segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Artigo - IV Mensagens - Desabafo na FEBEM

Mensagem de reflexão sobre menores infratores.

"Estou aqui há dois anos, e faz um ano que não vejo minha mãe, nem minha irmã, só tenho ela na minha vida, e se elas falecem? O que será de mim? Vou para a rua? Mais se Deus quiser isso não vai acontecer, amigos? Não tenho amigos, pois amigo não fica chamando o outro para assaltar aquela velha ricona, matar aquele garoto que não nos passou a cocaína, amigo não é assim, jamais chama você para esse caminho. Eu só queria ver minha mãe, faz tempo que não a vejo, mas todo dia penso nela, apesar de que lá em casa não tinha nada para comer, ao menos água para beber, mas tinha minha mãe por perto, protegendo-me, e é assim, estou triste né senhor, e ninguém me ajuda.

A vida aqui é trancada, só saio da sela para comer, tudo em fila cabeça baixa, com um soldado agarrado no meu pescoço, é assim, parecendo um monte de bandidos, de bandidos menores, mais senhor eu não sou bandido, o único sentimento que tenho agora é fugir daqui, desse sofrimento, mesmo sabendo que la fora não terei o que comer, mas pelo menos sou livre, sou livre para recomeçar a minha vida, aqui somos bichos, sem direito para falar nada, só obedecer, levando gritos, castigos, trancados, sem saber o dia e o que se passa la fora, é como você tivesse perdido em uma cidade grande, sem ninguém, olho as vezes para o céu e vejo-me como um passarinho livre, mas só Deus sabe quando vou sair daqui, sonho com esse dia, a única coisa que quero nesse momento é fugir daqui, sair daqui, não para roubar, não para matar, pelo menos ter uma oportunidade de viver, reencontrar minha mãe e minha irmã, a minha única família que há um ano não a vejo.

Olha para esse local, veja tudo dividido, com grades, pensa como é viver em uma sela dessa o dia todo, sem vontade de estudar, sem lazer, sem vontade de viver, ninguém pode conversar com ninguém, ao contrário vem um soldado e pergunta se estamos marcando uma fuga e nos ameaça, mais quando é na frente de outras autoridades tudo é bonzinho, tudo é harmonioso.

Pensei que ia sair de um sofrimento, quando cheguei aqui entrei em outro, o que será de mim? Nem sonho, não adianta sonhar, a única coisa é agradecer todo dia por estar pelo menos vivo e mais nada. Adeus moço, até mais".

Fiquei pensando naquela entrevista, fiquei doente, lugar miserável, somos realmente inúteis, passei ver a vida de uma forma diferente, tentando a desapegar de tudo, amei mais minha vida, passei a ser apolítico, esses governos só pensam em si e em seus partidos, bando de desocupados, ainda reclamam da vida, comendo, bebendo, sorrindo, ainda reclamam da vida, mais um dia tudo vai mudar, tudo muda...

Voltei naquela FEBEM, quatro meses depois, vim com uma solução, ainda bem que a faculdade de Direito me serviu para alguma coisa, depois de muitas audiências, muita papelada, muitos nãos, muitas críticas consegui retirar aquele garoto daquele lugar, dei a ele uma nova oportunidade, só vendo para crer o sorriso e a felicidade da liberdade, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.

Eu passe por uma vida miserável, pensei que hoje não estaria aqui, já usei drogas, fiquei um ano e quatro meses sem ver minha mãe e minha mãe, a minha família, vivendo numa FEBEM, longe do mundo, longe da minha felicidade, hoje me emociono ao falar daquele senhor que me ajudou na vida vencer, e mais emoção ainda é inaugurar esse centro de reabilitação para menores de rua, como fundador dessa instituição queria falar para vocês que estarei sempre presente, lutando com vocês, sou seu amigo, seu juiz de menor, um pai para vocês, uma esperança, e que nunca esqueçam, a vida é bela, lutem para verem suas proezas, e nunca diga que a vitória está perdida, tente outra vez...

Geraldo Rocha Dantas Neto Uiraúna - PB. gn-rocha@hotmail.com

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