FABIANO MAISONNAVE
DE SÃO PAULO
Ao topar com um gráfico comparativo da evolução educacional em 15 países
ricos, a jornalista dos EUA Amanda Ripley, 39, viu sem surpresa, que, em meio
século, quase nada mudou no desempenho medíocre dos alunos da nação mais rica do
mundo. Mas lhe serviu como revelação a melhora apresentada em lugares como
Finlândia e Coreia do Sul em apenas uma década.
Ripley decidiu, então, acompanhar alunos americanos de intercâmbio em três
países bem avaliados no Pisa --reputado teste internacional de desempenho de
alunos entre 15 e 16 anos em matemática, leitura e ciências. Do mais recente
participaram de 65 países, com o Brasil nas últimas colocações.
Na Finlândia, a jornalista encontrou crianças que "alcançam alto grau de
pensamento sem competição excessiva ou interferência paterna". O contrário da
"panela de pressão" sul-coreana, onde as jornadas escolares já tiveram 16 horas.
Na Polônia, o fim do comunismo criou uma escola mais rigorosa, porém
estimulante.
As conclusões estão no recém-lançado "The Smartest Kids in the World" (As
crianças mais inteligentes do mundo, em tradução livre), que está na lista dos
cem livros "notáveis" deste ano do "New York Times". O lançamento no Brasil será
em 2014. Confira trechos da entrevista concedida à Folha, por telefone.
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FOLHA - A sra. diz que o Pisa é um bom método de avaliar o pensamento
crítico. O que isso significa do ponto de vista educacional?Amanda
Ripley - Eu mesma fiz o teste enquanto escrevia o livro. Ele requer mais
pensamento do que qualquer outro teste padronizado que conheço. Exige que um
problema do mundo real seja traduzido em termos matemáticos. Que você critique
um trecho de leitura e diga como ele pode ser melhorado. É uma avaliação com
base na qualidade do argumento.
A partir do Pisa, a sra. escolheu visitar três países bem diferentes entre
si. O que eles têm em comum?Acompanhei três adolescentes americanos, de
Estados diferentes, e que foram a três países muito diferentes também. Todos
notaram que as crianças desses países levam a escola mais a sério do que nos EUA
-justamente pela escola ali ser mais séria. O trabalho que fazem é mais
desafiador, os professores são mais bem treinados e o foco é no aprendizado.
Nos EUA e em outros países está menos claro para que a escola serve.
Entrevistei centenas de alunos de intercâmbio nos EUA, e 90% disseram que as
escola americana era mais fácil.
Disseram ainda que havia mais tecnologia, o que é importante apenas na medida
em que há muito investimento nessa área no país, e é preciso um retorno. Porém,
ter iPads em sala de aula não leva necessariamente ao aprendizado.
Qual é a importância do professor?Anos de pesquisa têm mostrado o
que, no fundo, já sabíamos: o professor é o fator intraescolar mais importante
na educação. Alguns países concentram toda a energia no recrutamento,
treinamento e aprimoramento dos professores. Esses países são poucos e distantes
entre si, mas parecem ter sistemas mais justos, com crianças mais inteligentes.
Uma de suas conclusões otimistas é que o sistema educacional pode mudar
rapidamente. Isso é verdade mesmo em países grandes?Acho que sim.
Escrevi este livro porque as mudanças são muito estimulantes. É muito
encorajador ver países grandes e complexos, como Polônia, Canadá e mesmo partes
da China melhorarem dramaticamente o que as crianças podem fazer em dez anos,
que não é um período muito longo.
Mesmo nos EUA, há dois Estados, Massachusetts e Minnesota, onde nossa
performance é de muito alto nível em comparação com o resto do mundo.
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Brooke Bready | |
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A jornalista Amanda Ripley visitou a Finlândia,
a Coreia do Norte e a Polônia, país bem ranqueados no
Pisa |
No Brasil, o governo comemorou ter sido o que mais avançou em matemática
desde 2003, mas o país continua nas últimas posições. Há mais motivos para
celebrar ou para se preocupar?Não saberia interpretar os resultados do
Brasil, mas o país ainda tem um longo caminho adiante, assim como outros países
na América do Sul. Mas há muitas nações que não estão nem perto do Brasil ou que
estão piorando. No caso brasileiro, há bons motivos para comemorar e motivos
para gerar ansiedade e preocupação.
O sistema educacional mais exigente parece ser o sul-coreano. Ele deve ser
copiado?Há lições a serem aprendidas, mas não é o modelo ideal para
nenhum país. O caminho é extremamente infeliz -muito eficiente, porém doloroso.
Você não vai querer ter dois sistemas escolares, um de dia, outro de noite
[aulas de reforço], e os alunos assistindo a ambos. É melhor investir num
sistema escolar durante o dia confiável a pais e alunos. Lá todos me diziam que
o modelo finlandês é o melhor para o mundo.
A sra. diz que o rigor com o aluno é parte importante do sistema
educacional eficiente. Isso explicaria a diferença entre escolas privadas de
elite e escolas públicas no Brasil?O último Pisa é o primeiro a mostrar
que as escolas privadas estão agregando valor em todo o mundo. Isso é
preocupante, porque o acesso à educação não deveria ser baseado em quanto
dinheiro os pais têm.
Sobre o rigor, os sistemas mais humanos e de alta performance são os que
priorizam qualidade sobre quantidade. Portanto, o objetivo não é gastar muitas
horas na escola e muitas horas fazendo tarefa de casa. O objetivo é que o tempo
usado seja desafiador, com trabalho difícil que valha a pena fazer. Muitos
americanos fazem mais lição de casa que os finlandeses. Mas não é muito criativo
ou exigente, é apenas para mantê-los ocupados.
A surpresa do ano foi o Vietnã, país pobre que teve um desempenho melhor
do que países ricos. O que explica?Não sei muito sobre o Vietnã, mas
fiquei impressionada com a performance do país. Tem o mesmo nível da Finlândia,
Canadá e Holanda, apesar da pobreza. O que eu sei é que, como a Coreia do Sul,
há muita aula de reforço depois da escola. É algo com que você tem de ser
cuidadoso, ninguém quer que as crianças sejam tristes, estudem dia e noite.
Especialmente porque países como Finlândia, Alemanha e Canadá estão no topo sem
serem infelizes.
Se a sra. pudesse voltar no tempo, onde faria o ensino
médio?Definitivamente, não seria na Coreia do Sul. É um país fantástico
e interessante, mas o sistema é muito esgotador.
Eu estudei no exterior quando era adolescente. Como muitos jovens, estava
desesperada para sair da minha escola, então eu embarquei na chance de passar um
semestre na França.
O país não tem um forte sistema educacional em relação ao topo do mundo, mas
foi uma das melhores decisões que eu tive na minha vida. De repente, entendi que
o mundo era um lugar grande, que não gira em torno dos EUA --uma grande
conclusão para um norte-americano.