domingo, 14 de agosto de 2011

Palavras sujas

Recentemente ministrei workshops em Londres, Madrid, San Jose, Quebec e Berlim para ensinar administradores sêniors como vender redes sociais e aprendizagem informal. Os principais executivos das empresas têm pouco tempo disponível, por isso é importante ter pronta uma estratégia a ser aplicada em um minuto na frente do elevador ou em encontros casuais com esses grandes chefes. Essas oficinas culminam sempre com um jogo, entre os participantes, de interpretação de personagens (RPG).

Todos nós sabemos que não se devem usar jargões de treinamento quando se trata de executivos. Muitos Chief Learning Officer (CLOs) não percebem, porém, que eles devem remover algumas palavras de seu vocabulário porque provocam pensamentos negativos entre os tomadores de decisão.
O comediante George Carlin tinha uma esquete sobre as sete palavras que não eram permitidas na televisão. Mas suas palavras eram palavrões, as minhas são apenas ruins para os negócios. Vamos lá:

Aprendizagem é uma palavra ruim porque os executivos têm dificuldade em ouvi-la. Você pensa em melhorar as habilidades e ampliar o conhecimento. Eles pensam em aulas, professores e escola. Eles se recordam de como eram ineficientes na escola quando tinham trabalhos para entregar. Você esquece a maioria das lições antes de ter a chance de usá-las. A aprendizagem contamina a conversa. Melhor falar de colaboração ou em aumentar o poder do cérebro. Mudei o nome do meu novo livro de Learning in the Cloud “Aprendizagem em Nuvem” para Working Smarter “Trabalhando mais inteligentemente”.

Aluno é proibido porque ninguém gosta, mas a comunidade de treinamento ainda utiliza o termo. Executivos são primeiro profissionais, depois discípulos. Falar em aprendizes evoca os velhos e maus tempos em que se levavam os trabalhadores para aprender fora do trabalho. Cada vez mais, o aprendizado ocorre durante o trabalho. Na verdade, eu acredito que o trabalho e a aprendizagem vão se tornar convergentes em um ritmo alucinante.

Entre os entusiastas da web, a aprendizagem social é algo mais quente que a descoberta da eletricidade. No entanto, Andy McAfee, do MIT, alerta que alguns executivos que ouvem flashes sociais como cenas de Woodstock e outros, como atividades não profissionais.

Da mesma forma, executivos ouvem a palavra informal e tendem a entendê-la como algo casual. A maior parte do trabalho de aprendizagem é informal, e existem enormes oportunidades de melhorá-la. Redes de colaboração, selecionadores de expertise, redução do medo de fracasso, design gráfico, arquitetura do espaço de trabalho, e muitas outras técnicas aumentam a produtividade de aprendizagem informal. Melhor chamá-la de colaboração se você quiser vendê-la.

A Gestão do Conhecimento pode ser formada por duas palavras, mas tem um conceito único. Esse conceito está comprometido. O conhecimento é por natureza pouco manejável. Tradicionalmente, a Gestão do Conhecimento, feita de cima para baixo, tem falhado repetidas vezes. Ela é baseada na suposição de que uma elite pode descobrir o que os trabalhadores precisam saber, empacotar os dados explícitos, e servi-los em um banco de dados.

A maioria dos trabalhadores persegue o conhecimento tácito e o procuram fora dos sistemas de base de dados. O bom investidor está apostando em bases de conhecimento de baixo para cima, compiladas e mantidas pelas próprias pessoas que as utilizam.

Falando nisso, eu também luto para que não se gerencie talentos e para que o LMS - Learning Management System (Sistema de Gestão de Aprendizagem) não possa controlar o aprendizado.

Você provavelmente já parou de usar a palavra treinamento, mas só para prevenir, vamos rever porque é um termo inadequado.

Treinamento é algo que você faz para alguém. Aprendizagem é uma coisa que as pessoas fazem por si mesmas. Você espera que as pessoas aprendam com o treinamento, que é o objetivo. Mas o treinamento pode apagar os meios alternativos de aprendizagem.

Apesar da evidência crescente de que o eLearning pode produzir resultados superiores aos da sala de aula, falhas iniciais mancharam sua reputação. Até 1999, o eLearning era, na maioria das vezes, mortalmente aborrecido e sem inspiração. Pessoas se afastavam em massa. Completar um curso de eLearning era a exceção e não a regra. Evitar o eLearning por causa de uma má experiência inicial é como ir ver um filme e dizer que você nunca mais irá assistir outro, porque cinemas são chatos.

É melhor analisar a relação custo-benefício ou encontrar metas específicas do que discutir ROI - Return On Investment (Retorno do Investimento). Muitos executivos usam a definição de contabilidade somente para os retornos: alterações de ativos e passivos no balanço. Os critérios usados na contabilidade estão cada vez mais errados. A maior parte dos bens gerados pelas empresas é intangível.

É capital social, know-how, patentes e relacionamentos. E o tradicional ROI não consegue medir o retorno mais valioso.

Pessoas que brincam sobre a Web 3.0 traem sua falta de compreensão do que está acontecendo. Para eles 3.0 seria a progressão linear de 1, 2, 3, 4 ... que caracteriza as versões de software.

O "2.0" da Web 2.0, descrita por Tim O'Reilly, não era o número da versão. Pelo contrário, a referência sinalizou que a web não morreu no estouro da bolha pontocom. A bolha derrubou muitos investidores excessivamente entusiastas, mas a Internet continuou a melhorar.

Agora estamos entrando em uma era na qual os benefícios da web vão crescer exponencialmente. Tim chama isto de web2.

Jay Cross
linksbgc@linkportal.com.br
CEO do Internet Time Group, é designer de aprendizagem corporativa, criador do termo elearning em 1998.

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