segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Advocacia e Justiça Social

No Dia do Advogado, reafirmamos a aliança de valores com a sociedade

"São os homens e não as leis que precisam mudar.

Quando os homens forem bons, melhores serão as leis.

Quando os homens forem sábios, as leis por desnecessárias,

deixarão de existir.

Mas isto, será possível somente, quando as leis estiverem escritas e atuantes no coração de cada um de nós."

Hermogenes, filósofo grego

Nesta segunda-feira (11), se comemora o Dia do Advogado. A data foi reservada para lembrar o ano de 1827, quando foram criados os dois primeiros cursos de Direito no Brasil – um em São Paulo, outro em Pernambuco, na cidade de Olinda.

Poucos anos a instalação desses faculdades, teve início o movimento para criar o embrião do que hoje é a Ordem dos Advogados do Brasil, com a criação em 1843 do Instituto dos Advogados Brasileiros. Mas, somente na Revolução de 1930, é que foi criada a OAB, no dia 18 de novembro daquele ano.

Como se nota, desde então a advocacia no Brasil é feita de grandes lutas. Algumas seguem por anos e anos. Há lutas seculares. Muitas das conquistas têm sabores especiais, ganham notoriedade e nos fazem encher de orgulho enquanto participantes ativos desses processos.

Em que pese, muitas vezes, é verdade, o enorme sacrifício desprendido para alcançar as grandes metas. As perdas ocorridas durante o período da ditadura militar são algumas.

Didaticamente, afirma-se que o Direito é a ciência das normas que regulam as relações entre os indivíduos na sociedade. Porém, com o passar do tempo, essa forma cartesiana e catedrática se viu obrigada a avançar, de forma a fazer com que a sociedade tivesse respostas eficientes em todos os aspectos.

Quase uma exigência! Mais que vencer as causas dos clientes, a advocacia brasileira passou a ser ativo participante na busca de decisões que permitissem a melhoria da elaboração das leis, o bom entendimento e a sua execução.

Tal postura fez com que a profissão que abraçamos se transformasse mais que um meio de vida, mais que uma forma de sustento de família ou de crescimento profissional; nos fez crescer como cidadãos, como ser humano que somos.

Transformou-nos em porta voz e guardiães do interesse coletivo. A advocacia brasileira constituiu, seguramente, uma aliança histórica e eterna com a sociedade brasileira.

E não foi, senão pela Justiça Social, por um país em que fé e razão estejam sintonizadas, que nós advogados, com orgulho e esmero, trilhamos esse caminho, até alcançar a respeitabilidade de hoje.

A elaboração da Constituição de 1988 , a rigor, foi fundamentada nesse conceito, em que as políticas econômicas e sociais buscam garantir o direito à saúde e educação e acesso aos bens de consumo, lazer e novas tecnologias, através do aumento da renda e capacidade de consumo. Ou seja: a advocacia tem participação ativa e efetiva nessa luta.

Em Mato Grosso, particularmente, temos sido, sem falsa modéstia, um exemplo na luta pela Justiça Social. Mesmo com pouco espaço, as ações da classe tem dado mostras da sintonia e em favor da sociedade, principalmente daqueles que mais precisam.

Buscamos sem transigir um maior acesso do cidadão ao Judiciário para discutir suas demandas; aliamos pelo fortalecimento da Defensoria Pública; travamos uma eloquente luta pelos Direitos Humanos, e contra a violência das ruas e dentro das casas; empunhamos a defesa do confronto permanente ao tráfico de drogas e pela melhoria da segurança; primamos pela defesa da mulher e das minorias como um todo; brigamos pelo Direito Agrário para que a terra seja produto de meio de vida e não apenas uma complexo de expoliação para beneficiar a poucos, entre outros.

Como presidente da OAB, encabeçamos inúmeras lutas, na qual destaco a defesa da ética e principalmente a das prerrogativas. Não porque buscamos privilégios, mas, sobretudo, porque queremos exercício pleno do direito de defender o cidadão em qualquer situação e garantir a soberania constitucional nas relações entre indivíduos e o sistema.

Somos e seremos sempre incansáveis combatentes a todos aqueles que ousam violar o direito do cidadão.

Por isso, nesta data, neste 11 de agosto, queremos mais uma vez reafirmar nossos compromissos com a classe dos advogados e, sobretudo, soldar a consolidação dos valores que firmamos em aliança com a sociedade na defesa dos seus interesses.

Dizer que você, advogado, é importante e que não é à toa que a nossa profissão está presente na Constituição Federal, como fundamental e necessária a distribuição da Justiça – e, essencialmente, da Justiça Social

FRANCISCO FAIAD é ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT).


Do Coxipó do Ouro à Globo e a criação do Totó Bodega


Por: JORGE MACIEL
Fonte: Diretor de Redação
Um dos mais talentosos atores do Estado (e do Brasil) conta a caminhada pelos teatros mambembes, São Paulo, Europa, Rede Globo e como surgiu ‘Totó Bodega'

A arte cênica se manifestou como desponta em qualquer artista, ainda na infância do pequeno Romeu Benedicto Lucialdo. Mas ele não se tocou e a arte e talento para representar ficaram ali, bem perto, na órbita, aguardando até que o menino travesso chegasse ao período juvenil, ainda no ginásio. Insistente, a arte voltou a bater à sua porta, agora decidida a ficar. Mergulhado na responsabilidade de estudar e ser ator, Romeu Benedicto, um cuiabano de chapa e cruz, que estudou no São Gonçalo e fez teatro infanto-juvenil amador,  foi destaque em filmes e outras peças, já como profissional.
Ele terminou conciliando uma coisa e outra por algum tempo, até que casou, bem jovem. Já pai de família, atuou em peças e festivais em Salvador, Curitiba, São Paulo, Europa e no interior do Estado, acabando por aportar na Rede Globo, no Rio de Janeiro,. Lá, contracenou com estrelas de quinta grandeza do brilho de Stênio Garcia,  Domingos Montagner, Zezé Polessa, Antonio Fagundes,    Cláudia Ohana, Luiz Fernando Guimarães, Cauã Reymond, Débora Bloch, entre tantos, em novelas e minisséries como Malhação, Belissíma, Duas Caras, Da Cor do Pecado, Carga Pesada, Fina Estampa ou Cordel Encantado, na Globo, e Bicho do mato, na Record. Longe da esposa Mônica e dos filhos Heitor e Fernanda, Romeu, com muita saudade, retornou à General Mello, em Cuiabá, onde, vez e outra, atende ao chamamento da Rede Globo para novos trabalhos.  Enquanto ficou aqui, se inspirou em um típico matuto malandro, morador do Coxipó do Ouro, e compôs o personagem Totó Bodega, certamente o mais famoso brega cuiabano, ao lado da dupla Nico e Lau, aliás, amigos que lhe deram a luz para tornar o Totó Bodega, com humor impagável, em uma grande celebridade.   
Na semana passada, o ator atendeu a um convite de ODOCUMENTO para a entrevista que se segue:


Com Isadora Ribeiro em evento da Globo, no Rio
ODOC -Como começa sua vida artística. Como se materializa o fato de você ser um ator de melhor projeção nacional do Estado e um comediante para risos largos?
ROMEU BENEDICTO – Bem, começou com um sonho. Sempre gostei do teatro. Comecei no amador mesmo com um grupo na UFMT [universidade federal] e, assim, fui pegando gosto, o prazer de fazer teatro. E as coisas corriam paralelamente: o sonho e a realidade. Fui construindo assim uma carreira, fazendo festivais nas cidades, fazendo teatro mambembe, onde a gente sempre abria e fechava o festival com peças.
 ODOC - Antes de enveredar nessa estrada, o que fazia?
 ROMEU BENEDICTO - Eu saí da adolescência, estudei no Colégio São Gonçalo (segundo grau), e como profissão eu escolhi Educação Física, fiz faculdade, abri uma academia, dei aula de ginástica e até fazia apresentações de ginástica aeróbica. Paralelo a isso, atuava no teatro. Parei um tempo com o teatro para “brigar” contra o sistema, arrumar emprego “sério”. Casei com 20 anos e estou casado até hoje, há 25 anos, tenho dois filhos, Fernanda e Heitor.
 ODOC – Mas alguém te levou? Como começa o teatro?
ROMEU BENEDICTO  - Começou por iniciativa própria, primeiro fazendo apresentações locais, depois me lancei aos festivais nacionais, corri  para Curitiba (PR), Salvador (BA) e interior de Mato Grosso. Acabei sendo premiado aqui no Estado no “Festival de Cinema”, como ator revelação no mesmo festival de teatro mato-grossense, que hoje não existe mais. Depois surgiu o convite para apresentação em São Paulo. Fiz Curitiba e assim surgiu uma temporada na Europa. Com o grupo, apresentamos um monólogo “O Belarmino e o guardador de ossos”, texto maravilhoso de Guilherme Dikie, escritor mato-grossense premiadíssimo. Isso aconteceu há uns oito anos e a peça foi muito bem aceita pelos críticos e público. Depois disso acabei no Rio de Janeiro e me cadastrei na Rede Globo. Na verdade [risos] fui bater na porta da Globo, porque meu sonho era ser conhecido nacionalmente. Todo ator sonha com a vitrine nacional, isso é um mito. Mas é um caminho cheio de rumos...
ODOC – E como foi?
ROMEU BENEDICTO - Eles gostaram do meu material e pediram que eu gravasse um vídeo. Fiquei surpreso. Um colega me disse, na época, que eles geralmente não agem dessa forma. Pois bem: voltei à  Globo decidido, me deram um texto e eu gravei o vídeo. Era uma participação na novela “Pecado Capital”. No meu primeiro trabalho na Rede Globo fiquei feliz e amedrontado, pois eram cenas com astros iluminados como Stênio Garcia e Antonio Fagundes, no seriado Carga Pesada. Uma cena em que o Fagundes estava com problemas de saúde, o Stênio o levou ao hospital e eu era o médico. O Stênio percebeu, de início, minha ansiedade, e foi supergeneroso, me acalmava antes da cena, pois o nervosismo era grande em função de gravar com dois monstros da televisão brasileira. Depois não pararam Malhação, Da cor do pecado, todas em participações com diálogos longos, sempre ao lado de grande elenco.  Retornei para “Carga Pesada”, com uma participação bem maior, e voltei para Malhação. A coisa engrenou: fiz Duas Caras, Belíssima e Cordel Encantado. Participar da produção cinematográfica da Rede Globo em Cordel Encantado foi muito significativo para mim. Eu entrava na trama com personagem, para prender o Miguelzinho, que era o Matheus Mastergard, e depois eu me arrependia de tê-lo prendido. Eu era um cangaceiro do bando contrário ao deles. Daí eu fui para o outro bando, do Herculano, e ajudava a soltar o Miguelzinho. Puxa, foram 20 capítulos.
 ODOC – Realmente, foram muitas aparições, muitos trabalhos...
ROMEU BENEDICTO- ... Olha, eu posso dizer que eu cheguei lá, que toquei no meu sonho, mas eu segurei ele na mão [do sonho] e lhe disse: “Fique aí que eu volto mais tarde”. Nessa época do Cordel, eu estava morando no Rio de Janeiro. Fiquei um ano. Como tive uma experiência difícil com a temporada da Europa, quando fiquei longe da família, olhei para mim e decidi que não queria mais isso para mim, longe da minha família. Quando fui para Europa meu filho era um bebê, quando voltei, ele não me conheceu, me olhou espantado. Então decidi ficar ao lado da família e quando retornei ao Rio, levei todos. Planejei isso, porque essa história de seguir o sonho no meu caso, senti muita solidão, não é simples, foi muito difícil.  E a Globo não é fácil. A minha primeira estada lá eu peguei diária pequena, justa, mas pequena. Você tem que estar morando lá para que a coisa continue. Mas ainda participei recentemente das novelas Fina Estampa e Em Família.
O DOC - Sempre Globo?
ROMEU BENEDICTO  - Sempre na Globo. Aliás, só recentemente fiz uma participação na Record, em Bicho do Mato. Eles vieram aqui [Cuiabá] gravar e o produtor do elenco que já foi da Rede Globo, me chamou e eu gravei participação na novela, em Cáceres. Há alguns dias, com as gravações da novela Boogie Oogie ,que estreou, o Luciano Rabelo, que me chamou lá atrás para Cordel, me mandou um e-mail para eu entrar em contato. Ele me apresentou para o diretor, mas ainda não rolou.
ODOC – Vamos voltar para Mato Grosso. E a questão do humor?
ROMEU BENEDICTO  - O humor entrou na minha vida naturalmente, embora não me considere um humorista, me considero um ator. Meu ‘debut’ foi com a dupla – essa sim, de ótimos humoristas - Nico e Lau, que são meus amigos e fazíamos teatro juntos. Eles procuravam um personagem para participar de uma cena onde esse personagem tinha que entrar na casa do Lau para arrumar a tevê, e ele vai ficando, daí almoça, depois quer esperar o jantar, um tipo folgado. Topei a empreita. Foi na peça Quebra Galho, escrita e produzida por Nico e Lau.  Gostei da experiência, gostei das risadas. Logo depois compus o personagem “Totó Bodega”.
 ODOCDe onde vem a inspiração para criar o Totó Bodega?
ROMEU BENEDICTO - A minha infância foi em Cuiabá e no Coxipó do Ouro, no Arraial dos Freitas. Ali existia um homem chamado Dito Baixo, que pegava galinhas [pra matar... risos], pegava água no rio e participava das festas religiosas, quermesses... Ele era do estilo Totó Bodega, camisa apertadinha, de cor extravagante, cabelo grenho, brilhantina, ia aos bailes  e dançava sozinho se não tivesse par. Usava relógio “Orient”, que balançava no pulso, chamando atenção. O perfume que ele usava era Diamante negro, lavanda conhecida como perfume brega. Depois de umas cachaças, mesmo com respeito, chamava asa moças para dançar ou ficava na dança-solto se fosse recusado. O Totó Bodega vem daí, um trabalhador rural, vítima do êxodo rural, humilde, mas extrovertido, divertido. O personagem tem 14 anos de criação. A partir daí, o Totó Bodega foi crescendo em aceitação do público. Desse personagem surgiram outros igualmente hilários, divertidos ...
 ODOC - Você faz no improviso ou segue um roteiro?
ROMEU BENEDICTO - O improviso está presente no humor. Não se faz humor por encomenda. O que existe é o roteiro básico. Atualmente, eu faço muitos shows para empresas, o que elimina custos de palco, iluminação e outros. Eu tenho umas músicas gravadas, de fundo, e faço play-back em cima. Gravei com Roberto Lucialdo [seu irmão, o compositor e produtor musical], mas utilizo também as músicas bregas, no estilo de cada personagem. Fui para a tevê com o Totó Bodega. Na Band, por exemplo, fiquei lá oito anos no programa Cidade 40 Graus, depois a gente assumiu o programa e, na TV, o Totó Bodega ganhou destaque estadual. Alí, eu criava os quadros, dirigia e atuava. Foram 60 quadros de muito sucesso do Totó Bodega.
ODOC – É verdade, o Totó tem muita fama ...
ROMEU BENEDICTO - ... Verdade Totó Bodega entra onde eu não entro. Quando o Totó representou Cuiabá durante a Copa do Mundo, no site do Ministério dos Esportes, o pessoal de Brasília ficou curioso. Vieram aqui, gravaram comigo e divulgaram no Terra, no Uol, entre outros portais. Eu cheguei à Arena de Totó Bodega e entrei para trabalhar com o personagem, enquanto outros famosos, jornalistas e  autoridades esperavam credenciais para entrar. Saí de Toto e, quando voltei, sem as vestes do personagem, fui barrado, o Totó Bodega não. Se tentar furar a fila como Romeu não dá certo, mas o Totó não enfrenta fila e entra onde quiser...
 ODOC - Hoje você faz apresentações comerciais, campanhas publicitárias ...
ROMEU BENEDICTO -  É verdade, as agências sempre me procuram. O caso do MT Cap [empresa de sorteios que faz as conferências pela televisão] o pessoal pesquisou e me chamou, mas não apresento como Totó Bodega, e sim como Romeu, que foi uma exigência da empresa. É um grupo muito sério de fora que veio para cá, me procurou e acertamos.
ODOC – E daqui para frente, volta para a Rede Globo, fica por aqui?
ROMEU BENEDICTO – Olha, sou um profissional  que almeja o melhor na profissão, mas posso trabalhar contanto que não a tenha que me afastar muito da família
 ODOC – E como é que você faz a dupla com a Comadre Pitú?

ROMEU BENEDICTO – A Comadre Pitú é uma parceira do Totó Bodega.  Nós fomos chamados para apresentar o Festival de Siriri e Cururu, uma vez e não paramos mais. De lá para cá, a gente vem apresentando todo ano, faz onze anos. Nesse meio tempo, sempre fazemos outras apresentações juntos. O ator [Vital Siqueira] é um grande amigo, amigo de infância.  Fizemos Buxixo Cuiabano, e muitas outras aparições juntos, é um excelente ator, criativo, escreve, interpreta, dirige, e tem uma veia humorística muito forte. A gente monta os espetáculos e apresentações juntos. Minha agenda hoje é corrida, mas estou arrumando tempo e tocando. Totó Bodega é MT CAP, é a Secretaria de Fazenda, teatro e quando a Globo chama vamos trabalhando. Atualmente, giro com a peça “Viver é raso”, do Amaury Tangará, fizemos turnês por São Paulo e Rio de Janeiro. Uma peça contemporânea que fala quão rasa é nossa vida hoje. Muito bonito o texto.
ODOC  - Como é a arte cênica em Mato Grosso?
ROMEU BENEDICTO - Hoje eu vejo a arte cênica tentando sobrevier em Mato Grosso. Antes, tínhamos os festivais de teatro, música, exposições de arte. O espaço para se apresentar está caro e escasso, muito, mas  muito difícil. Há o teatro da UFMT, que esta em reforma, o Teatro da Escola Técnica (IFMT) também em reforma ... Temos apenas o Cine Teatro, o Liceu Cuiabano, o Sesc Arsenal e alguns espaços alternativos. Hoje o artista sofre muitas dificuldades para colocar uma peça de pé, porque é como uma empresa. Você tem que contratar, divulgar , e contar com alguns patrocínios. O patrocínio hoje em dia está complicado, porque os empresários investem apenas em quem já tem destaque, estimular o artista que está começando é uma prática em extinção. As poucas companhias de teatros que temos sobrevivem com muita dificuldade devido [á falta de patrocínio e apoio estatal. E olha que temos artistas bons, companhias premiadas e bons espetáculos.
ODOC – O Estado [governo, prefeitura] não ajuda?
ROMEU BENEDICTO  - O Estado não ajuda em nada. A lei de incentivo à cultura é apenas um símbolo. O valor é irrisório, um valor é muito pouco,  limitado. Por exemplo: no cinema, o valor é de R$ 70 mil. E não se faz um filme nem com R$150,000,00. A locação do Centro de Eventos Pantanal é R$ 6.000,00 para uma única apresentação, e, ai, você tem que cobrar o ingresso a R$ 40,00 porque 50,00 já é muito. R$ 40 já é muito, é preciso uma política de incentivo, mais patrocinadores, para que o artista se apresente a preços módicos, a 15, 20 reais. Sem incentivos, cobra-se 40 reais, aí tem a obrigação de reserva para “meia”, e cotas. É muito complicado. Eu acho que deveria ter uma politica cultural mais consistente voltada mais para contemplar o artista.


ROMEU BENEDICTO - Não me vejo como celebridade, sou um ator. Eu me sinto na obrigação de responder aos fãs, às crianças, e as crianças adoram o Totó Bodega. Mas adultos , idosos, mulheres, querem me pagar para tirar fotos, me param na rua, e eu dou total atenção. Eles são a razão de eu ter sucesso, de estar trabalhando.
ODOC - E o futuro?
ROMEU BENEDICTO - O Totó Bodega é eterno, e também tenho um outro personagem do curso que eu fiz no rio, lá eu criei um personagem que é vendedor de “raquetes” dessas que se mata mosquito. Eu  estou trabalhando em cima desse personagem que é mais nacional , não tem uma vertente regional. O artista precisa ter o ócio criador, e estou com uma vida muito corrida, sem tempo pra estar criando um personagem. Sou um pai presente, estudo com minhas crianças. Pai tem que estar presente, participar da vida do filho e também se dedicar à sua esposa, porque a saúde da vida do casal é muito importante para sua vida profissional seja sucesso. Toda pessoa precisa ter uma base familiar, religiosa.
 ODOC - Como você concilia o seu trabalho como funcionário  publico e sua carreira artistica?
ROMEU BENEDICTO - Graças a Deus consigo conciliar muito bem, sou funcionário publico concursado há 20 anos,. Na verdade minha carreira só deu uma deslanchada depois que eu consegui manter o meu sustento. Antes, eu não conseguia pensar na minha carreira artística como eu penso hoje.  Igual á teoria de que “O ser humano só consegue pensar no outro e contribuir com seu meio, depois que ele tem sua necessidade básica suprida.” E isso é verdade, porque eu só consegui ficar tranquilo e até fazer escolhas na carreira, depois que garanti o meu sustento.
DOC – Vamos fazer umas perguntas pessoais:
Você acredita em signo?
Acredito e às vezes dou uma olhada na influência astral.
E nas pessoas, você acredita?
Eu quero acreditar.
E no esporte, o que você é?
Eu sou do vôley. Não sou ligado ao futebol.
Que tipo de musica gosta?
Eu não tenho preconceito sobre estilo. Eu gosto de musica que me toca, me traz algo, conteúdo. Adoro Vinicius, Toquinho , Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Zeca Baleiro. Gosto do Pescuma, Roberto, Lucialdo, Roberto Carlos...
No cinema?
Eu gosto de cinema, e assisto a 3 filmes por semana, leio um livro pro semana
E o País, o que é você é politicamente?
O problema do nosso  País é que exige muito do brasileiro. O brasileiro tem que trabalhar três vezes mais, para  ter o mínimo para sobreviver.
Você tem filiação partidária?
Não tenho nenhuma ligação com partidos políticos.
E a família?
Pra mim família é um estágio para você viver em sociedade. Meus filhos, Heitor, Fernanda, minha esposa Mônica são a razão do meu viver. Na minha família tenho pessoas que são entre si diferentes, e convivendo aprendemos muito, mas amo todos. Meu pai é um exemplo pra mim. Meu pai criou seis filhos com dificuldade e nos colocou no patamar que estamos hoje. Honestidade pra ele era tudo.
O que representa Cuiabá pra você?
Cuiabá é meu berço. Aonde  vou eu levou o orgulho de ser cuiabano. Lá no Rio de Janeiro eu faço questão de falar que sou cuiabano. Cuiabá é minha identidade, meu sotaque é prova disso. Nos meus shows um grupo de Siriri sempre me acompanha o Beira Rio.
Eu quero deixar uma mensagem pra todo mundo. Siga seus sonhos. Agente nunca pode abandonar nosso sonho. Eu não sei se eu irei conseguir realizar meus sonhos, eu tenho um sonho de fazer uma novela, uma minissérie de época, no cinema eu tenho o sonho de fazer grandes filmes.