estabelecendo laço de cooperação por muito tempo”.

O programa Ciência sem Fronteiras, lançado pelo governo federal no ano passado, visa a qualificar estudantes de graduação e pós-graduação no exterior, além de aumentar a presença de pesquisadores estrangeiros no Brasil.

Patriota também anunciou a visita da presidenta Dilma Rousseff à Alemanha no próximo mês. “É oportunidade para desenvolvermos não só avaliação no caminho percorrido nessa parceria estratégica, mas também planejar futuro, novas áreas e novos projetos”. Será a primeira visita na condição de presidenta. Em 2009, Dilma esteve no país como ministra-chefe da Casa Civil. Do Portal Brasil.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Caso Eloá serve de alerta sobre sexualidade precoce, diz ministra

Maria do Rosário critica autorização dos pais para relacionamento precoce

Ministra Maria do Rosário critica relacionamentos precoces e cobra providência dos pais

FOLHA DE S. PAULO


O caso da menina Eloá Pimentel, morta aos 15 anos pelo ex-namorado, dispara um alerta às famílias para que não permitam a sexualização precoce de crianças e adolescentes, declarou neste sábado a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos).

"Em todos os noticiários nós vimos que aquele que matou Eloá entrou na sua casa e pediu autorização para a sua família, quando ela tinha 12 anos, para ter uma relação com ela. Será que é possível que os pais e mães não estejam atentos que, com 12 anos, não é possível que meninas e meninos estejam sexualizados precocemente?", afirmou a ministra, durante ação da campanha de Carnaval contra exploração e abuso sexuais de crianças e adolescentes.

Não basta que governos estejam de olho a casos de violações dos direitos de crianças, disse ela, "estamos tentando fazer nossa parte, mas precisamos de pais e mães mais atentos, cuidadores mais atentos, sociedade mais atenta".

Maria do Rosário disse que não pretendia, com a forte declaração, puxar a orelha da família de Eloá ou atenuar a responsabilidade do crime cometido pelo ex-namorado. "A família não é responsável pelo sujeito que apertou o gatilho, mas uma atenção maior com uma criança de 12 anos acho que todos nós devemos ter no Brasil."

Em 2008, Eloá foi morta com dois tiros pelo ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes, 22, após mais de cem horas de cárcere privado. Eles mantiveram um relacionamento por quase três anos, iniciado quando Eloá tinha 12 anos e Lindemberg, 19. O namoro, segundo relatos de conhecidos à época do crime, foi inicialmente rejeitado pela família da menina, que acabou aceitando o relacionamento na sequência.

Esta semana, Lindemberg foi condenado pelo crime a 98 anos e dez meses de prisão.

Questionada sobre a idade adequada para o início da vida sexual de uma pessoa, a ministra disse que não cabe a ela precisar. "Não sou eu que julgo, mas a legislação diz que, com menos de 14 anos, qualquer relação sexual é de violação e de estupro de vulnerável. Não basta a gente fazer a lei, é preciso que todo mundo cumpra."


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Melhorando a auto-imagem

Lair Ribeiro




Prestamos cada vez menos atenção às nossas próprias necessidades, e somos levados a acreditar que precisamos de coisas que nem sempre são aquelas que queremos.

Nosso desenvolvimento tem se dado de forma mais artificial do que orgânica. Isso nos leva a perder a espontaneidade, a criatividade e a alegria de viver. Nosso eu interior vai se deformando e os nossos valores mais verdadeiros vão se perdendo. Saber como isso funciona coloca você em contato com uma pessoa muito especial: você!

O conceito de auto-estima

Seu desempenho na vida nunca será maior do que a sua auto-estima. Se você não se gosta, o mundo não vai gostar de você. Mas você não nasceu sem auto-estima. Você nasceu gostando muito de você. Só que, até a idade de 8 anos, você recebeu tantos nãos — não faça isso, não faça aquilo, não pode isso, não pode aquilo — que sua auto-estima ficou deturpada.

O modo como somos criado nos leva, muitas vezes, a não gostar de nós mesmos.

Em uma pesquisa feita nos Estados Unidos com crianças entre 3 e 4 anos, descobriu-se que, até com­pletar 8 anos, uma criança recebe aproximadamente 100 mil nãos! Para cada elogio, a criança recebe nove repreensões. Mesmo diante de tantas negativas, as pessoas têm de continuar vivendo. O que elas fazem, então? — De­senvolvem o mecanismo da compensação.

Como dizia Dr. Adler, discípulo de Sigmund Freud, “toda compensação traz uma certa deformação”. E, nesse processo, as pessoas criam uma dicotomia entre o que elas são para a sociedade e o que são para si mesmas, desperdiçando nisso uma enorme energia vital.

Mudando para melhor

Em uma parte do seu cérebro existe uma estrutura chamada substância reticular ativadora as­cen­dente, que tem duas funções:

• Manter o cérebro acordado, em estado de vigília.

Quando levanta a mão ou o braço, você libera mais energia do que é preciso. Então, sobra energia. Essa energia que sobra segue pelos nervos até encontrar a substância reticular ativadora ascendente, que vai ativar o seu cérebro e mantê-lo acordado, em estado de alerta.

Para não cochilar no volante enquanto dirige à noite, coloque cinco chicletes na boca e vá mastigando. Ao contrair a mus­culatura da mandíbula, você ativa a substância reticular e mantém o cérebro acordado.

• Filtrar o que entra e o que não entra no cérebro.

Nosso cérebro só pode computar de cinco a nove in­for­ma­ções de cada vez. Você não pode prestar atenção na ponta do seu nariz, no dedo do pé direito, na leitura deste artigo, na temperatura da sala e no barulho da rua, tudo ao mesmo tempo. O cérebro se concentra em poucas coisas: ele estabelece prio­ridades.

Quem define as prioridades é a substância reticular ascen­dente, funciona como se fosse a secretária executiva do seu cérebro: “Eu, agora, não quero saber disso, quero saber daquilo, não quero mais saber daquilo, quero saber daquilo outro”, e assim por diante.

Um exemplo: Uma menina de 13 anos que é abusada sexualmente chega à conclusão de que homem nenhum presta. Todas as vezes que vier uma ma­ni­festação de que “homem presta”, a substância reticular vai blo­queá-la e o cérebro nem vai ficar sabendo. Todas às vezes que vier uma manifestação de que “homem não presta”, a substância reticular vai deixá-la passar e o cérebro reagirá assim: “Está vendo? Eu não falei que homem não presta?”.

Uma crença, uma vez estabelecida, tem como função única e exclusiva se perpetuar. Por meio do seu desenvolvimento, você codificou uma série de coisas. E como você codificou, também pode descodificar. Acompanhe os próximos artigos para continuar aprendendo sobre este assunto.





MT- Governo fortalece quadro do magistério com profissionais concursados

Redação 24 Horas News

O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), efetivou a nomeação de 6.406 profissionais da educação aprovados e classificados no último concurso público realizado em 2010. A Seduc deverá nomear outros 1.183 classificados, no primeiro semestre deste ano, para assumirem as funções nas 727 Escolas Estaduais.

Dentro da política do governo de fortalecimento e melhoria do ensino público ofertado aos estudantes mato-grossenses, até setembro do ano passado, todos os 5.285 aprovados no certame 004/2009 haviam sido nomeados. A partir de então, a Secretaria passou a chamar os classificados para atendimento da demanda nas unidades de ensino.

No dia 13 de fevereiro deste ano, a Secretaria de Estado de Administração (SAD) publicou no Diário Oficial do Estado (DOE) a lista com 434 professores classificados e um Técnico Administrativo Educacional (TAE) para tomarem posse. Ao todo, entre aprovados e classificados já foram nomeados 3.378 professores, 515 Técnicos e 2.078 Apoios Administrativos Escolares (AEEs).

Do total de 1.183 profissionais que ainda serão chamados 450 são Técnicos e outros 733 Apoios. De acordo com o secretário Adjunto de Gestão de Pessoas da Seduc, Paulo Henrique Oliveira, no início do mês de abril, a Seduc realizará “novos levantamentos para avaliar a necessidade de chamamento de mais profissionais” para atendimento das eventuais demandas.

Apesar do trabalho da Seduc, do Estado, no provimento das vagas educacionais com profissionais concursados, as unidades de ensino continuarão contando com um contingente de professores contratados que atuam em determinadas situações, como substituição daqueles que estão em licenças: para qualificação, por motivo de doença, entre outros.

Também há casos de contratados que substituem profissionais que estão exercendo cargos de diretores, coordenadores, assessores pedagógicos, professores articuladores, formadores dos Centros de Atualização e Formação dos Profissionais do Ensino (Cefapros), dentre outras funções.

Piso

Ao ingressarem na rede estadual os professores de Mato Grosso recebem o sexto melhor piso salarial dentre os 27 estados do País. Levantamento publicado pelo Jornal Folha de São Paulo em novembro de 2011 aponta ainda que o Estado está entre as dez unidades da federação que cumprem a lei do Piso Nacional do Magistério, em vigor desde 2008.

Segundo o jornal paulistano, a legislação prevê um piso nacional de R$ 1.187 a professores da educação básica pública, em jornada semanal de 40 horas, excluindo gratificações, e assegura que 33% desse tempo sejam dedicados a hora atividade (planejamento e participação nas atividades da unidade escolar) fora da sala de aula. O piso em Mato Grosso é de R$ 1.312 para profissionais com nível médio de formação. Por sua vez, os professores ingressam na rede com remuneração de R$ 1.968 para uma jornada de 30 horas/aula (20 em sala e 10 horas/atividade).

Outro destaque é o fato de que em Mato Grosso a lei do piso aplica-se a todos os profissionais da Educação (professores, técnicos e apoios). Nos demais estados essa legislação refere-se apenas a professores.

MT- Sintep afirma que há professores sem capacidade para dar aula em MT

Sindicato está fazendo avaliação em algumas escolas do interior do Estado e encontra disparidades na contração de profissionais do ensino público


Alunos de Jangada que deveriam estar em salas saem mais cedo por falta de professor


O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público (Sintep) de Mato Grosso, Gilmar Soares, expôs deficiência das escolas públicas no inicio do ano letivo. Soares afirmou que em algumas unidades o professor não tem instrução suficiente para ministrar as aulas. Além disso, cidades como Jangada (70 km da Capital), estão com déficit no quadro de professores fazendo com que alunos voltem mais cedo para casa.

"Há situações em que as unidades contratam pessoas leigas para ministrarem as aulas", lamentou Soares. Ele afirma que a situação causa indignação, pois muitos profissionais classificados no concurso público não foram convocados pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc).

Gilmar informou que a direção do Sintep está indo em algumas escolas públicas para avaliar a situação e o que encontrou em Jangada, por exemplo, foi o baixo número de professores efetivos.

A orientação do sindicato é que os trabalhadores da educação formulem denúncia junto ao Ministério Público e enviem cópias ao Sintep para divulgação. A tentativa é que para o mais breve possível a questões estejam resolvidas, uma vez que a validade do concurso encerra em junho deste ano.

A direção das subsedes do Sintep também irão reunir documentos que comprovem a existência de cargos livres em várias disciplinas.

Segundo o presidente da entidade, o professor classificado no concurso é o mesmo que atribui as aulas como contratado temporário. "Mas, o governo não reconhece a contradição".

Gilmar disse que é válido que os trabalhadores, incluindo cargos de Apoio e Técnico, anexem cópias do próprio contrato de interino, a fim de comprovar que existem inúmeros contratos temporários, apesar da existência de classificados no concurso.

"É inacreditável o que estamos vivendo em Mato Grosso. Temos professores classificados em concurso e alunos sem aula por falta professores nas escolas públicas estaduais", argumentou Soares.

De acordo com as informações repassadas pelos trabalhadores de Jangada, na rede estadual de ensino, há escolas com problemas no quadro de educadores, como nas escoas Professor Arlindo de Souza Bruno e Arnaldo Estevão de Figueireido. Em consequência disso, os alunos vão embora mais cedo. A situação deixa os pais preocupados e aflitos por justificativas pela falta de professor.

Ainda de acordo com Gilmar Soares, a realidade da Educação em Jangada não é única. "Em Várzea Grande, por exemplo, temos vários cargos livres e muitos professores temporários".

PARALISAÇÃO

O Sintep/MT está preparando uma mobilização para protestar contra estas e outras arbitrariedades praticadas pelo Governo do Estado. Nos dias 14, 15 e 16 de março haverá manifestações, passeatas e audiências em diversos municípios. Todos estarão mobilizados na “Greve Nacional em Defesa do Piso Salarial Nacional, Carreira e 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no Plano Nacional de Educação (PNE)”.

Para Gilmar Soares, em Mato Grosso o protesto se estende também pelo vergonhoso processo de atribuição de aulas, que vem favorecendo a quebra da jornada de 30 horas pela Seduc. "Vamos cobrar o direito de aposentadoria que está sendo negado pelo Poder Público", frisou, referindo-se à suspensão dos agendamentos de aposentadoria dentro de 15 minutos, a posse dos classificados nos cargos de Técnico Administrativo Educacional e Apoio Administrativo Educacional, além de outros pontos de reivindicação da categoria.

OUTRO LADO

A Secretaria de Educação foi procurada para se manifestar. A assessoria de imprensa pediu que fossem enviadas perguntas por e-mail e somente depois se pronunciaria.

Opções na vida


WILSON CARLOS FUÁ


A vida segue independente das nossas vontades, e em cada fase aparecerão opções que podemos planejar para evoluções materiais, intelectuais e espirituais, umas são fáceis de ser alcançadas e outras não muito. Estão à nossa disposição, podemos conquistar

A vida segue independente das nossas vontades, e em cada fase aparecerão várias opções que podemos planejar para evoluções materiais, intelectuais e espirituais, umas são fáceis de ser alcançadas e outras não muito. Estão à nossa disposição, coisas que podemos conquistar com as nossas atitudes: sonhos, planejamento, metas, e os impulsos de querer ou não querer, ou seja, existem ações que só dependem de nós mesmos.

Mas, a maioria das pessoas sofre porque não usam com racionalidade e com amplitude necessária o sentido do reconhecimento da lógica das coisas, ou a mente humana se fecha em sua própria ilusão e nas expectativas calcadas em sonhos, trocando o trabalho evolutivo pelos prazeres da vida. Para os sonhadores não existe o sentido racional e lógico, vivem sem metas, não conseguem ver a realidade dura que se conquista somente através do trabalho, e mesmo com os “beliscões” e “dores de cabeça” que recebem em forma de avisos, não conseguirão despertá-los dos sonhos ou desistir do mundo das fantasias.

Mas tudo que se conquista ou se recebe como opção de vida, não pode ser usado como perturbação da consciência, porque são fatos e acontecimentos reais que não cabem julgamentos precipitados, pois nem tudo que acontecem nas nossas vidas obedecerá a nossa vontade. Ao termos a consciência e entendimento que as coisas acontecem como elas precisam acontecer, com certeza levaremos a vida muito melhor, deixaremos de imaginar que somos donos dos nossos próprio destino. Sofrem menos aqueles que desejam as coisas como elas são, ao invés de desejá-las com a imaginação sonhadora, pois serão transformados em carregadores de fardos inúteis, e muitas vezes eles não são seus.

Por traz de todo pensamento existem uma solução, apenas precisando de uma ação, que controle os impulsos do desejo de realizar, que são transformados as ações do pensamento que produzem o resultado com os sinais videntes e desejados.

A vida é uma reta, que às vezes perdemos a direção dos nossos caminhos por não saber escolher a seqüência natural e pela ganância de desejar vários caminhos ao mesmo tempo. Como piloto das nossas próprias viagens, muitas vezes fingimos desdenhar da realidade, mas no fundo vivem a desejar o proibido que está sinalizado pelas placas imaginarias das estradas sonhadoras, que os apressados aumentam a velocidade ilusória tendo como álibi a falsa consciência do julgamento precipitado das pessoas como se elas fossem as projetistas dos seus sofrimentos. Ás vezes as coisas não acontecem como nós queremos, mas nem por isso são ruins e às vezes recebemos até recompensas e reconhecimentos além do que esperávamos.

Na vida não existe julgamento com sentenças compradas, os resultados acontecem independente das nossas vontades e das nossas interferências. Os impulsos às vezes podem até lhe dominar, o que leva as coisas saírem foram do eixo ou caminhar fora do seu controle, e quando essa hora chegar respire fundo, tenha o pensamento fixo no melhor, pois tudo acontece ao seu tempo e sem a sua permissão. Ao olharmos para trás veremos que nossa história de vida, ficará como exemplo aos nossos filhos, e ao olharmos adiante, temos certeza que valeu apena viver, pois o futuro é a recompensa de tudo que planejamos e que construímos, não confie no acaso, faça com as suas mãos o seu viver.

(*) WILSON CARLOS FUÁ é conomista , especialista em Administração Financeira e Recursos Humanos e colaborador de HiperNoticias. E-mail: fuacba@hotmail.com


Data de validade da escola está vencida


Cássia Gisele Ribeiro

Como manter uma perspectiva de ensino individualizada em uma classe onde estudam dezenas de alunos? A questão norteou a palestra do português João Barroso, doutor em Ciência da Educação pela Universidade de Lisboa, durante a 12ª edição do Congresso Educador.

Inicialmente o professor mostrou textos e ilustrações de como se formou, ao longo dos últimos 200 anos, o modelo de escola que existe hoje. Segundo Barroso, é possível caracterizar os grandes movimentos da escola em três fases.

A primeira delas foi a pedagogia individual, onde um mestre ensina a um discípulo. A partir do século XVI, no esforço de ensinar a mais alunos, surge a instituição do ensino mútuo, onde o ensino era oferecido em grandes salas, com o auxílio de monitores. E, finalmente, a pedagogia coletiva, como vemos hoje em todo o mundo.

Para João Barroso, esse modelo tem a "data de validade" vencida e deve ser substituído em breve. "Os educadores estão começando a perceber que é preciso partir da escola que ensina a muitos como se fossem um só, para a escola que ensina a todos, como se fosse cada um", afirmou.

Segundo o professor, a escola deve caminhar para ter mais autonomia, ligar-se profundamente à comunidade, ser democrática (com ampla participação de professores, pais e alunos), ter um currículo flexível e transformar-se em mais do que um lugar de ensino. "A escola deve ser um espaço de vivência cultural e política", disse.

"A autonomia da escola resulta, sempre, da confluência de várias lógicas e interesses que é preciso saber articular", afirma. Segundo ele, a escola deve evoluir, abrindo espaço para o conflito, para a negociação e para o compromisso, contrariando-se a idéia de que as pessoas, na escola, constituem uma comunidade que se afirma, sempre pelo consenso.

Entrevista - Educação Infantil e o modo de amar

Cátia Lima

No próximo mês de outubro é comemorado o dia das crianças. Que elas devem ser amadas para crescerem de modo saudável é do conhecimento de todos (ou deveria ser). Mas será que o modo com os pais amam os filhos influencia no modo como essas crianças vivenciarão seus relacionamentos amorosos na vida adulta? “É certo dizer que a criança amará na vida adulta a partir dos valores e da educação recebida na infância”, afirma o psicólogo, psicanalista, consultor familiar e escritor Teuler Reis. Ajudando famílias há anos a lidarem com seus problemas, Reis fala nesta entrevista sobre amor na infância, família e educação amorosa, e alerta aos pais: “Não nascemos com virtude alguma, é preciso ensinar as virtudes aos filhos”.

A educação e o modo como os pais amam a criança pode influenciar no modo como ela amará na vida adulta?

T: A educação é a matriz da vida futura. A criança aprende desde cedo a ver a vida com os olhos dos pais. Grande parte das dificuldades encontradas pelos pais na educação dos filhos é reflexo de atitudes tomadas, ou omitidas, na primeira infância. Gosto de lembrar aos pais que não nascemos humanos, nos tornamos seres humanos. O papel de formar seres humanos é da família e da escola. Somos um feixe de experiências acumuladas ao longo da vida. Então é certo dizer que a criança amará na vida adulta a partir dos valores e da educação recebida na infância.

Há quem diga que adultos buscam parceiros parecidos com os pais, na tentativa de substituir a figura paternal por um relacionamento. O senhor concorda?

T: Como psicanalista acredito que projetamos nossos desejos inconscientes nas nossas relações. Assim, acredito que é preciso o sujeito buscar o autoconhecimento para não se ver presa de situações complexas. Mas também é importante notar que de qualquer maneira estamos sempre buscando essa figura “paternal” nas nossas relações, afinal de contas, carregamos o desejo de ser amado pelo outro. Isso é inevitável.

Geralmente, sem alguém por perto a criança se desespera e chora. É importante ensinar a criança a lidar com a solidão?

T: Não somente em relação à solidão como também em relação à morte. Todos os grandes filósofos nos mostram a importância de aprender a lidar com a morte. E a experiência da vida é uma experiência solitária. Embora nossa sociedade crie vários meios de fugir dessa verdade ela está aí, nos ronda.

Muitos dizem que filhos únicos crescem e se tornam egoístas e mimados. Não ter um irmão com o qual os pais dividem a atenção pode mesmo moldar o comportamento da pessoa? Quais cuidados esses pais devem ter?

T: São mitos da sociedade. A criança precisa mesmo é de pais que as orientem na vida, que lhes ensinem a serem seres virtuosos. Não nascemos com virtude alguma, é preciso ensinar as virtudes aos filhos. Filhos egoístas e mimados são crianças privadas da educação das virtudes. Solidariedade, paciência, prudência, tudo isso se aprende, assim como todas as outras virtudes.
Todos nós sabemos que o amor não é um conto de fadas e nem sempre tem um final feliz, no entanto, quando crianças aprendemos sobre o amor por meio dos contos de fadas. Crescer ouvindo sobre essas ilusões pode causar sofrimento quando se cresce e descobre que o “príncipe encantado” não existe?

T: Absolutamente! Estudos mostram a importância dos contos de fadas na vida das crianças. Os contos estão cheios de representações simbólicas que ajudam a criança a superar momentos difíceis em sua vida.

Geralmente os pais passam pelo momento de conversar com a criança sobre sexo. Como isso deve ocorrer e quando?

T: Quando os pais acharem que é o momento. Quando a criança mostrar curiosidade os pais devem “acalmar” suas expectativas. Isso não significa dar uma aula de sexualidade para a criança. Lembro-me de um comercial interessante, a mãe de costas para filha pequena ouve a seguinte pergunta: ” mãe o que é virgem?” A mãe apavorada com a pergunta começa a tecer um longo discurso sobre virgindade para a filha. Quando termina sua explicação longa, ouve a próxima pergunta da filha, que nesse momento está com uma garrafa de azeite de oliva na mão, ” e extra-virgem mãe, o que é?”.

Recentemente, o vídeo de uma criança de quatro anos chorando apaixonada pelo professor recebeu muitos comentários na Internet. Uma criança pode se apaixonar? Os namoros na infância devem ser incentivados?

T: Penso ser de outro registro essa paixão que a criança demonstra. Quem sabe uma carência afetiva? É preciso conhecer cada caso e investigar o que sustenta esse sentimento. Não gosto de generalizar esses comportamentos. Quanto aos namoros, não incentivaria de maneira alguma meu filho, mas também é preciso lembrar que essas brincadeiras, essas fantasias sempre fizeram parte da vida fantasiosa das crianças, mas quando a criança diz que namora o amiguinho ela, muitas vezes, quer dizer que gosta dele, que se sente bem ao lado dele, é outro registro. A infância já está tão esquecida, foi tão reduzida nos últimos tempos. É preciso ensinar as crianças a viverem a infância como antigamente, brincar, sonhar, fantasiar. O tempo passa muito rápido, é um crime perder a infância.

Para encerrar, muitas celebridades já causaram polêmica quando grávidas declararam “não quero um filho gay”. Como os pais devem agir com a criança caso percebam que ela pode ser homossexual?

T: Primeiro é preciso lembrar que moramos num país democrático e isso significa respeitar as diferenças. Está na nossa constituição o repúdio a qualquer forma de discriminação. Portanto devemos respeitar as pessoas. Vale lembrar que ninguém escolhe ser gay, isso não é escolha que alguém realiza, é uma orientação. Se fosse uma questão de escolha, penso eu, ninguém iria querer escolher ser gay tendo em vista a sociedade preconceituosa como a nossa. Tem melhorado, mas ainda estamos longe de nos intitularmos uma sociedade sem preconceitos. Mas o que costumo dizer aos pais que me procuram com essa questão, é para colocar seu filho ou filha numa terapia para que ela fique forte o suficiente para enfrentar essa sociedade preconceituosa.

Fonte: http://www.eusoqueriaumcafe.com/2010/09/entrevista-educacao-infantil-e-o-modo.html

Como Educar a Memória


Por Marla Rodrigues
Equipe Brasil Escola

Formas de ajudar a memória

A memória é a principal aliada de todas as atividades que fazemos todos os dias, sejam elas mentais ou físicas. Para usá-la a nosso favor é preciso treiná-la e exercitá-la para que ela não nos deixe na mão sempre que precisarmos lembrar algo importante.

A capacidade de armazenar informações está ligada à capacidade física do cérebro (saúde e bem-estar) e à capacidade de organizar dados durante o processo de aprendizagem. Ambas as capacidades estão unidas à qualidade do sono. A memória “volátil” que usamos para lembrar coisas corriqueiras seleciona tudo aquilo que é mais importante e passa para a memória permanente enquanto estamos dormindo. Por esse motivo, pessoas que têm distúrbios do sono como insônia, sonambulismo e apnéia (ronco) tem mais dificuldade de concentração e mais problemas de esquecimento. Nestes casos, a ajuda médica é indispensável.

Lembrar das coisas também está ligado à inteligência, à habilidade de armazenamento e ao interesse sobre o assunto. Se uma pessoa não gosta de uma determinada matéria da escola, provavelmente terá muita dificuldade em aprendê-la e memorizá-la, pois o seu cérebro descarta as informações relacionadas por considerá-las “voláteis”.

Como melhorar

O jogo de xadrez é um bom exercício para a memória e para o raciocínio lógico (e um aliado e tanto para as aulas de matemática). Cuidar da alimentação também é importante e acrescentar pães, cereais, legumes e frutas em seu cardápio é primordial, pois estes alimentos contêm tiamina, ácido fólico e vitamina B12, essenciais para a manutenção do cérebro e da memória.

O método de repetição ajuda no arquivamento de informações, pois faz o cérebro crer que aquela informação é importante e por isso, armazena-a. Procure associar idéias a fatos ou a outras idéias para criar um sistema de conexões, o que faz você lembrar de uma coisa quando esquece de outra.

Descobrir o tipo de memória que você possui também é extremamente útil para selecionar o melhor método de estudo. Há pessoas que têm memória visual e, portanto, precisam estudar usando a leitura, os desenhos e os esquemas gráficos para serem bem-sucedidos no armazenamento de conteúdo. Para outros, a memória é auditiva e, por isso o conteúdo a ser memorizado deve ser verbalizado, os textos devem ser lidos em voz alta e discutidos com outras pessoas. O último tipo de memória é o sinestésico, relacionado aos movimentos que devem ser feitos para associar idéias.

Agora que você já sabe o que fazer, é importante saber o que não fazer. Ansiedade e nervosismo são absolutamente prejudiciais para o bom funcionamento da memória e, por esse motivo, devem ser controlados, por exemplo, com exercícios de respiração. Essa é uma maneira eficaz de se evitar os famosos “brancos” e lapsos de memória.



Educação ambiental e o currículo escolar

por Suzane da Rocha Vieira*

“Estrangeiro eu não vou ser
Cidadão do mundo eu sou”
Milton Nascimento

Nos últimos anos, as questões ambientais têm adquirido uma grande importância em nossa sociedade. Com as mudanças que o mundo vem sofrendo, a partir da crise da modernidade, acentuaram-se os números de estudos na busca de soluções para os problemas sociais, ambientais, políticos e econômicos que se está passando. Assim começam a surgir novos paradigmas que visam uma direção mais sistêmica e complexa de sociedade.
Foi a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972 que se ampliou o conceito de Educação Ambiental e na Conferência de Tibilisi em 1977 que internacionalmente reconheceu-se que:
A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida. (SATO, 2002: 23-24)
Assim, a partir da década de setenta emergiram em todo o mundo discussões acerca da Educação Ambiental, e tais discussões vêm ganhando espaço com o passar dos anos. E, como não poderia deixar de ser, um desses espaços é a escola. Dessa maneira, urge uma reformulação no sistema educativo, a partir de novas práticas pedagógicas que sejam promotoras de sujeitos de ação e não de adaptação, de cidadãos responsáveis e conscientes de seu papel no mundo.
Dessa forma, criou-se, no mundo inteiro, um consenso mundial de que o nosso futuro, enquanto homens e mulheres organizados em sociedade, depende das relações estabelecidas entre os homens e os recursos naturais. Inicialmente, a Educação Ambiental apresentava um caráter preservacionista, com ações voltadas apenas para o cuidado com a natureza mas hoje sabemos que ela não se limita simplesmente às modificações ambientais, ela possui um caráter social e político que não podem ser negados, uma vez que o ambiente é um todo complexo.
Nesse processo, a Educação Ambiental vem adquirindo uma grande importância no mundo, sendo hoje pertinente que os currículos escolares busquem desenvolver práticas pedagógicas ambientalizadas. Assuntos como ética, estética, respeito e cidadania planetária devem estar presentes diariamente na rotina da sala de aula.
Como perspectiva educativa, a Educação Ambiental deve estar presente no currículo de todas as disciplinas, uma vez que permite a análise de temas que enfocam as relações entre a humanidade, o meio natural e as relações sociais, sem deixar de lado suas especificidades.
É necessário ter claro que a Educação Ambiental não deve estar presente no currículo escolar como uma disciplina, porque ela não se destina a isso, mas sim como um tema que permeia todas as relações e atividades escolares, buscando desenvolver-se de maneira interdisciplinar, conforme preconiza o Plano Nacional de Educação Ambiental - Lei 9795/99.
A interdisciplinaridade é explicada por Norgaard (1998) através de uma metáfora muito interessante, nela ele simboliza a orquestra para explicar a importância da interdisciplinaridade. Se todos os pesquisadores envolvidos numa pesquisa possuíssem os mesmos entendimentos sobre um determinado conhecimento, estaríamos tocando um só instrumento e alcançando as mesmas notas musicais. Mas possuir conhecimentos complementares ou divergentes seria comparável a uma orquestra, onde tocar juntos requer uma partitura mais elaborada e uma competência mais considerável. Ainda que numa orquestra os músicos não possam escolher as partituras que tocam juntos ou eleger o regente, o som da improvisação orquestral pode representar uma revolução, onde a dissonância pode ser compreendida como parte da transição da modernidade, e onde os conhecimentos se complementam para a interpretação conjunta de uma realidade.
Portanto, a dimensão ambiental traz a necessidade de uma rica orquestra musical, uma vez que a educação ambiental, deve ser entendida como educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza
Para Moreira “nas escolas não se aprendem apenas conteúdos sobre o mundo natural e social; adquirem-se também consciência, disposições e sensibilidades que comandam relações e comportamentos sociais do sujeito e estrutura sua personalidade” (1995: 50). Assim, a interdisciplinaridade envolve muito mais do que integração entre as disciplinas, ela precisa envolver conhecimentos do cotidiano dos alunos e que lhes traga significado. Por isso, a Educação Ambiental precisa fazer parte do cotidiano escolar, para refletir sobre questões atuais e pensar em que mundo se deseja viver, e, então, por em prática a máxima do pensamento ecologista mundial de poder agir local e pensar global.
A maneira como o currículo é oferecido na maioria das escolas não permite um arranjo flexível para que os professores possam incluir a dimensão ambiental em suas aulas. É necessário que o currículo seja entendido como “algo que se constitui nas relações intersubjetivas na comunidade escolar, relações essas inerentemente políticas, e, portanto, mesmo que implicitamente sempre intencionais. Currículo é um processo inacabado” (GALIAZZI, GARCIA, et al. 2002: 100). É concordando com Sacristán (1998) que compreende o currículo como algo construído no cruzamento de influências e campos de atividades diferenciadas e inter-relacionadas, permitindo analisar o curso de objetivação e concretização do currículo em vários níveis e assinalando suas múltiplas transformações,que se viabiliza a educação ambiental na escola.
De acordo com Sato,
Há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares, como atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora da sala de aula, produção de materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política ambientalista. Cabe aos professores, por intermédio de prática interdisciplinar, proporem novas metodologias que favoreçam a implementação da Educação Ambiental, sempre considerando o ambiente imediato, relacionado a exemplos de problemas atualizados (2003: 25).
Atualmente, o currículo escolar vem transformando-se e atendendo as exigências do paradigma da pós-modernidade, que entende a sociedade como uma totalidade. Segundo Santos (2000), a modernidade está assentada sobre dois pilares de construção do conhecimento, onde o primeiro é o conhecimento-regulação e o segundo o conhecimento-emancipação. Sendo que o conhecimento que se consagrou foi o conhecimento regulação, dominando e anulando as possibilidades de implementação do conhecimento emancipação.
Conforme Barcelos (2002), a retomada do conhecimento emancipação permitirá o surgimento de uma nova relação entre conhecimento e cidadania, em que o ato de conhecer é também ato de reconhecer que o outro não mais é visto tomado apenas como objeto, mas como sujeito do conhecimento. E é para esse tipo de conhecimento que a Educação Ambiental está voltada, um conhecimento construído, desenvolvimento da cidadania, da autonomia e da ética.
Entretanto, Barcelos (2002) apontará que para se atingir o conhecimento emancipação é necessário uma construção paradigmática, que “permite distinguir as disciplinas sem, no entanto, separá-las, isolá-las, associar sem, com isso, reduzir ou anular qualquer uma das partes ou disciplinas envolvidas”. O que não será uma tarefa muito fácil, tendo em vista que tudo no mundo está fragmentado, mas para se construir uma conscientização ambiental/planetária é necessário desconstruir a compartimentalização do conhecimento.
Considerando que a Educação Ambiental tem por objetivo a busca do conhecimento integrado de todas as áreas para a solução dos problemas ambientais, a fragmentação do conhecimento perde o sentido, uma vez que esta educação visa o conhecimento emancipação. Portanto, a EA tem sido identificada como transdisciplinar isto é, transpassa todas as disciplinas já que ela, segundo Sato, “sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais dos seres humanos” (2002: 24).
Porém, a construção de um currículo deve levar em conta o indivíduo, a sua sociedade e a sua história de forma a criar uma situação de um compromisso que possa gerar a transformação. Sobre o desenvolvimento de um currículo Giesta, assim se pronuncia:
o estudante analise a coerência de seus próprios valores e comportamentos, assim com da sociedade; aprenda a obter informações e desenvolver competências para perceber o ambiente particular como parte as sociedade global, entre outras aprendizagens que lhe dêem suporte para melhor compreender o mundo, os fatos, as pessoas. (1999:120).
Portanto, é evidente a necessidade de trazer para os currículos escolares os conhecimentos, os valores e comportamentos do estudante e da sociedade da qual ele é partícipe em uma relação recíproca de influências que envolvem uma variedade de conceitos e visões de mundo. As palavras de Giesta expressam essa realidade da seguinte maneira: “a educação se dá na interação com as pessoas e com o meio ambiente” (1994: 183).
Percebe-se, então, que o currículo é uma construção social, no sentido que está diretamente ligado a um momento histórico, a uma determinada sociedade e as relações que esta estabelece com o conhecimento. Partindo disto, existe nas diversas realidades uma pluralidade de objetivos com relação ao que ensinar, no sentido de que os conteúdos propostos compõe um quadro bastante diverso e ao mesmo tempo peculiar.
Deste modo, a escola ao propor o desenvolvimento do currículo escolar voltado para a questão ambiental, deve proporcionar a participação de todos no processo de sua construção execução, tendo os alunos como sujeitos do processo. Os conteúdos precisam ser revistos para que os mesmos convirjam entre as disciplinas de forma interdisciplinar, além de terem sua importância dentro da Educação Ambiental.
A Educação Ambiental precisa ser entendida como uma importante aliada do currículo escolar na busca de um conhecimento integrado que supere a fragmentação tendo em vista o conhecimento emancipação. Uma vez que, segundo Sato, a EA “sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais dos seres humanos” (SATO, 2002: 24). Sendo assim, apresenta-se como uma peça importante no currículo escolar.

Referências
BARCELOS, T. M. (2002). Subjetividade: inquietações contemporâneas. Educação e filosofia 32, (16), 149-159.
GALIAZZI, M. C. et. Al.. Construindo Caleidoscópios: organizando unidades de aprendizagem. Revista eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental, Rio Grande, v. 09, p. 98 –111, jul. – dez. 2002.
GIESTA, N.C. Tomada de decisões pedagógicas no cotidiano escolar. Porto alegre:UFRGS, 1994.
MOREIRA, A . F. Currículos e Programas no Brasil. Campinas: Papirus, 1995.
NORGAARD, Richard. A improvisação do conhecimento discordante. In Ambiente & Sociedade, Ano I, n. 2, p. 25-40, 1998.
SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sob a prática. 3ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
SANTOS, B. S. A critica da razão indolente – contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000.
SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: Rima, 2002.

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* Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e aluna especial do Programa de Pós-graduação em Educação Ambiental da Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG.

Como saber se meu filho tem um problema de ansiedade?

Teresa Artola González

SITUAÇÃO FAMILIAR: Marta tem 8 anos e tem uma irmã, Lourdes, de 6 anos. Até há alguns meses era uma menina alegre e tranquila, ainda que sempre tenha sido um tanto tímida. Ultimamente, seus pais notaram que ela mudou. Toda sua antiga energia e alegria evaporou-se. Parece triste e mostra grande resistência para empreender qualquer atividade nova. Lhe custa muito dormir e quando o consegue tem frequente pesadelos. Chora com frequência e, frequentemente, sem um motivo aparente.

Converteu-se em uma menina solitária que evita suas antigas amigas e se resiste a conquistar novas amizades. Se tornou mal-humorada e irritada, ainda que ela insiste em que não tem nada.

Seus pais, Fernando e Carmem, não entendem muito bem o que é que está acontecendo. Faz seis meses que se mudaram de cidade, por motivos de trabalho de Fernando, e portanto de colégio. Certamente, não entendem que isto pudesse afetar tanto a filha. De fato, o resto da família adaptou-se muito bem: estão agora em uma cidade menor, possuem uma casa muito mais bonita, em um bairro com belos jardins onde há muitas crianças da idade de suas filhas.

Mas para Marta não lhe interessa descer para jogar. Frequentemente diz que lhe dói a cabeça e prefere ficar em casa lendo.
O colégio é também muito melhor em relação ao que frequentava antes. Cuidam mais da formação das meninas e a cada uma lhes destaca uma preceptora que colabora com os pais na educação das meninas. Mércia, a preceptora de Marta, disse que ela é uma menina muito dócil e inteligente, ainda que frequentemente fique distraída cometa erros absurdos por ser muito impulsiva. Também tiveram problemas de adaptação: lhe custa relacionar-se com suas companheiras e, em várias ocasiões, estas mexem com ela porque usa óculos para melhorar sua visão.

Nos primeiros meses faltou com frequência ao colégio pois teve muitas dores de barriga e vômitos. Seus pais, assustados, a levaram ao médico, que lhes disse que estas dores são consequência do “nervosismo”. Mas nervoso de que?, se perguntavam seus pais.

Carmem, sua mãe, é também muito nervosa e perfeccionista em excesso: gosta que tudo esteja perfeito e é muito exigente: com as notas, com a ordem. Entretanto é tremendamente sociável e já tem um montão de amigas em sua nova cidade. Não entende por que a sua filha lhe custa tanto adaptar-se.

Em casa, Marta também está muito insuportável: Chega do colégio de mau humor. Se aborrece por qualquer coisa e chora com frequência sem motivo aparente. Seus pais se perguntam se não será pela idade e esperam que com o tempo volte a ser a menina que era antes.

O que é a ansiedade e como se produz?

A ansiedade é uma resposta natural do organismo que lhe prepara para reagir (lutar ou fugir) ante um perigo real ou imaginário. É um espécie de radar que foi muito útil à humanidade em um passado perigoso.

Sem preocupações ou sem medos não poderíamos evitar as coisas potencialmente prejudiciais com as quais nos encontramos cada dia.
Se trata, portanto, de uma resposta adaptativa do organismo que lhe prepara para enfrentar uma situação de perigo: o coração bate mais depressa para contribuir maior quantidade de oxigênio, os músculos ficam tensos.

Todas estas atividades se desencadeiam como consequências da ativação do Sistema Nervoso Autônomo (SNA). Se trata de um sistema nervoso independente cuja atividade não está submetida ao controle direto do cérebro (pelo que lhe denomina autônomo). Por isso, quando o SNA se ativa, estaremos nervosos, mesmo quando nosso “cérebro pensante” nos diz que não existe perigo real e que nosso medo é irracional.

Hoje em dia, raramente a sobrevivência nos exige fugir ou lutar. Entretanto, nosso sistema nervoso continua respondendo aos sinais de perigo e pode ativar-se ante situações que não coloquem em perigo nossa sobrevivência física, mas nosso bem estar emocional ou intelectual.

Por exemplo, o SNA de uma criança pode ativar-se quando lhe perguntam na classe, quando lhe critica um professor, quando outras crianças zombam dela.

A ANSIEDADE NÃO É UMA DOENÇA,

MAS UMA REAÇÃO NATURAL DO ORGANISMO QUE OCORRE DE FORMA

INADEQUADA

Frequentemente, esta resposta se desencadeia de forma inadequada ante situações ou estímulos que não supõem nenhum risco real para a pessoa, ou melhor aparece ante situações apropriadas mas de forma excessiva: por exemplo, quase todas as pessoas experimentam um certo nervosismo ante os exames mas, se este é excessivo, falaremos de ansiedade.
Como identificar se meu filho tem um problema de ansiedade?
Nem sempre é fácil identificar se uma criança tem um problema de ansiedade.

A ANSIEDADE PODE
APRESENTAR-SE COM FREQUÊNCIA
DE FORMA DISFARÇADA
Entre os muitos aspectos que a ansiedade pode adotar estão o mau humor, a irritabilidade, o comportamento agressivo, o fracasso escolar, a obstinação, a rebeldia.
Frequentemente, as crianças ansiosas são etiquetas como “preguiçosas” ou “estúpidas”. Assim, uma criança, cujos primeiros dias de colégio estão marcados pela ansiedade, parecerá menos ágil, capacitado ou competente que seus companheiros, já que a ansiedade excessiva tem um efeito negativo sobre o rendimento. É, pois provável que seus professores o “etiquetem” como torpe ou pouco brilhante. Uma vez que ocorre isto, se requer uma enorme quantidade de provas em sentido contrário para que os professores mudem de opinião sobre a criança.
Também pode manifestar-se sob a forma de sintomas físicos como dores de barriga, vômitos, dor de cabeça, ou ser interpretado como consequência de outros conflitos como ciúmes, mau caráter, agressividade ... Todas estas manifestações são formas através das quais a criança se defende da ansiedade.
Por exemplo, se seu filho tem medo do professor de matemática, é possível que sofra vômitos ou dores de barriga cada vez que tem aula com ele.
Se estas artimanhas não lhe servem, é provável que evite mentalmente a situação, fantasiando durante a aula, com o qual seu rendimento será cada vez menor, ou melhor que quando tiver que fazer um exame responda com muita rapidez para evitar o mais cedo possível a situação (o que certamente lhe levará a cometer muitos erros absurdos).
Lhe proporemos que responda as perguntas do seguinte questionário, que pode ajudar-lhe a determinar se seu filho sofre uma ansiedade excessiva.
Questionário de D. Lewis para detectar ansiedade
1 – Dorme mal (custa para dormir ou acorda com frequência durante à noite).
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
2 – Tem pouco apetite.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
3 – Se aborrece muito pelas contrariedades.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
4 – Chora sem nenhum motivo aparente.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
5 – Padece de muitas doenças benignas (resfriados, dores de barriga ...)
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
6 – Está arisco e mal-humorado
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
7 –Resiste a tentar novos objetivos:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
8 – Sua conduta é conflitiva em casa ou no colégio.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
9 – Baixou em seu rendimento na sala de aula sem razão aparente.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
10 – Começou a fazer xixi na cama uma e outra vez.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
11 – Se cansa com facilidade.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
12 – Tem medo quando tenta realizar algo novo.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
13 – Se mostra muito sensível às críticas justificadas.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
14 – É tímido em relação aos demais.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
15 – Gosta de estar com os amigos ou familiares:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
16 – Tem dificuldades para fazer amigos
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
17 – Pede que lhe desculpem para ausentar-se na classe determinados dias:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
18 – Tem pesadelos
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
19 – Não gosta das mudanças em sua rotina:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
20 – Lhe custa levantar-se por sua conta:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
PONTUAÇÃO: Anotar 5 pontos para cada resposta c, 2 para cada resposta b, e 0 para cada resposta a. Se a pontuação ficou acima de 25 pontos, sugere-se que continue lendo este texto.

Como se manifesta a ansiedade?
A ansiedade pode adotar formas diversas. Geralmente se dão quatro tipos de repostas de ansiedade: a ansiedade geral difusa ou crônica, os medos, as fobias e as conduta rituais ou obsessivas.
A – ANSIEDADE CRÔNICA
Por ansiedade geral ou crônica se entende um estado de preocupação devido a uma circunstância incerta ou inespecífica que ameaça em provocar algum dano grave. Nestes casos, a angústia mental e física que experimenta a pessoa que a sofre não pode atribuir-se a uma pessoa, anima ou situação concreta. A criança tem medo mas nada de concreto; fica intranquila, ansiosa.
A pessoa que a sofre a experimenta como uma espécie de “nuvem negra” que lhe rodeia desde o momento que se desperta até o instante em que dorme. Como um estado constante de apreensão e preocupação. Como um “flutuar” no ar” como um “medo sem saber do quê”.
Este excesso de ansiedade também recebe o nome de síndrome de estresse depressivo e costuma ir acompanhado de sintomas como:
- Esgotamento, perca de energia e fadiga.
- Perca de confiança em si mesmo e interesse pelos demais.
- Diminuição das relações pessoais.
- Irritabilidade: a criança se torna cada vez mais irritada, é incapaz de suportar qualquer contratempo ou frustração e tende a valorizar mais os fracassos que os êxitos.
- Depressão: choro frequente, falta de amor próprio e sentimentos de indecisão (não posso fazer nada).
- Problemas de saúde: dores de barriga, dores musculares (costas e pescoço), dores de cabeça, vômitos.
Nas crianças, a ansiedade crônica está na base e muito problemas escolares e frequentemente dificulta a capacidade da criança para:
- Assimilar as lições.
- Resolver problemas.
- Tomar decisões.
- Aprovar exames.
- Fazer amigos.
- Relacionar-se com seus professores.
Tem também importantes efeitos negativos sobre a própria imagem, auto-estima e segurança em si mesmo da criança.
Há certas épocas na vida da criança nas quais pode estar especialmente propensa a padecer deste tipo de ansiedade:
- Ao começar a etapa escolar.
- A mudança de colégio e a necessidade de fazer novos amigos.
- Ao finalizar a educação secundária com a preparação dos temidos exames.
- Para a puberdade: sua mente e seu corpo devem adaptar-se as mudanças que têm lugar a esta idade.
Também, certos acontecimentos importantes na vida da criança podem gerar uma ampla dose de ansiedade:
- A morte de um familiar ou amigo próximo.
- A separação de seus pais.
- A perca de emprego do pai ou da mãe.
- A mudança de domicílio.
- A morte de um animal muito querido.
- O rompimento com um amigo íntimo.
ESTEJA ATENTA, NESTES MOMENTOS, SEU FILHO NECESSITA
COMPREENSÃO E APOIO
B – OS MEDOS
Os medos se referem à ansiedade provocada por algo que seu filho pode ver, ouvir ou experimentar: medo aos cachorros, aos estranhos, aos exames. Costumam estar acompanhados dos mesmos sintomas físicos e mentais que a ansiedade, se bem que costumam apresentar-se de forma mais intensa mas tão duradoura.
Os medos variam conforme a idade da criança. As crianças dentre 0 e 3 anos temem especialmente distanciar-se dos pais e desconfiam dos estranhos.
Entre os 4 e 6 anos, é a idade da imaginação transbordada, os medos aos fantasmas, os monstros, as bruxas, a escuridão. A medida que a criança se torna adulta, os medos imaginários são reempregados por outros reais.
Entre os 6 e 12 anos, alguns dos medos mais comum são os seguintes:
- Medo de ser ridicularizado, zombado, castigado, criticado ou sentir-se humilhado.
- Perder o amor ou respeito de seus pais, a não cumprir suas expectativas, ao fracasso.
- Medo a dor física, machucar-se, fazer feridas.
- Medo à morte, às guerras (por volta dos 8 anos).
- Medo ante alguns fenômeno naturais (tempestades, por exemplo ).
- Medo à relação com outras crianças: fazer novos amigos, ser ridicularizado.
- Medo à escola, aos exames, à matemática, aos esportes.
- Medo sexual, que lhe vejam nu, que não seja uma pessoa “normal”.
Geralmente, estes medos infantis constituem uma etapa passageira mas podem continuar e converter-se em um problema quando:
- A criança tem um temperamento ansioso e sensível.
- Os pais têm medos parecidos.
- A criança teve que enfrentar acontecimento estressantes.
- Após uma experiência negativa de medo na vida real.
- Não se fez nada para ajudar a criança superar seus medos.
- Se deu muita importância ao medo.
- Quando se evitam as possíveis situações que geram o medo.
COMO SEMPRE,
O MELHOR É PREVENIR
O que fazer ante estes casos? Em primeiro lugar, prevenir o medo. Isto implica que devem evitar-se as ocasiões que provocam ansiedade. Para isso é fundamental que, em sua casa, existe um ambiente de calma e serenidade. As discussões entre os pais, uma atmosfera tensa, a irregularidade habitual dos horários o nervosismo e a agitação são fatores que não contribuem ao sentimento de segurança que precisa seu filho.
UM CLIMA FAMILIAR DE CALMA E SERENIDADE É FUNDAMENTAL PARA
PREVENIR A ANSIEDADE NAS CRIANÇAS
Depois deverá tranquilizar seu filho. Tentará compreender-lhe, mostrar-lhe mais afeto e não deve zombar de seus medos. Procure um momento propício para falar-lhe deles.
A seguir deverá tentar uma reeducação progressiva. Assim, se seu filho tem medo à escuridão, lhe permitirá deixar uma luz ao princípio e irá diminuindo paulatinamente até tirar-lhe totalmente. Ao mesmo tempo irá tratando de inspirar-lhe autoconfiança e segurança em si mesmo. E tem especial cuidado em não utilizar o medo como meio educativo.
PARA SUPERAR SEUS MEDOS DEVER IR POUCO A POUCO
COMO SE ESTIVESSE SUBINDO OS DEGRAUS DE UMA ESCADA
C – AS FOBIAS
O termo “fobia” significa pânico ou medo: Diferem de outro tipo de medos em três aspectos fundamentais:
- O medo é intenso, até tal ponto que a criança não seja capaz de controlá-lo.
- O objeto temido não implica uma ameaça real (por exemplo, um rato ou um cachorro).
- O medo é tão forte que faz com que a criança trate de evitar a situação no futuro.
As fobias pelos animais e outros objetos específicos são muito comum nas criança dentre 2 e 6 anos de idade. A partir desta idade, a maioria das crianças são capazes de superar suas fobias. Se uma fobia continua até a adolescência, é provável que se mantenha na vida adulta.
A melhor forma de tratar as fobias é abordada logo, antes de que se estabeleçam. O principal problema para superá-la é que a criança fóbica tenha tanto medo que faça todo o possível para evitar o objeto temido, e desta maneira nunca pode averiguar que realmente não há nele nada a temer.
Pode ajudar seu filho fazendo-lhe enfrentar-se aos objetos ou situações temidas muito lentamente mediante pequenos passos escalonados. Programe cada passo com muito cuidado de forma que quando deve superá-lo apenas experimente uma ligeira ansiedade. Se nota que tem medo, é que vai muito depressa, ou os passos são muito grandes. Neste caso deverá voltar atrás até um passo que seu filho seja capaz de superar.
D – CONDUTAS RITUAIS E OBSESSÕES
Uma conduta ritual é uma ação repetitiva que tem um significado especial para a pessoa que a realiza. Produz uma sensação de alívio e redução da tensão. Muitas crianças dentre 5 e 10 anos apresentam condutas rituais:
- Colocar em fila seus bonecos ou jogos.
- Colocar sempre as coisas na mesma ordem.
- Não pisar nas faixas dos ladrilhos da rua.
- Repetir muitas vezes a mesma palavra ou frase .
- Fazer as coisas sempre na mesma ordem.
- Fazer sempre as coisas da mesma maneira (antes de dormir, tomar banho ...)
- Comprovar as coisas uma e outra vez.
- Tocar todos os objetos de forma reiterada.
Estes atos rituais costumam constituir uma forma através da qual a criança elimina sua ansiedade. Ao conservar as coisas iguais e familiares, a criança se sente mais segura. Certamente, em ocasiões, estes rituais podem chegar a dominar a criança. Nestes casos deverá pesquisar o que é que pode lhe produzir ansiedade e impedir de forma firme mas carinhosa em que realiza estas condutas. A princípio é normal que proteste. Mas ao longo, sua firmeza transmitirá a seu filho sentimentos de segurança e bem estar.
As obsessões são similares aos comportamentos similares mas se diferenciam destes em que se trata de pensamentos persistentes e indesejados e são mais frequentes nos adultos que nas crianças.

O que é que lhe deixa ansioso?
A ansiedade costuma ser o resultado de sentimentos de inadequação ou inferioridade. Estes podem surgir como resultado de algumas das circunstâncias que a seguir detalhamos.
PAIS EXCESSIVAMENTE CRÍTICOS, EXIGENTES E PERFECCIONISTAS:
Se você ou seus professores criticam a criança com frequência por seus erros, se os mostram excessivamente exigentes e dão a impressão de que seu carinho ou respeito depende de seu êxito, é muito provável que a pressão que a criança experimenta por cumprir suas altas expectativas gere nela ansiedade.
Neste caso, a criança está excessivamente preocupada por satisfazer as expectativas dos adultos e responder suas exigências. Isso implica uma perca de segurança, uma atitude de autocrítica, um descenso da motivação e uma imagem negativa de si mesmo.
ELOGIE SEUS ÊXITOS
E NÃO DARÁ TANTA IMPORTÂNCIA
A SEUS FRACASSOS
Quando critica uma criança com frequência por suas faltas, esta acaba sentindo-se culpada. Se torna medrosa ante as nova situações e se sente insegura em suas relações com os demais. Qualquer ameaça, critica pessoal ou sugestão desfavorável aumenta seus sentimentos de insegurança.
Em outras ocasiões, o medo ao fracasso não provém das altas expectativas dos pais, mas da própria criança; como quando deseja igualar os êxitos de seu irmão maior, ou parecer-se a seu pai.
Há crianças que podem ir muito bem ao colégio, mas o que lhes motiva é o medo ao fracasso em lugar da necessidade de êxito. Enquanto que o que motiva a criança não é o obter um êxito, mas o evitar a todo custo um fracasso, qualquer erro gerará uma notável dose de ansiedade.
PROBLEMAS FAMILIARES. Quando os pais têm problemas, discutem com frequência, têm problemas de trabalho ... as crianças podem desenvolver uma ansiedade intensa. Muitos pais pensam que seus filhos não se dão conta da existência destes problemas, já que procuram não discutir na sua presença. Deve ter em conta que seu filho tem uma espécie de “radar” e detecta facilmente qualquer problema.
AS RELAÇÕES COM OUTRAS CRIANÇAS: As relações com outras crianças podem ser, também, fonte de ansiedade. As ameaças por parte de um menino mais forte, as conversas dos companheiros, podem supor para algumas crianças uma ansiedade considerável.
INQUIETUDES SEXUAIS: Pode originar-se com frequência como consequência de cenas vistas na televisão de filmes visto às escondidas, de brincadeiras de caráter sexual de outras crianças. Os pais devem ter em conta que a melhor forma de prevenir este problema é conversando com os filhos e adiantando-se em tratar sobre os temas de educação sexual para ser os primeiros em estabelecer as idéias positivas.
PAIS INSEGUROS E ANSIOSOS: As crianças ansiosas costumam ter pais, e em especial MÃES, com altos níveis de ansiedade.
Os medos específico não se passa de pais para filhos, mas o que pode ocorrer é que a criança herde um SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO mais sensível à estimulação e, portanto, uma tendência à ansiedade, uma maior vulnerabilidade à ansiedade.
Mas, fundamentalmente, a ansiedade se transmite de pais para filhos através de seu comportamento. Quando os próprios pais são medrosos ou inseguros podem transmitir a criança seus medos. Se continuamente lhe advertimos possíveis perigos, se lhe superprotegemos e não lhe deixamos ser independentes, não é de estranhar que nosso filho se sinta inseguro e imite nosso comportamento .
LEMBRE QUE A ANSIEDADE É
CONTAGIOSA. MANTENHA A CALMA
E A SERENIDADE
Frequentemente, a ansiedade se disfarça em forma de mau humor, irritabilidade, comportamento agressivo, impulsividade e outras formas de má conduta.
Além disso, muitas crianças ocultam suas inquietudes por:
- Medo a que não se leve a sério.
- Medo a parecer bobas ou infantis ou covardes.
- Medo a que lhe repreenda, ridicularize ou humilhe.
Para averiguar com certeza o que é que está preocupando a seu filho deverá observar atentamente e aprender a escutar-lhe com uma mentalidade receptiva.
CADA CRIANÇA É DIFERENTE
CONHEÇA A SEU FILHO
Uma forma de identificar a causa das ansiedades de seu filho é que se proponha a levar um pequeno diário de seu comportamento. Não é necessário descrições longas e detalhadas. Basta que anote brevemente o que a criança fez durante o dia junto com qualquer sintoma de ansiedade: dor de barriga, perca de apetite, pesadelos, choro.
Dito em registro convém que se refira ao que ocorreu imediatamente antes e depois das manifestações de ansiedade.
Anote o que aconteceu justo antes de que seu filho mostrasse sintoma de ansiedade, o momento do dia, e o lugar onde esta se apresentou (antes da aula de ginástica, quando criticou, quando viu a determinado professor), assim como o ocorrido como consequência deste comportamento: se lhe castigou, se lhe permitiu sair com uma das suas ...
A cabo de uns dez dias releia todas as anotações e tente ver se há algo a fazer em comum: por exemplo, pode descobrir que seu filho tem dor de barriga cada vez que tem um jogo de futebol ou que fica de mau humor cada vez que tem uma festa; estas anotações lhe darão importantes pistas do que está acontecendo com a criança.
Também é fundamental que saiba ESCUTAR a seu filho: uma escuta atenta que lhe permita entender o que disse além daquilo que não disse resulta fundamental. Para isso, convém que tenha em conta as seguintes recomendações:
- DEIXE O QUE ESTÁ FAZENDO: As crianças nem sempre escolhem o momento mais oportuno em que querem ser escutadas. Se está na cozinha fazendo a torta para o jantar tem duas opções: ou deixar a torta e escutar-lhe atentamente ou dizer a seu filho que nesse momento não pode escutar-lhe com suficiente atenção e logo lhe chamará para conversar com ele. Mas NÃO FAÇA AS DUAS COISAS AO MESMO TEMPO.
- NÃO ESCUTE QUANDO ESTIVER ABORECIDA: Quando seu filho chega em casa com uma notificação do colégio por seu mau comportamento é provável que seu aborrecimento não lhe permita escutar as explicações que seu filho tenta dar-lhe. Não tente escutá-lo enquanto não tiver se acalmado e puder valorizar a situação de forma objetiva.
- NÃO ZOMBE nem ignore os argumentos de seu filho.
- ESCUTE POSITIVAMENTE. Isto implica que dever escutar com os olhos além de com os ouvidos. Reserve um tempo no qual possa prestar total atenção o qual seu filho quer contar-lhe. Uma boa hora costuma ser quando estão deitados na cama antes de dormir. Escute-lhe e trate de intervir o menos possível. Qualquer interrupção, sobretudo se for para criticar-lhe, fará com que a criança se retraia.
Anime seu filho para que fala com liberdade, sem dizer-lhe nada mas escutando-lhe com interesse. Ensine-lhe que não há nada de tão ruim que não possa contar. Peça exemplos concretos dos comportamentos que lhe causam ansiedade.
SABER ESCUTAR É IMPORTANTE
PARA CONHECER SEU FILHO
Como posso ajudar?
Se seu filho padece de algum tipo de ansiedade deve levá-lo a sério. Muitos pais dão pouca importância aos medos de seus filhos e pensam que se trata de algo que desaparecerá com a idade. Outros se aborrecem com seus filhos por considerá-los muito “moles” ou covardes.
Em primeiro lugar, mantenha-se tranquila e tenha confiança em si mesma. Lembre que a ansiedade pode ser contagiosa.
Brigar com a criança ou dizer-lhe que “deixe de comportar-se como uma boba”, não costuma dar resultado e frequentemente piora as coisas. Deixar passar um tempo tampouco costuma ser uma boa estratégia.
Para ajudar seu filho a esforce-se primeiro em compreender sua ansiedade e os desagradáveis sintomas mentais e físicos que o acompanham. A seguir deverá esforçar-se em averiguar por que seu filho está ansioso e ensinar-lhe alguns procedimentos para combater os sintomas físicos e mentais da ansiedade.
Também deverá melhorar sua auto-estima para ensinar-lhe a enfrentar-se à vida com mais confiança, segurança e boa adaptação.
UMA ALTA AUTOESTIMA É UM
BOM ANTÍDOTO CONTRA
A ANSIEDADE
Do mesmo modo, as situações familiares negativas para a criança e os conflitos familiares deverão solucionar-se para que a criança encontre em sua família um ambiente relaxante, e realizar as mudanças ambientais necessárias para eliminar as fontes de ansiedade e estress inecessárias.
Pode também proporcionar a seu filho algumas habilidades e recursos para que consiga enfrentar as situações conflitivas com maior confiança.
ENSINAR-LHE A RELAXAR-SE

Uma forma de ensinar seu filho a controlar seus medos e preocupações é ensinando-lhe a relaxar.
A relação é o antídoto natural do corpo contra a ansiedade. Existem muitas formas de aprender a relaxar-se, ainda que nem todas são fáceis de aplicar com crianças. Certamente, à maioria das crianças lhes encanta que lhes ensinem técnicas de relaxamento se lhes apresentam como um jogo divertido.
Algumas das técnicas mais utilizadas (que não descrevemos por questão de espaço neste livro) são as seguintes:
- Manter-se cômodo e em silêncio em um quarto tranquilo
- Escutar algum peça musical que lhe agrade muito.
- Esticando alguns músculos e a seguir relaxando-se. Se puder, por exemplo, faça-lhe imaginar que é uma marionete com fios amarrados na cabeças mãos e pés, e faça-lhe dançar enquanto simulamos manipular os fios. A seguir simularemos que vamos cortando os fios um a um e induzindo-lhe a que relaxe.
- Criando um filme mental. Lhe pediremos que imagine o mais vivamente possível uma imagem que lhe resulte muito agradável e relaxante: estar deitado na praia sentindo o calor do sol e o barulho das ondas; deitado sobre a grama ouvindo as flores: flutuando deitado sobre uma nuvem ... qualquer imagem é válida sempre que se trata de um lugar muito pessoal onde a criança se sinta a vontade. Um lugar especial e privado ao qual pode voltar cada vez que se sente tenso ou ansioso,
- Através de imagens que se associam com um estado de relaxamento.
- Penando em uma experiência passada feliz.
- Escutando uma música com instruções especiais sobre relaxamento.
- Respirando profundamente.
Como enfrentar situações cotidianas?
Entre os 6 e os 12 anos há algumas áreas nas quais a ansiedade tem mais probabilidades de aparecer.
A – ANSIEDADE ANTE O COLÉGIO: Este tipo de ansiedade é muito comum e pode aparecer como consequência da preocupação por uma avaliação determinada, ou pela atitude de algum professor em real. Também pode reforçar-se para que a criança se sinta incapaz de superar as tarefas que deve realizar no colégio.

Em ocasiões a recusa em ir ao colégio é consequência, não do que ocorre, mas do que pode ocorrer em casa enquanto ela está ausente: por exemplo, se a mãe está doente, se há problemas entre os pais ...
- Se se sente triste e mau humorado nos últimos dias de férias.
- É mais propenso a doenças benignas durante o curo escolar.
- Chora quando tem que ir ao colégio.
- É infeliz por culpa de uma ou mais das avaliações escolares.
- Costuma voltar em casa, do colégio, de mal humor.
Nestes casos deverá averiguar se existe alguma boa razão para que a criança se comporte assim. É possível que outras crianças estejam lhe aborrecendo ou intimidando ou inclusive que o problema seja o próprio professor. Deverá, além disso, assegurar-se de que seu filho se sente capaz de realizar o trabalho escolar ou pensa que lhe resulta muito difícil.
Se seu filho mudou recentemente de colégio é possível que sinta medo aos desconhecidos: que não saiba onde estão os serviços, onde sentar-se, onde deixar sua lancheira ... nestes casos deve falar com seu filho e advertir-lhe que a princípio tudo parecerá um pouco estranho, mas que ninguém lhe importará que lhe pergunte. Uma boa medida pode ser levar seu filho ao colégio antes de que comece o curso para que o conheça, para que tenha uma idéia de onde está cada coisa e que conheça a seu professor antes de começar o curso.
MANTENHA UMA ÍNTIMA
RELAÇÃO COM OS
PROFESSORES DE SEU FILHO
Se observa em seu filho qualquer recusa de ao ir ao colégio é importante que mantenha uma íntima relação com os professores de seu filho. Fale com eles e recorra a todas as linguagens, reuniões e atividades que for possível realizadas no colégio.
Investigue se seu filho está sendo intimidado ou amedrontado por outras crianças. As crianças que estão pouco habituadas a relacionar-se com outras crianças, como por exemplo os filhos únicos, ou as crianças com algum defeito físico evidente: gordas, com óculos, gagas ... costumam ser as mais escolhidas como vítimas propiciatórias.
Se seu filho é uma vítima, não caia na armadilha de incentivar-lhe a que devolva os golpes: matricular-lhe em uma academia de karatê não é a melhor solução. Ajude-lhe, pelo contrário, a desenvolver defesas psicológicas para opor-se as tentativas de intimidação,
Não ridicularize seu filho por não saber defender-se sozinho. Não faria outra coisa a não ser aumentar sua ansiedade. O que deve fazer é aumentar a confiança em si mesmo e seu amor próprio. Para isso pode ser útil matricular-lhe em alguma atividade esportiva, como natação, montanhismo, remo ... que lhe ensine a enfrentar-se com os elementos e a adquirir maior confiança em si mesmo. Ajude-lhe a fazer amigos abrindo-lhes as portas de sua casa.
AUMENTE SUA CONFIANÇA
E
SEGURANÇA EM SI MESMO
Converse com seu filho e faça-lhe ver que a melhor forma de conseguir que não zombem dele é dar menos importância possível a estas conversas. Desta forma se converterá em uma vítima carente de interesse. Não tente convencer-lhe de que seja o “galinho” como uma criança fraca patética digna de pena mais que como a uma pessoa especial e medrosa. Que lhe conforme em lugar de fugir.
Pode, também, ensinar-lhe a utilizar técnicas de relaxamento ou imagens mentais para aumentar sua segurança e para que seja capaz de receber as ameaças e insultos sem assustar-se nem enfurecer-se.
Não recorra imediatamente a seu professores ou aos pais da criança agressiva para queixar-se. É preferível deixar que seu filho com seu apoio, resolva o problema por si próprio. Unicamente deverá intervir quando este medo se prolongue durante mais tempo ou as brigas se tornam mais violentas .
Averiguar de que habilidades sociais seu filho carece que lhe façam converter-se frequentemente na vítima dos demais.
Se não existe uma razão suficiente ou compreensível para não querer ir ao colégio então deve acentuar sua firmeza para obrigar a criança a ir. Se seu filho observa que duvida ou cede, lhe será cada vez mais difícil conseguir que vá.
É possível que seu filho se queixe dizendo estar doente ou que está com dor de barriga e inclusive que vomite. Nestes casos assegure-se de que não está doente. Se tem dúvidas coloque-lhe o termômetro. Se não tem febre, o certo é que vá ao colégio.
B – MEDO AOS EXAMES. Todos ficamos nervosos ante os exames. De fato, um certo nervosismo faz com que nosso rendimento aumente. Certamente, uma ansiedade exagerada é a razão principal pela qual muitas crianças apresentam um rendimento baixo nos exames.
Uma condição importante para o êxito nos exames é o estabelecimento: Deve fazer seu filho ver que o estudo antes de um exame se parece ao treinamento para uma prova esportiva: quanto mais cedo começar mais possibilidades de êxito terá.
Deve, pois, ajudar-lhe a estabelecer o estudo de forma que possa realizá-lo em sessões curtas e regulares distribuídas ao longo de vários dias, em lugar de “estudos bitolados” dois dias antes do exame.
Tal objetivo convém fazê-lo por escrito em um horário ou plano a colocar no quarto onde habitualmente estuda. Cada dia deverá ir registrando graficamente seus progressos. Isto aumentará sua motivação e confiança diminuindo, portanto, sua ansiedade.
Premie seu esforço durante estes dias e apoie com mil detalhes: preparando-lhe o lanche ou fazendo pequenas visitas.
Não permita que sua ansiedade ante os exames lhes contagie. Deve oferecer-lhe serenidade e facilitar-lhe um ambiente propício para o estudo. Uni-lo com os irmãos para ajudar-lhe a estudar.

Para diminuir sua ansiedade ante a situação de exame pode ajudar-lhe fazendo pequenas provas em casa. Deve assegurar-se de que a princípio as provas são o suficientemente fáceis para que possa ter êxito. Quando se sentir seguro vá incrementando progressivamente a dificuldade das provas. Pode, também, treinar seu filho a praticar o relaxamento enquanto se imagina na sala de aula no dia do exame fazendo uma prova.
É também fundamental que ensine a distribuir o tempo durante a realização das provas. Faça ver que é melhor tentar responder a todas as perguntas do exame que desenvolver muito bem apenas uma ou duas. Assegure-se de que faça ao exame com um relógio e aconselhe-lhe que controle o tempo com frequência.
Ensine-lhe a dedicar tempo à leitura dos enunciados. Este tempo é crucial para o êxito no exame. Também, antes de colocar-se a escrever deverá destacar um tempo a cada uma das perguntas e antes de começar a escrever ensine-lhe a fazer um pequeno esquema ou ideograma das idéias a desenvolver. Lhe ajudará centrar e lembrar-se e além disso, se não der tempo de terminá-lo, ao menos poderá apresentar o esquema de cada pergunta.
Aconselhe-lhe que reserve um tempo, também, a repassar cada uma das questões.
Se não souber responder ou não entender alguma pergunta, ensine-lhe a manter a calma e passar à seguinte aplicando as técnicas de relaxamento de que falamos anteriormente.
Depois do exame convém não entrar em discussões sobre o mesmo. O melhor conselho é esquecer um exame uma vez realizado e concentrar-se no seguinte.
C – ANSIEDADE ANTE OS DEBATES. A partir dos 6 anos é comum que seu filho comece a trazer deveres para casa e o cumpri-los pode originar-lhe uma considerável dose de ansiedade.
A maioria dos educadores coincidem em que os deveres são importantes para consolidar os conhecimentos adquiridos na classe e para desenvolver no aluno o hábito de estudo e a capacidade para trabalhar de forma independente
É importante que seu filho tenha um horário e se habitue a fazer seus deveres no mesmo lugar e a mesma hora todos os dias. Não permita que seu filho veja televisão antes de fazer os deveres. A televisão reduz sua capacidade de atenção e concentração. Motive-lhe para que não queira vê-la.
Criar um ambiente de estudo é fundamental para evitar as distrações. Enquanto que seu filho está fazendo os deveres procure ler ou realizar uma atividade que não lhe distraia. Se sua mãe está falando pelo telefone ou seu pai vendo o futebol é difícil que ele se concentre.
A princípio convém que comprove com ele, e lhe assegure de que compreende as atividades a realizar enquanto chega do colégio. Desta forma evitará o susto de última hora como a falta de um material quando já fecharam a livraria.
OS PAIS DEVEM ESTAR
DISPONÍVEIS MAS SEM RESOLVER-LHE
TODOS OS PROBLEMAS
Enquanto trabalha não é conveniente que esteja com ele. É importante que esteja a sua disposição durante o momento dos deveres para ajudar-lhe a resolver suas dúvidas.
Enquanto lhe ajuda, permaneça tranquilo e paciente, ainda que seu filho se engane. E não lhe dê todas as respostas. Invente problemas similares que lhe sirvam de exemplo sobre a melhor forma de encontra por si próprio as respostas.
D – ANSIEDADE ANTE A MATEMÁTICA. Dentre as avaliações escolares a matemática é a que origina maiores níveis de ansiedade nas crianças. Muitos se consideram incapazes para a matemática e reprovam sem remédio não por falta de capacidade, mas como consequência de sua ansiedade.
Se seu filho tem dificuldades com a aritmética, certamente detestará esta avaliação e poderá ficar nervoso e inseguro cada vez que tiver que enfrentá-la esta ansiedade costuma estar acompanhada de sentimentos de desvalorização e falta de auto-estima: “jamais as entenderei, nunca será capaz”.
Quando se produz esta ansiedade, a criança costuma reagir colocando em andamento uma série de mecanismos de defesa como o convite: negando-lhe a tentar resolver o problema, “não sou capaz”, ou tentando fazê-lo o mais rápido possível para fugir rapidamente da situação, com o qual cometerá erros frequentes.
Se seu filho se queixa de que não entende a matemática, não o console com o (lembrando talvez sua própria experiência) pois unicamente reforçará a imagem negativa que seu filho tem de si próprio. Pelo contrário inspire-lhe confiança em si mesmo e proporcione-lhe uma ajuda prática para resolver seu problema.
Antes de tentar ajudar-lhe faça, primeiro, seus próprios deveres: estude o tema e pratique-o em particular. Se improvisar é possível que não saiba resolvê-lo com o qual seu filho se sentirá mais ansioso ao pensar: “se mamãe não foi capaz, como eu vou ser?
OBSERVE COMO SEU FILHO TRABALHA
Revise com regularidade o trabalho de seu filho fixando-se não apenas em suas respostas, mas também nos procedimentos seguintes para chegar a essas repostas. Averigúe se existem lacunas em seu conhecimentos básicos que lhe impeçam de progredir, e ajude-lhe a recuperá-las. Analise a forma em que seu filho estabelece os problemas e faça-o ver os possíveis erros que comete no procedimento de sua resolução. Facilite-lhe a pratica necessária para resolver essas deficiências concretas. Pesquise, também, se existem erros de conceito que deva reparar.
Não se mostre ansioso nem crítico. Mantenha-se amigável e estimule-lhe em todo momento. Estabeleça-lhe questões que esteja certo que seja possível utilidade da matemática em sua vida real estabelecendo-lhe questões de tipo prático. Isto aumentará sua segurança e motivação.
UM PLANO DE AÇÃO PARA MARTA
1 – SITUAÇÃO:
Marta tem 8 anos e, como se descreveu no início do capítulo, apresenta sintomas de ansiedade que parecem originados pelo stress que supôs a mudança de domicilio, de colégio e a necessidade de fazer frente a esta situação. Neste Plano de Ação nos centraremos em seu comportamento escolar.
2 – OBJETIVOS:
GERAL: Melhorar sua adaptação escolar e seu medo a enfrentar-se a situações novas.
3 – MEIOS:
- Sua mãe dedicará tempo para conversar com ela e, em especial, a escutá-la para averiguar o que é que lhe produz ansiedade. Levará também um pequeno diário no qual anotará as ocasiões em que Marta mostra sinais de ansiedade.
- Carmem e Fernando conversarão com frequência com a tutora de Marta. Se colocarão de acordo para juntos fazer Planos de Ação que estimula a Marta.
- Averiguarão se outras meninas estão intimidando.
- Lhe ensinarão algumas técnicas de relaxamento quando sente que lhe dói a barriga ou vai vomitar. Se o fizer, não lhe darão muita importância e insistirão que vá ao colégio.
- Lhe sugerirão que convide para passear com eles alguma amiga do colégio com a qual se sinta à vontade.
4 – MOTIVAÇÃO:
- Fernando falará com Marta e lhe contará como ele era quando criança, também teve que mudar-se de cidade e os problemas que teve. Lhe tranquilizará dizendo que com o tempo passará.
- Elogiarão cada pequeno progresso de Marta. Procurarão coisas em que ela se destaca (por exemplo, o desenho) e se reforçarão.
- Carmem procurará ser menos perfeccionista: elogiar seus êxitos e restará importância a suas falhas.
5 – DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS:
Carmem levou a cabo o registro com o diário durante um mês. Ao analisá-lo comprovou que Marta se mostrava especialmente irritada e ansiosa os dias que tinha aula de inglês.
Falando com ele e com sua tutora descobriu que seu nível de inglês é muito inferior ao da classe, já que Marta vinha de um colégio onde apenas aprendia inglês costumava castigar-lhe pensando que o problema era que não prestava atenção.
Carmem e Fernando conversaram com a professora de inglês e esclareceram a situação. Desde então estabeleceu-lhe um programa personalizado para ela se sinta capaz de realizar e tudo melhorou.
Quanto aos óculos, falaram com Marta e fizeram ver que as pessoas que necessitam meter-se com outras é porque elas mesmas estão complexadas. Deve sentir pena em lugar de temê-las. Além disso, marcaram uma visita ao oftalmologista para estudar a possibilidade de usar lentes.
Trouxe uma menina em casa várias ocasiões e ultimamente mostra mais interesse por conhecer as meninas de sua cidade.
Carmem e Fernando estão contentes. Acreditam que souberam, com a ajuda de Mércia, enfrentar a situação ainda que são conscientes de que todavia lhes resta muito caminho a recorrer. Questionário de D. Lewis para detectar ansiedade


Fonte: Livro “Como resolver situações cotidianas de seus filhos de 6 a 12 anos”
TERESA ARTOLA GONZÁLEZ é doutora em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri e Mestre em Educação Familiar pelo E.I.E.S (Educational Institute of Educational Sciences). Desenvolve um amplo trabalho de pesquisa docente no campo da Psicologia Infantil e é professora da Escola Universitária Européia da Educação de Fomento de Centros de Ensino. É autora de diversas publicações, em sua maior parte dedicadas aos problemas de aprendizagem, sua avaliação e tratamento.
Publicado no Portal da Família em 24/01/2012