Elias Januário
Educação, cada povo, cada cultura tem a sua. Ela se constitui na base para a transmissão de conhecimentos e de valores nos diferentes grupos sociais presente em todo país, seja através de padrões formais ou informais.
Hoje vamos conhecer um pouco dos princípios que regulamentam a educação tradicional entre os Tapirapé, povo indígena falante da língua Apyãwa-Tapirapé, pertencente ao tronco linguístico Tupi, habitantes das Terras Indígenas Urubu Branco e Tapirapé-Karajá, nos municípios de Confresa, Porto Alegre do Norte e Santa Terezinha, no estado de Mato Grosso, com uma população estimada em aproximadamente oitocentos e noventa indígenas. O contato com a população não índia aconteceu em meados do século passado (1940).
Para comunidades indígenas, como os Tapirapé, a educação tradicional faz parte das práticas culturais desse povo, sendo valorizada e respeitada de maneira que possa continuar a existir. Esses processos educativos variam de um povo indígena para outro, onde cada etnia tem as suas especificidades.
No que se refere aos Tapirapé, a educação começa a ser exercida desde o período de gestação da mulher, estendendo-se por diferentes fases da vida, onde estão presentes os ensinamentos sobre a língua materna, crenças, alimentação, festas, histórias, mitos, pinturas corporais e identidade étnica.
São esses ensinamentos repassados ao longo da vida que fazem com que esse grupo mantenha sua identidade enquanto Tapirapé, sendo que as mulheres recebem desde muito pequena, por meio de atividades práticas, a sua formação.
Um dos primeiros ensinamentos é o respeito aos mais velhos, que começa dentro da própria casa, mantendo com isso a hierarquia dos saberes e o respeito ao conhecimento acumulado na vivência cotidiana dos mais idosos.
Por meio de diálogos e longas histórias, a nova geração recebe os conhecimentos em casa, pautados pelo respeito aos familiares e demais membros da comunidade, consolidando assim os princípios básicos da educação entre os Tapirapé.
Enquanto ainda bebê, a criança recebe cuidados especiais por parte de toda a família extensa, estando sempre em companhia da mãe. Em seguida, quando deixa de mamar no peito, a criança começa a acompanhar os irmãos e primos maiores, em atividades como pescaria, coleta de frutos, caçadas, até o momento em que se torna independente.
Quando acompanhado pelos adultos, aprendem as atividades cotidianas do povo nas roças, pescarias e rituais.
Na formação tradicional dos Tapirapé, quando a mulher ainda está grávida, os avós conversam com o ventre da mãe, fazendo recomendações para que a criança possa ter uma vida repleta de realizações. Após o parto, a mãe e o pai fazem um prolongado resguardo, para que a criança cresça saudável, tomando muito mingau de milho ou arroz.
Quando ainda criança, os banhos de plantas medicinais tradicionais também faz parte da educação. A alimentação adequada ao aprendizado bem como o domínio da confecção de artesanatos são itens indispensáveis no processo educacional.
Após ficar moça, em seguida a primeira menstruação, as meninas recebem um cuidado especial, com conselhos e restrições do que o podem comer e fazer por um longo período, ficando nesses casos reclusas, recebendo orientações das mulheres.
Assim procede toda a comunidade ao partilhar esses conhecimentos que fazem parte do processo de formação do indivíduo, onde os conhecimentos tradicionais fazem parte da educação dos povos indígenas de maneira geral.
Elias Januário é doutor em Educação, professor de Antropologia da Unemat e escreve às sextas-feiras em A Gazeta. E-mail: eliasjanuario@terra.com.br
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário