quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Magistério: um tempo para conhecimento profissional.

Iza Aparecida Saliés

Como filha de professora normalista, tive uma formação familiar e educacional pautada no rigor do capricho, tinha que ser comportada na escola, fazer tarefa mesmo chorando, ler livros, decorar os pontos da professora, passa o caderno de ponto a limpo e ainda mais, ficar quieta na sala de aula, o que era cruel para mim. Ah! Que dificuldade.

Por ser canhota, sofri muito com os antigos cadernos de rascunho e o caderno para passar a limpo os conteúdos das matérias, isso tinha que ser feito quase todos os dias. Lembro que para passar o caderno a limpo tinha que usar a caneta tinteiro, então, eu chorava, rasgava folhas e folhas do caderno, e ainda mais, ficava com o caderno e a mão toda borrada de tinta.

Já no ginásio, as dificuldades eram outras, estudar o ponto para aprova oral, tinha que falar o ponto inteiro sobre a Independência do Brasil, ou seja, os temas que a professora escolhia tudo isso era realizado na frente de todos da sala, caso errássemos, era repreendida na frente das colegas, na sala só tinha meninas.

Nada de ficar revoltada porque levou bronca da professora na sala de aula, gozação, essa nem podia fazer na sala, só no corredor, no intervalo. Hoje fico relembrando, como éramos obedientes, passivos, tínhamos respeito pelo professor, não fazíamos gracinha perto deles e nem respondia com atrevimento, senão ia para a diretoria e levava três dias de suspensão, na caderneta.

O cenário da época já vislumbrava a possibilidade de trabalhar como professora, por tratar-se de um curso próprio para moças (magistério) que tinham formação para casar, ser professora, trabalhar apenas um período, ah! Isso podia. 

Estávamos vivenciando o fim de uma geração que precisou romper muitos paradigmas sociais, pois, mulheres formadas para casamento não podiam trabalhar fora. Como comigo não foi diferente, passei essa faze também.

Quando estava cursando o segundo ano do Magistério, fui convidada para dar aula no primário, (na mesma escola onde fazia o magistério), peguei uma turma para alfabetizar, sem a mínima experiência, sofri bastante, fui tomando o rumo pela própria sorte, contava com pouca orientação pedagógica por parte da coordenação pedagógica.

Confesso que hoje eu avalio como uma vivência profissional permeada por dificuldades, falta de apoio, orientação, posto que, a alfabetização e uma etapa da aprendizagem bastante complexa, difícil para ensinar e que exige experiência. No ano seguinte peguei uma turma de segundo ano e assim fui passando pelas diferentes etapas da Educação Básica, na rede estadual de ensino.

Como sempre fui inquieta quanto às questões da educação instigou-me a quere compreender por que o professor encontra dificuldade para trabalhar com as áreas de conhecimento, os conteúdos, as metodologias, as teorias, as concepções, tudo que envolve o currículo escolar e a prática pedagógica do professor.

Apesar de transitar em todas as etapas da educação básica e no ensino superior, como professora, confesso que só após de trabalhar com formação de professores é que cristalizou em mim a certeza de que realmente é a educação a minha profissão, não só pelo aspecto social em que está inserida, como em reação à ciência do ensino e da aprendizagem, que é fascinante.

Sei que em muitos momentos da profissão senti impotente, mesmo assim, continuo sonhando, arrepiando, tenho utopias, incertezas, desejos de mudança, vontade de transformar essa realidade, ai posta.