Autor: Gabriel Novis Neves
Considerada a praga do mundo Pós-Moderno, a ansiedade é um dos efeitos
colaterais do ritmo de vida alucinado em que vivemos.
Realmente, com a
radical mudança de valores, era de se esperar que, pela maior intensidade dos
comportamentos competitivos, aumentassem, e muito, o estresse e a
ansiedade.
Acrescente-se a isso o fato de que as indústrias farmacêuticas
incrementaram suas vendas graças ao aumento de rótulos de doenças da mente em
patologias ditas depressivas, antes definidas apenas como estados de
tristeza.
Esses episódios fazem parte do nosso cotidiano, principalmente
nos momentos de grandes perdas, e é compreensível que seres racionais se abatam,
temporariamente, pelas dificuldades vividas.
A “caixa da normalidade”
está cada vez menor, e a culpa é do excesso de diagnósticos de doenças mentais,
diz o psiquiatra Dale Archer, autor do bestseller “Better Than Normal”,
recém-lançado no Brasil com o título de “Quem disse que é bom ser
normal?”
Archer, de 57 anos, é psiquiatra clínico desde 1987 e fundou o
Instituto de Neuropsiquiatria em Lake Charles, Louisiana (EUA). Segundo ele,
estamos “patologizando” comportamentos normais.
De outubro de 2012 a
setembro de 2013, o número de antidepressivos e estabilizadores de humor
movimentou mais de dois bilhões de reais no Brasil, segundo dados da consultoria
IMS Health.
Nos últimos cinco anos, o número de unidades vendidas desses
remédios cresceu em 61%.
Vivemos num mundo em que é proibido ficar
triste, como se pudéssemos, tal como hienas, sermos portadores de um estado
constante de graça.
O medicamento deveria sempre ser o último recurso,
depois de uma longa terapia.
Todos sabem que não é fácil enfrentar os
problemas financeiros, principalmente aqueles ocasionados pelo descaso político
com suas inúmeras injustiças sociais, as convenções estabelecidas - algumas
absurdas -, a solidão afetiva generalizada, tudo isso somado aos desencontros
comuns na vida de qualquer pessoa.
Assim, tudo é diagnosticado como
ansiedade ou depressão, e as pessoas são, logo em seguida, fortemente
medicadas.
Esquecemo-nos que não existe paz na natureza.
Os
animais estão sempre em sinal de alerta em função da existência de predadores e
das várias modificações telúricas a que estão sujeitos.
Para essa
ansiedade do viver estamos todos biologicamente preparados.
Por exemplo:
muitas crianças recebem o diagnóstico de hiperativas quando, na verdade, estão
apenas reagindo a um meio hostil e a uma competitividade
exagerada.
Atualmente, um quarto dos adultos americanos tem uma ou mais
doença mental diagnosticada, segundo o Instituto de Saúde Mental dos Estados
Unidos. Com certeza algo está errado nessa pesquisa, uma vez que uma gama enorme
de comportamentos não pode ser traduzida exatamente como
doença.
Deveríamos estar mais preocupados com uma sociedade composta por
alegres crônicos alienados e menos com os seres reflexivos, algumas vezes
considerados depressivos, unicamente na tentativa de entenderem o sentido da
vida.
Nós médicos sabemos bem distinguir a tristeza passageira - sinal de
equilíbrio emocional - dos estados depressivos crônicos, em que se faz
necessário o uso de medicação.
Remédio não é para alteração humoral,
remédio é para doença.