Isa Sousa/MidiaNews
Zanizor diz que ainda há muito preconceito em relação a 
doenças consideradas subjetivas
 
 
A Organização Mundial de Saúde 
(OMS) aponta que, em 2030, a depressão será o “mal do século” ou o mal mais 
prevalente do planeta, à frente do câncer e de algumas doenças infeccionas. De 
acordo com a entidade, atualmente, cerca de 121 milhões de pessoas têm a doença. 
Para o médico psiquiatra Zanizor Rodrigues da Silva, 64 anos, não é que 
a doença se propagará, mas sim que as doenças consideradas “orgânicas” serão 
melhor tratadas. 
“O que nos diferencia hoje é que temos mais acesso à 
informação e estão buscando mais assistência. Não aumentou e nem vai aumentar a 
quantidade de doenças mentais”, afirmou. 
Formado há 38 anos pela 
Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), professor aposentado da 
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ex-servidor do Centro Integrado de 
Apoio Psicossocial (Ciaps) Adauto Botelho, psiquiatra forense, Zanizor é 
criterioso ao afirmar que o sistema de trabalho ocidental é opressor e 
desencadeador dos males da alma. 
“A competitividade contribui para 
depressão, para ansiedade ou para as doenças que a pessoa tem predisposição, 
como diabetes, hipertensão, lúpus, alergias, doenças de pele”, disse. 
Desconsiderando que somos uma sociedade doente, o médico, no entanto, 
afirmou que a predisposição a doenças que não se vê, mas que muito se sente, 
pode ocorrer com qualquer ser humano. 
Confira os principais 
trechos da entrevista que Zanizor da Silva concedeu ao MidiaNews: 
MidiaNews - Como ser humano, todos temos fraquezas. Entre os males 
considerados da alma, estão depressão, esquizofrenia, anorexia, bipolaridade, 
transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno 
obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno do pânico, a busca de drogas e álcool e 
transtornos de personalidades. Qualquer pessoa pode desenvolver um ou mais 
desses males? 
Zanizor Rodrigues da Silva – Qualquer um. Como 
psiquiatra forense, eu não me espanto muito com o que o ser humano faz, as 
grandes maldades, a violência, alguém esquartejar o outro, mesmo porque essas 
pessoas não têm uma anteninha, elas são desse planeta. O ser humano é complicado 
mesmo. 
"A essência do ser humano 
é ser bélico, é ser agressivo e é ser erótico. São os dois deuses trabalhando em 
conjunto: Eros (personificação do amor) e Tânato (personificação da morte). 
"
 
A essência do ser humano é ser bélico, é ser agressivo e é ser 
erótico. São os dois deuses trabalhando em conjunto: Eros (personificação do 
amor) e Tânato (personificação da morte). O que nos diferencia hoje é temos mais 
acesso a informações e estão buscando mais assistência. Não aumentou e nem vai 
aumentar a quantidade de doenças mentais. Não é como um fumo, onde se existiu 
uma cultura de fumar e, consequentemente a isso, vem diversas doenças. Não, 
doença mental vai na mesma toada, na mesma quantidade. 
MidiaNews 
- A OMS declarou, recentemente, que são 121 milhões de pessoas com depressão no 
mundo. Esse número pode ser considerado alto? 
Zanizor – As 
estatísticas não são muito exatas e é difícil em termos absolutos, mas a 
população de depressivos é muito grande sim. Além dela, temos algumas outras 
estatísticas como: 1% da população mundial é esquizofrênica, 1% tem retardo 
mental, 1% tem epilepsia, em torno de 2% tem transtorno bipolar e mais ou menos 
10% tem transtorno afetivo, outros 30% tem transtornos variados, desde 
personalidade até afeto. Dependência química também encontra sua percentagem: 5% 
é dependente de álcool. Ou seja, não há uma estatística tão fidedigna em relação 
a depressão ou outros transtornos. 
MidiaNews - O Brasil é o 
primeiro no ranking entre os países em desenvolvimento (66% da população já 
tiveram, ao menos, um sintoma e 18% têm ao longo da vida). O latino é conhecido 
por ser dramático e ter um perfil “mais aberto” do que o europeu, por exemplo. 
Por que, então, somos tão depressivos? 
Zanizor – Primeiro, 
porque somos humanos. Não somos de outro planeta. É natural que nós tenhamos 
passionalismos em relação à vida. A vida é toda passional. Viver é uma grande 
superação de tensões, de ansiedades, de estados de todos os teores. É preciso 
administrar a vida afetiva, financeira, social. Viver é uma grande demanda 
psíquica e não é muito incomum a depressão. Mas não é porque somos brasileiros, 
é o ser humano de modo geral. Não há sentimentos diversificados em um alemão e 
um brasileiro. 
MidiaNews - O que pode levar à depressão? Existe 
uma tendência a ser depressivo? 
Zanizor – É muito genérico 
falar o que pode levar à depressão. Não se pode dizer que existam grupos que 
sejam mais depressivos ou populações mais ou menos depressivas. A gente entende 
que se uma pessoa vive em uma área com mais contato com a natureza, em situações 
menos fechadas, onde há uma divisão do psiquismo com outros, de alguma forma 
consegue-se diminuir situações de conflitos. Tente imaginar: alguém que fica 
fechado, dentro de sua casa, convivendo apenas no núcleo familiar e não sai para 
nada, tende a ter situações mais depressivas. 
Ainda assim, a depressão 
está relacionada com diversos fatores. Não há uma causa específica. Tem causas 
que são genéticas, a pessoa tem uma vida absolutamente normal e, devido a 
genética, desencadeia um quadro depressivo, outras causas são das demandas 
sociais em que pode estar relacionada com a autoestima e a cultura que ela está 
inserida, o que faz com que venha a ter depressão. Tem causas que são impessoais 
e imediatas. Há um somatório de fatos e não há uma única causa. Para ter a 
doença é quando esses fatores são muito prevalentes e a pessoa não dá conta de 
superar sozinha. 
MidiaNews - Em 2030, a depressão será o mal 
mais prevalente do planeta, à frente do câncer e de algumas doenças infecciosas, 
segundo a OMS. O senhor a considera, realmente, o mal do século? 
Zanizor 
– Evidente que, a partir de um determinado momento em que essas doenças 
orgânicas vão tendo um processo de resolução, entendimento e controle maior, com 
a esperança de vida aumentando, sobra, obviamente, a área psíquica. E quais são 
as doenças? Ansiedade, depressão, transtornos de personalidade, entre outros, 
que acabam aflorando um pouco mais. Não quer dizer que o número de pessoas 
psiquicamente doentes vá aumentar, mas irá ser mais diagnosticado que os outros, 
que vão ter uma resolução mais adequada e rápida. 
MidiaNews 
-Seria apocalíptico, então, afirmar que a depressão será o mal do século? 
Zanizor - Apocalíptico e muito simplório dizer que vá ser a 
doença do século. A depressão sempre existiu em uma constante. 
MidiaNews - A depressão é a quarta principal causa de 
incapacitação em todo o mundo. Se por um lado vemos diagnósticos precoces, por 
outro, também vemos que o quadro depressivo nem sempre é levado a sério. Por 
quê? 
Zanizor – A depressão é totalmente deixada de lado e 
realmente não é levada a sério. O principal motivo é porque não se entende nada 
que seja subjetivo. Em realidade, tudo que é subjetivo não tem credibilidade. Eu 
já tive contato com perito do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) falando 
que depressão não existe, que não tem como dimensionar e nem medir. De fato, nós 
trabalhamos com uma área subjetiva, nós temos a história do indivíduo. 
"A depressão é totalmente 
deixada de lado e, realmente, não é levada a sério. O principal motivo é porque 
não se entende nada que seja subjetivo. Em realidade, tudo que é subjetivo não 
tem credibilidade. "
 
Às vezes, um transtorno começa de uma forma muito 
leve, onde é possível superar, e de repente ele entra em depressão profunda e 
com ideias suicidas. Como é subjetivo, ninguém leva em consideração, não se 
entende e é bastante incapacitante como as estatísticas mesmo mostram. 
MidiaNews - Dessa forma, qual o prejuízo social, então? 
Zanizor - A partir do momento que não se entende, também não se 
diagnostica e não se busca tratamento adequado, o que acaba tornando a doença 
crônica, ou seja, pior. Tudo que se descobre inicialmente é mais fácil de 
tratamento. Se deixar à mercê da sorte, a doença evolui e pode até terminar em 
uma consequência muito grave. 
MidiaNews – Então, o senhor 
acredita que somos preconceituosos com os males da alma? 
Zanizor 
– Completamente. E não só preconceituosos como também incompreensíveis. 
Não se entende a depressão. O que se entende é o documento, o papel, são os 
exames. A depressão, assim como outras doenças da alma, é uma área que depende 
de tempo, pesquisa e avaliação. Embora a própria psiquiatria esteja se 
aprimorado com testes, elaboração de escalas, estudos com áreas do cérebro que 
estariam mais influenciadas e ressonâncias específicas. 
MidiaNews - O senhor acredita que somos uma sociedade doente e 
pouco compreendida? 
Zanizor – Não. Nós não somos uma sociedade 
doente. Somos uma sociedade em desenvolvimento, que é complexa, e com uma 
demanda cada vez maior. Agora, por exemplo, estamos em plena evolução 
tecnológica que mal dá para acompanhar e que ainda não temos total conhecimento 
do que significa e do que será daqui a 20 anos. As coisas acontecem muito 
rápido. Mas, mesmo assim, a sociedade não adoece por conta disso. Ao contrário, 
todos os indicadores de saúde mostram que estamos melhores do que estávamos há 
20 anos. 
Não vamos perder controle sobre nossa questão psíquica ou 
física. Evidentemente que nós vamos nos adaptar. Só que nós devemos entender que 
essas questões subjetivas vão ser mais estudadas. A esperança é os males da alma 
tenham uma explicação mais hábil e mais possível para a população, como o 
próprio Dráuzio Varela tem feito no Fantástico com a série Males da Alma. 
MidiaNews - Existe cura para a depressão? 
Zanizo 
– Às vezes, tem melhora, em outros casos mais severos há o suicídio. A 
maior parte dos procedimentos tem assistência e melhoras. 
MidiaNews - A imprensa tenta noticiar o menos possível a taxa ou 
casos de suicídio. Um dos princípios, que funciona quase como um pacto no 
jornalismo, é que, ao falar do assunto, pode-se corroborar com o aumento da 
taxa. Como a psiquiatria trata o suicídio ou como ele deve ser tratado, de 
maneira geral? 
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Sousa/MidiaNews | 
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Para 
psiquiatra, o suicídio tem, pelo menos, três 
interpretações | 
Zanizor – O suicídio tem 
muitas abordagens. Na abordagem médica ele é resultado de um desespero ou estado 
limite. A pessoa está em uma melancolia profunda, em que não vê solução, e acaba 
tirando a vida. Nós temos mecanismos de prevenir esse tipo de suicídio, tratando 
bem precocemente, dando importância as tentativas, que para nós é muito sério e 
serve como uma luz vermelha. Repito: qualquer tentativa de suicídio, por mais 
banal que seja, é séria. Nós podemos prevenir, fazendo tratamento, ter 
acompanhamento psicológico, observando a dinâmica da vida da pessoa. 
Existe uma outra abordagem que é a filosófica. Nem todo suicídio é 
doença. Às vezes é uma resistência à vida. Ao mesmo tempo que eu tenho que pagar 
imposto, eu tenho que estar cheiroso, tenho que estar amando as pessoas, sou 
pai, sou provedor, sou profissional e sou diversas outras coisas. Assim, sou 
preso a essa sociedade e, sendo preso, a única coisa que me resta é essa vida. 
Então como resistência a essa prisão, eu posso dispor da minha vida e me mato. 
Exemplo disso foi o ator Walmor Chagas, que não era depressivamente 
doente, porém se negou a ter uma velhice indigna e resolveu se suicidar. [O ator 
se matou em janeiro deste ano com um tiro na cabeça. Walmor, 82 anos, tinha 
diabetes e hipertensão e não queria depender de familiares e amigos.] 
Outra questão é a cultural. Os índios Guaranis de Mato Grosso do Sul, 
por exemplo, se suicidam e não é nada indigno, amoral ou doloso. Por outro lado, 
existem os homens bomba do Oriente Médio, em que para eles, se matar é 
eticamente correto. O suicídio tem abordagens muito distintas e não apenas 
médica. De qualquer maneira não é fácil falar do tema por suas diversas 
interpretações. 
MidiaNews – Atualmente, as crianças mais 
travessas têm TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com HiperatividadE) e as 
pessoas mais “sistemáticas” possuem TOC. Os diagnósticos, às vezes, são dados de 
forma muito precoce? 
"A grande verdade é que 
hoje esses transtornos estão mais à tona. Antigamente, não se falava de déficit 
de atenção do modo que se fala hoje, e muito menos do TOC. "
 
Zanizor 
– A grande verdade é que hoje esses transtornos estão mais à tona. 
Antigamente não se falava de déficit de atenção do modo que se fala hoje e muito 
menos do TOC. Ambos são transtornos por vezes impeditivos, em que a pessoa não 
consegue sair de um impasse, é uma situação dramática. A divulgação é positiva 
no sentido que mais se fala, se comenta e se descobre. 
Não é que o 
diagnóstico é feito de forma precoce, porém tem que ser feito de forma 
multiprofissional. Isso quer dizer que tem que haver testes, outras abordagens e 
não apenas uma opinião. 
MidiaNews - Os transtornos estão sendo 
banalizados e mal empregados? 
Zanizor – Toda questão de 
comportamento é muito banalizada. O ser humano é complexo e têm núcleos que são 
mais hiperativos, outros mais sistemáticos, tem gente que é minuciosa e, não 
necessariamente, todos tem patologia. Quando algo começa a incomodar e a pessoa 
repete as mesmas coisas, vai tomar um banho e demora três horas, se começa a ser 
de uma hiperatividade em que não consegue reter nada, isso tem que ser 
diagnosticado e tratado. 
MidiaNews - Mas, essa observação começa 
de onde, de quem tem o problema ou das pessoas que estão em volta, familiares, 
amigos, escola? 
Zanizor – De maneira geral são os terceiros que 
vão observar. Tem que ser levado em consideração o convívio social, como aquela 
criança ou adulto é na escola, com os amigos, com seu grupo social, se o que não 
tem importância para os demais acaba tendo uma importância muito grande para 
quem desenvolveu a patologia. São dados importantes. 
MidiaNews - 
Em relação às crianças e  aos adolescentes, os pais são um pouco cegos? 
Zanizor – Os pais estão em uma vida muito corrida atualmente. 
Eles praticamente abandonaram a educação dos filhos. Nesse sentido, cabe a 
escola todos os papéis: dar comida, ocupar o espaço livre, substituir família. O 
que acontece, no entanto, é que nem o de educar a escola dá conta 100% algumas 
vezes. 
MidiaNews - Qual a opinião do senhor em relação ao uso de 
medicamentos tarja preta de forma contínua. Eles são mocinhos ou vilões? 
Zanizor – São mocinhos. Os medicamentos tarja preta, 
obviamente, devem ser usados quando há necessidade. Se houve pesquisa, avaliação 
e indicação, nós usamos. Com critérios, é claro. 
MidiaNews - 
Mas, existe uma banalização dos antidepressivos? 
Zanizor – Sim. 
Há banalização porque quem receita antidepressivo são médicos, que nem sempre 
prescrevem de maneira indicada e não são especialistas naquela área. Usa-se às 
vezes de forma errada e depois temos que consertar. É muito complicado. O que é 
preciso, é que se busque especialistas. Medicamento deve ser bem indicado. 
"Há banalização porque 
quem receita antidepressivo são médicos, que nem sempre prescrevem de maneira 
indicada e não são especialistas naquela área"
 
MidiaNews - Uma vez, 
ouviu-se falar que a geração que está aí posta não sabe muito bem como realmente 
crescer e acabasofrendo. Explico: são jovens que têm tudo de “mão beijada” e, 
quando precisam ir para o mercado de trabalho, percebem que o mundo não é tão 
fácil como os pais faziam parecer que era. O que esperar desses jovens? 
Zanizor – A vida de hoje é muito mais fácil que era 
anteriormente. Não tínhamos a tecnologia e qualidade de vida que temos hoje. 
Óbvio, as demandas que a indústria cultural martela na cabeça deles a indústria 
do consumo, que é uma verdadeira tortura em relação ao consumismo. O jovem vive 
nessa demanda, porém, ele se adapta, com o diferencial que estará em uma 
sociedade menos reprimida. 
MidiaNews - Recentemente, uma 
blogueira, Dai Dornelles, que deixava claro que sofria de anorexia, morreu 
devido à doença. Mesmo se auto denunciando com o problema, as postagens dela 
sempre tinham muitas “curtidas”, como se as leitoras achassem bom ser magra. 
Desde que o mundo existe, os padrões são postos, mas o senhor considera que há 
um exagero na imposição dos padrões atualmente? 
Zanizor – 
Lógico. Há uma glamourização terrível que a indústria cultural impõe em termos 
de modelo de estética. Sempre terá desvios. A questão do uso de “bombas” e 
testoteronas aumentou, por exemplo. Hoje se nota um padrão de mulheres com coxas 
gigantes. O problema, no entanto, é quando se espelhar vira obsessão e, 
passando-se do limite, vira doença. 
MidiaNews – Mas, nesse 
sentido, a internet corrobora? 
Zanizor – Sim, porque é um 
mecanismo imediato, mas também não significa que irá aumentar mais a quantidade 
dos desvios de personalidade. 
MidiaNews - Segundo a OMS, 2% da 
população mundial sofrem de transtorno bipolar. A doença, no entanto, às vezes, 
é confundida ou mudanças de humor já são consideradas bipolaridade. O senhor 
acredita que há banalização? 
Zanizor – Na verdade, não. Quando 
alguém fala que fulano é bipolar, tem TDAH ou TOC, prefiro ver pelo lado 
positivo. Hoje temos muito mais informação que no passado e, a partir do momento 
que se busca entender ou começar a perceber alguns sintomas, procurar ajuda 
profissional para verificar se aquilo realmente é uma doença ficou menos 
difícil. Não acredito que seja negativo. 
O transtorno bipolar é muito 
difícil de ser tratado. Quem convive com a doença ou com pessoas que a têm 
passam por situações muito dramáticas. A bipolaridade é incapacitante e 
desestrutura famílias. Ele tem uma parcela genética e grande parte dos pacientes 
já chega em uma fase bem limítrofe. 
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Bipolaridade: 
transtorno causa impeditivos a quem tem e quem 
convive | 
Outro problema é que a própria adesão ao 
tratamento é difícil. Quando se cita a medicina americana, ela fala muito de 
espectro bipolar. Ou seja, existem pessoas que são ansiosas e têm um pé na 
bipolaridade, assim como pacientes que têm déficit de atenção ou hiperatividade 
é também têm um pé na bipolaridade. Ou seja, o transtorno é visto sob uma ótica 
maior. Quanto mais cedo diagnosticar o quadro, menos difícil poderá ser de 
tratá-lo. 
MidiaNews - Por outro lado, temos o transtorno do 
pânico que pouco se sabe ou pouco se fala. Ele também é preocupante? 
Zanizor - O transtorno do pânico é muito comum. Qualquer classe 
social pode ser atingida e se caracteriza por dezenas de sintomas orgânicos, 
somatizações das mais diversas, que vem subitamente e essa é a principal 
questão. 
O transtorno, no entanto, é fácil de ser diagnosticado. Às 
vezes você está muito bem e de repente começa a ficar com boca seca, mão gelada, 
formigamento, o coração dispara, sente falta de ar, tontura, começa a acredita 
que vai ter um AVC ou um infarto, corre ao médico e não há nada. Outro dia, a 
mesma coisa. Se não há nada orgânico, certamente é pânico. Tem tratamento, há 
fórmulas, terapias cognitivas ajudam bastantes e com medicamentos 
antidepressivos. 
MidiaNews - O senhor é psiquiatra forense e uma 
vez li o senhor comentando sobre psicose em policiais militares, que vivem em um 
modelo de trabalho, por vezes, opressor. Além deles, quais outras profissões 
estão na berlinda? 
Zanizor – Hoje, há três profissões que mais 
constantes e gritantes que vemos nos consultórios e, veja bem, não são 
necessariamente psicoses e sim transtornos. 
Os primeiros são os 
policiais militares mesmo, que não tem proteção sob o ponto de vista 
psicológico, não passam muitas vezes por preparo ou reciclagem e vivem em uma 
área de confronto constante. Neles, por exemplo, vemos uma grande quantidade de 
alcoólatras, usuários de drogas e quadros psicótico. 
Em segundo lugar 
temos os professores, tão deixados de lado e que também estão sob muita pressão. 
Além disso, como falamos anteriormente, acabam substituindo os pais ausentes e 
sofrem pressão de alunos. 
Em terceiro lugar estão os bancários. Nesse 
caso, a principal pressão é porque eles têm que vender dinheiro de qualquer 
maneira. Existem as metas e, superando-as, outras são impostas. 
MidiaNews - Mas, nesse caso, a competitividade ajuda no 
aparecimento de transtornos, como o que falamos até agora? 
"Os serviços públicos são 
péssimos na área de Saúde Mental e, realmente, houve uma total 
degradação."
 
Zanizor – Lógico que ajuda. Você está sob 
pressão, tem que cobrir suas metas, pagar contas, cuidar da sua família e, ao 
mesmo tempo, viver sob uma ameaça constante de demissão, uma vez que não há 
nenhuma segurança nesse sentido. A competitividade contribui para depressão, 
para ansiedade ou para as doenças que a pessoa tem pré-disposição, como 
diabetes, hipertensão, a imunidade pode abaixar e causar lúpus, alergias, 
doenças de pele, etc. 
MidiaNews - Mas, o mercado de trabalho, 
que é o causador, entende essas doenças? 
Zanizor – Acho que o 
mercado de trabalho ainda é muito agressivo, muito seletivo, tem que tirar o 
sangue dos trabalhadores de alguma forma e só os mais aptos, ou seja, os que 
produzem é que ficam no mercado. Se não der conta, pode sair. E as demandas da 
vida, como uma separação ou um quadro depressivo, não são aceitas. A não 
aceitação vem, principalmente, porque se você está doente não produz. 
MidiaNews - O senhor disse que trabalhou, durante algum tempo, 
no Adauto Botelho. Recentemente, o MidiaNews fez uma reportagem sobre o 
fechamento do Pronto-Atendimento do hospital psiquiátrico porque não havia 
medicamentos e nem leitos. A psiquiatria pública está abandonada? 
Zanizor – Completamente. Os serviços públicos são péssimos na 
área de saúde mental e realmente houve uma total degradação. Em relação a 
assistência de psicóticos, é só fazer um levantamento de quantos psiquiatras 
estão no serviço de assistência, são pouquíssimos. Primeiro, se a população tem 
necessidade, ou ela não tem atendimento ou é atendida por clínicos. 
Segundo, se há necessidade de uma assistência de emergência, vamos 
imaginar que o paciente está no limite, vai hoje lá no pronto-atendimento do 
Adauto Botelho: as portas estarão fechadas. Onde ele será atendido? De alguma 
forma desorganizaram o serviço de referência que existia. Nós não conseguimos 
internar um paciente atualmente. 
Na área de assistência a álcool e 
drogas, é uma outra situação de abandono feita pelo Governo. Hoje temos um 
erviço perto do Detran, chama de Unidade 3 do Adauto Botelho, onde a internação 
é conseguida por meio de ordem judicial. A grande maioria, em torno de 500 
pessoas, fica internadas em unidades terapêuticas, que não tem nenhuma 
assistência médica, nenhuma assistência técnica de qualidade e que são 
comandadas pelo setor privado ou por pessoas leigas evangélicas, espiritas, 
católicas ou de outro cunho social e essa é a única alternativa que existe para 
a população.