quarta-feira, 21 de maio de 2014

Quando a soma não passa da subtração

Gilberto Alvarez G. Jr. - giba@cursinhodapoli.org.br
O professor Giba, é professor, autor do material de Física do Sistema de Ensino do Cursinho da Poli (SP) e diretor da instituição.
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) avaliou a capacidade de estudantes de 15 anos do mundo inteiro para resolver problemas de matemática aplicados à vida real. Como era de se esperar, o resultado para nós é alarmante: o Brasil ficou em 38° lugar, em um total de 44 países.
Segundo o relatório, apenas 2% dos alunos brasileiros conseguiram resolver problemas de matemática mais complexos. Esse resultado tem raízes no próprio cotidiano do brasileiro. Antes mesmo de o aluno entrar em uma sala de aula, seja em casa com a família ou em uma roda de amigos, a aversão à matemática é um tema recorrente. Ela é descrita como uma disciplina rígida, que não dá espaço para a criatividade.

Essa percepção muitas vezes é passada pelos pais aos filhos e reproduzida, de maneira massiva, pelos meios de comunicação. Aliado a isso, há uma realidade em nosso sistema de ensino que em nada colabora para mudar esse quadro. Na grande maioria das escolas, as aulas obedecem ao mesmo padrão há dezenas de anos: são repetitivas, sem inovação ou criatividade, com livros didáticos desinteressantes. Tudo é muito mecanizado. E chato; muito chato. Nada que estimule o aluno a pensar.

Sendo assim, aulas pouco dinâmicas, alunos desinteressados, professores com formação deficiente e uma boa dose de preconceito se aliam para a má formação de milhares de estudantes brasileiros. Afinal, não saber calcular é também uma espécie de analfabetismo.

A matemática é uma ciência rica, que estimula o raciocínio e permeia vários outros conhecimentos. Como o português, é uma ciência cumulativa de conhecimento em que é preciso aprender bem um conteúdo prévio para compreender o posterior. De nada adianta termos excelentes centros de formação técnica ou universidades públicas se os nossos alunos não são capazes de acompanhar o aprendizado pela ausência do conhecimento que deveria ter sido obtido no início de sua vida acadêmica.

Essa dificuldade ainda é um dos maiores entraves da educação brasileira. No Cursinho da Poli temos alguns casos em que os alunos não conseguem acompanhar o conteúdo transmitido na sala de aula, justamente porque há uma deficiência vinda da etapa anterior. Para tentar sanar essa defasagem, promovemos módulos adicionais de matemática básica para oferecer ao aluno o conhecimento prévio necessário para o acompanhamento de todo o programa curricular.

Essa situação reflete um quadro ruim e crônico da educação básica no Brasil. O resultado não surpreende, mas nem por isso devemos nos conformar. Somos capazes e temos recursos para alavancar o país e transformar esta realidade. Precisamos mudar esses números para que no próximo relatório sejamos realmente – e positivamente – surpreendidos.

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