Antes, de mais nada façamos um breve
esclarecimento histórico.
Durante muitos séculos aquilo que chamamos de
Grécia não era um país como nós entendemos hoje, mas sim várias cidades-estado,
independentes e autônomas entre si. Uniam-se ou se separavam de acordo com as
circunstâncias e conveniências.
Essas cidades-estado possuíam culturas e
características diferentes com alguns elementos em comum. Várias delas possuíam
poder central e, em alguns casos, algumas colônias. A parte circulada, no mapa,
representa a Grécia (região continental e insular). Os demais pontos em
destaque verdes eram as colônias ou as regiões com as quais os gregos mantinham
relações comerciais.
Todas essas regiões receberam influência e
influenciaram o mundo grego. Esse contato interativo possibilitou aos gregos as
comparações entre os elementos culturais que fizeram nascer a filosofia.
Mas isso se fez lentamente, obedecendo alguns
períodos. Podemos até dizer que a forma de fazer filosofia evoluiu ao longo dos
séculos. Como vimos anteriormente, houve um longo processo para que a
capacidade reflexiva do homem chegasse ao ponto de ser chamada de Filosofia. E
isso só aconteceu na Grécia, por volta do século VII. O pensar, antes desse
período, ainda era envolto em mitos e religiosidade que dificultava a
racionalidade específica da filosofia.
Ao nascer, a filosofia grega tinha um objetivo:
explicar racional e coerentemente o mundo. Com o transcorrer dos anos esse
objetivo foi se aprimorando e novas temáticas foram sendo incorporadas à
reflexão filosófica. Hoje podemos estudar a história da filosofia tanto pela
sua evolução cronológica como pelas abordagens temáticas. E mais ainda: a
história da filosofia não se faz da mesmaforma que a história geral da
humanidade. A história da Filosofia é a história de como e porque o pensamento
filosófico assumiu determinadas característica, em cada época.
Período Pré-Socrático
Este período é assim chamado porque desenvolveu
temáticas diferentes daquelas inaugurada pela "mosca de Atenas". É
também é chamado de período Cosmológico. Os pensadores deste
período são de várias cidades ou das colônias gregas. Nenhum era de Atenas.
A preocupação dos pensadores deste período é
encontrar uma explicação racional e sistemática (uma cosmologia) para o mundo
(o cosmo), que substituísse a antiga cosmogonia (explicação
mítica).
E um dos primeiros pensadores de que se tem
registro é da cidade de Mileto. Daí seu nome: Tales de Mileto (623/546 aC).
Foram seus concidadãos e contemporâneos: Anaximandro (610/547 aC) e Anaxímenes
(588/524 aC). Para estes pensadores o mundo era constituído a partir de
determinados elementos.
O que sabemos de Tales vem
principalmente de Aristóteles, que diz: "a maior parte dos filósofos
antigos concebia somente princípios materiais como origem de todas as coisas.
(...). Tales, o criador de semelhante filosofia, diz que a água é o princípio
de todas as coisas" (Aristóteles, apud, Bornheim, [198?], p. 23 ) Tales,
além de ser considerado Pai da Filosofia, deixou valiosas contribuições para o
desenvolvimento da matemática e da geometria.
Anaximandro,
discípulos de Tales, afirmava que o princípio (Arché) de tudo era o ÁPEIRON
(ilimitado). "Todas as coisas se dissipam onde tiveram sua gênese; pois
pagam umas às outras castigo e espiação pela injustiça, conforme a determinação
do tempo" (apud Bornheim, [198?], p. 24).
Anaxímenes, seu
sucessor, discordava, dizendo que a origem de todas as coisas é o ar:
"assim como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, da mesma maneira o
vento envolve todo o mundo" (apud Bornheim, [198?], p. 28).
Outros pré-socráticos foram: Pitágoras (570/490
aC) que nasceu na ilha de Samos e afirmava que as coisas são constituídas de
Números. A esse pensador se devem importantes contribuições à matemática e
geometria. É indiscutível a atualidade de seu teorema, afirmando que a
"soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa"
Por sua vez Heráclito de Éfeso
(504aC) dizia que tudo está em movimento e as realidades se manifestam pelos
seus contrários. "O frio torna-se quente, o quente frio, o úmido seco e o
seco úmido". "A doença torna a saúde agradável; o mal, o bem; a fome,
a saciedade; a fadiga, o repouso". "Não se entra duas vezes no mesmo
rio. Dispersa-se e reúne-se; avança e se retira"
Parmênides de
Eléa (500 aC?) irá fazer uma afirmação exatamente oposta e dirá que o ser é
eterno, dirá que o "ser é e o não ser não é". Mostra os "únicos
caminhos de investigação cabíveis. O primeiro diz que o ser é e o não-ser não
é; este é o caminho da convicção, pois conduz à verdade.[...]. Pois não podes
conhecer aquilo que não é isto é
impossível , nem expressa-lo em palavras" Com isso inaugura o princípio
lógico da "não contradição" que foi desenvolvido mais tarde por
Aristóteles.
Demócrito foi
o criador da teoria Atomista, segundo a qual o mundo é composto de partículas
indivisíveis, os átomos que se misturam ao acaso, dando origem a cada uma das
realidades. Afirma a inacessibilidade à verdade ao dizer que "no entanto,
ver-se-á bem que não se pode chegar a saber o que cada coisa realmente é".
Afirma também que "o homem é um microcosmo".
Conhece-se, além desses, outros pensadores,
também chamados de pré-socráticos. É o caso de Zenão de Eléia
para discutir o problema do conhecimento e do movimento, propõe vários paradoxos
como o da tartaruga, do arqueiro. Ele diz que "o que se move está sempre
no mesmo agora". Já Empédocles falava de quatro
elementos: ar, fogo, terra, água e que o princípio de todas as coisas é a luta
dos contrários (amor x ódio). Leucipo diz que "nada
deriva do acaso, mas tudo de uma razão e sob a necessidade". Cada um
desses pensadores deu sua contribuição para o desenvolvimento humano. Hoje seu
pensamento pode nos parecer ultrapassado ou coisa corriqueira. Entretanto, não
importa como os vejamos, ultrapassado ou simplórios, o fato é que muito do que
temos devemos a eles. Seu mérito é, em tempos remotíssimos, ter dado o pontapé
inicial.
Período Socrático
Por volta do século V aC. começa o que podemos
considerar como um novo período na história da filosofia, ao qual podemos
chamar de período Socrático ou ANTROPOLÓGICO. Esse também é
chamado deperíodo clássico da filosofia.
Podemos marcar o início desse período com a
atuação dos Sofistas que estavam preocupados mais com a
linguagem e a erudição do que com a explicação do mundo. Para os sofistas o
importante era o bem falar e a arte de convencer o interlocutor.
As contendas políticas e os conflitos de
opiniões favoreceram a ação desses professores ambulantes que consideravam não
haver uma verdade única. Alguns comentadores da história da filosofia viram com
maus olhos a atuação dos sofistas, principalmente devido a escritos de Platão
que os considerava não filósofos, mas manipuladores do raciocínio sem amor pela
verdade. Essa visão, entretanto, começa a ser revista, pois se percebe que os
sofistas não eram os aproveitadores mencionados em alguns manuais, mas pessoas
que se utilizaram, de forma pragmática, da filosofia.
O fato é que o centro das atenções tanto dos
sofistas como de Sócrates, Platão e Aristóteles (e dos posteriores) volta-se
para o homem e suas relações. Protágoras, um sofista dirá que "o homem é a
medida de todas as coisas; daquelas que são enquanto são; daquelas que não são,
enquanto não são". E Górgias, outro sofista, preocupado com o discurso,
fará a seguinte afirmação: "o bom orador é capaz de convencer qualquer
pessoa sobre qualquer coisa".
A postura dos sofistas, demonstrando pouca
preocupação com a verdade e muito mais com o argumento, levou Platão a colocar
na boca de Sócrates a afirmação de que "Ele supõe saber alguma coisa e não
sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um pouco
mais sábio que ele exatamente por não supor que saiba o que não sei".
Vê-se, portanto que a preocupação dos sofistas é a argumentação e a de
Sócrates/Platão é a verdade daquilo que se sabe ou do que se pode saber.
O período antropológico que também é chamado o
período Clássico da Filosofia recebe essa denominação por que nessa época
floresceu não só a filosofia como também as artes e o começo da organização de
todo o saber. Principalmente pela atuação de Aristóteles e seus discípulos do
Liceu (nome de sua escola, em homenagem ao deus Apolo Lício) floresceu o
processo de aquisição e sistematização de vários saberes. A filosofia chegou ao
seu apogeu com esses três pensadores que foram uma das maiores marcas da
história do saber.
Algumas curiosidades: Sócrates ensinava na praça
de Atenas, dialogando com seus discípulos e interlocutores. Usava a maieutica e
a ironia, como instrumentos metodológicos. Em virtude de sua postura filosófica
foi chamado de "inseto", comparado com uma mosca: a mosca de Atenas.
Um de seus principais discípulos foi Platão. Esse criou uma escola, a Academia,
onde se reunia com seus discípulos e onde ditou os textos de seus diálogos em
que Sócrates é o personagem principal. Um dos principais ensinamentos de Platão
é a teoria do Mundo das idéias e a da Reminiscência da Alma. Na porta de sua
academia estava escrito: "não entre aqui quem não for amante da matemática".
Aristóteles discípulo de Platão, também fundou uma escola, o Liceu, mas não
lecionava dentro de uma sala e sim andando pelos corredores. Daí vem a
denominação de escola peripatética (andar ao redor). Aristóteles foi o grande
sistematizador da filosofia (dos conhecimentos da época), classificando em
várias áreas. Fez, através de uma grande rede de discípulos, estudos de
Botânica, Zoologia, Química, Psicologia etc. A esses estudos denominou Física.
Aos estudos sobre o Ser, o conhecimento, entre outros, chamou de Metafícia
(depois da física).
Ainda hoje a cultura e o saber ocidental são
tributários à mentalidade e à filosofia grega, do período clássico: quando
falamos em corpo-alma estamos nos referindo a conceitos originários de Platão.
Quando pretendemos maior clareza de nosso interlocutor, e para isso lhe fazemos
uma série de questionamentos, estamos nos reportando a Sócrates. Quando falamos
em lógica, organização e sistematização de conhecimentos, estamos aplicando uma
metodologia aristotélica.
Outra conseqüência da ação desses três pilares
da filosofia grega foi o fato de, após suas mortes, a filosofia ter entrado em
um período de declínio. Não por ter perdido qualidade ou preocupação com o
saber, mas pelo fato de, por um longo período, não terem aparecido grandes
nomes, propondo novos sistemas.
Helenismo
Com isso chegamos ao período do HELENISMO.
A partir do século III aC. inicia-se a decadência político-militar da Grécia.
Trata-se de uma época em a sociedade e os valores entraram em
decadência.Conseqüentemente, para ocupar o vácuo do poder grego ascenderam os
macedônios que assimilam a cultura grega, através de Alexandre, discípulo de
Aristóteles. O Helenismo se caracteriza pelo sincretismo de elementos culturais
provindos dos povos do oriente, conquistados por Alexandre e a cultura grega. A
filosofia desse período é, ao mesmo tempo, continuação dos ensinamentos de
Platão e Aristóteles, mantidos pelos seus discípulos e uma reelaboração desses
ensinamentos filosóficos.
As preocupações da filosofia no período Helenista,
entretanto, mudam de curso. Deixa de estar centrada no homem social, político e
na compreensão da natureza. Ou seja, a preocupação deixa de ser em relação a
"explicação dos mistérios do universo"(MONDIN, p. 1982, p. 107) para
se voltar para problemas éticos. A filosofia começa a tratar não do coletivo,
mas da vida interior do homem. Essa preocupação ética permaneceu durante todo o
período Helenista, passou pelo Império Romano e continuou com a chegada do
Cristianismo, quando começou uma nova etapa da história da filosofia.
No período Helenista desenvolveram-se várias
escolas filosóficas. Podemos destacar:
O CINISMO: esta escola pode ser
apresentada como aquela que caracteriza a decadência moral da sociedade grega e
macedônica. Pode-se dizer que o personagem que melhor caracteriza essa escola é
Diógenes que em pleno meio dia, com uma vela acesa andava pelas ruas dizendo:
"procuro o homem". Cinismo vem de Cão (xýon) o que se justifica, pois
o pensador afirmava: "faço festa aos que me dão alguma coisa, lato contra
os que não me dão nada e mordo os celerados" (Diógenes, Apud, REALE;
ANTISERI, 1990, p. 233). Num banquete, ao lhe atirarem osso ele teria urinado
em cima, como fazem os cães. "Diogenes tomava sol quando Alexandre, o
homem mais poderoso da terra se aproximou e lhe disse: 'pede-me o que
quiseres'; ao que Diógenes respondeu: 'afasta-te do meu sol'" (ibidem,
1990, p. 233). A partir disso já podemos ter uma idéia do que essa escola
pregava: desprezo àquilo que a sociedade dominante considera valor e valorização
da simplicidade do viver. Foi uma escola que atravessou os séculos e podemos
dizer que a postura socrática esteve sempre muito próxima do ideário cínico.
Aliás, se levarmos em conta a afirmação de Gaarder podemos dizer que foi com
Sócrates que nasceu o cinismo: diz o autor: "Conta-se que, um dia,
Sócrates parou diante de uma tenda do mercado em que estavam expostas diversas
mercadorias. Depois de algum tempo, ele exclamou: 'Vejam quantas coisas o
ateniense precisa para viver!'. Naturalmente ele queria dizer com isto que ele
próprio não precisava de nada daquilo.
Esta postura de Sócrates foi o ponto de partida
para a filosofia cínica, fundada em Atenas por Antístenes um discípulo de
Sócrates -, por volta de 400 a.C." (Gaarder, 1998, p. 147, grifo no
original)
O ESTOICISMO: esta escola
caracteriza-se pelo espírito de completa austeridade física e moral. Ou seja, o
Homem deve suportar os sofrimentos, fugir dos prazeres fáceis e afastar-se das
permissividades e licenciosidades. A sabedoria consiste em manter uma vida
austera. A pratica da virtude "consiste na apatia (apátheia), isto é, na
anulação das paixões" (MONDIN, 1982, p. 112) Essa corrente filosófica
influenciou profundamente o cristianismo, marcando-o até nossos dias, como, por
exemplo, a prática da penitência.
EPICURISMO:
é a escola que pode ser colocada no extremo oposto ao estoicismo. Ela se
caracteriza pela idéia de que o homem deve buscar o prazer, entendido como
"ausência da dor e não como satisfação das paixões" (Mondin, 1982, p.
114). Desfrutar do prazer é virtude, portanto é um bem, enquanto a dor é um
mal. O supremo prazer é o saber que pode ser obtido quando se superam as
paixões que são a causa da degradação social. Diz Epicuro "Quando dizemos
que o prazer é o bem supremo não queremos referir-nos aos prazeres do homem
corrompido, que pensa só em comer, em beber e nas mulheres" (Epicuro,
apud, Mondin, 1982, p. 115).
O CETICISMO: Nesse mesmo contexto
histórico formou-se o ceticismo. O Ceticismo se caracteriza pela postura de
constante busca do conhecimento. Para os céticos a sabedoria não "não é o
conhecimento da verdade, mas sua procura" (Mondin, 1982, p. 116). Pirro,
fundador dessa escola, teria dito que as coisas "são igualmente sem
diferença, sem estabilidade, indiscriminadas; logo nem nossas sensações nem
nossas opiniõessão verdadeiras ou falsas" (REALE; ANTISERI, 1990, p. 268).
Assim sendo, o homem deve se concentrar em desfrutar do que as aparências
proporcionam, visto ser impossível chegar a um saber completo e universal; é impossível
ao homem, saber se as coisas são, de fato, o que parecem ser. Como não há
certeza, não existe avanço nos conhecimentos. O progresso, portanto fica
impossibilitado de acontecer.
O ECLÉTISMO: Esta escola
desenvolve-se em oposição aos céticos. Afirmavam os ecléticos que a verdade não
se limita a um sistema filosófico e, portanto, deve ser complementada por
elementos das diversas escolas. A base de sua reflexão é assim sintetizada pela
padre B Mondin: "para eles, o desacordo dos filósofos deve-se ao fato de que,
não podendo a fraca ente humana abarcar toda a verdade com um só olhar, um
filósofo limita a sua investigação a um aspecto e outro filósofo a outro
aspecto. Assim, estudando aspectos diferentes da realidade é natural que
cheguem a conclusões diferentes. Por isso, para se chegar a uma compreensão
adequada das coisas, não se deve confiar em um só filósofo, mas é necessário
reunir as conclusões das pesquisas dos melhores entre eles" (MONDIN, 1982,
p. 118). A postura eclética pode ser apresentada como um dos elementos centrais
da cultura romana. Seu exército se fez poderoso por que foi capaz de, entre
outras coisas, assimilar valores dos povos e exércitos vencidos.
Os ecléticos, como todos os outros pensadores do
período helenista não foram criadores de sistemas, mas assimiladores,
releitores e divulgadores do pensamento grego, com algumas variantes e
acréscimos.
O Cristianismo
Além dessas correntes filosóficas e dentro desse
mesmo período nasceu o cristianismo. E várias das correntes helenistas
influenciaram no desenvolvimento dessa nova mística. Em base disso é que
podemos dizer que o cristianismo, nasceu não de Jesus Cristo e do grupo inicial
de discípulos, mas a partir do sincretismo de elementos helênicos, judeus,
orientais e romanos. O cristianismo, portanto é uma religião que se fez por
ecletismo. O grande criador-divulgador do cristianismo foi Paulo de Tarso que
após sua conversão levou os ensinamentos de Jesus para além do mundo judeu. O
cristianismo demorou a ser aceito por alguns judeus, mas se desenvolveu
rapidamente entre os chamados gentios. O que teria sido a proposta de Jesus
Cristo, passa a ser reinterpretada de acordo com categorias greco-romanas.
Isso, entretanto, só foi possível devido à crescente decadência do Império
Romano e à releitura de Platão, feita principalmente por Plotino e os demais
Neoplatônicos. Para percebermos a influência grega sobre o cristianismo
primitivo podemos ler as cartas de Paulo, um primor de argumentação e retórica
grega. Emblemática, sobre isso, também, o chamado um discurso de Paulo aos
Atenienses, que o ouvem embevecidos, embora não se convertam por considerarem
absurda a pregação sobre a Ressurreição.
Num primeiro momento o cristianismo se apresenta
como Patrística (do séc I ao V, aproximadamente), e depois
como Escolástica, até o fim da Idade Média. Um dos grandes nomes da
Patrística foi Santo Agostinho e da Escolástica foi Santo Tomás de Aquino.
Durante a patrística os ensinamentos sobre Jesus
podem ser agrupados em dois blocos: os textos dos apologistas e os textos
contra as heresias. As apologias surgiram por que os cristãos precisavam
mostrar às autoridades romanas uma defesa de sua fé. Entre os cristãos também
aparecem algumas distorções sobre como entender os ensinamentos de Jesus ou
como falar sobre sua divindade. Contra essas distorções são formulados os
textos para "corrigi-las", uma vez que são consideradas Heresias.
Nos dois casos o trabalho precisa ser
desenvolvido através de uma boa argumentação, que tenha por base os
ensinamentos de Jesus, a tradição Judaica e seja apresentado de forma clara,
para que a argumentação seja convincente. Isso foi feito utilizando-se de
elementos e argumentação lógico-formal da filosofia grega. Nesse meio é que se
desenvolveu o Neoplatonismo e se cristalizou, cada vez mais a visão platônica
de que este mundo é onde reside o pecado e a maldade. Por isso devem ser
evitados todos os vícios (estoicismo) para se chegar à pureza do céu (mundo das
idéias, de Platão). Graça a isso é que a partir do século III o cristianismo
passou a exercer domínio não só sobre o pensamento, mas também sobre o mundo
político dos romanos. A influencia do cristianismo se tornou cada vez maior e
permaneceu até o fim da Idade Média. Com o Renascimento, com o advento da
Reforma Protestante e o desenvolvimento das bases do capitalismo, o
cristianismo católico perdeu espaço quando desenvolveu-se os tempos modernos
com um vasto leque de correntes filosóficas e políticas.
O segundo momento do cristianismo, a ESCOLÁSTICA,
já se confunde com a Idade Média quando os ensinamentos e valores cristãos são
claramente travestidos de elementos gregos provindos, principalmente, de
Aristóteles.
O pensamento cristão, durante a Idade Média, aos
poucos, foi deixando de se fundamentar em Platão para assumir as categorias
aristotélicas. Isso se deve ao fato de a filosofia grega ter, em grande, parte
se perdido no mundo ocidental. Permanecia só a vertente neoplatônica. Mas a
partir do nascimento do Islamismo de sua Guerra Santa e de seu avanço
religioso, militar, econômico e político, sobre a Europa, afogando os domínios
dos monarcas católicos surge a necessidade de uma postura de defesa. O comércio
passou a ser assimilado positivamente: os dois lados estavam ganhando. Com isso
o perigo militar também estava contido e as instituições políticas. Mas
permanecia o perigo religioso: o islamismo crescia sobre o cristianismo. E uma
das características que permitiam a fácil assimilação dos valores religiosos
islâmicos era a sua lógica e sua apresentação a partir dos conceitos de Aristóteles,
que os europeus e o cristianismo desconheciam.
Para conter o avanço da religião islâmica os
cristãos se viram obrigados a rever seus conceitos e fundamentos de base
platônica. Passou-se a ler Aristóteles, suas categorias filosóficas e
"científicas". Ao mesmo tempo elementos cristãos embebidos na
filosofia Aristotélica começavam a ser ensinadas nas escolas das catedrais e
nos mosteiros. Nascia a Escolástica.
Nesse momento da história da filosofia quando há
aliança do poder temporal com o espiritual, a filosofia esteve a serviço da
teologia que estava serviço da igreja que pretendia sempre manter o domínio
sobre reis, reinos e povos.
Pode-se dizer que o cristianismo desenvolveu-se,
inicialmente, ao desvincular-se do judaísmo assumindo uma conotação greco-romana,
ao se expandir dentro do Império Romano influenciando rumos dentro do Império.
Depois, com uma estrutura romana e com roupagens gregas, durante a Idade Média,
o cristianismo, já como instituição forte, assumiu o aristotelismo como
instrumento de manutenção do poder. Ou seja, o cristianismo sobreviveu ao saber
trocar de "roupa" em momentos determinantes da história, sabendo
fazer a releitura da proposta de Jesus Cristo dentro de cada contexto. Um dos
grandes nomes desse processo de adaptação do cristianismo aos conceitos
aristotélicos fundamentando a escolástica foi Santo Tomás de Aquino.
O coroamento da Idade Média, com os avanços e
tropeços desses mil anos de história, foi o processo do RENASCIMENTO e
a inauguração dos TEMPOS MODERNOS. Ou seja, a passagem da
patrística para a escolástica e todo o processo de reinauguração do pensamento
preparou um novo momento histórico que recebeu o nome de renascimento
Os valores e as referências do mundo medieval
(escolástica) era a religião. Por isso se chama essa épocade Teocêntrica. A
partir do Renascimento ocorreu uma reviravolta e os valores e referências
passam a ser o Homem (antropocentrismo). Em todas as áreas, desde as artes, a
filosofia (nascem as ciências), a teologia, a economia, a política e todo o desenvolvimento
teve o homem como referência.
A arte sacra com motivos
religiosos cede lugar à arte centrada no homem, no corpo que é evidenciado e
mostrado em sua beleza física. Exemplo disso é a pintura de L. da Vinci e a
escultura de Michelangelo.
A filosofia escolástica deixa
espaço para o Racionalismo, o Humanismo e o Empirismo, privilegiando a razão, o
homem e o conhecimento advindo da experiência. Com Galileu a ciência ganha
um método experimental e juntamente com outros pensadores vão se estruturando
as várias áreas da ciência. A teologia, antes dominada pelos dogmas
católicos começa a ser contestada pelos reformadores, onde se destaca a ação de
Lutero e todo o movimento reformador. Em oposição à Idade Média em que
praticamente inexistem relações comerciais os tempos modernos
assistem às intensas viagens marítimas, caracterizando uma transformação geográfica,
que são expressão do desenvolvimento do comércio (está nascendo o capitalismo).
Na política medieval o poder estava nas mãos dos senhores
feudais que pagam tributo aos monarcas. Essa prática permitiu aos monarcas
acumulem riquezas que serviram para financiar as inovações tecnológicas e
comerciais, que aceleraram a queda do poderio feudal e, paradoxalmente, são as
raízes da Revolução Francesa quando a burguesia faz as mais diferentes alianças
para derrubar definitivamente o poder dos senhores feudais e de toda a nobreza,
inclusive tomando o poder dos monarcas.
Nos TEMPOS ATUAIS, a partir do
Iluminismo, que sustentou a Revolução Francesa, a filosofia deixa de ser a
única via de interpretação do Real. O desenvolvimento das ciências fez com que
a filosofia deixasse de se ocupar com a explicação do mundo e dos fenômenos
passando a dedicar-se a temas específicos. Atualmente, ao mesmo tempo que a
filosofia é um complemento à ciência, apresenta-lhe questionamentos ou
questiona-lhe os resultados. A ciência nasce da filosofia e desenvolve-se a
partir dos questionamentos que ela levanta. Por isso podemos dizer que não há
ciência sem filosofia.
Os resultados da ciência aparecem a partir dos
questionamentos que são originários da filosofia. Ou seja, a Filosofia levanta
os problemas e a ciência se encarrega de fazer as investigações. Diante desses
resultados a filosofia coloca novas indagações e problemas.
Isso não significa, entretanto, que não se
tenham desenvolvido correntes e sistemas de pensamento, depois do nascimento
das ciências. Várias correntes merecem um estudo particular: o empirismo, o
iluminismo, o idealismo, o pragmatismo, o positivismo, a fenomenologia, o
marxismo, o existencialismo. Além de campos específicos onde se faz filosofia:
filosofia da ciência, filosofia política, filosofia da linguagem, filosofia da
educação, filosofia do direito, entre outras.
Essas são só algumas das adaptações que o pensar
filosófico fez para adaptar-se e continuar interpretando o mundo.
REFERÊNCIAS
BORNHEIM, Gerd A. (org) Os filósofos
pré-socráticos São Paulo: Cultrix. [198?]
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia.
São Paulo: Cia. das Letras, 1998
MONDIN. Batista. Curso de Filosofia (v
1). São Paulo: Paulinas, 1982
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História
da Filosofia. (v 1) São Paulo: Paulinas, 1990
Neri de Paula Carneiro Mestre em Educação
Filósofo, Teólogo, Historiador