sábado, 15 de dezembro de 2012

Cai a quantidade de escolas


Camila Ploennes

Brasil tem menos unidades de ensino do que no início da década passada; municipais e estaduais foram as que mais fecharam
O total de escolas brasileiras diminuiu nos últimos dez anos. Levantamento feito pela revista Educação na base de dados do Censo Escolar mostra que o número de instituições em 2011 é 11% menor do que em 2001. Ou seja, o Brasil tinha 218.383 escolas em 2001 e, dez anos depois, contava com 193.047, o que significa uma redução de 25.336 unidades de ensino no período. Ao observar as informações pelo tipo de escola, nota-se que a queda aconteceu na quantidade de municipais e estaduais, enquanto o número de federais e privadas aumentou.

A única região do país onde o número total de escolas cresceu no período foi a Sudeste. Em 2001, eram 56.063 instituições de ensino. Em 2011, elas somavam 58.717, representando um aumento de 2.654 unidades, ou 4,7% em relação a 2001. No entanto, houve crescimento apenas em dois estados: Rio de Janeiro e São Paulo. Em Minas Gerais e Espírito Santo, a quantidade caiu. Além disso, foi registrada queda no número de escolas estaduais, de 13.465 para 11.384, enquanto houve aumento nas federais, municipais e privadas.

A região que mais teve queda foi a Nordeste. De 95.953 escolas, em 2001, a região passou a contar com 75.234 no ano passado, redução de 21,6% em relação a 2001. Os estados que registraram maior redução foram Bahia (que ficou com 7.374 escolas a menos no período) e Ceará (5.177 unidades a menos). Em nenhum estado do Nordeste houve crescimento no número total de escolas, ao contrário do Norte, onde três estados apresentaram aumentos: Amapá (87 a mais), Amazonas (637) e Roraima (17).

Para Luiz Araújo, mestre em políticas públicas em Educação pela Universidade de Brasília (UnB) e ex-secretário de Educação de Belém (Pará), alguns motivos podem ajudar a explicar esses números, além de razões específicas a cada localidade: a queda contínua de matrículas no ensino fundamental e o fechamento de escolas rurais em vários municípios. "Afora esses fatores, houve um processo de agrupamento de escolas pequenas nas áreas rurais e substituição delas por transporte escolar das crianças", acrescenta.

Olhares (di)versos



Deborah Ouchana


Vencedores da última edição da Olimpíada de Língua Portuguesa falam sobre suas inspirações e ressaltam a importância da competição

Pipa era um menino que dizia gostar da solidão. Mestre em soltar papagaio, passava o tempo apenas com sua pipa e a imaginação. No assentamento onde morava, as pessoas não conseguiam compreendê-lo: era considerado louco. Mas para um garoto da vila, que observava tudo de longe, o espírito livre de Pipa era algo fascinante.

A história acima foi retirada dos versos escritos por Éricles da Silva Santos, estudante do 2° ano do ensino médio e vencedor da última edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, em 2010, na categoria crônica. Com caráter bienal, a Olimpíada desenvolve ações de formação de professores com o objetivo de melhorar a escrita e a leitura nas escolas públicas brasileiras.

Nos anos pares é realizado um concurso de produção de textos que envolve alunos do 5° ano do ensino fundamental ao 3° ano do ensino médio de escolas de todo o país. O tema "O lugar onde eu vivo" é desenvolvido em quatro gêneros textuais: poema, no 5° e 6° anos; memórias, no 7° e 8° anos; crônica, no 9° ano do ensino fundamental e 1° ano do ensino médio; e artigo de opinião, no 2° e 3° anos do ensino médio.

Antes de vencer em 2010, Éricles já havia participado da Olimpíada, mas não obteve sucesso. "No primeiro ano que eu participei apenas uma menina da escola conseguiu passar para a fase seguinte. Isso deixou todo mundo com o desejo de tentar. As pessoas se sentem influenciadas. No meu ano fui eu e outra aluna; esse ano já foram três. As pessoas ficam admiradas e também querem participar", conta o estudante, que disputa mais uma vez, nesse ano, a fase final da Olimpíada de Língua Portuguesa, na categoria artigo de opinião.

A cultura popular de sua cidade, Japaratuba, localizada no norte de Sergipe, foi a inspiração para escrever o texto "A Pipa, o Bispo e o Azul". "Minha cidade é conhecida pela diversidade cultural. Eu quis focar meu texto no descaso com a cultura popular", explica. Para isso, o estudante criou o personagem Pipa com a intenção de fazer um paralelo com o artista Arthur Bispo do Rosário, nascido na mesma cidade que Éricles. "As pessoas consideravam Arthur Bispo do Rosário louco, assim como o personagem que eu criei. É um trocadilho", diz.

Inspiração nos professores

Já para Eduarda Moura, estudante do 9° ano do ensino fundamental em Cruzeiro do Sul, no Acre, a inspiração para o texto "Chão Varrido", vencedor na categoria memórias, foi sua professora. "A gente tinha que escrever sobre uma pessoa próxima. Minha professora é uma pessoa muito legal, a gente se dava bem. E eu achei interessante escrever sobre a vida dela quando criança porque era bem diferente da minha. Ela morava no interior, num lugar bem afastado", relembra Eduarda.

A importância da figura do professor na Olimpíada de Língua Portuguesa é ressaltada também pela estudante Pâmela de Oliveira, vencedora na categoria poema com o texto "Meu pedaço de terra vermelha". "A motivação para eu participar da Olimpíada foi minha professora. Durante as aulas, nós começamos a trabalhar com oficinas, íamos conhecendo diversos autores, escrevendo coisas como quadrilhas, tudo bem descontraído e fora do ritmo escolar", conta Pâmela.

A jovem, que considera Castro Alves seu escritor preferido, quis mostrar em seu poema aspectos relevantes de Minas Gerais, estado onde vive. Para ela, trabalhar no poema, em cada linha e palavra dele foi a parte mais prazerosa da competição. Pâmela ressalta também a importância da Olimpíada na sua formação. "Eu me tornei uma pessoa muito mais confiante. Passei a me sentir capaz e ganhei novos objetivos. Quero terminar meus estudos e cursar promotoria.", planeja.

Os vencedores da Olimpíada de Língua Portuguesa recebem medalha, computador e impressora, além de ganhar para a escola 10 computadores, uma impressora, um projetor, um telão para a projeção e livros. Admirador da Olimpíada, Éricles considera que os prêmios são uma motivação, mas além de bens materiais a competição fez com que ele despertasse outros olhares sobre o mundo e ganhasse novos horizontes. "Eu fiz novos amigos, conheci outros lugares e andei pela primeira vez de avião!".

Os textos vencedores da edição 2012 serão divulgados no dia 10 de dezembro. No site da Olimpíada de Língua Portuguesa , professores que ainda não participaram de nenhuma edição podem ter acesso a materiais com propostas de atividades para serem desenvolvidas em sala de aula, artigos e cursos online.

Assista aos vídeos com os textos de Eduarda, Éricles e Pâmela, vencedores da última edição:

"Chão varrido" http://centraldemidia.mec.gov.br/play.php?vid=1170

"A pipa, o bispo e o azul" http://centraldemidia.mec.gov.br/play.php?vid=1171

"Meu pedaço de terra vermelha" http://centraldemidia.mec.gov.br/play.php?vid=1146

Adeus ao assistencialismo


Cristiane Marangon, com Redação


Hoje a legislação garante que a alimentação servida nas escolas brasileiras deve priorizar a agricultura familiar e o estímulo à economia local. Mas ainda há desafios a serem enfrentados, como a falta de nutricionistas e os maus hábitos alimentares
Programa Alimentação Escolar: a aquisição de gêneros alimentícios deve ser realizada, sempre que possível, no mesmo município das escolas

Está na lei: 30% dos alimentos adquiridos por estados e municípios com os repasses do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) devem ser comprados diretamente da agricultura familiar. A intenção é induzir bons hábitos alimentares e, de quebra, estimular o desenvolvimento, a educação e a saúde pública local. Além disso, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) também orienta a realização de avaliação antropométrica dos alunos, que inclui pesagem e medição de altura. Mas, entre as dificuldades enfrentadas no dia a dia dos municípios, estão a baixa presença de nutricionistas por escola - normalmente um profissional se reveza entre todas as instituições locais, a logística do horário escolar e da conservação de alimentos perecíveis, além, é claro, de hábitos alimentares nem sempre saudáveis, tanto da família quanto da comunidade e das próprias merendeiras.

Avanços

Apesar disso, o país tem conquistado avanços. Segundo a diretora da Ação Fome Zero, Fatima Menezes, há décadas trabalhando em escolas, primeiramente como professora, depois em cargos de direção, e agora acompanhando de perto a realidade de diversos municípios brasileiros por meio das ações da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), a alimentação escolar brasileira está bem melhor. "Nos últimos anos, o perfil da alimentação escolar mudou sobremaneira. Até então, o programa era para atendimento de pobre, para quem não tinha alimentação em casa. Infelizmente, nesse caso, era usado o conceito de assistencialismo. A origem do Programa Nacional de Alimentação Escolar era ofertar alimentação para a população carente. O mundo mudou e esse modelo já não cabe mais", diz, lembrando que, após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil recebia doação de alimentos enlatados dos Estados Unidos para compor o cardápio escolar. Na opinião de Fatima, hoje o Brasil tem um programa estruturante, não mais assistencialista. "Isso faz toda a diferença. A mãe não fica mais em casa, saiu para trabalhar. A escola hoje tem de ter um papel diferente do que tinha nos anos 70. Hoje, ela deve dar a refeição, não o sanduíche", reflete. Sobre a qualidade do alimento ofertado às crianças, entretanto, Fatima relata que "há de tudo". "Em alguns lugares a qualidade é excelente, experimentamos refeições maravilhosas. Mas, por outro lado, em algumas regiões existem situações inadequadas."

O desafio para enfrentar o problema da qualidade ainda passa por questões simples, como superar a monotonia dos cardápios escolares, baseados, em grande parte, em alimentos de fácil preparo e armazenamento, como arroz, feijão e repolho. E por questões mais complexas, como a falta de cozinhas adequadas e um plano de saúde e de carreira para as merendeiras. Fatima cita um estudo da Fiocruz que revela que a vida útil do profissional de merenda é de apenas três anos. "É um caso de saúde pública. Por que essas condições? Porque as prefeituras não têm a visão, às vezes não têm os recursos. Ou, às vezes, têm os recursos e não sabem onde ob¬tê-los", diz Fatima.

Suco natural

No quesito produtos perecíveis, o município de Nova Andradina (MS) enfrentou o problema com a aquisição de oito extratores de sucos para as escolas da rede no primeiro semestre deste ano. Também foram adquiridos fogões, forno industrial, liquidificadores, batedeiras, lixeiras industriais e balanças. No total, foram gastos R$ 44 mil. Para a utilização desses equipamentos e o melhor aproveitamento das propriedades dos alimentos, o nutricionista Paulo Sergio D'Alkmin Filho faz o acompanhamento nas escolas. "Além do arroz, do feijão, da farinha e da carne, servimos diariamente saladas, frutas e legumes", conta. "Nosso objetivo é transformar os hábitos alimentares dos alunos da rede", explica.

Paralelamente, também acontece o projeto Escola Saudável, cujo objetivo é a prevenção e o controle da obesidade infantil, que está a pleno vapor desde o início deste ano. O trabalho é desenvolvido por professores de educação física, integrando todos os demais profissionais da escola e envolvendo a família.

Paulo sempre faz reuniões com os pais nas escolas. "Converso com todos sobre a importância da merenda escolar. Digo que ela é balanceada e supre todas as necessidades nutricionais das crianças e dos adolescentes. Por isso, peço que os pais não enviem guloseima para seus filhos comerem na hora do lanche", relata.

Em Nova Andradina, os recursos repassados pela União somam pouco mais de R$ 447 mil. Ainda há o repasse do município, que é de quase o mesmo valor, R$ 442 mil. O total gasto na aquisição de alimentos gira em torno de R$ 889 mil. "Diariamente são oferecidas cerca de seis mil refeições em 21 unidades, compostas por escolas, creches e entidades filantrópicas", contabiliza Nair Aparecida Lorencini Russo, secretária de Educação, Cultura e Esportes. O município atende educação infantil, ensino fundamental e educação de jovens e adultos.

Pela Lei 11.947, que rege o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), os valores repassados a estados e a municípios por dia letivo para cada estudante são definidos de acordo com a etapa de ensino: para creches, R$ 1, para pré-escola, R$ 0,50, ensinos fundamental e médio recebem R$ 0,30 e ensino integral, R$ 0,90. O orçamento para 2012 foi de R$ 3,3 bilhões, para 45 milhões de estudantes.

Dezembro/2012 Capa/Merenda escolar Edição 188









“As escolas não querem autonomia com controlo remoto”


Sara R. Oliveira
2012-11-28

Filinto Lima, vice-presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, afirma que não é possível exigir mais sacrifícios aos professores num sistema que não se concentra em objetivos comuns.

O também vice-presidente do Conselho Municipal de Educação de Vila Nova de Gaia e coordenador dos diretores da Região Norte no Conselho das Escolas não entende como se corta no orçamento previsto para a Educação e, ao mesmo tempo, se quer alargar a escolaridade obrigatória para 12 anos. Na sua opinião, as mudanças têm de ser bem explicadas.

"Hoje, o que se passa nas escolas é inquietante: aumentou a responsabilidade (do diretor) e diminuiu a autonomia", comenta. O responsável sustenta que os diretores das escolas e dos mega-agrupamentos não podem trabalhar sem rede e que, portanto, o Ministério da Educação não se pode esquecer do apoio jurídico, financeiro e económico.

EDUCARE.PT: De que forma a autonomia que o Ministério da Educação pretende dar às escolas será visível no terreno?

Filinto Lima: A autonomia nas escolas públicas portuguesas teve o seu boom há quase quatro anos, quando 22 escolas celebraram com o Ministério da Educação (ME) igual número de contratos de autonomia. Neles, estava definido o conteúdo dos contratos de autonomia das escolas, coartando a liberdade negocial de que os contraentes devem dispor em casos similares.

Ora, um contrato é um acordo entre duas partes, em que uma delas se submete a determinadas obrigações, usufruindo em troca de certos direitos. Segundo o Código Civil, os outorgantes têm a liberdade de estabelecer as condições do contrato, desde que estejam conformes com a lei. As escolas não tiveram muito poder negocial e, talvez por isso, só cerca de 2% é que celebraram o dito acordo.

O novo diploma foi publicado em setembro. Estes contratos foram elaborados com base numa matriz igual para todas as escolas que pouco podem acrescentar, tendo em conta a sua realidade. Temendo perder a centralização que atrofia qualquer atividade ou iniciativa, o ME publicou o referido normativo legal salvaguardando-se de qualquer surpresa. Isto é uma das principais conclusões de três seminários que o Conselho das Escolas levou a efeito no ano passado, onde diversos diretores cujas escolas celebraram contratos de autonomia deram o seu testemunho e especialistas na matéria confirmaram a prática. As escolas não querem autonomia com controlo remoto.
E: Pela perceção que tem, neste momento, os diretores das escolas estão satisfeitos com as mudanças previstas, nomeadamente ao nível dessa autonomia?

FL: Talvez nem fosse necessário celebrar contratos de autonomia se o discurso político fosse traduzido numa legislação cada vez menos numerosa, menos específica, menos perturbadora e menos inquietante da vida das escolas já que, na prática, centraliza-se cada vez mais atribuindo-se mais responsabilidades aos diretores, em troca da retirada da praticamente inexistente autonomia.

Julgo que falta coragem e iniciativa políticas para dar passos firmes no sentido de inverter algo que, a manter-se, conduzirá as escolas para o excesso de regulamentação originando uma atrofia incapacitante de mobilizar energias que emergem nas escolas, muitas vezes desprezadas. E o estado da nação não admite desperdícios! Uma verdadeira e operacionalizável autonomia pedagógico-organizacional será vista com bons olhos pelas escolas.

E: A tutela está a exigir muito aos diretores? O que se está a passar nas escolas?

FL: Hoje, o que se passa nas escolas é inquietante: aumentou a responsabilidade (do diretor) e diminuiu a autonomia. Significa que a administração e gestão das escolas é uma tarefa hercúlea a exigir super diretores em que a formação, a experiência e o apoio serão fatores fundamentais para o exercício de uma função muito mais burocrática. Se o nosso país tem um naipe excelente de diretores de escola devido aos primeiros fatores apontados, certo é que o terceiro - o apoio - está muito aquém desta enorme mudança, e será tanto mais importante quanto se sabe que as direções regionais de educação estão a delegar competências, extinguindo-se a 31 de dezembro. Alguns falam em presente envenenado, outros, como nós, apontam o dedo à falta de meios para desenvolver com segurança e em conformidade a função de diretor de escola, se não for acautelada a retaguarda destes professores em comissão de serviço, os primeiros responsáveis dos agrupamentos.

As escolas e os agrupamentos movimentam anualmente muitos milhões de euros, sobretudo em relação aos vencimentos dos seus profissionais. A juntar à vertente financeira temos os atos administrativos e de grande responsabilidade que os diretores praticam diariamente, os contratos que celebram e as inúmeras e diversas decisões que tomam...

Pergunto: se as empresas públicas e privadas, que movimentam até valores inferiores aos das escolas, têm todo o tipo de apoio, não fará sentido facultá-lo aos diretores de escola? O ME deverá dotar os agrupamentos de apoio jurídico (o mais importante), financeiro, económico, etc., não deixando os diretores das escolas e dos mega-agrupamentos sem rede.

E: A constituição dos mega-agrupamentos, tão criticada no início, foi ou não uma boa medida?

FL: Este ano o dossiê "agregações" ficará concluído. As direções regionais de educação já começaram as reuniões concelhias para fechar o processo, por forma a que os futuros mega-agrupamentos iniciem um trabalho atempado. É um exemplo de uma medida reativa pois sabemos o que esteve na sua génese. Contudo, se há situações em que as comunidades até quiseram este desfecho (concretamente nos pequenos centros em que o número de alunos é diminuto e em algumas cidades onde certas escolas estavam a perder elevado número de alunos), na maioria das situações esta solução foi indesejada.

As comunidades educativas e as autarquias, um pouco por todo o país, opuseram-se a uma união forçada que, no final, imperou. Estudos elaborados desaconselham esta medida de política educativa, sobretudo pelo número de alunos da nova unidade organizacional, em alguns dos casos a ultrapassar os 2500, atingindo mesmo 3000 alunos e mais.

E: Neste momento, quais são as principais preocupações da ANDAEP?

FL: As nossas preocupações estão relacionadas com alguns dos objetivos.

A formação contínua e especializada é um dos objetivos da nossa Associação, que irá celebrar protocolos com entidades formadoras em áreas-chave para o bom desempenho dos diretores. De igual modo, e pelo facto de aumentar dia a dia a responsabilidade dos diretores, celebramos com uma seguradora um protocolo que transfere alguns riscos decorrentes da atividade daqueles.

E: São problemas de difícil resolução?

FL: Estes problemas são parte dos nossos objetivos, como referi, e tudo faremos para apoiar os diretores. Ao mesmo tempo, temos reunido com o ME, por vezes com o senhor ministro, que se mostra disponível para ouvir as nossas opiniões, embora na maior parte das vezes não as transporte para os diplomas legais, o que muito gostaríamos que acontecesse, pois nós estamos no centro das escolas, temos um conhecimento excelente das mesmas. Somos parceiros do ME.

E: Os chumbos dos alunos continuam a ser preocupantes. O sistema deveria abordar as retenções de uma outra forma?

FL: É notório que um número considerável de alunos chega ao 5.º ano de escolaridade sem saber ler nem escrever ou a fazê-lo de modo muito deficitário e com imensas dificuldades a Matemática. Aqui, na minha opinião, reside o grosso dos problemas das retenções, que se sente muito mais a partir do 2.º ciclo. Julgo que a atual equipa ministerial, aproveitando a oportunidade que a crise lhe dá, deverá reformar um nível de ensino estruturante, condição de sucesso dos nossos alunos nos patamares seguintes, tanto mais quanto se sabe que dois dos objetivos do Governo são "continuar a alargar a rede pré-escolar" e "apostar na articulação entre o ensino pré-escolar e o ensino básico". Uma aposta neste nível de ensino contribuiria para baixar drasticamente o insucesso escolar e, em grande parte, o abandono.

Também é necessário que não se espere tudo da escola. A articulação da escola com outras instituições e técnicos (psicólogo e assistente social...) será muito importante no combate não só ao insucesso como também ao abandono escolares. De igual modo, aquilo que se ensina e como se ensina deverá merecer a atenção do ME e, seguramente, ajudará no combate àqueles problemas.

É evidente que tudo isto é importante mas não podemos desprezar o interesse dos alunos e dos pais pela atividade escolar. Por muitas estratégias que tenham os professores e muito boa vontade que exista no ME, tudo ficará comprometido se aqueles não cumprirem a sua função.

E: Satisfeito com a exigência dos últimos exames nacionais?

FL: Não sei se os exames foram mais exigentes. De maior exigência foram os critérios de correção, alguns deles, na opinião dos professores, desfasados e muito apertados. Mas é importante a articulação daquilo que se ensina durante o ano letivo e o que se apresenta nos exames, sob pena de confundirmos exigência com falta de sincronia.

E: A perda de autoridade dos professores é, de facto, um problema que afeta o dia a dia da classe docente?

FL: O Estatuto do Aluno e Ética Escolar foi um avanço, mas a próxima revisão terá necessariamente de eliminar as burocracias e formalismos que o enxameiam. Num país em que algumas sentenças são proferidas de imediato e oralmente no final dos julgamentos, o regime disciplinar deve ser expedito, célere e simplificado.

Contudo, ainda falha no capítulo da disciplina. Querendo dar todas as hipóteses de defesa ao aluno prevaricador - sistema excessivamente garantístico - envolve a escola numa teia complexa, mais parecendo um tribunal, atendendo aos procedimentos legais a que deve obedecer a instrução de um procedimento disciplinar. Uma carga de trabalhos que seria evitada se se partisse do princípio da boa fé do professor.

E: As multas previstas para responsabilizar os pais dos alunos faltosos poderá ser um passo importante para mudar mentalidades?

FL: Esse é mais um encargo atirado ao diretor que nem tem formação jurídica e agora vai exercer funções judiciais. Por outro lado, as multas poderão funcionar como intimidação e essa será a grande virtude desta inovação, mas o futuro o dirá. Ao mesmo tempo, punir os pais num momento em que muitos nem dinheiro têm para pagar as despesas normais de um filho estudante... A lei tem de ser, e será, aplicada pelos diretores mas, neste particular, o timing escolhido para a aplicação do Estatuto do Aluno e Ética Escolar não foi o melhor.

E: A contenção financeira na área educativa será um retrocesso sem retorno possível?

FL: Parece que estamos a assistir a um desinvestimento na Educação, área em que todos dizem ser essencial um investimento. A não ser assim, a médio prazo iremos verificar com pesar as consequências desastrosas... Sou apologista de uma racionalização dos meios, mas neste momento não se pode cortar mais na Educação. Por outro lado, não se entende como se pensa em alargar a escolaridade para 12 anos e, ao mesmo tempo, continuar a cortar no orçamento deste setor.

E: Afirmou, no início do ano letivo, que a pobreza envergonhada terminou, que as necessidades já não se escondem. Há carências preocupantes?

FL: Nas escolas não há fome, note-se. O problema é que um número significativo de alunos chega às escolas sem tomar o pequeno-almoço e até sem dinheiro para comer. As escolas estão atentas e, embora alguns destes casos (em número reduzido) se devam a desatenção dos encarregados de educação, a maioria tem a ver com carências económicas. A ação social escolar é um serviço que funciona muito bem e deve ser apoiado cada vez mais pelas entidades estatais, atendendo ao momento difícil que estamos a atravessar. O Estado social, não contando só com as escolas, deve mostrar modos de apoiar os mais necessitados. Há alunos cuja única refeição quente e completa do dia é o almoço da escola.

E: Qual a medida que o atual ministro tomou até hoje que mais lhe custou a entender?

FL: Todas as medidas que não são proativas custam muito a perceber. Muitas das alterações que os inúmeros diplomas legais trazem às escolas não são alvo de avaliação. Julgo que seria necessário explicar os motivos de mudança, mas isto acontece invariavelmente com todos os partidos dos sucessivos governos sem nunca prever as consequências. Percebe-se pelo menos dois motivos para explicar tamanha avalancha legislativa: por um lado, medidas reativas por força de imposições financeiras da troika, embora pense, em alguns casos, que são excessivamente pesadas não dando origem ao efeito previsto; por outro, este Ministério também quer deixar a sua marca, o que é legítimo, mas nesta área os políticos deveriam ser cautelosos e atuarem com um pensamento mais centrado no interesse comum, o que nem sempre sucede.

E: Na sua opinião, o que é fundamental, neste momento, ter em atenção para que a escola pública, que muitos dizem estar em risco, se mantenha de pé?

FL: Devemos refletir em comum e obrigar os partidos com assento na Assembleia da República a assinar um pacto na educação, pois percebe-se que é uma arena política demasiado perigosa para fazer experimentações sem avaliar o que está para trás, nem antever os respetivos resultados. O país só tem a ganhar se forem traçadas e aceite por todos linhas condutoras de atuação na área da educação, de modo a pacificar e a deixar trabalhar os professores, os menos culpados das alterações que proliferam na política educativa. Não é possível exigir aos professores mais sacrifícios em prol de um ensino que não estabiliza nem se concentra em objetivos essenciais e comuns.



Nuno Crato diz que o país precisa de mais formação profissional


Lusa / EDUCARE
2012-12-14

O ministro da Educação e Ciência afirmou hoje que o país precisa de mais jovens com formação profissional para dar resposta ao mercado de trabalho, no encontro do projeto-piloto do ensino vocacional, na Marinha Grande.

Nuno Crato salientou que o "país não precisa só de licenciados" e que é "importante que haja pessoas que tenham formações profissionais de outro tipo, como técnicos de informática, marceneiros ou auxiliares de enfermagem".

O governante acrescentou que existem "tantas profissões que são necessárias neste mundo e para as quais não se encontra mão de obra". Por outro lado, existem jovens "que querem emprego e não têm", realçando estar preocupado com o desemprego jovem.

"É uma calamidade completamente absurda, quando encontramos empresas que dizem que precisam de trabalhadores especializados e que não os encontram e, ao mesmo tempo, temos jovens que não conseguem encontrar emprego. É nossa responsabilidade conjunta, de professores, Ministério e empresas, fornecer vias que permitam aos jovens terem saídas profissionais", acrescentou Nuno Crato.

O ministro lamentou que exista um "preconceito intelectual, entre algumas pessoas," que, garante, "tem de acabar" dado que "todas as profissões são dignas".

Para isso, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) tem "ofertas diversificadas": "Não queremos que os jovens, logo muito cedo, escolham a via que querem seguir. Queremos que possam mudar de via ao longo da escolaridade. Mas queremos que haja uma via profissionalizante que também seja oferecida."

Sobre o ensino vocacional, "uma experiência-piloto" que o MEC adotou este ano letivo, Nuno Crato fez um balanço positivo.
"Esta experiência está a correr muito bem. São 13 escolas, que têm tido o apoio de mais de 100 empresas. Esta colaboração empresas-escolas permite fazer que os jovens que escolham esta via saiam desta escolaridade com maior capacidade de emprego e de trabalho e tenham maior sucesso."

O governante explicou que a via vocacional não obriga a seguir o ensino profissional. Apesar de alguns jovens "terem necessidade de um ensino mais prático em determinada altura", podem "mais tarde decidir se querem seguir a via científico-humanístico".

Vários intervenientes ligados ao projeto do ensino vocacional estiveram hoje reunidos na Escola Secundária Eng. Calazans Duarte, na Marinha Grande, para partilharem experiências e levantarem algumas questões sobre o projeto.

Era uma vez um “autista”


José Pacheco
03-09-2012

Naquele tempo, ninguém usava o termo "inclusão", nem expressões como "aluno com necessidades especiais". Muito menos tinha sido inventado o TDA, o DDA, o TDA-H, a Ritalina não estava na moda, nem se reconhecia haver o que, hoje, se designa por hipercinético... Naquele tempo, o moço era deficiente. E pronto!

Ainda era um jovem professor e já a dúvida o atormentava... Talvez por ser o mais jovem - e considerado inexperiente - confiaram-lhe a turma mais pequena da escola. Porém, certo dia, recebeu a visita da senhora diretora. Vinha acompanhada por um moço, que andaria aí pelos treze anos. E logo foi dizendo:

O senhor professor é um privilegiado! A sua turma só tem quarenta e oito alunos, mas trago-lhe mais um, que lhe vai dar mais trabalho do que a turma toda junta. E já o aviso: o moço é autista e é perigoso.

Naquele tempo, ninguém usava o termo "inclusão", nem expressões como "aluno com necessidades especiais". Muito menos tinha sido inventado o TDA, o DDA, o TDA-H, a Ritalina não estava na moda, nem se reconhecia haver o que, hoje, se designa por hipercinético... Naquele tempo, o moço era deficiente. E pronto!

Naquele tempo, em plena ditadura, ninguém ouvira falar de um russo chamado Vigotsky, que discordava de um tal de Piaget, porque esse tal de Piaget dizia que o desenvolvimento do pensamento na criança "parte do pensamento autístico não verbal à fala socializada e ao pensamento lógico, através do pensamento e da fala egocêntricos". Naquele tempo, vivíamos na mais escura treva teórica.

O jovem professor recorreu ao dicionário: "autismo é uma disfunção global do desenvolvimento". Ficou a perceber o mesmo... Agarrou-se à tábua salvadora do processo que acompanhava o aluno. Nele dizia que o autista havia arrancado os brincos da professora e que, nesse violento gesto, tinha rasgado as orelhas da mestra, que fora receber tratamento hospitalar. O processo só não dizia por que razão o "autista" arriscara o tresloucado gesto. Somente acrescentava que, consumado o delito, o aluno fora expulso.

Aquele jovem professor não era daqueles que cedo desistem de aprender. Com a informação de que dispunha (nenhuma), meteu mãos à obra. No dia seguinte, dividiu o quadro negro em quatro partes e em cada uma delas escreveu tarefas para cada série. Coisa de demorar uma meia hora a fazer. Posta a classe em ação, dirigiu-se para o fundo da sala, onde o autista se instalara.

Quando já estava a menos de alguns passos do "autista", prudentemente, deteve-se. O "autista" balançava a cabeça e isso talvez não augurasse algo bom... Recordou o aviso da senhora diretora: "este aluno é autista e é perigoso". O jovem professor recuou. A situação repetiu-se, vezes sem conta, ao longo desse dia: a cada aproximação, novo movimento pendular da cabeça do "autista"; a cada arremetida, novo estratégico recuo. E o professor regressou a casa, preocupado. Não conseguira chegar sequer à fala com o "aluno especial", ou de "inclusão", como, hoje, seria designado . Muito menos conseguiu ensinar-lhe algo, enquanto durou o que restava daquele ano letivo.

Muitos anos decorridos sobre este incidente, o professor, já menos jovem e com algumas noções de prática teorizada, compreendeu que aquele aluno nunca tinha sido autista. Apenas lhe tinham colocado um rótulo. Aliás, compreendeu algo bem mais importante e decisivo para a tomada de decisões que, alguns anos depois, o conduziram a uma profunda mudança na sua prática. Há quarenta anos atrás, o professor compreendeu que, na sua sala, não havia um "autista" - havia tido quarenta e nove. Ou melhor: seriam cinquenta os "autistas". Porque, dentro das quatro paredes da "sua sala de aula", todos estavam... sozinhos.



José Pacheco Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto, foi professor da Escola da Ponte. Foi também docente na Escola Superior de Educação do IPP e membro do Conselho Nacional de Educação.

“A régua, uma palmatória com cinco furos, parecia estar já a olhar para mim (…)”

Vitor Burity da Silva
05-08-2011

Dividindo as suas recordações pelas diferentes épocas e locais onde passou a sua vida, o escritor Vitor Burity da Silva partilha os vários cenários, sensações e situações caricatas que povoaram o seu percurso escolar.

Eis as "Memórias de Passagem" de Vitor Burity da Silva

Craque? O que é isso?

(1967 - Nova Lisboa)

Mal abrira os olhos lá fora nem frio.

(nesta cidade a temperatura nunca desce dos vinte graus).

A minha mãe ia repetindo e eu ouvia-a.

(sempre foram rebeldes as crianças).

Passava um pouco de água pelo rosto a ver se os olhos se abriam de vez, como era mesmo preciso. Devagar, com uma mão e a seguir com a outra, a água escorria no lavatório, a torneira aberta, a minha mãe a ralhar comigo, lá de onde estava, se na cozinha, se na sala, não sei, continuava, para depois arrepiar caminho, a escola ficava a uns quatro quilómetros de casa, e quase sempre fazia-os a pé, e antes, o pequeno-almoço, um copo de leite e uma sandes, bastavam, na sacola mais uma sandes para o lanche, o Manuel lá fora esperava por mim, autocarros nem havia, qual quê, nem carro o meu pai tinha, coisas desse tempo, e foram tantas as vezes que percorri essa distância caminhando, o Manuel esperava por mim:

Menino Sandro, vamos embora?

E lá íamos, eu sentado no quadro de metal da bicicleta do Manuel, amigo e contínuo na repartição de agricultura e florestas, no bairro São João, onde o meu pai trabalhava, sentia-me bem, empoleirado naquele quadro de metal da bicicleta preta do amigo Manuel, e que paciência tinha ele comigo.

Antes de sairmos de casa, que era tambem no bairro São João, o quintal imenso, mais parecia uma vila com uma casa só, uma plantação imensa de café, árvores bastantes, o curral e a capoeira onde galinhas num barulho infernal, o porco andava por ali, solto pelo quintal, de um lado para o outro, comia sabão e tudo o que lhe aparecesse, e a estrada que começava em terra batida mais à frente, a principal, ainda o eco da sua voz, quantas vezes me chamou e tanto esperava:

Vamos menino, está a ficar tarde.

E lá fomos.

(1971 - Carmona)

Um dia chorei tanto. Ah, como não gostava nada de fazer os trabalhos de casa, sabia que iria enfrentar dificuldades, e, mal entrava na sala de aula, tentava fugir aos lugares da frente, quase sempre sem resultado:

Menino Sandro, venha ao quadro.

Hoje com setenta e tal anos ainda se recorda, e eu não esqueço. O meu lugar era sempre nas carteiras da frente, não por ser traquina, nem por estar menos atento às aulas, coitada da Isabel, vítima das minhas fisgadas de papel.
Trabalhos de casa!

Dizia a professora, Dona Teresa. Eu nunca fazia os trabalhos de casa. A régua, uma palmatória com cinco furos, parecia estar já a olhar para mim, esfregava as mãos, tremia, os colegas iam-se levantando em ordem, um a um, entregavam os trabalhos, a professora verificava, ralhava com uns, com outros não, até chegar a minha vez, como iria ser? Algumas vezes conseguia ainda fazê-los, mesmo à porta da sala de aulas, já com o sino de entrada a incomodar-me os ouvidos, a maior parte das vezes não, já contava com umas boas reguadas, olhava para as mãos ainda não vermelhas, ao intervalo de castigo para os fazer, sozinho na sala, pensava que já não iria jogar ao berlinde, tínhamos um campeonato e eu seria desclassificado por falta de comparência.

(1975 - Sintra)

Para trás os campeonatos de berlindes. O amor pela Anabela pequena como eu, as reguadas da professora Teresa, a régua Dona Maria dos cinco furos, nova cidade na minha vida, tudo diferente desde então, na mesma, os trabalhos de casa por fazer, saudades de tanta coisa, o meu sotaque diferente dos meus novos colegas, o frio que antes nunca senti, a chuva fria, tanto vento e já não havia o Manuel nem a bicicleta preta onde me sentava feliz no quadro de metal, o autocarro à hora certa, a professora de Francês que eu detestava. Sempre fui um aluno medíocre.

Nem o cocó de galinha nas mãos como fazíamos para que as reguadas não doessem, a voz rude da professora:

Patapuf et contant.
Não sei stôra, quero é ser craque da bola!

E ela:

Craque? O que é isso?

Para quê fazer a cama, se a vou desfazer logo à noite?


Armanda Zenhas
12-12-2012

Numa família em que todos colaboram no trabalho familiar, desenvolve-se um sentimento de colaboração, de partilha e de responsabilidade individual e coletiva.

Alguma vez experimentaram debater numa turma de um qualquer ano de escolaridade quem colabora nas tarefas domésticas e que tarefas lhe estão incumbidas? Provavelmente encontrarão uma maioria de crianças ou jovens que não participam nessas lides, alguns que arrumam o quarto a contragosto, se forem mesmo obrigados, e um número significativamente inferior que tem responsabilidades definidas, variáveis de acordo com a idade, que podem ir de pôr a mesa até fazer compras e tomar conta de irmãos mais novos, passando por manter o quarto arrumado.

O contributo dos filhos nas tarefas familiares é favorável ao seu desenvolvimento ou, pelo contrário, um obstáculo ao exercício do seu direito de terem tempos livres geridos por si? Na minha opinião, aplica-se aqui a regra da "conta, peso e medida". No quotidiano das crianças e dos jovens, é necessário haver tempo para ir à escola, para estudar em casa, para lazer gerido autonomamente, para colaborar com a família nas tarefas domésticas, para praticar desporto ou outras atividades. Claro que nem sempre tudo isto cabe num único dia. É óbvio também que "a conta, o peso e a medida" de cada um destes (e, eventualmente, de outros) tipos de atividades depende de muitos fatores, entre os quais a idade.

Numa família em que todos colaboram no trabalho familiar, desenvolve-se um sentimento de colaboração, de partilha e de responsabilidade individual e coletiva. Todos podem contribuir de forma proporcional às suas possibilidades, com tarefas regulares e com disponibilidade para a realização de outras extraordinárias. Por exemplo, as crianças podem aprender, desde pequenas, a ter os seus brinquedos arrumados, a levar a sua roupa suja para o cesto, a ajudar a pôr a mesa. Crianças um pouco mais velhas podem contribuir com a responsabilidade de manter o seu quarto arrumado, com a cama feita e os materiais escolares sempre organizados, para além de outras tarefas. Cozinhar ou lavar roupa são exemplos de trabalhos cuja aprendizagem e prática também deve estar contemplada no processo de crescimento.

O sociólogo francês Bernard Lahire diz que o mundo doméstico se caracteriza por uma ordem material, afetiva e moral que pode ter um papel importante na atitude das crianças face à escola. A distribuição de tarefas adequadas a cada um, num ambiente afetivo, favorece o desenvolvimento do gosto pela organização e pelas coisas bem feitas, do esforço e da perseverança para alcançar objetivos, fundamentais para atingir sucesso na escola e noutras esferas da vida. Como explica Lahire, a regularidade das atividades, os horários, a arrumação das coisas produzem estruturas cognitivas ordenadas e capazes de ordenar, gerir e organizar os pensamentos. Daniel Sampaio chama "ensino incidental" ao aproveitamento pelos pais e educadores desses "pequenos momentos do quotidiano", que considera serem "ocasiões em que os seres em desenvolvimento crescem em competência e confiança, e aprendem a equilibrar as suas necessidades com as dos outros".

Acrescento ainda uma vantagem de relevo: o desenvolvimento da autonomia. Num tempo em que as fronteiras se tornaram mais ténues e que as crianças e os jovens têm o mundo por horizonte, a facilidade de terem hoje tudo feito pelos pais pode ser a dificuldade de amanhã se tornarem autónomos e irem trabalhar e viver para longe da família ou até para fora do país.

Quem é a mãe que ainda não ouviu como resposta de um filho, quando lhe diz que faça a cama: "Para quê, se a vou desfazer logo à noite?"? E quantas mães não acabam por se resignar a fazer elas próprias a cama dos filhos para evitar discussões?

Bibliografia:

Lahire, B. (2004). Sucesso escolar nos meios populares: As razões do improvável. S. Paulo: Ática.

Sampaio, D. (2012). O ensino incidental. Revista do jornal Público, de 25 de novembro de 2012.

MT - SEC assina convênio para criação de festival de Cururu e Siriri


Da Redação - Priscilla Vilela

Acontece no próximo dia 20 de dezembro, às 19h30, no Centro Cultural Casa Cuiabana, o lançamento do 11º Festival de Cururu e Siriri. Na ocasião, será apresentado o calendário e o local do Festival, que será realizado no final de janeiro de 2013.

O Festival é uma idealização da Federação Mato-grossense das Associações e Grupos de Cururu e Siriri e esse ano conta com o suporte da Associação Folclórica de Tangará da Serra, que assinou convênio junto a Secretaria de Estado de Cultura para a realização do evento. O valor repassado pela SEC-MT totaliza R$ 495 mil.

De acordo com a secretária de Estado de Cultura em exercício, Vannêssa Jacarandá o Governo do Estado tem se empenhado para que o Festival continue sendo realizado. "Buscamos dar continuidade a este tradicional Festival, a intenção é fazer com que ele cresça ainda mais. Exemplo disso é que o evento está incluso no Plano Plurianual (PPA) de gestão estadual", explica a secretaria.

Homenagens “Mestre Luiz Marques”
Durante a cerimônia, do dia 20/12, a diretoria da Federação Mato-grossense das Associações e Grupos de Cururu e Siriri fará a entrega de homenagens intituladas “Mestre Luiz Marques”, aos parceiros e entidades que apóiam de forma fundamental a realização da 11ª edição do evento. “É uma forma de agradecermos a todos aqueles que estão compromissados com esta grande festa e que, consequentemente, atuam de maneira significativa para a manutenção da nossa cultura”, ressalta a presidente da Federação Terezinha Quilombola.

A homenagem leva o nome de um grande mestre do cururu e siriri, Sr. Luiz Marques, que na década de 80 foi incentivador e pioneiro na fundação da maioria dos grupos de cururu e siriri.

O Festival e as homenagens contam ainda com o apoio do Ministério da Cultura, através da Fundação Nacional das Artes – Funarte (Prêmio Pró-Cultura de Apoio a Festivais); o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e de Turismo e a Prefeitura de Cuiabá

As informações são da Secom/MT




sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

escola.com


José Pacheco
10-12-2012


Os jornais anunciam que os alunos podem aprender em casa, acessar sites contendo os conteúdos que o professor daria numa aula. Se os alunos dispõem de livros e de Internet, por que terá de ir ouvir aula na escola? Para socialização! - bradam os teóricos de serviço.

O jovem "teve mau comportamento" e a professora pô-lo "fora da sala de aula". Tão discreto quanto me era possível ser, observei o deambular do jovem pelo pátio da escola. Não tardou a interpelar-me, fones nos ouvidos, celular de última geração premido entre polegares:

Aqui tem aifai?

Queres dizer Wi fi? - perguntei.

Então você não sabe o que é aifai...? - retorquiu com um esgar de desdém. E encaminhou-se para a biblioteca vazia, de onde seguiria para o gabinete da diretora.

Os jornais anunciam que os alunos podem aprender em casa, acessar sites contendo os conteúdos que o professor daria numa aula. Se os alunos dispõem de livros e de Internet, por que terá de ir ouvir aula na escola? Para socialização! - bradam os teóricos de serviço. Mas de que socialização estarão a falar? De alunos postos fora da sala de aula, castigos, expulsões? De bullying? Entre a "socialização" das escolas que ainda temos e a "socialização" de monstrinhos de tela de computador, que venha o diabo e escolha.

Salman Khan recebeu um pedido dos seus jovens primos, que nada entendiam da Matemática escutada nas aulas dadas por professores. Os primos de Khan moravam longe e não restava outra solução senão a de recorrer ao YouTube. As aulas de Khan, "dadas" através da Internet, foram um sucesso. Em aulas com cerca de vinte minutos de duração, os primos compreendiam os temas de Matemática, que, em cinquenta minutos, um professor não conseguia fazer compreender.

A fama das aulas do Khan correu mundo e o site das aulinhas foi sendo utilizado por milhares de estudantes. Com um milhão e meio de dólares, que Bill Gates lhe ofereceu, Khan fundou uma academia digital. Eu estive lá e, ao vivo, pude compreender o drama educativo: as novas tecnologias têm servido para congelar aulas num computador, aulas que os alunos skinerianamente consomem, sem resquícios de cooperação com o aluno vizinho, dependentes de vínculos afetivos precários estabelecidos com identidades virtuais.

Algumas escolas se vangloriam de oferecer tablets aos alunos, instrumentos que contêm tudo aquilo que precisam pôr nas provas. E, no mundo virtual, muitos jovens consomem informação, escapando de acordar de madrugada e obrigar os progenitores a sofrer no caos do trânsito, para os levar à escola, onde assistiriam a aulas com hora marcada. Longe do edifício-escola e a qualquer hora, perambulam por sites, numa aprendizagem solitária idêntica à das monótonas aulas de cinquenta minutos.

Na verdade, Khan não está sozinho: a Internet é generosa na oferta de informação sob a forma de vídeos ou de outros recursos. Basta carregar no enter, que o mister Google atende. Basta clicar para repetir, até que a matéria seja compreendida. Tudo aquilo que um professor pode "ensinar" numa aula está plasmado, de modo mais atraente, na tela de um computador.

Reencontrei o moço do "aifai", sentado no "laboratório de informática", no cumprimento de (nas palavras da diretora) uma "suave punição": terá de refletir sobre os seus atos! Suave? Ou pura crueldade? Durante quase uma manhã inteira, o solitário moço do "aifai" sofreu a tortura de ter dezenas de computadores à sua volta e não lhes poder tocar.

E agora, José? - perguntarão os professores que dispõem de lousa digital e de acesso à Internet. Iremos instalar-nos em novas fórmulas de mesmice? Dispondo de novas tecnologias de informação e comunicação, iremos replicar aulas congeladas no YouTube e em tablets? Quem as escutará? Será possível usar o digital ao serviço da pessoa? Terá chegado o tempo em que as escolas, usando inteligentemente as novas tecnologias, se humanizarão?

Entre a escola de dar aula e a Internet de dar aula, haverá uma terceira via?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

As pequenas coisas da vida


Outro dia estava pensando como a vida não teria graça alguma sem pequenas coisas que costumam recheá-la de alegria. Reparei também que tais coisas ou situações costumam ser simples e, às vezes, até mesmo corriqueiras, mas nos afetam de forma imediata e tão espontaneamente que nos deixamos envolver por elas. É o caso de um aniversário em família, por exemplo.

Mobiliza várias pessoas, sugerindo a compra de presentes e preparativos para uma data que tem tudo para ser especial. Motivo de se estar juntos, contar piadas, rever parentes, encontrar pessoas queridas, fazer novas amizades... Tudo regado com alguns aperitivos, pratos gostosos e bolo de festa. Fiquei pensando também quantos aniversários existem ao longo do ano e, consequentemente, quantos motivos para se comemorar. É um namoro que se inicia; uma festa de casamento; um batizado; um feriado esperado há tanto tempo; a inauguração de um local público; a estreia de um filme; uma peça de teatro; a apresentação de uma orquestra; uma exposição de pinturas e tantas outras coisas que vão dando colorido ao nosso dia a dia.
Temos que saber aproveitar esses momentos. Vivenciá-los, “curti-los”, apreciá-los enquanto estão ocorrendo, batendo à nossa porta, sorrindo para nós. Momentos não voltam mais. Eles vão e vêm num suceder incessante, mas cada qual guarda sua beleza. Não há como aprisionar momentos bonitos. Por mais que os queiramos eternizar, escorrem por entre nossos dedos e dão lugar a outros momentos. Nada como usufruir deles enquanto ocorrem, enquanto se apresentam para nós. E, como fazer isso? Estando sempre presente no momento. Naquela hora, naquele instante, naquele acontecimento. Estando ali inteiramente, completamente. Deixando-se invadir pelas impressões daquele dia especial, daquele evento, daquela comemoração. Como se o tempo tivesse parado ali, naquele instante, junto daquelas pessoas, próximo daquele sorriso e daqueles olhos brilhantes e vivos. Tudo tão especial, comovente e, ao mesmo tempo, tão terrivelmente simples.

O vestido florido, a luz, o doce perfume, a música ambiente, o toque aveludado, a textura, a cor, as sensações e os sentimentos, tudo abrigado num pequeno momento, perpetuado pelas lembranças de quem esteve inteiramente absorto no cotidiano da vida. Expressivamente ligado aos acontecimentos presentes. Tranquilidade, paz, serenidade... Tudo com sabor especial, saboreado sem pressa, envolvido de forma acolhedora e gentil.

Aquele sobrinho doido com seu visual radical, as comadres que não se viam há anos pondo a conversa em dia, o cunhado contando as proezas da última pescaria, a filha mostrando seu novo corte de cabelo e a criançada fazendo a maior bagunça, como já era de se esperar. Tudo tão certo, tão previsível, tão maravilhosamente esperado, amado e encantador. Cenas da minha casa, da sua casa, da casa dele. Cenas de uma vida feliz, plena e completa. Possível e real. Existente em cada esquina, em cada lar, em todo lugar. Basta saber enxergar e acolher a vida.

Pare de se preocupar inutilmente. Desfaça essa carranca e deixe-se levar pela onda de afeição que o invade agora. Compartilhe você com os outros.

Deixe que as pessoas o conheçam e se enamorem de você. A vida é muito mais bonita porque conta com a sua presença, o seu sorriso, a sua escuta, a sua participação. Deixe-se envolver pela vida e distribua vida você também. A cada vez que amamos estamos sendo plenos de vida, porque a vida é a expressão do amor. Entre de cabeça nessa sensação maravilhosa que é acolher a tudo e a todos indistintamente. Seja no churrasco ou na porta do shopping, no supermercado ou no trabalho, em casa ou na quadra de futebol, no ponto de ônibus ou na lanchonete. Todo e qualquer lugar tem espaço para se amar e ser amado. Momentos vão momentos vêm. Acolha este momento precioso e aceite que ele mude sua forma de encarar a vida. Tenho certeza de que você se sentirá muito mais feliz!

Maria Regina Canhos Vicentin
contato@mariaregina.com.br

Psicóloga, bacharel em direito, pós-graduada em educação, especialista em psicologia clínica e jurídica, e escritora de livros, além de ser colaboradora de diversos jornais e revistas do país.

As possibilidades e os limites do cérebro no desenvolvimento das crianças de zero a seis anos


Nosso governo, nas últimas décadas tem priorizado a educação do ensino médio e do ensino fundamental em detrimento aos primeiros anos de vida (0-6 anos). Porém, estudos neurocientíficos de relevância e consenso evidenciam que o investimento nos primeiros períodos de desenvolvimento do cérebro são cruciais. Ora, para ler e escrever contamos com o cérebro, ambiente de estímulos, fatores sociais, físicos, psicológicos, neurocognitivos e educacionais.

Fica simples se usarmos a metáfora da construção de um prédio: se o solo não estiver firme e bem nutrido e as estruturas não forem feitas com qualidade de material, mão de obra e planejamento apropriado o resultado da construção não será competente. Remendos e "puxadinhos" não são competentes nem na estética, função e muito menos em qualidade.

Sabemos hoje, através das neurociências, que nascemos com quase 100 bilhões de neurônios e que vamos os perdendo ao longo da vida. Nos primeiros anos de vida existem podas neuronais muitos significativas e que são vitais para a exuberância do desenvolvimento cognitivo. Mas por que perdemos neurônios? Para nos tornarmos inteligentes e competentes. A máxima "menos é mais" deve ter sido pensada a partir desta realidade cerebral, não é mesmo?

Nesta fase das primeiras grandes podas o cérebro se encontra apto para algumas funções em detrimentos de outras. Por exemplo, entre zero e três anos o cérebro pode aprender mais de uma língua com muita facilidade e sem sotaque! Já o mesmo cérebro não consegue colocar uma linha na agulha. Cada fase tem uma importância ímpar. A natureza, com suas regras e pré-condições é tão complexa e incrível que chega a maravilhar qualquer um, mesmo quem não se interessa por cérebro. Estimular, criar oportunidades, aproveitar as janelas de oportunidades e promover o desenvolvimento saudável é de grande valia e prioridade.

É importante ressaltar que da mesma forma que o cérebro tem possibilidades, também tem limites. Somos seres humanos e enquanto humanos não podemos voar. Podemos, sim, criar formas de voar, desenvolver recursos, estratégias, etc. Inclusive, podemos voar com a imaginação, atividade bastante exclusiva, até então, de nossa espécie.

Outro exemplo, até por volta dos três anos de idade se a criança não for estimulada a ver, enxergar, ou melhor, se for privada dos estímulos visuais, mesmo se não tiver lesões na área da visão, não poderá "ver", pois a janela de oportunidade da visão se fecha nos primeiros anos.

Logo a importância de se conhecer, estimular e prevenir desde a primeira infância é fundamental.

Adriana Fóz

adriana@adrianafoz.com.br

Educadora (USP), pós-graduada em Psicologia da Educação (USP), especialista em Psicopedagogia (Instituto Sede Sapientiae) e Neuropsicologia (CDN-Unifesp). Pesquisadora CNPq em Neurociências na Educação. Consultora e autora de livros.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou o Valor de bolsas


A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou no dia 11 no Diário Oficial da União os valores de benefícios que poderão ser pagos a brasileiros que forem ao exterior para estudar e a quem venha ao Brasil pelo mesmo motivo. A publicação inclui bolsas de graduação, pós-graduação e também de especialização para professores da educação básica. Para obter uma dessas bolsas é preciso se candidatar de acordo com as regras dos editais de seleção da Capes, disponíveis no site. As bolsas para brasileiros que forem ao exterior podem chegar a US$ 5 mil mensais (professores de ensino superior que forem para os EUA). Para estudantes de graduação, o valor é 870 dólares, euros ou libras, dependendo do país. Já para doutorandos, a quantia chega a 1,3 mil nas mesmas moedas. A Capes pode auxiliar com as despesas de instalação, por meio de um benefício no mesmo valor da bolsa obtida.

"A paz não pode ser mantida à força; só pode ser conseguida pela compreensão".


Andréa Marques
andrea@nota10.com.br


Estimule sua mente se divertindo

Hoje, em mundo cada vez mais online, ficar desconectado de uma vida social e profissional parece impossível para muitas pessoas. Além disso, outros fatores, como cobranças e problemas pessoais trazem uma série de consequências que podem tornar uma simples rotina cada vez mais pesada e estressante para a mente humana. E para alcançar a tão sonhada qualidade de vida, é preciso fugir dos hábitos errôneos do dia a dia.

Uma ótima opção para começar algumas pequenas mudanças é sempre exercitar o cérebro, afinal, naturalmente, este órgão vai perdendo sua capacidade ao longo de sua existência. Para Any Bicego Queiroz Teixeira, Coordenadora de Desenvolvimento de Material Didático de Língua Pátria do Kumon, “o ideal é sempre procurar exercícios que estimulem a atividade cerebral, aprimorando o raciocínio com novos aprendizados. Isso contribui para aumentar a atenção nas ações cotidianas e melhorar a capacidade de concentração e a memória”.
Pensando nisso, separamos algumas dicas que podem ajudar estimular o cérebro:

- Que tal brincar de quebra-cabeças ou Sudoku? Tente montar o jogo o mais rápido possível, com o auxílio de um cronômetro. Dispute o tempo com seus amigos;

- Trabalhe mais sua memória! Ao entrar em uma sala com muitas pessoas, tente determinar quantas pessoas estão ao seu lado esquerdo e, depois, ao lado direito. Identifique os objetos que decoram a sala, feche os olhos e os enumere;

- Que tal escrever seus compromissos em uma agenda? E arrumar seus armários de acordo com a roupa? Além de se tornar uma pessoa organizada, você poupa tempo de tarefas desnecessárias e não se sobrecarrega;
Manter a mente ativa é importante para continuar se desenvolvendo e, melhor ainda, é fazer isso de uma maneira divertida!

Taxa indevida

Pais de alunos do colégio militar estadual Tiradentes, no Trapichem, denunciam que estão sendo obrigados a pagar uma taxa de R$ 250 para matricular os filhos na instituição. Em entrevista à TV Pajuçara, um policial militar que não quis ser identificado disse que levou um susto na hora de pegar as notas finais da filha: ele diz ter recebido da direção da escola um informativo com as condições para manter a garota estudando. Entre as obrigações, estariam pagamentos de taxas para matrícula, agasalho e uniforme de educação física. "Há três anos que não pagamos nada na escola", reclama o pai.

Fórum coleta assinaturas para defender vinculação de royalties


O Fórum Nacional de Educação (FNE) lançou na internet petição pública para mobilizar a sociedade em defesa da Medida Provisória n.º 592, do dia 3 último, que destina à educação 100% das receitas dos futuros contratos dos royalties da exploração do petróleo. No documento, a entidade defende ainda que 50% do Fundo Social do Pré-Sal sejam repassados à manutenção e ao desenvolvimento do ensino.

O texto do FNE faz apelo por uma decisão que torne possível ao país oferecer educação pública de qualidade e pede ao Poder Legislativo que indique a fonte de financiamento.

O documento com as assinaturas coletadas on-line será entregue ao Congresso Nacional em fevereiro, quando os parlamentares retornam à atividade após o período de recesso.

A petição on-line é baseada em nota técnica divulgada pelo FNE, na qual o fórum defende a vinculação integral dos royalties à educação.

Ministérios pretendem ampliar prática de esportes nas escolas


Os ministérios da Educação e do Esporte vão atuar em conjunto para aumentar o tempo da prática esportiva dos alunos nas escolas. A informação foi dada por representantes do Executivo, nesta terça-feira (12), durante o seminário “Ciclo Olímpico Brasileiro”, realizado pela Comissão de Turismo e Desporto da Câmara.

Os ministérios querem que, além das duas horas semanais de aulas de educação física normalmente oferecidas nos colégios, os alunos tenham a oportunidade de fazer esportes no turno inverso. Para isso, segundo informou o diretor do Departamento do Esporte de Base e de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, André Arantes, deverão ser contratados mais professores, que vão ser capacitados em áreas específicas, como judô, atletismo e natação. “No contraturno escolar, poderemos contemplar tanto os estudantes que desejam fazer uma atividade de lazer como se estivessem em uma academia, quanto aqueles que pretendem treinar uma modalidade a sério”, disse.

De acordo com André Arantes, os dois ministérios também querem incentivar ainda mais a participação dos estudantes nas competições esportivas escolares da própria cidade, do estado, e em nível nacional e internacional. Outro ponto que está sendo discutido é o estímulo ao atletismo nas escolas. Apesar dos estudos que estão sendo feitos para implementar todas essas ações, o diretor afirmou que ainda não existe prazo para que as medidas saiam do papel. Da Agência Câmara.

Comissão debate criação de instituto

HELIO NOTA 10


A Comissão de Educação e Cultura realiza, nesta terça-feira (11), audiência pública para debater o Projeto de Lei 4372/12, do Executivo, que trata da criação do Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior (Insaes).

De acordo com o deputado Izalci (PSDB-DF), que solicitou a realização do evento, o instituto passará a formular, desenvolver e executar as ações de supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos de educação superior no sistema federal de ensino, de acordo com as diretrizes propostas pelo Ministério da Educação e em consonância com o Plano Nacional de Educação (PNE).

O Insaes, se aprovado, será vinculado ao Ministério da Educação (MEC) e assumirá uma tarefa que hoje é do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) – a autarquia responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

A criação do instituto é polêmica e diversas entidades, inclusive o Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe) do Paraná, se mostraram contrária à criação.

Banda larga lenta atrapalha EAD

HELIO NOTA 10


Um dos maiores problemas do ensino a distância (EAD) é a banda larga. É o que acha o professor João Carlos Teatini, diretor de Educação a Distância da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (DED/Capes). Teatini e a professora Luisa Furlan Costa, diretora do Núcleo de Educação a Distância e Coordenadora do Programa Universidade Aberta do Brasil, palestraram em Brasília para a Frente Parlamentar em Defesa da Educação do Congresso Nacional, quando discutiram “As Ações da Educação à Distância no Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB)”.

O professor Teatini apontou os objetivos da Universidade Aberta. “Ampliar o acesso à educação superior pública, em especial nas regiões remotas do Brasil; induzir e fomentar a educação a distância nas instituições públicas de ensino superior, promover a pesquisa e produção de inovações e a formação inicial e continuada de professores da educação básica”, destacou.
Atualmente a Universidade Aberta conta com 778 polos de apoio presencial ativos com bibliotecas, salas de tutoria, laboratórios de informática, internet, tutoria à distância e laboratórios didáticos. São mais de 42 mil alunos. A meta para 2014 é de mil polos e 600 mil alunos.

No entanto, o professor Teatini alerta que o principal gargalo do EAD é qualidade ruim da internet banda larga nos municípios, o que dificulta o trabalho nos polos presenciais. O professor afirma também que é necessário divulgar melhor a modalidade de ensino.

“Temos que divulgar mais a Universidade Aberta do Brasil e superar o preconceito que ainda existe no ensino a distância. É preciso que levemos esse debate para os municípios e estados”, salientou.

Educação Ambiental

HELIO NOTA 10


Os deputados do Paraná aprovaram na sessão plenária de terça-feira (11) o projeto de lei n.º 489/12, de autoria do Poder Executivo, que institui a Política Estadual de Educação Ambiental.

A proposta parte do princípio geral de que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo ao Poder Público e à coletividade o compromisso de desenvolver a sustentabilidade, o respeito e a valorização da vida em todas as suas formas de manifestação, na presente e nas futuras gerações.

O deputado Rasca Rodrigues (PV), vice-presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembleia, fez um breve pronunciamento durante o encaminhamento da votação do projeto, lembrando as inúmeras reuniões, seminários e audiências públicas realizadas em torno do tema.

“Esse projeto foi construído durante o período em que estive na Secretaria de Estado do Meio Ambiente”, recordou. Segundo o parlamentar, “a educação ambiental é parte inseparável da educação e deve estar inserida de forma permanente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, seja formal – desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições públicas e privadas, ou não-formal – com ações práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente”.

Mensagem - O lapis

Enviada por Corumbá

O menino observava seu avô escrevendo em um caderno, e perguntou:

- Vovô, você está escrevendo algo sobre mim?O avô sorriu, e disse ao netinho:- Sim, estou escrevendo algo sobre você. Entretanto, mais importante do que as palavras que estou escrevendo, é este lápis que estou usando. Espero que você seja como ele, quando crescer.O menino olhou para o lápis, e não vendo nada de especial, intrigado, comentou:- Mas este lápis é igual a todos os que já vi. O que ele tem de tão especial?- Bem, depende do modo como você olha. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir vivê-las, será uma pessoa de bem e em paz com o mundo – respondeu o avô.

- Primeira qualidade: Assim como o lápis, você pode fazer coisas grandiosas, mas nunca se esqueça que existe uma “mão” que guia os seus passos, e que sem ela o lápis não tem qualquer utilidade: a mão de Deus. -Segunda qualidade: Assim como o lápis, de vez em quando você vai ter que parar o que está escrevendo, e usar um “apontador”. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas ao final, ele se torna mais afiado. Portanto, saiba suportar as adversidades da vida, porque elas farão de você uma pessoa mais forte e melhor. - Terceira qualidade: Assim como o lápis, permita que se apague o que está errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos trazer de volta ao caminho certo.

- Quarta qualidade: Assim como no lápis, o que realmente importa não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro dele. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você. O seu caráter será sempre mais importante que a sua aparência.

- Finalmente, a quinta qualidade do lápis: Ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida deixará traços e marcas nas vidas das pessoas, portanto, procure ser consciente de cada ação, deixe um legado, e marque positivamente a vida das pessoas.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Você só estimula o cérebro se o exercita


"Você só estimula o cérebro se o exercita, por isso quem sempre esteve atento a esta questão terá menos problemas de saúde cerebral, como demência e doenças cognitivas, como Alzheimer". 21 dicas para você montar seu treino O desafio da neuróbica é fazer tudo aquilo que contraria ações automáticas, obrigando o cérebro a um trabalho adicional, por isso:

1-Use o relógio de pulso no braço direito;

2-Ande pela casa de trás para frente;

3-Vista-se de olhos fechados;

4-Estimule o paladar, coma comidas diferentes;

5-Leia ou veja fotos de cabeça para baixo concentrando-se em pormenores nos quais nunca tinha reparado; 6-Veja as horas num espelho;

7-Troque o mouse do computador de lado;

8-Escreva ou escove os dentes utilizando a mão esquerda - ou a direita, se for canhoto;

9-Quando for trabalhar, utilize um percurso diferente do habitual;

10-Introduza pequenas mudanças nos seus hábitos cotidianos, transformando-os em desafios para o seu cérebro;

11-Folheie uma revista e procure uma fotografia que lhe chame a atenção. Agora pense 25 adjetivos que ache que a descrevem a imagem ou o tema fotografado;

12-Quando for a um restaurante, tente identificar os ingredientes que compõem o prato que escolheu e concentre-se nos sabores mais subtis. No final, tire a prova dos nove junto ao garçom ou chef; neuróbica13-Ao entrar numa sala onde esteja muita gente, tente determinar quantas pessoas estão do lado esquerdo e do lado direito. Identifique os objetos que decoram a sala, feche os olhos e enumere-os;

14-Selecione uma frase de um livro e tente formar uma frase diferente utilizando as mesmas palavras;

15-Experimente jogar qualquer jogo ou praticar qualquer atividade que nunca tenha tentado antes.

16-Compre um quebra cabeças e tente encaixar as peças corretas o mais rapidamente que conseguir, cronometrando o tempo. Repita a operação e veja se progrediu;

17-Experimente memorizar aquilo que precisa comprar no supermercado, em vez de elaborar uma lista. Utilize técnicas de memorização ou separe mentalmente o tipo de produtos que precisa. Desde que funcionem, todos os métodos são válidos;

18-Recorrendo a um dicionário, aprenda uma palavra nova todos os dias e tente introduzi-la (adequadamente!) nas conversas que tiver;

19-Ouça as notícias na rádio ou na televisão quando acordar. Durante o dia escreva os pontos principais de que se lembrar;

20-Ao ler uma palavra pense em outras cinco que começam com a mesma letra;

21-A proposta é mudar o comportamento rotineiro. Tente, faça alguma atividade diferente com seu outro lado do corpo e estimule o seu cérebro. Se você é destro, que tal escrever com a outra mão? neuróbicaHábitos saudáveis

Outra atitude indispensável para manter a memória sempre afiada, é prestar atenção na qualidade de vida. O neurologista Ivan Okamoto sugere um estilo de vida mais tranquilo, com alimentação balanceada, sem vícios e com a prática regular de exercícios físicos para manter o corpo e a mente saudáveis.

"A melhor maneira de manter a memória em dia é cuidar da saúde, por isso é importante evitar cigarro e bebidas alcoólicas, seguir uma dieta equilibrada, praticar exercícios e exercitar o cérebro. Manter a atividade mental, seja trabalhando ou participando de alguma atividade em grupo, ajuda a elevar a autoestima e deixar a memória a todo vapor", explica o especialista.

Enviado por Corumbá

A OBSESSÃO PELO MELHOR


Leila Ferreira

Leila Ferreira é uma jornalista mineira com mestrado em Letras e doutora em comunicação em Londres, que optou por viver uma vida ais simples em Belo Horizonte.
Estamos obcecados com "o melhor”. Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do "melhor".

Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.

Bom não basta.

O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o melhor". Isso até que outro "melhor" apareça e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer.

Novas marcas surgem a todo instante. Novas possibilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece superado,

Modesto, aquém do que podemos ter. O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego.

Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter.

Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários.

Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis. Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente.

Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência? Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa?

E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto? O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o "melhor chef"? Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo "melhor cabeleireiro"?

Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixados ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos. A casa que é pequena, mas nos acolhe. O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV que está velha, mas nunca deu defeito. O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens "perfeitos". As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me dar à chance de estar perto de quem amo... O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem. O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer. Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso?

Ou será que isso já é o melhor e na busca do "melhor" a gente nem percebeu?

Sofremos demais pelo pouco que nos falta

E alegramo-nos pouco pelo muito que temos. Shakespeare

Inspiração do poeta Conta-se que, num dia qualquer, o compositor Almir Sater estava em São Paulo para uma temporada. Em certo momento, desceu do seu apartamento para tomar um cafezinho num mercado ali perto. Encontrou um amigo, que o convidou para experimentar uma viola que acabara de comprar. Enquanto tomavam café, Almir dedilhou a viola e soltou a voz: Ando devagar... Ao que o amigo emendou... Porque já tive pressa. Dizem que essa maravilha chamada Tocando em frente ficou pronta em dez minutos. Um dia, alguém perguntou ao Almir como essa música fora feita e ele respondeu: Ela estava pronta. Deus apenas esperou que eu e o Renato nos encontrássemos para mostrá-la para nós. Será verdade ou será mais uma dessas lendas que se inventam, a respeito de pessoas célebres e suas produções? Lenda ou verdade, não importa. O que sabemos é que a inspiração existe e disso entendem muito bem os gênios de todos os matizes. E a letra e música de Tocando em frente são uma joia rara. Convidam-nos a parar em meio à correria, a viver com mais vagar, como a saborear cada momento. Também nos recordam que, na vida, lágrimas e sorrisos se sucedem. Assim dizem os versos: Ando devagar porque já tive pressa. E levo esse sorriso, porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe... Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei...Há tanto para aprender. E quantos cremos serem superiores, por entendermos disso ou daquilo. E, contudo, quem verdadeiramente se dedica a aprender, descobre que quanto mais aprende, mais há a ser pesquisado, descoberto. Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs.O planeta Terra é o grande laboratório Divino em que provamos a dor, a alegria. Em que nos extasiamos ante a manhã que se espreguiça e nos encantamos com a riqueza das pessoas. Cada uma com seu talento especial, sua forma de ser, de agir em nossas vidas. E, neste planeta de provas e expiações, com quantas delícias nos agracia Deus. Sabores de frutas, consistências inúmeras. É preciso tudo provar. Aprender a degustar, reconhecendo o sabor de cada fruta, do trigo transformado em pão, do grão triturado, moído, servido com aroma de café. Mas é preciso o amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, continua cantando o inspirado poeta. Sim, o amor nos é imprescindível porque fomos criados e somos mantidos pelo amor de Deus, trazendo essa essência Divina em nossa intimidade. E somente sorri, num mundo de tanta perversidade ainda, quem já descobriu o segredo da vida na Terra, que se chama oportunidade e progresso. Por isso, cada um de nós compõe a sua história. E cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz. E, como todo mundo ama, todo mundo chora, não esqueçamos que um dia a gente chega, no outro vai embora. A vida é transitória. Aproveitemo-la, ao máximo, vivendo com a família, os amigos. Produzindo na sociedade, deixando nossas marcas de luz para, como alguém já falou, quem venha atrás, possa dizer: Por aqui passou um ser iluminado. Uma estrela... Redação do Momento Espírita.

Em 23.08.2012.







terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Você mudou…

Colaboradora com passe livre no BLOG: Simônica Capistrano



Em uma dessas noites silenciosas e tranqüilas você pode descobrir o quanto cresceu nos últimos meses, semanas, dias… e o quanto você amadureceu. Um processo difícil e contínuo, que exige muito mais de si que dos outros.

Entre um livro e outro, uma revista de economia e política, um caderno com folhas em branco e fone nos ouvidos você pode descobrir o quanto você mudou, o quanto você passou a depender pouco dos outros.

Você passa a não esperar mais telefonemas animados de uma amiga de reggae em plena sexta-feira, a voz suave de um ex-namorado te convidando para sair ou de um affair* atual, nem mesmo de um ente familiar. Nada disso mais importa.

Chega uma hora que você aprende a ser só, e mais nenhuma lágrima de solidão, melancolia passam a fazer parte da sua rotina. Você se torna dura, inflexível, mas sensata. Firme e persistente. Começa a pensar na carreira, no futuro e a olhar dentro do seu próprio eu. Não se trata de egoísmo, mas sim de encarar o mundo sob outro prisma: o de que as pessoas que você mencionou acima, neste momento estão pensando nelas mesmas e fazendo o que as fazem felizes, enquanto VOCÊ, só aprendeu o mesmo, porém preferiu o silêncio ao invés das palavras. Ai que você nota o quanto VOCÊ MUDOU!!!

*Expressão inglesa usada para designar uma pessoa com a qual não se tem uma relação estável. O mesmo que ficante (gíria popular), paquera.

Essencial- O valioso tempo dos maduros


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.

As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.

Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. o essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!

Mário de Andrade (1893-1945)

O Medo do Amor


Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.

O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.

E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.

Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.

Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.

Lindo texto de Martha Medeiros



segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A internet muda e nos muda


Todos os dias encontramos alguma novidade na internet. Um estudo mostra o que mudou nos últimos 10 anos e como ela também mudou nossos hábitos.

A internet tem menos de 50 anos de existência, mas ela já transformou radicalmente os hábitos da humanidade, de maneira irreversível. Um estudo da Best Education Sites mostra como o mundo digital transformou-se na última década, mudando a forma como os seres humanos se informam, consomem, se cuidam e até se relacionam.

Por exemplo, em 2002 havia ao redor de três milhões de sites web e hoje estima-se que haja 555 milhões de sites. Antes, para baixar uma música em um modem de 56kbps levava em média de 12,5 minutos. Hoje, não costuma demorar nem 18 segundos.

Outro dado que chama atenção é do tempo que as pessoas ficam on-line por dia. Em 2002, eram 45 minutos em média; hoje, são cerca de 4 horas diárias. Mas um dos pontos que talvez mais afete o dia a dia das pessoas é a força das redes sociais: enquanto em 2002 o Friendster era usado por 3 milhões de pessoas, hoje a liderança é do Facebook, com mais de 900 milhões de usuários.

Essas mudanças, apesar de irreversíveis, abrem inúmeras possibilidades e desafios, especialmente de utilizá-la a serviço de um mundo mais humanizado.

Fonte: Adital

A cultura do agradecimento


Quinta-feira, dia 22 de novembro, celebramos o Dia Nacional de Ação de Graças. É um dia para festejarmos nossas conquistas!

Sempre na quarta quinta-feira de novembro celebramos o Dia de Ação de Graças. Talvez nossa sociedade fique mais humana e menos competitiva quando de fato assumir uma cultura de agradecimento. É muito comum reclamarmos dos problemas que nos atormentam. Porém poucas vezes nos damos conta de agradecer pelo que conquistamos e pelo que somos ajudados.

Jonas Alvarenga, presidente do Comitê Brasileiro de Resgate do Dia Nacional de Ação de Graças, diz o seguinte: “Agradeça. Faça encontros, reuniões, ações sociais. Promova arrecadação de alimentos, brinquedos, roupas. Organize um passeio ciclístico ou um plantio de árvores… Ao seu modo celebre a data. Seja mais um elo nessa grande corrente de gratidão.

Acredite que, estimulando a cultura do agradecimento, o mundo será um lugar melhor para se viver, em harmonia e muita PAZ. Afinal, dependemos uns dos outros. E, por isso, digamos sempre obrigado, pois não conquistamos nada sozinhos”.

Subsídios para comemorar a data

O Mundo Jovem propõe diversos subsídios para celebrar o Dia Nacional de Ação de Graças. São textos para reflexão e debate, poemas, mensagens, sugestão de atividades e outros.

Fonte: http://www.acaodegracas.com.br

Artigo - IV Mensagens - Desabafo na FEBEM

Mensagem de reflexão sobre menores infratores.

"Estou aqui há dois anos, e faz um ano que não vejo minha mãe, nem minha irmã, só tenho ela na minha vida, e se elas falecem? O que será de mim? Vou para a rua? Mais se Deus quiser isso não vai acontecer, amigos? Não tenho amigos, pois amigo não fica chamando o outro para assaltar aquela velha ricona, matar aquele garoto que não nos passou a cocaína, amigo não é assim, jamais chama você para esse caminho. Eu só queria ver minha mãe, faz tempo que não a vejo, mas todo dia penso nela, apesar de que lá em casa não tinha nada para comer, ao menos água para beber, mas tinha minha mãe por perto, protegendo-me, e é assim, estou triste né senhor, e ninguém me ajuda.

A vida aqui é trancada, só saio da sela para comer, tudo em fila cabeça baixa, com um soldado agarrado no meu pescoço, é assim, parecendo um monte de bandidos, de bandidos menores, mais senhor eu não sou bandido, o único sentimento que tenho agora é fugir daqui, desse sofrimento, mesmo sabendo que la fora não terei o que comer, mas pelo menos sou livre, sou livre para recomeçar a minha vida, aqui somos bichos, sem direito para falar nada, só obedecer, levando gritos, castigos, trancados, sem saber o dia e o que se passa la fora, é como você tivesse perdido em uma cidade grande, sem ninguém, olho as vezes para o céu e vejo-me como um passarinho livre, mas só Deus sabe quando vou sair daqui, sonho com esse dia, a única coisa que quero nesse momento é fugir daqui, sair daqui, não para roubar, não para matar, pelo menos ter uma oportunidade de viver, reencontrar minha mãe e minha irmã, a minha única família que há um ano não a vejo.

Olha para esse local, veja tudo dividido, com grades, pensa como é viver em uma sela dessa o dia todo, sem vontade de estudar, sem lazer, sem vontade de viver, ninguém pode conversar com ninguém, ao contrário vem um soldado e pergunta se estamos marcando uma fuga e nos ameaça, mais quando é na frente de outras autoridades tudo é bonzinho, tudo é harmonioso.

Pensei que ia sair de um sofrimento, quando cheguei aqui entrei em outro, o que será de mim? Nem sonho, não adianta sonhar, a única coisa é agradecer todo dia por estar pelo menos vivo e mais nada. Adeus moço, até mais".

Fiquei pensando naquela entrevista, fiquei doente, lugar miserável, somos realmente inúteis, passei ver a vida de uma forma diferente, tentando a desapegar de tudo, amei mais minha vida, passei a ser apolítico, esses governos só pensam em si e em seus partidos, bando de desocupados, ainda reclamam da vida, comendo, bebendo, sorrindo, ainda reclamam da vida, mais um dia tudo vai mudar, tudo muda...

Voltei naquela FEBEM, quatro meses depois, vim com uma solução, ainda bem que a faculdade de Direito me serviu para alguma coisa, depois de muitas audiências, muita papelada, muitos nãos, muitas críticas consegui retirar aquele garoto daquele lugar, dei a ele uma nova oportunidade, só vendo para crer o sorriso e a felicidade da liberdade, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.

Eu passe por uma vida miserável, pensei que hoje não estaria aqui, já usei drogas, fiquei um ano e quatro meses sem ver minha mãe e minha mãe, a minha família, vivendo numa FEBEM, longe do mundo, longe da minha felicidade, hoje me emociono ao falar daquele senhor que me ajudou na vida vencer, e mais emoção ainda é inaugurar esse centro de reabilitação para menores de rua, como fundador dessa instituição queria falar para vocês que estarei sempre presente, lutando com vocês, sou seu amigo, seu juiz de menor, um pai para vocês, uma esperança, e que nunca esqueçam, a vida é bela, lutem para verem suas proezas, e nunca diga que a vitória está perdida, tente outra vez...

Geraldo Rocha Dantas Neto Uiraúna - PB. gn-rocha@hotmail.com

Artigo III - Mensagens Há um grito parado no ar!


Mensagem sobre as manifestações populares.

Sobre as inúmeras manifestações que acontecem em todo o mundo na defesa dos direitos sociais, nem sempre são divulgadas nas mídias, diz Silvino Heck: “Há um grito parado no ar. Não é (ainda) o grito dos anos oitenta e sua chamada à mudança. Mas, a efervescência, a mobilização estão no ar e na cabeça das pessoas.

Cada dia fica mais perceptível que o modelo neoliberal de desenvolvimento está levando o mundo a uma situação, senão de caos, pelo menos de insustentabilidade. Não é mais possível que o mercado financeiro domine a economia, beneficiando meia dúzia, levando os países à crise e os trabalhadores ao desemprego e à miséria. Não é sustentável o modelo consumista que destrói a natureza, que esgota a água, que polui o planeta e dissemina valores como o individualismo, a ganância, o lucro como medida da vida e das relações sociais, o egoísmo, ou como se dizia nos anos oitenta, e ainda vale hoje, o ter em vez do ser.

A reação, a luta e o sonho, como sempre, vêm dos de baixo, dos mais pobres e trabalhadores, dos indígenas, negros e quilombolas, mulheres e jovens, militantes da economia solidária e dos direitos humanos, agricultores familiares e camponeses. E desenha o futuro de "um outro mundo possível', urgente e necessário”.

Selvino Heck do Movimento Fé e Política.
 Adital - em 03/10/2011

Artigo II - Caminhos de ressocialização


O mínimo que se poderia exigir do Estado é que garantisse aos condenados condições de aprendizado e profissionalização. Se não por uma exigência humanista, pelo menos por uma medida de inteligência. Ora, se alguém irá passar alguns anos encarcerado será muito melhor para a sociedade que, uma vez em liberdade, esta pessoa tenha se qualificado como um profissional apto a disputar um espaço no mercado e que tenha adquirido algumas competências cognitivas. Na ausência disto, será sempre maior a possibilidade da reincidência. Educar e profissionalizar a massa carcerária brasileira é, assim, uma medida elementar de prevenção ao crime e à violência. Estes temas, entretanto, não são sequer considerados pelos gestores na área. Eles preferem continuar prendendo e produzindo declarações demagógicas ao gosto da mídia e da demanda punitiva disseminada. No fundo, estão preocupados com as urnas, não com a segurança da população.

A rigor, não temos educação nos presídios brasileiros. Em alguns casos, como na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), no RS, por exemplo, chegamos ao ridículo de montar salas de aula onde uma grade separa os professores dos alunos. Penso que, neste particular, a experiência que o IPA vem desenvolvendo no Presídio Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre, oferece um bom exemplo das possibilidades em aberto. O projeto lá montado foi de um curso universitário - o primeiro dentro de um presídio brasileiro. Uma turma de Serviço Social, formada por presas e agentes penitenciários aprovados em vestibular já está no terceiro semestre, todos com bolsa integral. O convênio com o IPA permitiu que uma ala inteira do presídio fosse reformada, com a construção de salas de aula, uma pequena biblioteca e um laboratório de informática. Como professor envolvido neste projeto, sou testemunha das radicais transformações que ele vem produzindo. Mesmo assim, somos obrigados a conviver, diariamente, com a resistência da própria instituição que começa pelo boicote à presença das presas em aula.

Artigo I - As prisões resolvem o problema da violência?


entrevista com Marcos Rolim, publicada na edição nº 377, junho de 2007.

Marcos Rolim jornalista e consultor em segurança pública, autor do livro A Síndrome da Rainha Vermelha: policiamento e segurança pública no século XXI, editora Zahar, 2006. http://www.rolim.com.br marcos@rolim.com.br

A população está amedrontada com a violência e percebe que corre riscos reais. Os mais desprotegidos, aliás, são os pobres. É natural, então, que se exijam soluções. O problema é que a “receita” que vem sendo insistentemente divulgada pela mídia é uma estupidez.

Muitos de nossos “formadores de opinião” não fazem a menor ideia do que seja prevenção em segurança, mas estão firmemente convencidos de que a solução é mais repressão, mais presídios e leis penais mais duras.

Não se dão conta de que o Brasil trilha este caminho há muito tempo e que os resultados até agora oferecidos por esta opção redundaram em um fracasso vergonhoso.

• Como você vê o sistema prisional brasileiro?

Os presídios brasileiros formam um mundo à parte, um mundo que a esmagadora maioria das pessoas não faz ideia do que seja. Como regra geral, são instituições obscuras e deprimentes no interior das quais milhares de seres humanos são amontoados em condições indescritíveis e abomináveis. As celas, construídas com as dimensões mínimas legais de 6 m2, deveriam receber um só preso cada, mas lá estão, em média, entre seis e dez pessoas. Em algumas oportunidades, isto obriga a organização de turnos de sono, pois não há espaço para que todos durmam ao mesmo tempo, ainda que no chão. As condições de higiene são as piores possíveis; ao invés de vaso sanitário, há um buraco, invariavelmente fétido. Insetos e ratazanas dividem os mesmos centímetros com os presos que obviamente passam a conviver com muitas doenças, da sarna à tuberculose, sem que se lhes ofereça qualquer atenção à saúde. A comida servida nestes estabelecimentos é uma gosma, não há, em regra, oportunidades de profissionalização ou estudo; as poucas oportunidades de trabalho estão ligadas aos serviços de manutenção ou a atividades que não profissionalizam. Para piorar o quadro, há muita violência dentro dos estabelecimentos, entre os próprios presos divididos em facções e nas relações de agentes e presos. Casos de tortura ainda são muito comuns. Com estas características, nossas prisões são instituições perfeitas para a reprodução ampliada do crime e da violência.

• Por que colocar alguém na prisão?

A pena privativa de liberdade deveria ser empregada sempre como último recurso e concebida como uma medida de segurança necessária para a proteção da vida e da integridade dos demais. Assim, deveriam estar privados de liberdade apenas aqueles que praticaram crimes graves, cuja liberdade fosse, em si mesma, uma ameaça à vida. O que ocorre, entretanto, é algo muito diverso: os presos brasileiros, em geral, são encarcerados por crimes cometidos contra o patrimônio e por envolvimento com o tráfico de drogas ilícitas. Os selecionados para este tipo de punição são, invariavelmente, muito pobres e jovens. Nosso aparelho persecutório simplesmente não seleciona os tipos de crimes mais comumente praticados por nossas elites (crimes como corrupção ou sonegação de impostos, por exemplo). Então, as cadeias são também instrumentos de uma política de classe que não são usados para os "bandidos do lado de cá", aqueles que habitam o mundo da inclusão.

• O povo quer rigidez contra o crime. As estratégias repressivas resolvem?

É evidente que a repressão possui um papel importante em qualquer democracia; ela está vinculada à ideia de respeito à lei e não pode ser menosprezada. Mas imaginar que se possa construir uma solução com base em repressão é ingenuidade. Tenho sustentado que mesmo as estratégias repressivas devem estar subordinadas a uma política centrada na prevenção do crime e da violência. O combate à impunidade é muito importante, mas não se reduzirá a taxa de impunidade no Brasil aumentando as penas ou tornando a execução penal ainda mais desumana. A impunidade, aliás, pouco tem a ver com as leis penais. Ela está profundamente vinculada, na verdade, às deficiências de investigação e, por consequência, à fragilidade da prova. Impunidade é um problema de polícia despreparada, incapaz e sem recursos de inteligência. Os países mais desenvolvidos e com tradições democráticas mais consolidadas já perceberam há muito que o fundamental em segurança pública é a prevenção. No Brasil mesmo, temos já muitos exemplos de iniciativas em segurança que produzem resultados impressionantes de redução do crime e da violência. O exemplo de Diadema é apenas um entre outros. Nesta cidade, onde havia taxas superiores a 100 homicídios para cada 100 mil habitantes, a prefeitura identificou, a partir de um estudo científico, que as mortes no município ocorriam preferencialmente nas proximidades de bares, o que sugeria uma correlação entre abuso de álcool e violência. Com base neste dado, aprovou-se uma lei municipal que determinou o fechamento de todos os bares da cidade às 23h - uma medida já clássica em segurança pública em toda a Europa. Em um ano, os homicídios foram reduzidos em 54%. Fazer segurança pública com inteligência exige medidas desse tipo.

• A maioria dos presos é jovem. Quem são esses jovens? Por que estão na prisão?

Em todo o mundo, a maior parte dos presos é jovem. Possivelmente, esta característica tenha a ver com a circunstância de que durante a juventude (mais precisamente entre os 14 e os 24 anos) as pessoas ainda não constituíram seus vínculos mais importantes (casamento, filhos, emprego etc.), o que faria com que se sentissem mais livres para a transgressão. Este é também um período da vida em que as pessoas estão em busca de sua própria identidade, precisam de reconhecimento e autoria e se orientam demais pelos valores dos seus pares. No Brasil, entretanto, os jovens presos são já o resultado de um sistema persecutório extremamente seletivo. Como regra, os jovens encarcerados no Brasil são muito pobres, moram nas periferias dos grandes centros urbanos e foram condenados por crimes contra o patrimônio (furtos e roubos) ou por envolvimento com o tráfico de drogas. Na origem deste envolvimento delituoso encontraremos algumas características básicas tais como: famílias desestruturadas, com histórico de negligência, abuso e maus tratos; evasão escolar e ausência de perspectivas profissionalizantes.

• Os adolescentes e jovens são mais infratores que os adultos? Que infrações eles cometem?

Aqui é preciso diferenciar o fenômeno do crime ou infração, da violência. Jovens adultos cometem mais crimes violentos que adolescentes. A curva da violência no Brasil começa a se acentuar por volta dos 15 anos e atinge seu ponto mais elevado aos 20 anos. Então, cai abruptamente até por volta dos 25 anos, quando se estabiliza em indicadores baixos. Isto significa dizer que os autores de crimes violentos estão concentrados, desproporcionalmente, entre os jovens, não entre os adolescentes. Mas as vítimas destes crimes também integram a mesma faixa etária. Entre os jovens na faixa dos 14 aos 24 anos está a maior fatia dos autores de crimes violentos e a maior fatia das vítimas destes mesmos delitos. Por isso, uma política de segurança séria deve focar sua atenção na juventude. Penso, por exemplo, que deveríamos construir um Sistema Penal para Jovens Adultos, permitindo que jovens condenados por delitos praticados entre 18 e 21 anos cumprissem pena em estabelecimentos diferenciados. As medidas de internação de adolescentes, por outro lado, sem perder seu caráter socioeducativo, deveriam ser concebidas como parte de um direito penal juvenil. Quem se opõe a isto esquece que direito penal não é apenas punição, é também garantia aos acusados.

• É possível uma ressocialização na prisão?

A situação brasileira é tão marcadamente irracional quanto ao tema da segurança que, hoje, começa a se formar uma opinião segundo a qual os objetivos da prisão seriam apenas o de punir e o de neutralizar os infratores. Precisamos, então, nos proteger das opiniões. Em segurança pública, como em saúde pública, elas são uma praga. No Brasil mesmo, a experiência das APACs ainda é incrivelmente desconhecida. As APACs têm, de fato, produzido resultados muito bons de ressocialização e são, de longe, responsáveis pelos menores índices de reincidência no Brasil. Nestes casos, são ONGs que administram pequenos presídios em São Paulo e Minas Gerais, mediante contratos de gestão. (Mais informações sobre APACs na página 23).

• Como a escola e a educação devem enfocar esse tema da criminalidade?

Entendo que a educação deveria oferecer aos alunos uma formação básica em direito - incluindo noções elementares de direito penal. Qualquer criança pode aprender, por exemplo, o que é pedofilia - o que aumentaria as chances de não ser vitimada. Mas elas podem também aprender o que é legítima defesa, a diferença entre furto e roubo, a necessidade de um mandado judicial para busca e apreensão, ou qual é a política brasileira quanto às drogas. Estes e outros temas (como a educação sexual, por exemplo) têm sido subestimados e muitos pensam que não são adequados para se tratar com crianças e adolescentes. Isto me parece um erro grave. Mas há outra questão que me parece muito importante na escola se queremos tratar da violência e do crime: refiro-me ao bullying. O conceito (tratado em março de 2006 pelo Mundo Jovem) denota todo o tipo de violência interpessoal sistemática e proposital produzida entre pares (ou seja: em relações não hierárquicas). Desde a violência física e a prática de delitos como o roubo e o furto, até a violência psicológica produzida pelo isolamento, pela exclusão, pelo emprego de apelidos humilhantes etc. O bullying é muito comum nas escolas em todo o mundo. Na maior parte das vezes, entretanto, tais práticas violentas que infernizam a vida de milhares de crianças e adolescentes são invisíveis, porque não percebidas pelos professores e pelas direções das escolas. O que ocorre é que o bullying - além de abalar as vítimas, diminuir o rendimento dos alunos e concorrer para a evasão - é um dos fenômenos mais fortemente correlacionados à produção do crime e da violência na vida adulta. Nossas escolas deveriam, então, prestar atenção neste problema e desenvolver políticas específicas anti-bullying.