terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

PUC traça o perfil de nove escolas públicas

Levantamento com 5.100 estudantes confirma migração da classe média para o ensino privado na década de 80

Com o objetivo de cultivar nas Escolas públicas a cultura da informação sobre o mundo dosalunos, a PUC entrou no universo de 5.100 estudantes de nove instituições de ensino: seis da Gávea e três da Rocinha.

E descobriu que, dos cerca de três mil estudantes das noveEscolas municipais, 85% moram na Rocinha, 5% no Parque da Cidade, e os demais no Vidigal, na Cruzada São Sebastião, e, como filhos de porteiros, em prédios da Gávea e do Leblon.

Os departamentos de sociologia/política e de Educação, com apoio do de informática, não só esquadrinharam os dados como fizeram pesquisas qualitativas, com idas às casas dos pais.

- No nosso caso, ao analisarmos os números levantados pela PUC, descobrimos que nossaEscola tinha um grande número de repetentes. Fizemos uma autocrítica e chegamos à conclusão de que temos de trabalhar melhor esses alunos - disse Sandra Maria Lima, diretora da Escola Municipal Manoel Cícero, na Gávea.

Os números da pesquisa, afirma o professor Marcelo Burgos, do departamento de sociologia e política, traçam uma espécie de perfil coletivo dos alunos.

As informações dos locais de moradia confirmam a migração dos alunos de classe média em meados da década de 80 para asEscolas privadas. Mas, para a professora Fernanda Antunes, elas podem esquentar alguns debates.

- Na década de 80, eu estudava em Escola pública, e vi a migração de vários amigos para as Escolas particulares e passei a conviver com outras realidades. Isso me ajuda em sala de aula. Mas vejo que colegas meus, egressos de colégios privados, têm preconceito contraalunos de favelas - disse Fernanda, que dá aulas para o segundo ano do ensino fundamental da Manoel Cícero.

O professor Marcelo Burgos concorda:
- No caso das Escolas das Zona Sul, Norte e Centro, que atendem basicamente a alunos moradores de favelas, o trabalho a ser feito é o de transformar o padrão de relação que essas instituições têm com as favelas. Este padrão tem agravado a situação de segregação urbana que caracteriza a relação da cidade com essas áreas.

Pesquisa diz que pais demonstram interesse escolar
Atividades promovidas pela rede de ensino tem índice de 84,3%
A pesquisa da PUC gerou algumas quebras de esteriótipos. Ao se aplicar um questionário para 323 pais de alunos na Rocinha, os pesquisadores encontraram responsáveis querendo participar mais da vida Escolar dos filhos.

- Quando indagamos sobre o que os pais acham que podem fazer de mais importante pelas Escolas de seus filhos, 52% responderam participar da vida Escolar, enquanto 22,2% optaram por ajudar mais o aluno no dever de casa, e 21,3% cobrar mais dos professores.

Por meio de um conjunto de perguntas formulamos um índice de participação nas atividades promovidas pela Escola, e a resposta foi surpreendente: cerca de 58% teria um índice de participação alta, medido por participação em reuniões e eventos Escolares - disse Burgos, ressaltando que, quando indagados se gostariam de participar mais de atividades promovidas pela Escola, 84,3% dos pais disseram que sim.

Professores defendem mais investimentos
Mas, para a professora Luciana Lima , da Escola Municipal Francisco de Paula Brito, na Rocinha, essa relação da Escola com os pais precisa ser mais incentivada:

- Outra dia, reparamos que uma aluna não frequentava a aula há dois meses. Fomos procurá-la no endereço da ficha dematrícula, e não a encontramos. Isso ocorre de vez em quando por aqui. Escolas como as nossas, com a maioria dos alunos pobres, precisa de investimentos. Se conseguíssemos aproximar mais os pais da vida dos alunos, o rendimento Escolar seria outro.

Para a diretora da Paula Brita, Odaísa Pardal, os dados da PUC deveriam ser mais discutidos no meio da Educação, para que todos entendessem as dificuldades de gerir uma Escola com alunos de regiões mais pobres.

Segundo ela, os dados dão maior precisão a essas dificuldades. Pelas fichas Escolares dos alunos, 25% dos pais têm no máximo o primeiro segmento do fundamental incompleto, e quase 60% no máximo o segundo segmento incompleto. E cerca de 20% tem o ensino médiocompleto:

- A mãe é responsável pedagógica em cerca de 80% dos casos. Trata-se de mulheres que são em 31,5% dos casos trabalhadoras domésticas, outras 22,2% do lar, e mais 10% auxiliar de serviços gerais.

As demais trabalham em pequenos serviços manuais, ou no comércio da região. Como nenhuma delas se diz desempregada, é provável que o alto índice de "do lar" disfarce o desemprego.

Segundo a pesquisa, entre os pais, 24% são porteiros, outros 14% trabalham no setor de transporte, e a maioria dos demais trabalham em serviços com pouca qualificação. Apenas 6,7% está na construção civil, e 2,7% se disseram desempregados.

Fonte: O Globo 26/02/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário