quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Educação, lugar comum?

Nos acostumamos tanto ao “lugar comum” que nem mais o notamos. A tendência é ficarmos indiferente ao que é comum. Afinal, se está no lugar e este lugar é comum, por que se preocupar? Talvez a educação, a tarefa de ensinar, o trabalho de ser professor/a, o ser aprendente, ser educando, tenham se tornado “lugar comum”. Daí ser tamanha a indiferença com que a sociedade os/as trata. Pena, pois quando isto acontece é a morte do ensinar e do aprender.

É próprio dos seres humanos estabelecer relações, qualificá-las, saber os seus porquês. Os seres humanos nascemos relação e nos fazemos na relação. Fora dela não existe vida humana. Relação existe quando o outro aparece na relação como outro, não como o mesmo, como qualquer um, como um comum, um “lugar comum”. É da diferença que brota a possibilidade de relação. É do reconhecimento que brota a qualidade da relação.

Ora, aprender e ensinar só podem ser entendidos em relação; constituem-se na relação e constituem relações. Por isso é que a educação é essencial à vida humana e acontece o tempo todo, em todo lugar e ao longo de toda a vida.

A educação escolar é uma forma específica de estabelecer a relação de ensino-aprendizagem. É instituída pela sociedade como mediação para a vida social. Nela, a relação entre o sujeito professor/as e o sujeito estudante/educando/a forma o núcleo central. Os conhecimentos, as linguagens, as técnicas, os conteúdos, muitas vezes assumam o lugar central na educação escolar. Mas, é na relação entre os sujeitos que está o núcleo forte da educação. Daí que, imaginar que um dos sujeitos seja transformado em “lugar comum”, ou transformar a própria educação num “lugar comum”, é inviabilizar qualquer mediação, é não fazer educação.

Por isso, a educação é, acima de tudo, uma mediação para a humanização das pessoas através das relações educativas. Afinal, a educação é, acima de tudo, a construção da diferença, é fazer a diferença. Nela não há lugar para a mesmice, a repetição, o “lugar comum”.


Paulo César Carbonari,
professor de Filosofia no Instituto Berthier, Passo Fundo, RS.

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