domingo, 14 de agosto de 2011

Pesquisa revela que alunos entendem mais de computador e internet do que professores

O uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) nas escolas ainda é desafio para boa parte dos professores. Pesquisa divulgada no dia 9 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) mostra que 64% dos docentes entrevistados acreditam que os alunos entendem mais de computador e internet do que eles próprios.

Diretores, coordenadores pedagógicos e professores apontam a faltam de infraestrutura adequada como um dos fatores de limitação para o uso efetivo da tecnologia no aprendizado. Entre os problemas, foram citadas a baixa velocidade de conexão de internet e o número insuficiente de computadores conectados.

De acordo com a Agência Brasil, a pesquisa entrevistou 1,5 mil professores e quase 5 mil alunos de 497 escolas para identificar os usos da internet na rotina do ensino público do país.

Segundo o CGI.br, 100% das unidades da rede em área urbana estão equipadas com computadores e 92% têm acesso à internet. Em média, os colégios tinham 23 computadores instalados e 18 em funcionamento. Para 75% dos docentes entrevistados, a principal fonte de apoio para o desenvolvimento de suas habilidades tecnológicas são os contatos informais com outros educadores.

Na avaliação do diretor de Formulação de Conteúdos Pedagógicos do Ministério da Educação (MEC), Sérgio Gotti, é natural que os professores aprendam com seus alunos e colegas em função da velocidade com que as tecnologias evoluem atualmente. O ministério conta com um programa de capacitação para o uso do computador que já formou mais de 300 mil profissionais, mas, segundo Gotti, é impossível que esse curso seja a única fonte de formação e atualização dos docentes.

Deputados e estudantes defendem 10% do PIB para a educação



Deputados, estudantes e especialistas defenderam ontem (10) a aplicação de pelo menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação no país. Hoje, são investidos na área o equivalente a cerca de 5% do PIB. De acordo com a Agência Câmara, um projeto do governo que tramita na Câmara (Plano Nacional de Educação – PL 8035/10) prevê o aumento dessas verbas para 7% até 2020.

Segundo a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a proposta do governo é insuficiente. “Se a gente compara o Brasil com outros países, vemos que estamos atrás em diversas políticas. Garantir 10% em um país continental como o nosso, em que 10% dos jovens acima de 15 anos ainda são analfabetos, é o mínimo”, disse.

Para o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão consultivo ligado ao Ministério da Educação, Antonio Carlos Caruso Ronca, o aumento dos recursos é necessário principalmente para a melhoria da qualidade da educação. “Tivemos muitos avanços nos últimos anos, mas ainda temos pendências. A situação hoje é complicada, por exemplo, quanto à remuneração de professores e ao auxílio técnico às escolas”, argumentou.

A deputada Erika Kokay (PT-DF) acrescentou que o investimento na área vai permitir a estruturação necessária para o desenvolvimento do país. A deputada Manuela d'Ávila (PCdoB-RS) concordou. “São esses recursos que vão fazer o País mudar no longo prazo”, afirmou.

A defesa dos 10% foi feita durante debate sobre o tema promovido pela Comissão de Direitos Humanos e pela União Nacional dos Estudantes (UNE). No encontro, tomou posse a nova diretoria da UNE. O novo presidente da entidade, Daniel Iliescu, defendeu a ampliação. “Esse é o tipo de investimento mais eficaz para democratizar o País e construir uma nação realmente a serviço de sua população”, afirmou.

MT- Sem opção por falta de investimentos, alunos migram para outras cidades

Redação 24 Horas News

A falta de investimentos na Educação, que obriga muitos estudantes a mudar de cidade em busca do ensino público superior foi abordada na audiência pública realizada nesta sexta-feira (12), em Juara. Mesmo com a escassez dos recursos, o campus da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) foi o único implantado no estado nos últimos 15 anos. Contudo, a ausência do Governo faz com que estudantes deixam suas famílias em busca de outros cursos.

A Unemat de Juara atende 270 alunos no curso de Pedagogia, que alcançaram nota quatro no Ideb – Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico, se destacando na média nacional. Instada em 1999 pela Lei 6.998, de maio de 1998, oriunda do trabalho do presidente Riva, a instituição atende aos estudantes de Porto dos Gaúchos, Novo Horizonte do Norte, Tabaporã e dos distritos Catuaí e Águas Claras.

A situação crítica do ensino em Mato Grosso foi debatido em Juara. Nessa audiência, a população de Juara compareceu em massa no Centro de Eventos Savoíne, que também discutiu o Projeto de Lei 137/2011, de autoria da deputada estadual Luciane Bezerra. Objetivo é instituir no processo seletivo da Unemat, o bônus adicional de 10% na nota final dos candidatos egressos do Ensino Público. Mecanismos para o fortalecimento também estiveram em pauta.

O prefeito de Juara, Alcir Paulino (PP) explicou a necessidade de viabilizar mais cursos para o município. “Cabe a todos nós unificar forças para fortalecer a Unemat. Precisamos também focar em ações para os ensinos Fundamental e Médio, para que no futuro não tenhamos que ficar criando bônus”.

Paulino lembrou que, em breve, a escola técnica oferecerá mil vagas para capacitação. E o MT Preparatório beneficiará alunos das escolas do Vale do Arinos. Também está em fase de conclusão o convênio com a faculdade particular Ages, de Juína. Expectativa é que sejam ofertados de seis a oito novos cursos.

“A nossa preocupação é com a distância e perigos que nossos filhos enfrentam para estudar longe de casa. Muitas vezes eles não voltam a morar no mesmo município”, disse a presidente da Câmara Municipal, vereadora Cida Félix.

A deputada Luciane Bezerra explicou que a lei vai resguardar o direito desses alunos futuramente. Um dos requisitos, conforme o projeto, é que os candidatos tenham obtidos nota média igual ou superior a 7 pontos, em todas as disciplinas constantes na grade curricular dos ensinos Fundamental e Médio.

A Unemat de Juara já formou sete turmas de Pedagogia, duas de Administração de Empresas, duas de Ciências Contábeis e uma de Letra. “A Unemat é uma luta antiga da população que ansiava por dar continuidade aos estudos dos filhos sem que eles tivessem que morar em outras cidades, porém a dificuldade financeira da instituição não permite a ampliação de mais cursos provocando a migração”, explicou a coordenadora do campus, Cleusa Regina Balan Taborda.

Com ampla sede, o campus de Juara é estruturado com são 12 salas de aulas; laboratórios de informática com 30 computadores; de linguagem e, em breve, será inaugurado o Pedagógico. Porém, depende do fortalecimento financeiro da instituição para voltar a oferecer os cursos que no passado fizeram a diferença na região. “Clamamos por união política pelo fortalecimento da nossa instituição”, disse a coordenadora, ao lembrar que o campus com mais opções de cursos está há 300 quilômetros em Sinop e, anualmente, aproximadamente 300 estudantes concluem o Ensino Médio em Juara.

MT- Professores lançam livro sobre o Pantanal


O livro “The Pantanal – Ecology, Biodiversity and Sustainable Management of Large Neotropical Seasonal Wetland”, será lançado nesta segunda(15). A obra é resultado dos esforços de 68 colaboradores.

Os responsáveis pela edição foram os professores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Wolfgang Junk e Cátia Nunes, a professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Carolina Joana da Silva, e Karl Wantzen, da University of Konstanz, atuando na pós-graduação da UFMT. A obra reúne conhecimentos adquiridos ao longo de mais de 20 anos de pesquisas, que se iniciaram em 1990 com o projeto Ecologia do Gran Pantanal.

Além do apoio da instituição, o projeto contou com a parceria de pesquisadores alemães por meio do Max Planck Instituto de Limnologia. A edição é apenas na língua inglesa. A intenção dos editores, afirmou a professora Cátia, é prestar satisfação à sociedade dos investimentos realizados que resultaram em uma obra de grande importância.

Dentre os conhecimentos adquiridos, a publicação “oferece recomendações para o manejo sustentável e projetos futuros no desenvolvimento da ciência e do Pantanal”. A programação começa às 9h, no Hotel Fazenda Mato Grosso, onde a obra será solenemente apresentada à reitora da Universidade e a integrantes da sociedade acadêmica.

Fonte: Da Assessoria da UFMT

Educação tradicional - 1

Elias Januário

Educação, cada povo, cada cultura tem a sua. Ela se constitui na base para a transmissão de conhecimentos e de valores nos diferentes grupos sociais presente em todo país, seja através de padrões formais ou informais.

Hoje vamos conhecer um pouco dos princípios que regulamentam a educação tradicional entre os Tapirapé, povo indígena falante da língua Apyãwa-Tapirapé, pertencente ao tronco linguístico Tupi, habitantes das Terras Indígenas Urubu Branco e Tapirapé-Karajá, nos municípios de Confresa, Porto Alegre do Norte e Santa Terezinha, no estado de Mato Grosso, com uma população estimada em aproximadamente oitocentos e noventa indígenas. O contato com a população não índia aconteceu em meados do século passado (1940).

Para comunidades indígenas, como os Tapirapé, a educação tradicional faz parte das práticas culturais desse povo, sendo valorizada e respeitada de maneira que possa continuar a existir. Esses processos educativos variam de um povo indígena para outro, onde cada etnia tem as suas especificidades.

No que se refere aos Tapirapé, a educação começa a ser exercida desde o período de gestação da mulher, estendendo-se por diferentes fases da vida, onde estão presentes os ensinamentos sobre a língua materna, crenças, alimentação, festas, histórias, mitos, pinturas corporais e identidade étnica.

São esses ensinamentos repassados ao longo da vida que fazem com que esse grupo mantenha sua identidade enquanto Tapirapé, sendo que as mulheres recebem desde muito pequena, por meio de atividades práticas, a sua formação.

Um dos primeiros ensinamentos é o respeito aos mais velhos, que começa dentro da própria casa, mantendo com isso a hierarquia dos saberes e o respeito ao conhecimento acumulado na vivência cotidiana dos mais idosos.

Por meio de diálogos e longas histórias, a nova geração recebe os conhecimentos em casa, pautados pelo respeito aos familiares e demais membros da comunidade, consolidando assim os princípios básicos da educação entre os Tapirapé.

Enquanto ainda bebê, a criança recebe cuidados especiais por parte de toda a família extensa, estando sempre em companhia da mãe. Em seguida, quando deixa de mamar no peito, a criança começa a acompanhar os irmãos e primos maiores, em atividades como pescaria, coleta de frutos, caçadas, até o momento em que se torna independente.

Quando acompanhado pelos adultos, aprendem as atividades cotidianas do povo nas roças, pescarias e rituais.

Na formação tradicional dos Tapirapé, quando a mulher ainda está grávida, os avós conversam com o ventre da mãe, fazendo recomendações para que a criança possa ter uma vida repleta de realizações. Após o parto, a mãe e o pai fazem um prolongado resguardo, para que a criança cresça saudável, tomando muito mingau de milho ou arroz.

Quando ainda criança, os banhos de plantas medicinais tradicionais também faz parte da educação. A alimentação adequada ao aprendizado bem como o domínio da confecção de artesanatos são itens indispensáveis no processo educacional.

Após ficar moça, em seguida a primeira menstruação, as meninas recebem um cuidado especial, com conselhos e restrições do que o podem comer e fazer por um longo período, ficando nesses casos reclusas, recebendo orientações das mulheres.

Assim procede toda a comunidade ao partilhar esses conhecimentos que fazem parte do processo de formação do indivíduo, onde os conhecimentos tradicionais fazem parte da educação dos povos indígenas de maneira geral.

Elias Januário é doutor em Educação, professor de Antropologia da Unemat e escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br

Professor, profissão achincalhada

Lenildo Santana

Os professores deveriam trabalhar menos e ganhar mais. Por isso, nos diversos artigos que já escrevi acerca da valorização dos professores, mencionei em vários deles que ser professor neste país é uma luta comparada com o episódio da batalha entre Davi e Golias (1 Samuel 17,1-58).

Acredito que os educadores que ainda sobrevivem a esta política educacional e salarial displicente resistem por vocação, por amor ao sacerdócio de ensinar. O salário é irrisório quando comparando a outras profissões. Caixas de banco, policiais, contadores... Diante desta disparidade no que tange à remuneração do professor não é de estranhar o motivo pelo qual os alunos dão preferência aos cursos tradicionais: direito, medicina, administração...

Infelizmente, ser professor neste país é pedir pra ser achincalhado tanto pelo governo como pela sociedade. Os educadores lutam para ter o controle de tudo, inclusive da autoestima. Eles recebem uma demanda de responsabilidades na sala de aula: fazem papel de pai, de psicólogo...

Eles exercem uma missão tão nobre: educam os jovens para a vida. São os profissionais que mais contribuem para a humanidade. São indispensáveis, porque ensinam os jovens a serem honestos, justos, éticos; previnem e conscientizam para não roubar, não corromper, não matar; instruem para não punir; educam para que eles não sentem no banco dos réus.

Mas são tão desvalorizados profissionalmente! O resultado dessa desvalorização educacional é o caos que a sociedade vive: relativismo da dignidade humana, perdas dos valores morais... O governo que não valoriza os professores fere e mata intelectualmente os jovens, retarda e asfixia o futuro da nação. Investir na educação é acreditar e esperar por uma sociedade, solidária e justa.

Além do desafio contínuo de manter o controle de tudo, inclusive da sala de aula. Os professores não têm limites claros com relação às horas necessárias para realizar seu trabalho. Eles levam grande parte desse trabalho para casa, o que torna difícil relaxar no final do dia ou de semana. Ficam expostos à crítica dos supervisores, dos pais, dos diretores, da mídia e dos políticos locais e nacionais.

Tem poucos recursos e oportunidades para realizar uma reciclagem regular e extensa. Pós-graduação: lato sensu/stricto sensu. Cobra-se que eles se mantenham atualizados com relação aos novos programas e progressos em suas disciplinas.

Na maioria das vezes têm pouca influência na organização escolar e na tomada de decisões. São afetados emocionalmente pelos sucessos e fracassos de seus alunos. E, talvez, acima de tudo, eles tenham seu próprio senso de padrões profissionais e sofram de frustrações provenientes do fato de não conseguirem atingir esses padrões.

Alem de tantas coisas que os professores aprenderam, penso que algo essencial deve ser a capacidade de rir, especialmente de si mesmo. A pessoa que consegue rir de si mesma sem embaraço ou autorrejeição demonstra que se conhece e se valoriza. Deus abençoe nossos educadores...

Lenildo Santana é padre da Diocese de Juína. Licenciado em Filosofia; bacharel em Teologia e pós-graduado em Comunicação Social PUC/SP. E-mail: lenildosantana@yahoo.com.br

Palavras sujas

Recentemente ministrei workshops em Londres, Madrid, San Jose, Quebec e Berlim para ensinar administradores sêniors como vender redes sociais e aprendizagem informal. Os principais executivos das empresas têm pouco tempo disponível, por isso é importante ter pronta uma estratégia a ser aplicada em um minuto na frente do elevador ou em encontros casuais com esses grandes chefes. Essas oficinas culminam sempre com um jogo, entre os participantes, de interpretação de personagens (RPG).

Todos nós sabemos que não se devem usar jargões de treinamento quando se trata de executivos. Muitos Chief Learning Officer (CLOs) não percebem, porém, que eles devem remover algumas palavras de seu vocabulário porque provocam pensamentos negativos entre os tomadores de decisão.
O comediante George Carlin tinha uma esquete sobre as sete palavras que não eram permitidas na televisão. Mas suas palavras eram palavrões, as minhas são apenas ruins para os negócios. Vamos lá:

Aprendizagem é uma palavra ruim porque os executivos têm dificuldade em ouvi-la. Você pensa em melhorar as habilidades e ampliar o conhecimento. Eles pensam em aulas, professores e escola. Eles se recordam de como eram ineficientes na escola quando tinham trabalhos para entregar. Você esquece a maioria das lições antes de ter a chance de usá-las. A aprendizagem contamina a conversa. Melhor falar de colaboração ou em aumentar o poder do cérebro. Mudei o nome do meu novo livro de Learning in the Cloud “Aprendizagem em Nuvem” para Working Smarter “Trabalhando mais inteligentemente”.

Aluno é proibido porque ninguém gosta, mas a comunidade de treinamento ainda utiliza o termo. Executivos são primeiro profissionais, depois discípulos. Falar em aprendizes evoca os velhos e maus tempos em que se levavam os trabalhadores para aprender fora do trabalho. Cada vez mais, o aprendizado ocorre durante o trabalho. Na verdade, eu acredito que o trabalho e a aprendizagem vão se tornar convergentes em um ritmo alucinante.

Entre os entusiastas da web, a aprendizagem social é algo mais quente que a descoberta da eletricidade. No entanto, Andy McAfee, do MIT, alerta que alguns executivos que ouvem flashes sociais como cenas de Woodstock e outros, como atividades não profissionais.

Da mesma forma, executivos ouvem a palavra informal e tendem a entendê-la como algo casual. A maior parte do trabalho de aprendizagem é informal, e existem enormes oportunidades de melhorá-la. Redes de colaboração, selecionadores de expertise, redução do medo de fracasso, design gráfico, arquitetura do espaço de trabalho, e muitas outras técnicas aumentam a produtividade de aprendizagem informal. Melhor chamá-la de colaboração se você quiser vendê-la.

A Gestão do Conhecimento pode ser formada por duas palavras, mas tem um conceito único. Esse conceito está comprometido. O conhecimento é por natureza pouco manejável. Tradicionalmente, a Gestão do Conhecimento, feita de cima para baixo, tem falhado repetidas vezes. Ela é baseada na suposição de que uma elite pode descobrir o que os trabalhadores precisam saber, empacotar os dados explícitos, e servi-los em um banco de dados.

A maioria dos trabalhadores persegue o conhecimento tácito e o procuram fora dos sistemas de base de dados. O bom investidor está apostando em bases de conhecimento de baixo para cima, compiladas e mantidas pelas próprias pessoas que as utilizam.

Falando nisso, eu também luto para que não se gerencie talentos e para que o LMS - Learning Management System (Sistema de Gestão de Aprendizagem) não possa controlar o aprendizado.

Você provavelmente já parou de usar a palavra treinamento, mas só para prevenir, vamos rever porque é um termo inadequado.

Treinamento é algo que você faz para alguém. Aprendizagem é uma coisa que as pessoas fazem por si mesmas. Você espera que as pessoas aprendam com o treinamento, que é o objetivo. Mas o treinamento pode apagar os meios alternativos de aprendizagem.

Apesar da evidência crescente de que o eLearning pode produzir resultados superiores aos da sala de aula, falhas iniciais mancharam sua reputação. Até 1999, o eLearning era, na maioria das vezes, mortalmente aborrecido e sem inspiração. Pessoas se afastavam em massa. Completar um curso de eLearning era a exceção e não a regra. Evitar o eLearning por causa de uma má experiência inicial é como ir ver um filme e dizer que você nunca mais irá assistir outro, porque cinemas são chatos.

É melhor analisar a relação custo-benefício ou encontrar metas específicas do que discutir ROI - Return On Investment (Retorno do Investimento). Muitos executivos usam a definição de contabilidade somente para os retornos: alterações de ativos e passivos no balanço. Os critérios usados na contabilidade estão cada vez mais errados. A maior parte dos bens gerados pelas empresas é intangível.

É capital social, know-how, patentes e relacionamentos. E o tradicional ROI não consegue medir o retorno mais valioso.

Pessoas que brincam sobre a Web 3.0 traem sua falta de compreensão do que está acontecendo. Para eles 3.0 seria a progressão linear de 1, 2, 3, 4 ... que caracteriza as versões de software.

O "2.0" da Web 2.0, descrita por Tim O'Reilly, não era o número da versão. Pelo contrário, a referência sinalizou que a web não morreu no estouro da bolha pontocom. A bolha derrubou muitos investidores excessivamente entusiastas, mas a Internet continuou a melhorar.

Agora estamos entrando em uma era na qual os benefícios da web vão crescer exponencialmente. Tim chama isto de web2.

Jay Cross
linksbgc@linkportal.com.br
CEO do Internet Time Group, é designer de aprendizagem corporativa, criador do termo elearning em 1998.

Educação e analfabetismo

LICÍNIO CARPINELLI STEFANI

Para ser uma grande nação e nela ter grandes e eficientes unidades federativas é indispensável que o fator móvel e propulsor do seu progresso, a educação, tenha atenção e investimentos indispensáveis a possibilitar seu deslanche. Numa retrospectiva nacional, teríamos um quadro digno de grandes surpresas.

O Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) nos traz a seguinte radiografia levando em consideração o período abrangendo os anos de 2004 a 2009. O número de analfabetos de 15 e mais anos teria caído a nível nacional em 7%. Cinco estados teriam aumentado o contingente de analfabetos, situando-se infelizmente entre eles Mato Grosso.

O analfabetismo seria maior entre as pessoas de mais de 25 anos e a sua redução no Brasil seria superior a mais de um milhão de pessoas. A região Centro-Oeste contemplou a menor queda na redução do analfabetismo, situando-se na faixa de 1,6% contra 16,6% no Nordeste e 17,% no Norte.

Esse índice alarmante merece uma reflexão e uma resposta adequada dos nossos dirigentes estaduais do setor educacional. A média nacional de queda é de 7,3%. Entre os idosos, o maior número de analfabetos se situa na faixa etária superior a 65 anos, havendo uma redução do índice de 34,4% para 30,8%. Teria havido um aumento de analfabetos na ordem de 490 mil.

Enfim, há uma espiral que aumenta e concomitantemente diminui por força da política da alfabetização. O que não se consegue é equilibrar o positivo e negativo, saindo vitoriosa a taxa de analfabetismo apesar dos esforços governamentais.

A Pesquisa Nacional por Amostragem por Domicilio (Pnad) também traz uma radiografia interessante. A taxa de alfabetização de 2007 para 2008 não se alterou na faixa etária de 6 a 14 anos, mantendo-se em 96,3% - de 15 a 17 anos a progressão educacional foi de 0,9%, totalizando 85% das pessoas que sabem ler. No Brasil, segundo estimativas, 14,2 milhões de pessoas sequer sabem ler ou escrever um bilhete.

A média de escolarização de Mato Grosso é excelente, alcançando a faixa de 34%, superior à brasileira, que é de 30% na faixa de 18 a 24 anos. Também a escolarização de pessoas com mais de 25 anos foi a melhor do país.

Os esforços dos governantes se fizeram presentes e estão expressos na Carta Magna e nas estaduais, onde se consignou ser a educação direito de todos e dever do Estado e da família. Para tanto, as leis de diretrizes e bases consignam valor determinado vinculado a educação, porcentagem de recursos prefixada nas leis orçamentárias estaduais, mas, dada a imensidão territorial do país, suas diversidades e peculiaridades regionais, e especialmente a má distribuição de renda, a proposta de levar educação e de qualidade a todos torna se árdua.

O Pantanal de Mato Grosso e a Amazônia são exemplos notáveis dessa diversidade, dificultando sobremaneira o acesso ao ensino. Via de regra, falando da grande mola mestra que é o ensino básico, falta infraestrutura, com estabelecimentos inadequados, mal localizados e estruturados, faltando cadeiras escolares, cartilhas, livros, objetos escolares como lápis, régua, compassos, cadernos, bancos, alimentação como a sopa escolar, aparelhamentos, informatização, segurança e professores, sobretudo especializados.

Falta a adoção de um piso salarial móvel reajustando-se na proporcionalidade da inflação. Sem dúvida, os baixos salários ofertados constituem uma das causas fundamentais da carência de profissionais do ensino no Brasil, não sendo o professor, apesar de sua dedicação e importantíssima função, valorizado como deveria ser.

Certa ocasião, observei em Juara, num exclusivo galpão, diversos grupos de alunos de faixas etárias distintas, recebendo lições escolares, sem haver divisão no estabelecimento, por falta de outro em condições ideais. Fiquei admirado da dedicação das professoras e do entusiasmo dos alunos, apesar das condições adversas.

Penso que, apesar dos revezes e das nossas deficiências, estamos no caminho certo e adotando programas e investimentos razoáveis. Nosso presente e futuro é promissor e ninguém, por menos inspirado que seja, segura nosso país, berço esplêndido dado por Deus e nessa adoção de medidas alcançaremos frutos numa trajetória mais célere e produtiva.

LICÍNIO CARPINELLI STEFANI é desembargador aposentado e advogado.
liciniocarpinelli@cfadvocacia.com.br

Parabéns, professor!

HUENDEL ROLIM WENDER

Atualmente, discute-se a má qualidade do ensino jurídico em nosso país com muita eloqüência.

A Ordem dos Advogados do Brasil, recentemente, cobrou de forma rígida uma posição do MEC acerca do assunto, questionando o número excessivo de faculdades de direito sem a devida qualificação, o que é sempre louvável.

Porém, e, infelizmente, os críticos fervorosos, e como sempre acontece, acabam por desvirtuar a discussão do tema, pois, ao invés de discutir a essência do problema, como quer a OAB, preferem propalar inverdades para a sociedade.

A maior das inverdades reside justamente na tentativa de desqualificar os professores de direito, com o velho argumento de que o "ensino vai mal, pois os professores não estão preparados". E isso, não passa de afirmação de quem desconhece a realidade do ensino jurídico, bem como do preparo dos educadores jurídicos.

Os professores são sim preparados e sofrem diariamente com a falta de estrutura, baixos salários, carga horária reduzida, acúmulo de funções etc, mas nem por isso deixam de se dedicar a ensinar com presteza os operadores do direito.

Trata-se de ideologia. Uma dedicação que muito além dos valores materiais, mas sim um ideal.

E, a falta de estrutura, lato sensu, narrada, é um dos motes do questionamento da OAB, já que a Instituição não questiona o ensino jurídico de per si, questiona também essa falta de estrutura que é oferecida ao professor e ao aluno, seja porque a instituição de ensino não possui uma biblioteca atualizada, seja porque as salas de aula estão sucateadas, seja porque os alunos não se dispõem, como deveriam, ao seu mister etc.

Demais disso, o professor de direito leciona por amor, leciona para ensinar o quão belo é nosso ordenamento jurídico e, como o mesmo deve ser aplicado no meio social.

Mas não é só, pois, ao falar de ensino jurídico, muitos desses críticos esquecem que o ensino básico do nosso país é precário, caótico, o que prejudica a qualidade de todos os cursos de ensino superior, pois, o aluno chega à faculdade sem a base necessária para deslanchar nos estudos.

Assim, culpar os educadores pelo baixo índice de aprovação no Exame de Ordem é um absurdo, é desumano e ofensivo a honra de todos os professores que labutam diariamente para tentar melhorar nossa sociedade com seus ensinamentos. Aliás, é, certamente, digno daqueles que desconhecem a realidade atual, seja estrutural ou social, da sociedade em que vivemos, e valem-se de subterfúgios e medidas pequenas para desqualificar aqueles que somente buscam construir.

Por isso é que digo: parabpens, professor! Parabéns por enfrentar todas as dificuldades existentes em nosso país e persistir na tentativa, por vários motivos árduos, de transmitir ensinamento aos seus alunos da melhor forma possível, mesmo que para isso seja necessário suportar e carregar enfrentamentos que talvez não lhe caibam.

A OAB busca melhorar a qualificação das instituições de ensino jurídico do país, e, para que isso ocorra, será necessário, antes de tudo, uma modificação estrutural em muitas instituições de ensino, inicialmente.

A OAB agradece aos professores pelo empenho e dedicação, e luta, sistematicamente pela melhora das estruturas de ensino jurídico, bem como das condições de trabalho para o educador, pois, com isso, o ensino como um todo irá progredir.

Dessarte, jogar a culpa do baixo índice de aprovação nos professores é fácil, difícil é reconhecer que os mesmos "matam um leão por dia" para manter viva a esperança de que os governantes irão, um dia, talvez, "olhar" para educação e dar-lhe o seu devido valor.

HUENDEL ROLIM WENDER é advogado, professor de Direito Penal e Processual Penal, especialista em Direito Penal e Processual Penal, doutorando em Direito pela UMSA, Vice Presidente da Comissão de Direito Penal e Processual Penal da OAB/MT, membro do Conselho Curador da ESA -Escola Superior de Advocacia da OAB/MT, Presidente da Comissão do Advogado Professor da OAB/MT.

Entrevista- Criança não é miniatura de adulto

Kelly Roncato

Quem trabalha em escola sabe que as crianças de hoje são precoces em tudo: no desenvolvimento de múltiplos conhecimentos, na fala, na escrita, no uso do computador, na facilidade para lidar com a tecnologia. Se fosse só isso, tudo estaria muito bem. Mas essa geração vem acompanhando os adultos em muito mais do que isso.

Existem crenças que pregam ser a criança uma miniatura de adulto. Daí o surgimento de conceitos distorcidos, como o de que tudo o que serve para os pais serve, em menor grau, para os filhos. As roupas da moda, os sapatos de salto, os óculos escuros, as dietas alimentares, os dias cheios de compromissos estafantes, os remédios antidepressivos, os psicólogos e uma cobrança absurda em termos de ganhos. “O meu filho é o melhor da turma em tudo: vnos esportes, em matemática, português, inglês, computação... estou investindo horrores no futuro dele”.

Um comentário assim e lá se vai a tranqüilidade da criança. As famílias atuais, com medo de deixar seus filhos despreparados para o mundo, já não os poupam de mais nada. A mudança de escola deve ser compreendida, pois o custo de vida caiu; o nascimento do irmão deve ser encarado naturalmente, porque a mamãe já está tão atarantada com o novo bebê e os outros afazeres da vida, que cabe ao mais velho colaborar e achar lindo. A morte de um parente próximo deve ser vista como algo que faz parte da vida; se a criança puder fazer poucas perguntas e deglutir sem maiores dificuldades, tanto melhor. Caso demore a sarar, basta dar-lhe alguns comprimidos por determinado tempo que logo ele “esquece”, não é?

Não, não é. Prova disso foi um estudo divulgado pela Escola de Farmácia da Universidade de Londres, segundo a qual é crescente o número de remédios contra a depressão utilizados pelas crianças. A psicóloga Ana Cássia Maturano, especializada em Problemas de Aprendizagem, explica quais os problemas decorrentes do tratamento de conseqüências e não de causas dos problemas emocionais nas crianças.

Profissão Mestre – Quais são os sintomas que diferenciam a hiperatividade, o déficit de atenção e os problemas de ordem emocional nas crianças?
Ana Cássia Maturano – A diferenciação é mais difícil de se fazer pelos sintomas, já que alguns são muito parecidos. O correto é fazer um psicodiagnóstico, que propicia uma visão psicodinâmica da criança. Os sintomas apenas nos comunicam de que algo não vai bem. São sinalizadores que podem nos indicar um caminho. Em geral, a hiperatividade é um quadro associado ao de déficit de atenção. São crianças que não conseguem parar para fazer nada, nem o que lhes dá prazer. Com um detalhe: elas sempre foram assim.

No caso de um problema de ordem emocional, a criança tem dificuldade de se concentrar em determinadas atividades. Em situações mais graves, não consegue se envolver em nenhuma atividade. São aquelas que não demonstram interesse pelas coisas. Não necessariamente são agitadas e nem sempre foram distraídas.

Um dado importante é que a criança hiperativa poderá desenvolver algum problema emocional pela própria dificuldade em se concentrar e aprender. Um problema acaba intensificando o outro.

Um bom instrumento para ajudar a definir um diagnóstico é uma análise da história de vida da criança, considerando-se principalmente o surgimento do problema: época, acontecimentos diferentes ocorridos com o aparecimento dos sintomas, acontecimentos que parecem tê-los agravados, situações em que ficam mais evidentes e toda e qualquer informação sobre o seu desenvolvimento. Em síntese, a realização de uma boa anamnese.

PM – Quais são os principais sinais apresentados pelas crianças que estão sofrendo com problemas emocionais?
ACM – Isso varia de pessoa para pessoa. Mais do que um comportamento muito estranho ou específico, que também pode existir, o mais importante é notar a sua intensidade, para mais ou para menos. Já tive casos de crianças que se masturbavam freqüentemente em sala de aula. Não era um comportamento esporádico, mas algo muito persistente.

Existe também o exemplo daquela criança que parece estar em outro planeta. Mas não uma vez ou outra. Quase sempre. Outro clássico são os casos de agressividade ou passividade exacerbada. Resumindo, é preciso muita atenção a tudo que parece fugir do mais ou menos aceitável. Às vezes, ocorre a confusão de se achar que a criança agressiva é a que tem problema. Nem sempre. Um certo grau de agressividade é normal em qualquer pessoa. Por outro lado, a criança passiva, e que não incomoda, é considerada boazinha. Muitas vezes é a que tem problemas de ordem emocional e, portanto, a que mais precisa de ajuda.

Nossa orientação aos profissionais que cuidam de crianças é a seguinte: tenha sempre em mente que cada criança, como cada ser humano, funciona de um modo muito próprio. Portanto, mais que a qualidade de um comportamento, o que nos dá a dica é sua intensidade.

PM – De que maneira problemas emocionais podem ser constatados durante as aulas?
ACM – Os professores devem observar se o aluno vem apresentando algum comportamento que foge ao esperado. Porém, não se deve supor que a simples ocorrência desse fato seja suficiente para se diagnosticar um problema emocional. Nesses casos, é fundamental buscar o auxílio de um profissional especializado.

PM – Como o professor pode proceder quando percebe a presença de um aluno com problemas emocionais na sala de aula?

ACM – Quando o professor perceber algo que chame sua atenção, o primeiro passo é ficar mais atento ao aluno. Pode ser algo passageiro ou apenas um momento. No caso de o que lhe chamou a atenção persistir, o melhor é chamar os pais para saber como andam as coisas com a criança. Sempre com o cuidado de não fazer diagnósticos ou dizer que o filho deles tem problemas. O professor ou o profissional da escola deve, de forma simples e calma, informar o que observou. Pode ser apenas um mau momento que a criança está passando, como a doença de alguém. Do contrário, o melhor é orientar que os pais procurem uma ajuda especializada.

PM – Que tipo de cuidados os professores e a escola devem tomar em relação a um aluno com problemas emocionais?
ACM – O maior cuidado é não fazer qualquer julgamento moral desta criança ou de sua família, não permitindo que outros também o façam. Além disso, uma criança com problemas emocionais pode não render tanto quanto poderia. É importante que o professor possa perceber o que a criança pode lhe dar. Com isso, tornará o ambiente mais seguro para ela, tornando-lhe as coisas mais fáceis.

Outra dica é evitar chamar a atenção para esta criança. O professor deve cuidar para que sua vida pessoal não seja exposta.

PM – Que profissional da escola é o mais indicado para orientar a família da criança em uma situação dessa?
ACM – O psicólogo ou psicopedagogo responsável pela instituição.

PM – De que maneira ele deve proceder para que essa orientação apresente bons resultados?
ACM – Um ponto fundamental é manter contato freqüente com a família, num ambiente de parceria e colaboração. No caso da criança que tem um acompanhamento com um profissional fora da escola, essa parceria também deve acontecer.

PM – Quais os problemas mais comuns em crianças?
ACM – Penso que o problema mais comum das crianças é o medo: medo de serem abandonadas, de não serem amadas, de não terem a aprovação dos pais. Isso pode ser notado em vários comportamentos: o de roubar, mentir, deprimir-se, o ciúme que tem dos irmãos (claro que certa dose é normal) etc.

As escolas podem contribuir de maneira positiva para o desenvolvimento saudável de seus alunos. Além de realizarem cursos para pais, com o intuito de orientá-los em questões do dia-a-dia com seus filhos, devem fornecer orientação aos próprios educadores, de modo a qualificá-los a trabalhar os conflitos, à medida em que vão surgindo. Um exemplo é a morte de alguém que é conhecido de um grupo de alunos. O assunto pode vir à tona e até deixar algumas crianças incomodadas. O professor, quando bem orientado, pode trabalhar isso de uma forma bastante adequada.

PM – Existe uma idade na qual os alunos estejam mais sensíveis a problemas emocionais?
ACM – Não, não há uma idade. No entanto, a entrada na escola merece uma atenção especial. Afinal, eles estão deixando o ambiente protegido de suas casas para irem para outro em que terão que dividir o espaço com outras crianças e onde não haverá tanta proteção.

A adolescência, por ser naturalmente um período de muitos conflitos, também é uma época que merece bastante atenção.

PM – Se ocorrer de algum estudante apresentar problemas de comportamento na escola em decorrência da falta de medicamento, como o professor deve proceder?
ACM – Caso esta orientação tenha vindo de um profissional competente, a escola deve cobrar dos pais que o estudante não deixe de usá-lo.

PM – Existe uma matéria específica na qual o rendimento apresente queda no caso de o aluno estar enfrentando algum momento difícil?
ACM – Não. A queda de rendimento numa matéria específica poderá ser entendida numa análise.

PM – Por que é mais fácil detectar esse tipo de problema na escola?
ACM – Como família e pessoas que fazem parte do dia-a-dia da criança e, provavelmente, da sua dinâmica, estamos mais envolvidos emocionalmente com nossos filhos e isso nos impede, muitas vezes, de vermos o óbvio. Ou seja, de certo modo fazemos parte do problema.

Na escola existe uma neutralidade maior das pessoas em relação às crianças. Essa neutralidade facilita a observação de que algo não vai bem.

PM – De que forma o uso de remédios pode influenciar o rendimento escolar das crianças?
ACM – No caso de uma criança com o quadro de hiperatividade e déficit de atenção, pode acalmá-la de modo que ela possa investir sua energia no aprender. No entanto, o uso de remédios tem de ser muito bem pensado. Há alguns que são muito fortes e deixam as crianças apáticas, impedindo que elas se envolvam em qualquer atividade.

PM – Existe alguma maneira de tratar a causa, ao invés da conseqüência? Qual?
ACM – No caso de problemas emocionais, um trabalho mais preventivo poderia ocorrer com uma atividade de orientação de pais oferecida pela própria escola. As próprias condições sociais em que vivemos, ou seja, a falta de segurança de emprego, integridade, etc, podem ter uma influência grande nas famílias e aí interferir na saúde mental delas.

PM – O efeito de medicamentos não poderia ser trocado apenas por psicologia ou uma maior atenção dispensada aos pequenos por parte dos pais e professores?
ACM – Cada caso é um caso. O uso de medicamento deve ser utilizado como último recurso. Mesmo a utilização deles não dispensa um trabalho psicológico, que deve envolver as pessoas que cuidam deles.

PM – Partindo do princípio de que um dos problemas mais comuns enfrentados pelas crianças é a separação dos pais, de que forma a família poderia “trabalhar” com essa criança para que ela não venha a apresentar problemas mais sérios?
ACM – Algo interessante seria uma assistência psicológica às famílias cujos pais estejam em processo de separação. Este é um momento em que muitas mágoas vêm à tona, sendo difícil manter um certo equilíbrio emocional. O que os pais devem fazer é deixar claro para as crianças que eles é que estão se separando - e não os pais dos filhos. Também é importante esclarecer para os filhos que eles não são os culpados pela separação. Além disso, os ex-cônjuges devem manter um relacionamento amistoso e não impedir que aquele que sair de casa participe ativamente da vida da criança. A Lei também precisa ser revista, no item que regula a participação daquele que sai de casa a umas poucas visitas por semana. Para que tenha um mínimo de qualidade de vida, uma criança precisa conviver harmoniosamente com ambos os pais.

PM – Em todas as partes existem “vampiros emocionais”, aqueles seres que sugam a energia das pessoas com quem convivem. De que maneira é possível manter-se próximo dessas pessoas sem deixar-se influenciar pela energia delas?
ACM – Não por acaso uns são mais vítimas dessas pessoas que outros. Penso que de certo modo uma pessoa que se sente sugada pela outra, e se isso realmente acontece e não é apenas uma leitura dela, é porque deixou. Sem, provavelmente, ter consciência disso. Quando se sente sugada por alguém, a pessoa deve dizer não e colocar um basta, afinal também é responsável pela situação. Caso se veja impossibilitada de tomar uma atitude, o melhor a fazer é procurar uma análise. Uma compreensão de seu próprio funcionamento pode ajudá-la a se sair melhor de situações como essa.

PM – Existe uma maneira de detectar a presença dessas pessoas? Qual?
ACM – Não sei se existem pessoas com características tão específicas e facilmente detectáveis. Acredito serem duplas que se formam e que, pelas suas características, um de certa forma complementa o outro: um só suga porque o outro se deixa sugar.