quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Biblioteca Estevão de Mendonça: passado, presente e futuro


Por: EDUARDO MAHON

Qualquer mudança gera medo. A sacudida no comodismo causa bastante insegurança. É o caso da transferência da Biblioteca Estevão de Mendonça. Nós, da Casa Barão de Melgaço, formada pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e Academia Mato-Grossense de Letras, fomos averiguar as condições atuais da centenária biblioteca para saber, ao certo, o que acontece no espaço. O diagnóstico preliminar foi assustador: uma parte mínima do acervo está catalogada, um risco enorme para a segurança, já que as obras não tombadas podem sumir sem que haja qualquer fiscalização; o espaço atual não contempla uma série de iniciativas que acreditamos indispensáveis, além de fechar as portas na hora do almoço e não abrir aos finais de semana em horários alternativos. Não há um calendário suficientemente interativo, iniciativas que a Casa Barão de Melgaço já está acostumada a conduzir com inquestionável sucesso.
Modéstia à parte, temos uma curadoria espetacular que é exemplo para qualquer biblioteca dentro e fora do Estado de Mato Grosso. A Professora Doutora Elizabeth Madureira Siqueira, reconhecida autora e pesquisadora, é responsável pela conservação do Arquivo da Casa Barão de Melgaço, espaço conservado com rigor. Além de orientar pesquisadores de mestrado e doutorado – estudantes mato-grossenses, de outros estados e mesmo de outros países – a curadoria conserva jornais do século XIX, abriga arquivos particulares de 11 famílias e o conjunto dos acervos de famílias italianas no Estado. A Casa Barão de Melgaço mantém o acervo integralmente catalogado, acondicionado em condições aceitáveis e bastante limpo, tudo disponível para consulta on-line. Elizabeth Madureira Siqueira presidiu o Instituto Histórico e Geográfico por três vezes e compõe a Diretoria da AML, na condição de 1ª vice-presidente. Mato Grosso ainda saberá agradecer o que esta brilhante paulista fez pela historiografia regional.
Foi com enorme alegria que recebemos a notícia do atual Secretário de Cultura, Leandro Carvalho, de que teríamos a oportunidade de abrigar os mais de 100 mil volumes da Biblioteca Estevão de Mendonça. Aceitamos de braços abertos. Não poderia ser diferente. A Casa Barão de Melgaço encerrou, no último dia 27 de julho, os festejos do Centenário Rubens de Mendonça, filho do patrono da Biblioteca. A AML construiu em homenagem ao grande jornalista, historiador, literato, um site para divulgar os trabalhos que o imortalizaram. Faremos o mesmo com Estevão de Mendonça, a fim de que as gerações mais novas possam conhecer quem foi o nosso fundador. A visão do Governador Pedro Taques, ao assinar o contrato de parceria, é promover um circuito cultural produtivo no centro histórico, entregando os aparelhos culturais aos especialistas que entendem da promoção do conhecimento. Ninguém mais habilitado que a equipe de intelectuais do IHGMT e da AML.
O que sempre a Academia Mato-Grossense de Letras realizou deu-se de forma gratuita. Não temos o menor interesse no lucro de qualquer iniciativa, até porque nossa natureza jurídica não tem fins lucrativos. O bicentenário casarão é mantido pela contribuição dos sócios do Instituto e da Academia, assim como a os custos da nossa biblioteca que conta com mais de 12 mil títulos, além de fotografias, jornais, objetos valiosos, tudo organizado com o capricho costumeiro da Profa. Elizabeth Madureira Siqueira. Além do mais, em nossos quadros, há grandes estudiosos de literatura, como o Prof. Dr. Agnaldo Rodrigues da Silva, a Profa. Dra. Marta Helena Cocco, a Profa. Dra. Olga Maria Castrillon Mendes e a Profa. Dra. Maria Cristina de Aguiar Campos, referências estaduais de estudos literários, cujos livros são bibliografias obrigatórias nas faculdades. No Instituto Histórico, grandes nomes compõem o time: João Carlos Vicente Ferreira, Paulo Pitaluga, Aecim Tocantins, Aníbal Alencastro, Nileide Dourado, Suise Monteiro, Fernando Tadeu de Miranda Borges, entre muitos outros estudiosos que pertencem às duas casas, como Sebastião Carlos Gomes de Carvalho, Benedito Pedro Dorileo, Avelino Tavares, Nilza Queiróz Freire etc. Certos de que será a sociedade quem ganhará com a expertise do IHGMT e da AML e, pautando-nos pela transferência, fizemos questão de chamar para participar do processo o promotor de justiça que atua na defesa do patrimônio cultural mato-grossense, o excelente Dr. Gérson Barbosa.
Trataremos a Biblioteca Estevão de Mendonça com o respeito que ela merece. E faremos mais: promoveremos a transformação do conceito tradicional de consulta para o de participação. Exposições especiais, mostras permanentes, diálogo com as artes plásticas, teatro de bonecos, programas de visitação de crianças e adolescentes, catalogação completa do acervo, divulgação ampla por meio do espaço virtual, saraus quinzenais, tudo para fazer da biblioteca um lugar sedutor. Não foi a Secretaria quem resolveu os problemas da Casa Barão de Melgaço. Provavelmente, seja exatamente o contrário: o Instituto Histórico e a Academia Mato-Grossense de Letras disponibilizaram-se para somar forças com a equipe técnica da Biblioteca Estevão de Mendonça a fim de lembrar do passado, celebrar o presente e pensar o futuro, o que já fazemos há quase 100 anos. Parabéns, Governador Pedro Taques e Secretário Leandro Carvalho pela clarividente estratégia. Até que enfim alguém reconhece o mérito e faz algo de concreto para salvar a nossa mais querida e significativa Biblioteca.
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EDUARDO MAHON - é advogado e presidente da Academia Mato-Grossense de Letras, ocupando a Cadeira 11, cujo patrono é Augusto João Manuel Leverger Leverger, o Barão de Melgaço, foi inaugurada por Estevão de Mendonça, sucedido pelo Des. António de Arruda

Fundação de Cuiabá, conheça um pouco sobre o passado da cidade


Cuiabá hoje é uma metrópole que passou por uma verdadeira metamorfose que atingiu toda e qualquer peça da chamada Capital Verde de Mato Grosso
Muito diferente dos anos de 1719, quando Pascoal Moreira Cabral desbravava os rios e matas, e quando o ouro era produto que mais facilmente se obtinha, Cuiabá hoje é uma metrópole que completa 287 anos de transformação, numa verdadeira metamorfose que atingiu toda e qualquer peça da chamada Capital Verde de Mato Grosso.
Fundada em 8 de abril de 1719 pelos bandeirantes Pascoal Moreira Cabral e Miguel Sutil, às margens do córrego da Prainha, devido a descoberta de ouro, mais tarde denominadas "Lavras do Sutil", a maior fonte de ouro que se teria achado no Brasil até então, Cuiabá só foi elevada a cidade em 17 de setembro de 1818, através de carta régia assinada por D. João VI. Só em agosto de 1835 se tornou Capital da província com a Lei nº 19, assinada por Antonio Pedro de Alencastro, à época, com cerca de 7 mil habitantes. Foi em 1909 que Cuiabá teve seu reconhecimento como Centro Geodésico da América do Sul. Em meados do Século XIX, já estando unidas a parte principal e a portuária da cidade, a população já atingia quase 10 mil habitantes.
Na segunda metade do século XIX, com o fim da Guerra do Paraguai e a livre negociação, a cidade ganha força com obras de infra-estrutura e equipamentos urbanos. Como polo avançado no interior brasileiro, centraliza uma região que passa a ter expressiva produção agroindustrial acuçareira e intensa produção extrativa, em especial de poaia e de seringa.
No século XX, a ligação rodoviária com São Paulo e Goiás e a aviação comercial, a partir de 1940, trouxeram o desenvolvimento da Capital. O grande marco de crescimento, no entanto, têm início na década de 70, quando o Governo Federal inicia um programa de povoamento do interior do País, oferecendo vantagens para os interessados. Em cinco anos, de 1970 a 1975, a população passou de 83 mil para 127 mil pessoas. Hoje, de acordo com o censo do IBGE, publicado em 2004, a Capital de Mato Grosso tem 524 mil habitantes.
Localizada a uma altitude de 165 metros, a Capital possui uma área de 3.984,9 km2, com um clima tropical umido no verão (dezembro a fevereiro) e seco no inverno (junho a agosto). A temperatura máxima, nos dias mais quentes, fica em torno de 45ºC. A mínima varia entre 12 e 14ºC. O município divide águas das Bacias Amazônica e Platina. Entre os principais rios dessas redes hidrográficas estão o Cuiabá e o das Mortes.
O rio Cuiabá, que corta a cidade, divide dois municípios: Cuiabá e Várzea Grande. A Capital mato-grossense limita-se ao Norte com Rosário Oeste, a Noroeste com Acorizal, a Sodoeste com Várzea Grande, ao Sul com Santo Antonio do Leverger, a Leste com Campo Verde e a Noroeste com Chapada dos Guimarães. A economia da Capital hoje está centralizada no comércio e na indústria. No comércio, a representatividade é varejista, constituída por casas de gêneros alimentícios, vestuário, eletrodomésticos, de objetos e artigos diversos. O setor industrial é representado, basicamente, pela agroindústria, com um distrito industrial que dispõe de infra-estrutura necessária, a Capital vem atraindo empresários de várias regiões do País.
Com 288 anos, Cuiabá se prepara para viver outro grande surto de crescimento, com a implantação de vários mega-projetos, entre eles, a ligação ferroviária com o Porto de Santos, a conclusão e pavimentação da rodovia Cuiabá-Santarém, a BR-163, a saída rodoviária para o Oceano Pacífico, a hidrovia do Paraguai, a Usina de Manso, a Termoelétrica e o Gasoduto.
Origem do nome "Cuiabá"
Há várias versões para a origem do nome Cuiabá. Uma delas é de que o nome tem origem na palavra bororo IKUIAPÁ que significa “lugar da IKUIA” (ikuia: flecha-arpão, flecha para pescar, feita de uma espécie de cana brava; pá: lugar). O nome designa uma localidade onde os índios bororos costumavam caçar e pescar, no córrego da Prainha (que corta a área central de Cuiabá). Outra explicação possível é a de que Cuiabá seria uma aglutinação de KYYAVERÁ (que em guarani significa "rio de lontra brilhante"). Uma terceira hipótese conta que a origem da palavra está no fato de existirem árvores produtoras de cuia à beira do rio e que Cuiabá significaria “rio criador de vasilha”.

Há ainda outras versões menos embasadas historicamente, que mais se aproximam de lenda do que de fatos. O certo é que até hoje não se sabe com certeza a origem do nome e cada cuiabano gosta de adotar uma versão ou lenda.