quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Totalmente destrambelhada!!!!



                                                            Iza Salies

 

Sinto assim!!!

Não consigo controlar meu ser biológico!!!

Está tudo destrambelhado em mim !!!!

Totalmente sem rumo!!!

Sou vítima de um metabolismo lento!!!

Querem que eu seja refém do tempo verão!!!

Não sou, não consigo!!!!

Nem vou ser !!!

Tempo verão destrambelhar minha vida !!!

Briga com o meu próprio organismo!!!

Quer acelerar o meu biológico!!!!

Quando nem penso em relógio!!!

Para acompanhar o tempo verão !!!

Que tempo verão e esse, que destrambelha tudo em mim?

Ah !!!! Eu não dou conta !!!

O tempo verão passa e eu, destrambelhada!!!

Durmo sem sono!!!! Acordo sonolenta!!!

Rolo na cama!!!

Zumbi é meu companheiro!!!

Tempo verão sem pedir licença, busca abrigo!!!

Tipo pé de pano!!!! Sem barulho!!!!

Ao meu lado tenta deitar!!!

De fininho, ele apossa da minha razão

Em total dominação!!!!

 

Cuiabá , 30 de Janeiro de 2019.

 

     

Eu quero!!!

 Seu olhar!!! Seu beijar!!!

Seu pecado!! Seu dobrado!!! 

Seu poder!!! Seu quere!!!

Seu ar!! Seu mar!! Seu par!!!

Seu guia!!! Seu consolo!!!   

Seu sonho!!! Seu banho!!! Seu ganho!!!

Seu caso!! Seu abraço!!! Seu amaço!!!  

Seu calor!!! Seu fervor!!! Seu vapor!!!

 

Brincadeira dançante!!!


                                                        Iza Salies

Brincadeira dançante, coisa da gente!!!

Na casa de Carmelita, e ela, toda bonita!!!

Oferecia sua casa, e a festa só que arrasta!!!

Dona Ester, sondando nós, e nós dançando!!!

 

Brincadeira dançante, e o garçom ambulante!!!

Carmelita tinha prazer, ela tinha poder!!!

A brincadeira era boa para a besteira!!! 

Sua sala virava salão, e nós, parecendo um botão!!!     

 

As mães espiando, e a moçada andando!!!

Todos cuidando, e a rapaziada espiando!!! 

 

Calçada lotada, e gente afobada!!!

Moçada chegando, e o som esquentando!!!

Moçada desfilando e rapaziada observando!!!

Musica lenta na vitrola, vovó de estola!!!

Salão lotado, e eu, esperando o namorado!!!

 

As paquerinhas rolando e o povo aproveitando!!!

As meninas recepcionando e s meninos esperando!!!

 

Dança dança moçada, e a sapatilha molhada!!!  

Balança as cadeiras mulata, menina abestada!!!

Sapateia com ninguém, e outras, ficam aquém!!!

 

Moçada que dança, e os quartos que balança!!! 

Dançava e paquerava!!! E a brincadeira não acabava!!!

A vitrola tocando!!! E eu esperando!!!

A música lenta!!! E o corpo que não aguenta!!!

Era bom demais!!! Logo vinham atrás!!!

 

Servíamos o ponche, dia de frio usava poncho!!! 

Penumbra no salão, beijo com batom!!!

Dançando lento, beijando Bento!!!    

Desfile de sapatos, cabelos arrumados!!!

Mamãe que sonda, e Zé que apronta!!!

 

Desfiles de mocinhos, desejos de carinhos!!!

Piscadinhas e olhos, previsões de namoro!!

Paquera que agrada!!! Beijo que estala!!!

Moçada apavorada, paquera revelada!!!

 

Moreninha do Porto, lindeza de broto!!!

Recadinho para a Belinha, vestidinho de linha!!!   

Conquista que rima, beijo da minha prima!!!!  

Dança decente!!! Salão quente!!!!! 

Ponche que serve, fui breve!!!

 

 Corre-corre de regateiras, amor para a besteira!!!

Arrocho de amor!!!! E Elisa como flor!!!

Namorado que brota, amiga que importa!!!

 

Anos insubistituíveis!!! Lembranças insquecíveis!!! 

Saudade dobrada!!! O tempo não atrapalha!!!

Simininas do Porto!!! Amizade que nem broto!!!  


   

Sou Cuiabá...

 


 

                               Iza Salies

 

Sou calor, sou flor!!!

Sou verde, sou cor!!!

Sou caminho, sou cantinho!!

Sou ninho, sou quentinho!!!  


Sou grande, sou forte!!!

Sou manjedoura, sou acolhedora!!! 

Sou calmaria, sou colo, sou solo!!!

Sou pé d’água, sou broa, sou atoa!!!

 

Sou paixão, sou fervor, sou calor!!!

Sou abrigo, sou contigo!!!

Sou braço, sou abraço!!!sou compasso!!!

Sou simples, sou encanto!!!

 

Sou calada, sou amada!!!

Sou cuiabana, sou xomano!!! 

Sou moage, sou tiragem!!!

Sou sorriso, sou coragem!!!  

 

Sou doce, sou manga!!!

Sou angu, sou caju!!!

Sou mangueira, sou pedreira!!!

Sou pitomba, sou fronteira!!!

 

Sou Porto, sou Cidade!!!

Sou pequena, sou grande!!!

Sou festeira, sou alegria!!!

Sou graciosa, sou brejeira!!!

 

Sou fervor, sou calor!!!

Sou amiga, sou querida!!!

Sou lugar, sou popular!!!

Sou amada, sou chamada!!!

Sou quente, sou calor!!!

Sou gente, sou caliente!!!  

  

Sou dança, sou siriri!!!

Sou peixe, sou lambari!!! 

Sou melado, sou assado!!!

Sou mistura, sou juntado!!!

 

Sou do Bosque, sou do Quilombo!!!

Sou do Despraiado, sou do São Gonçalo!!!

Sou do Terceiro, sou do pesqueiro!!!

Sou do Barcelos, sou elos!!!

 

Sou ribeirinha, sou prainha!!!

Sou quebra torto, sou Porto!!!

Sou largo, sou poço!!!  

Sou de praça, sou de rua !!!

 

Sou guri, sou do Pari!!! 

Sou do Campo Velho, sou Buriti!!!

Sou Pico do amor, sou flor!!!

Sou do Mundéu, sou céu!!!

Sou do Dom Aquino, sou sol à pino!!!

 

Sou carne picadinha, sou revirado!!!

Sou macarrão, sou quiabo!!!

Sou carne com arroz, sou suculenta!!!

Sou frango com arroz, sou pimenta!!!  

  

Sou tuiuiú, sou gambá!!!

Sou brejo, sou Aguaçú!!!

Sou do rio, sou bagre!!!

Sou peixinho, sou lambari!!!

 

Sou poema, sou tema!!!

Sou banana, sou cana!!!

Sou piranha, sou pantanal!!! 

Sou pássaro, sou liberal!!! 

 

Sou picolé, sou Zé Petete!!!

Sou Jeje, sou capilé!!!

Sou rapadura, sou pura!!!

Sou furrundum, sou queimado!!!

Sou raspada, sou caramelada!!!

 

Sou reboliço, sou suspiro!!!

Sou estreita, sou perfeita !!!

Sou simplicidade, sou caridade!!!

Sou gostosa, sou teimosa!!!

Sou ternura, sou doçura!!!

 

Sou solidária, sou Santa Amália!!!

Sou agregadora, sou Auxiliadora!!!

Sou Taquara, sou amarra!!! 

Sou Bonifácia, sou falácia!!! 

 

 

Domingo cuiabano ......

 

Iza Salies

 

Gente chegando, casa enchendo!!

Barulho musicando e povo falando!!

Junta!!!Junta de gente!!! E a panela quente!!!!

Verdadeira romaria !!E mocada só que ria

Gente sem quantia, demais iguaria!!

Casa de mamãe, corredor de correria!!

Povo falando, eu, espiando!!

  

Café quente no bule, muito povo, muita gente!!!

Fogo que queima, fofoca que reina!!!

Desfile de recitas, menu das estrelas!!!

Família que junta, domingo com pergunta!!!

Pratos quentes, farofa da gente!!!  

Ensopado gostoso, pirão cabuloso!!!

Ensopado suculento, guri barulhento!! 

Muitas iguarias macarrão da Maria!!!!

Com frango ao molhos!!! Picadinho de repolho!!!

Arroz de forno na travessa!!! E Seo Zico com pressa!!!

 

Feijão empamonado, e as meninas visita o namorado!!!

Farofa saborosa, aniversário da sogra!!!

Menu generoso, duvida na gente!!!     

Loucas na pia, disputa arrepia!!!

Mesa de iguarias, amor sem quantia!!!

Costumes cuiabano, coisas da gente!!!

Cultura do agregado amor vazado!!!  

Muita gente, povo contente!!!

Amor gotoso, amor quente. Amor da gente!!!!  

Sol que frita, luz aflita!!! 

Balsamo que cura, amor com mistura!!

Trânsito desajustado, costumes enrolados!!!

 

   

 

 

 

Dia cuiabano !!!

 

Iza Salies

 

Frango assado na panela, e vovó na janela!!!

Papai chamando e mamãe chorando!!!

O cachorro latindo e Jose rindo!!!

O menino no quintal e Mariquinha de avental!!! Titia conversando e a lua recitando!!!

Meu amor brincando e o sol esquentando!!!

Tomates na horta e Judite que não comporta!!!

O arroz pipocando e o vovô cochilando!!!

O chinelo no lugar e seu Zico `a procurar!!!

Cadeira de balanço na varanda, e no quarto cheiro da lavanda!!!

Nilza varrendo o quintal e papai lendo jornal!!

Comida quente na mesa, Janete só que mente!!!

A vizinha está ai e Judite tá ali!!!   

Abotoado na frigideira e Elza falando besteira!!!

Quero café, quero com fé!!!

Café gostoso, fruta sem caroço!!!

Colo gostoso, almoço saboroso!!!

Casa de moca bonita, carro que apita!!!

Sondando a paquera, hora que espera!!!

Carro que passa, coração que dispara!!!

Disputa do broto, moca sem garoto!!!

Volta no jardim, passeio sem fim!!!

Confusão que apronta, meninas que contam!!!

Papo de rapaz, só é capaz!!!

O perfumado passa e a admiração repassando!!!

Ajeitando a roupa, beijando a boca!!

Menina brejeira, beleza regateira!!!

Morena bonitas, gosta de fazer fita!!!

Cabelos escuros, meninos seguros!!!

Fazendo trote, engano que dá morte!!! Atendendo telefone, música no fone!!!

      

 

  

 

Cuiabá dos meus amores!!!!

 

Ah!!!! Quanta saudade da velha Cuiabá !!!

Da poeira das ruas, das praças, da vizinhança, das ruas sem asfalto, das poças d’água na calcada, das brincadeiras de rua, das carreiras na Praça Major Joao Bueno, ou melhor, no largo do Porto, de uma infância rica em compartilhamento humano.

Pode não acreditar, eu ciscava a avenida onde eu morava, depois da chuva, para ver se pegava ouro, isso acontecia depois de uma gostosa e torrencial chuva, que desaguava na Avenida Mario Correa. Cada vidrinho de ouro valia uma caixinha de chiclete, que fazia essa troca era o Dr. Braga, dentista que atendia por ali.

 Era uma alegria só, uma disputa saudável, corríamos tanto que até escorregávamos na lama. Sem esquecer de dizer que de vez em quando dava uma confusão!!!! Mas anda que pudesse causar desavença entre nos.

Sou do tempo dos quitutes no fundo do quintal. Nós tínhamos uma vizinha muito bacana, Dona Carmelita, mãe de Eneida Yonezava, Leticia Yonezava, Eneias Yonezava, e Ester Yonezava, que deixava as crianças da vizinhança brincar na sua casa. Eu amava, eu vivia lá. Sua casa tinha um quintal muito lindo, era um misto de jardim e quintal. Ali, era o nosso espaço, brincávamos, conversávamos e também brigávamos.   

Como minha casa era muro como muro com a casa dela, eu vivia mais lá do que na minha própria casa, isso porque eu não tinha crianças da minha idade para brincar. Assim, nossas proezas eram feitas no quintal da Dona Carmelita, com Dona Ester cuidando de tudo.

Não posso esquecer de uma pessoa que cuidava de nós, Dona Ester, mãe de Dona Carmelita, ficava de olho em tudo. Quando a algazarra estava muito grande Dona Ester mandava todos nos irmos para casa. Chega !!!!Cada um vai pra sua casa!!! Tá na hora !! 

Para mim, a casa da Eneida, era um parque de diversão, tinhas lindos brinquedos, tudo era deslumbrante para mim. Seu pai, Seo Noriak, trazia as novidades dos lançamentos dos brinquedos do Japão, naquela época, era difícil encontrar variedade de brinquedos.

Eu nem sabia onde ficava esse lugar, o Japão, só sabia que eram brinquedos diferentes dos vistos em nosso meio. Só para lembrar, minha amiga, a Eneida tinha um telefone com fio que a gente fala com outra pessoa, ele tocava e você atendia, conversávamos de verdade, e brincando, isso marcou muita minha infância. Vai ser inesquecível. São lembranças vivas em mim.

Vivi com muito prazer o tempo dos quitutes, para quem não sabe o que e quitute, era uma brincadeira onde as meninas reuniam e combinavam de fazer um quitute? Com certeza seria na casa de Dona Carmelita, cada criança pegava em sua casa uma coisa que podia ser utilizada para fazer o almoço, podia ser, um punhado de arroz, um ou duas cebolas, macarrão, tomate, um pedaço de carne, depois de checar o que tinha, ai resolvíamos o que fazer.

Os meninos faziam o tacuru, onde íamos cozinhar. O que e tacuru? Era o fogão onde cozinhávamos, era feito por três pedras grandes que servia para apoiar a panela, lenha, gravetos para que o fogo pudesse fazer a comida. Depois de um certo tempo eu peguei   um fogareiro a gás do meu pai, ai ficou mais fácil e rápido.

O cardápio seguia as regras do que as crianças traziam, geralmente era arroz, macarrão ou carne com arroz. Tinha que ser um cardápio que fosse rápido e fácil de fazer, mesmo porque tinha apenas uma boca de fogo. E era bem feito, gostos, ela lindo ver a comida pipocando na panela e todos em derredor aguardando para comer em baixo de uma  frondosa e generosa mangueira. Nem te conto com era bom, gostoso, prazeroso.              

Ah!!!! Não posso esquecer das brincadeiras dançantes que aconteciam na casa das meninas. Momento dos encontros entre amigos, paqueras e de dançar bastante. Tudo era realizado na casa dela, Dona Carmelita, ela tinha o prazer que ver a meninada lá, na tarde de sábado reuníamos para organizar a festa, cada uma fazia uma coisa, cortando maca para fazer o ponche, lavava os copos, arrumava toda a copa, o salão, o som, não podia esquecer da meia de seda, uma bebida também denominada de licor de leite, que podia ser com coco ou não.

Passávamos a tarde toda por conta da brincadeira dançante, eu, Eneida a dona da casa, Nine Curvo, Tete, Eliane (as netas de Dona Nina de Seo Severiano) Lilian, Marilia Malheiros, Wilma de Dona Aline, Cida (falecida), Ana Catarina, Elisa, Silvia, Helo, Marlene, Simone Malheiros, Zoca Malheiros, Silvia Malheiros. Pepe.    

Cada menina convidava seu amigo ou paquera, quando ficávamos com vergonha de convidar o nosso pretendente, pedíamos para uma amiga fazer isso por nos. Ai, era a hora da troca de favores, eu faço para você e você faz para mim, tá bom? Combinado? Combinado.

E assim tramávamos tudo nos conformes!!! Depois de tudo no jeito, íamos para a porta da rua, para comentar sobre as expectativas da festa.  Comentávamos se os rapazes vinham ou não. Era uma preocupação geral, ficávamos apreensivas, curiosas para saber se os paqueras e amigos iam.   

Não lembro que tínhamos preocupação com o corpo, com as curvas, com o cabelo, com o sapato de salto, vaidade excessiva, não fez parte dessa época, pelo menos para nos. Tínhamos desejo de usar um vestido novo, um sapato ajeitado e um perfume que a mãe usava.

Tá na hora da brincadeira dançante!!!!! A sala estava pronta, a eletrola ok, os discos de vinil selecionados, e para não ficar com a luz acesa ou apagar totalmente, nos colocávamos um papel salofane colorido para ficar um pouquinho escurecido. Com era gostos e saudável esse momento, rolava muita paquera, muita conversa. Dançávamos bem coladinhos, a músicas escolhidas eram só lentas.  

O coração parecia que ia sair pela boca, quando via o paquerinha subindo a rampa da garagem da casa de Dona Carmelita. Meu Deus!!!! Ele veio, pulava de alegria e comentava com as amigas. Santa ingenuidade!!!! Gostosa pureza!!!! Não havia brigas nem confusão, bafão nem pensar!!!! Tudo na mais perfeita ordem e educação. Superdelicadas!!! Supereducadas!!!

 

Cuiabá, 27 de Maio de 2019