quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Educação, lugar comum?

Nos acostumamos tanto ao “lugar comum” que nem mais o notamos. A tendência é ficarmos indiferente ao que é comum. Afinal, se está no lugar e este lugar é comum, por que se preocupar? Talvez a educação, a tarefa de ensinar, o trabalho de ser professor/a, o ser aprendente, ser educando, tenham se tornado “lugar comum”. Daí ser tamanha a indiferença com que a sociedade os/as trata. Pena, pois quando isto acontece é a morte do ensinar e do aprender.

É próprio dos seres humanos estabelecer relações, qualificá-las, saber os seus porquês. Os seres humanos nascemos relação e nos fazemos na relação. Fora dela não existe vida humana. Relação existe quando o outro aparece na relação como outro, não como o mesmo, como qualquer um, como um comum, um “lugar comum”. É da diferença que brota a possibilidade de relação. É do reconhecimento que brota a qualidade da relação.

Ora, aprender e ensinar só podem ser entendidos em relação; constituem-se na relação e constituem relações. Por isso é que a educação é essencial à vida humana e acontece o tempo todo, em todo lugar e ao longo de toda a vida.

A educação escolar é uma forma específica de estabelecer a relação de ensino-aprendizagem. É instituída pela sociedade como mediação para a vida social. Nela, a relação entre o sujeito professor/as e o sujeito estudante/educando/a forma o núcleo central. Os conhecimentos, as linguagens, as técnicas, os conteúdos, muitas vezes assumam o lugar central na educação escolar. Mas, é na relação entre os sujeitos que está o núcleo forte da educação. Daí que, imaginar que um dos sujeitos seja transformado em “lugar comum”, ou transformar a própria educação num “lugar comum”, é inviabilizar qualquer mediação, é não fazer educação.

Por isso, a educação é, acima de tudo, uma mediação para a humanização das pessoas através das relações educativas. Afinal, a educação é, acima de tudo, a construção da diferença, é fazer a diferença. Nela não há lugar para a mesmice, a repetição, o “lugar comum”.


Paulo César Carbonari,
professor de Filosofia no Instituto Berthier, Passo Fundo, RS.

Frases

* “O saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas, copiosas, transbordem do indivíduo e se espraiem, estancando a sede dos outros. Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades” (Gilberto Freyre)

* “Basta uma criança dizer “eu aprendi” e o coração do professor, como brasa encoberta, reacende” (Cesar Nunes)

* “Só é útil o conhecimento que nos torna melhores” (Sócrates)

* “Sou professor a favor da esperança que me anima, apesar de tudo” (Paulo Freire)

* “Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e aluno juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria” (Paulo Freire)

* “Não posso desgostar do que faço, sob pena de não fazê-lo bem. Desrespeitado como gente no desprezo a que é relegada a prática pedagógica, não tenho por que desamá-la e aos educandos. Não tenho por que exercê-la mal. A minha resposta à ofensa à educação é a luta política consciente, crítica e organizada contra os ofensores. Aceito até abandoná-la, cansado, à procura de melhores dias. O que não posso é, ficando nela, aviltá-la com o desdém de mim mesmo e dos educandos” (Paulo Freire)

* “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” (Paulo Freire)

* “O professor continua sendo refém de sua profissão” (Rozineide Lima)

* “As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender” (Paulinho da Viola)

* “Conte-me, e eu vou esquecer. Mostre-me, e eu vou lembrar. Envolva-me, e eu vou entender” (Confúcio)

* “...educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem – por isto sabem algo e podem assim chegar a saber mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais” (Paulo Freire)

* “Estudante politizado é aquele que atua politicamente dentro e fora da escola. É um estudante que tem motivação pela qualidade, pela relevância social e teórica do que é ensinado. Passa a exigir do professor, tem interesse pelas relações humanas estabelecidas no interior da escola, discute a gestão da escola, o currículo, enfim, o projeto político-pedagógico da escola” (Moacir Gadotti, educador)

* “Os governantes aplicam sempre o mesmo discurso que mescla incompetência, impotência e hipocrisia: o Estado não tem recursos para pagar melhor os seus docentes. Esse pragmatismo de ocasião encobre uma verdade que ultrapassa todos os governos: a sociedade não parece muito interessada em colocar o ensino público básico como prioridade.” “O dilema dos professores é que eles são muitos e destinados a tarefas irrisórias como alfabetizar as crianças e ajudar a incutir-lhes bons valores e conhecimentos. Nada que mereça um salário muito melhor ou uma reorganização radical das prioridades sociais de maneira a oferecer-lhes um novo padrão de vida”. (Juremir Machado da Silva, juremir@correiodopovo.com.br)

* “Eu fico com vergonha até de dizer, mas meu salário é R$ 650,00. Isso mesmo!... Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$ 10,2 milhões por ano. São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$ 11.545. Na Itália, são gastos com parlamentares R$ 3,9 milhões; na França, pouco mais de R$ 2,8 milhões; na Espanha, cada parlamentar custa por ano R$ 850 mil e na vizinha Argentina R$ 1,3 milhão.Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior!” (de um professor de Física da Bahia)

* “A trajetória do professor, assim com a dos artistas, destoa da realidade capitalista que algarisma desejos e ideais e impõe valores absolutos. O professor é antes um transgressor, aquele que se arma de palavras, formas, sons, imagens e inicia a luta vã, mas imprescindível, para que o pacto de mediocridade não se faça e a vida possa ser mais prazerosa e digna. Percorrer os traços e as nuances da arte de ensinar, é enveredar por uma nova leitura, por um novo discurso, por uma nova forma de ver e conceber a existência humana.” (Mônica de Jesus Lopes - Salvador - BA)

Dicas de Livros

Fonte: Jornal Mundo Jovem

Livros:


Para Sempre! O Compromisso Ético do Educador - Marcos Sandrini reflete que dentre todos os desafios a que um professor está submetido, trabalhar em conjunto com a ética e a espiritualidade é fundamental. O livro busca responder algumas questões relativas à missão do educador e como ela se mantêm. Editora Vozes (www.editoravozes.com.br)

Aposta no Professor: Cuidar de viver e de trabalhar com dignidade - Pedro Demo analisa dados de pesquisas sobre a realidade profissional da maioria dos professores brasileiros. Instiga, provoca e propõe, acreditando que o resgate da dignidade do professor é condição necessária à aprendizagem dos alunos. Editora Mediação - (www.editoramediacao.com.br)

Trajetória de uma Militância Educacional - Do sistema freireano ao letramento sócio-histórico - de Cornelis Joannes e Maria Salete van der Poel. “Quando o mestre é bom, ele recomenda que o aluno construa a sua própria autonomia”. Esta obra compartilha com os leitores a trajetória dos autores na Educação de Jovens e Adultos, suas descobertas metodológicas, caminhos percorridos, hesitações e impasses, escolha e mudanças de rota, provocando reflexões e sacudindo acomodações. Editora Oikos - (www.oikoseditora.com.br)

Professor Refém - Tania Zagury aponta que a falta de limites e de cobrança por parte dos pais faz com que crianças e adolescentes não respeitem a autoridade dos professores. O livro é um elemento que ajuda a refletir sobre quem é responsável pela educação de crianças e jovens: pais ou professores? Quem sabe os dois juntos? Editora Record - (www.record.com.br)

A formação de professores

Ser professor no atual contexto é viver intensamente o seu tempo com consciência crítica e sensibilidade solidária; é aceitar o desafio da formação continuada e da pesquisa. E a escola deve tornar-se um espaço de formação para a pesquisa, um lugar de aprendizagem permanente, onde o ambiente pedagógico tem que ser lugar de ternura, prazer e reinvenção personalizada do saber através da pesquisa participativa.

Nosso ponto de partida é a convicção de que o ensinar é inseparável do desejo de continuar aprendendo ao longo da vida. Neste sentido, os professores devem ser exemplos vivos da pesquisa e da formação continuada, pois só assim é possível oferecer aos estudantes o que há de melhor no plano teórico - um conhecimento atualizado, inovador, com eficácia política.

Diante dos novos desafios postos pela complexidade da sociedade em seu estágio de economia globalizada, muito mais do que ensinar saberes prontos, o professor precisa criar espaços de aprendizagem, de produção coletiva do conhecimento. A formação permanente, o aprender a aprender ao longo da vida, assumir a condição de pesquisador, através da autonomia investigativa, lutar por políticas de valorização profissional que contemplem o tempo para estudos, pesquisa qualificada e participação em eventos formativos são alguns dos principais aspectos da nova cultura do ser professor como projeto de vida. Mas também como estratégia política na construção de sujeitos que exerçam ativamente sua cidadania.

Professor atualizado

Ser professor é gostar de estudar; é dar sentido ao seu fazer; é manter-se curioso, inquieto. Ou, como diz o educador Moacir Gadotti, “a formação continuada do professor deve ser concebida como reflexão, pesquisa, ação, descoberta, organização, fundamentação, revisão e construção teórica e não como mera aprendizagem de novas tecnologias, atualização em novas receitas pedagógicas ou aprendizagem das últimas invenções tecnológicas”.

Na sociedade do conhecimento, onde o desafio da aprendizagem é permanente, o professor é convocado a viver intensamente sua formação continuada. Estar à altura do tempo em que vivemos significa ser vigilante em relação à qualificação pedagógica e política. No contexto da informação, do conhecimento e da aprendizagem é impensável um professor que não leva a sério a sua formação continuada e permanente. Podemos dizer que mais do que nunca a formação incessante do professor é parte constitutiva de sua ética profissional. Pensamos que a luta política do professor por melhores condições salariais e pela valorização profissional é justíssima. Mas quem deseja defender seu lugar de trabalho e sua dignidade profissional, conquistando o apoio da opinião pública para suas reivindicações, precisa manter a competência de continuar aprendendo ao longo da vida.

Professor pesquisador

Quem ensina precisa manter a abertura para aprender melhor o que já sabe e conhecer o que ignora. Para alcançarmos um pensar rigoroso e crítico que nos permite ir lendo cada vez melhor o mundo, precisamos cultivar o caráter da pesquisa e da inovação.

O professor não pode perder a criatividade intelectual e a curiosidade epistemológica, pois a curiosidade é o melhor recurso para a inovação. Na sociedade da informação e do conhecimento “valoriza-se a curiosidade intelectual, a capacidade de utilizar e recriar o conhecimento, de questionar e indagar, de ter um pensamento próprio, de desenvolver mecanismos de auto-aprendizagem”, diz a pedagoga Isabel Alarcão.

Só é capaz de oportunizar experiências de aprendizado quem é capaz de aprender sempre, inovar, produzir conhecimento através da pesquisa e de um projeto que contemple a autonomia investigativa. Aprender não é um problema posto somente ao estudante, mas em primeiro lugar para o próprio professor. Se, enquanto professores, não sabemos aprender, se não temos autonomia investigativa, certamente não conseguiremos ensinar ou criar espaços de aprendizagem.

Aprender a aprender deve ser o cerne da atitude de pesquisa e da elaboração própria do conhecimento. Para tanto, o educador precisa encontrar tempo para refletir, pesquisar, elaborar seu próprio conhecimento. A educação é um processo de produção e reconstrução do saber. Neste movimento de reconstrução do conhecimento é imprescindível pesquisar, manter-se curioso frente ao mundo e à história. Mais importante do que saber é não perder o prazer, o encanto de aprender ao longo de toda a vida.



Sérgio Trombetta,
professor na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e nas Faculdades Integradas de Taquara, RS.
Endereço eletrônico: sergiot@unisinos.br
Artigo publicado na edição nº 392, novembro de 2008, página 14, jornal Mundo Jovem.


Sugestões de leitura:

- ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2005.
- ASSMANN, Hugo. Curiosidade e prazer de aprender: o papel da curiosidade na aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2004.
- FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2006..

Questões para Debate:

1 - Como a sociedade e a mídia percebem e retratam a categoria de professores?
2 - Qual o meu compromisso com a formação continuada e a atualização profissional?
3 - Quais ações de pesquisa podemos realizar em nossa escola?

::: Voltar :::

Vídeo:Educar para que...

Vídeo:

Educar para que... - produzido pelo jornal Mundo Jovem e Instituto de Pastoral da Juventude, e apresentando uma série de depoimentos e reflexões, de forma dinâmica, este vídeo quer abrir um debate sério sobre este tema vital que é a educação, enquanto responsabilidade de toda a sociedade: família, escola, grupos, igrejas, meios de comunicação... Mais informações: veja aqui ou pelo 0800-515200.

É tempo de resgatar a cultura afro-brasileira

A chegada dos negros ao Brasil deu-se no cenário cruel da escravidão.

Mesmo assim, podemos dizer que a presença negra trouxe cor e alegria para a cultura brasileira. Nos últimos anos, através da ação do movimento negro e de conquistas na legislação, verificamos cada vez mais uma presença positiva dessa cultura no Brasil. É o que nos conta Isabel Aparecida dos Santos Mayer, Bel Santos, especialista em Pedagogia Social pela Universidade Salesiana de Roma. Ela atua no Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), onde realiza formações para educadores incluírem na educação a história e a cultura da África e dos afro-brasileiros, conforme a Lei 10.639/03.

Isabel Aparecida dos Santos Mayer (Bel Santos),
especialista em Pedagogia Social pela Universidade Salesiana de Roma. Atua no Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), onde realiza formações para educadores.
Endereço eletrônico: belsantos@uol.com.br


Mundo Jovem: Como se constitui a cultura africana no Brasil?
Bel Santos: Teve um início muito cruel e dolorido, pelo sequestro de pessoas de outro continente, no modelo que foi a colonização. E, ao trazê-las para o nosso país, tentar o aculturamento, rebatizar, colocar novos nomes, tirar suas referências, impor outra religião, outra língua... Essa presença africana no Brasil teve que, de fato, ocupar os porões. A sala de visita ficou reservada para outra cultura.

A cultura africana foi, então, encontrando brechas nas religiões, e aí a oralidade foi um elemento essencial para a sua permanência. O pouco também que conhecemos de pinturas feitas por africanos é um jeito de resistir, até na estética, no jeito de arrumar os cabelos, nos novos arranjos familiares, na dança, na musicalidade. Foi uma cultura que ficou muito marginalizada, ao ponto de a capoeira e os agrupamentos negros na rua serem criminalizados após a escravidão. Então, para essa cultura se sustentar, não foi nada suave.

Mundo Jovem: Há alguma característica genuína da cultura africana?
Bel Santos: Com esta pergunta me lembro de um amigo do Zaire. Como ele não tinha religião, dizia que ficava irritado quando citavam a espiritualidade como característica africana. Então, é sempre um perigo quando se fala das características genuinamente africanas, porque existe a questão de como é que os africanos se olham. Mas para nós, no Brasil, a referência tem sido de considerar uma cosmovisão africana que traz elementos que nos diferenciam dos outros referenciais, como os europeus. Alguns autores usam esse referencial até para explicar por que em algumas situações foi “possível” a escravização de homens e de mulheres.

Mundo Jovem: Mesmo assim a cultura africana se mantém viva no Brasil?
Bel Santos: Há aquela situação de tentar jogá-la num lugar exótico. Tem um segmento interessado em conhecer essa cultura, em fazer museus vivos, onde a cultura, a história e a presença atual dos negros esteja dentro dos espaços. Mas, por outro lado, há sempre uma tentativa de guetizar, de deixar no exótico, “olha como são estranhos!”. Hoje a gente vê algumas ações que levam o jogo da capoeira para as aulas de Educação Física. Então essa intersecção é importante, quando você traz outros jeitos de ter desenvolvimento físico através do resgate de elementos de uma cultura excluída.

Mundo Jovem: A regularização dos territórios quilombolas auxilia a manutenção da cultura negra?
Bel Santos: A titulação e o reconhecimento das comunidades quilombolas foi importante porque puxou o fio da nossa história, assim como a questão da Amazônia despertou para a presença do índio. Em nível nacional, há uma compreensão de que os índios ainda existem. Com relação aos descendentes quilombolas, essa compreensão não existia antes dessa discussão que culminou com a Constituição de 1988.

Visitei quilombolas no estado da Paraíba, e lá existem comunidades que têm uma história de pertencimento a grupos familiares, uma história do desenvolvimento agrícola, mas elas desconhecem a sua história de quilombolas. Elas estão no processo para serem reconhecidas, mas as famílias não têm essa compreensão. Até porque nas escolas, nesses lugares, a cultura negra e os heróis negros são invisíveis. Dentro das próprias comunidades quilombolas há um apagamento das suas histórias. Se formos olhar os programas federais desenvolvidos tanto pela Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Sepir), quanto pela Fundação Palmares, há várias ações voltadas exatamente para esse resgate da cultura quilombola. É uma oportunidade que não se pode perder.

Mundo Jovem: O resgate da cultura africana também se dá na música, na literatura, na moda?
Bel Santos: Quando eu era adolescente, nos meios de comunicação de massa, não tinha nenhum referencial estético negro, não existia nada. O único jeito de usar o cabelo era um jeito padronizado que trazia a ideia de cabelo liso como sinônimo de cabelo bonito, o chamado “cabelo bom”. Quem não nascia com o cabelo liso tinha que fazer o cabelo ser “bom”. Mas hoje existem revistas, como Raça, que foi muito criticada porque poderia promover o racismo no nosso país; ao contrário, ela trouxe para o cenário uma nova estética de cabelo, novas cores para a moda. Ela foi ao mesmo tempo resgatando e inaugurando outro olhar. A revista Estilo também traz sempre uma página “étnica”, mas aí entra a coisa do lugar do exótico: étnico é o outro, e os brancos, são o quê?

Mundo Jovem: Qual a contribuição da miscigenação para a cultura brasileira?
Bel Santos: A questão da miscigenação também foi um processo muito dolorido em nosso país. Ela aconteceu em algumas situações de estupro, de abuso sobre o corpo, tornando-se uma mistura forçada, feita com dor. Mas depois é possível traduzir isso de uma forma muito boa.

Então o que o país está fazendo hoje, com um marco legal, criando leis que obrigam a trazer essa presença africana para os currículos, para a mídia, para as várias produções é garantir que essa miscigenação não seja o que foi ao longo da história. Dom Pedro Casaldáliga dizia que “na história da América Latina, muitas vezes se teve um pai branco, uma mãe negra ou indígena”. E daí ele perguntava: ”Optar pelo pai ou pela mãe?” É que a história optou pelo pai e esqueceu que a mãe existia. Então essa mistura é a nossa oportunidade de trazer o pai, a mãe, os filhos, os irmãos e perceber que a nossa história é de muitos povos e de muitas histórias que começam até antes da presença negra no Brasil.

Mundo Jovem: É importante termos políticas públicas para a superação do racismo e do preconceito?
Bel Santos: O marco legal é muito importante por esta obrigatoriedade que traz de travar debates, de se começar a produzir materiais, mesmo que a lei seja insuficiente para provocar mudanças. Parafraseando Martin Luther King: “A lei pode proibir que o outro me mate, mas não pode obrigá-lo a me amar”. As mudanças das relações precisam de outro suporte, e a lei faz com que se criem políticas de ações afirmativas. Você pode ter ações, provocações e resistências individuais: um indivíduo com uma camiseta de 100% negro, com seu black power, sua trança... Mas como você rompe com o racismo institucional? Como você, dentro da instituição pública, quebra com a postura naturalmente racista de não ter recurso para atividades culturais que tragam a referência africana, de não ter recursos para escolas de qualidade nas comunidades quilombolas? Se há desigualdade, e queremos acabar com ela, tratemos os desiguais de jeitos diferentes, porque se continuarmos tratando os desiguais de forma igual, vamos perpetuar as desigualdades.

Mundo Jovem: Você tem observado alguma iniciativa interessante na aplicação da Lei 10.639/03?
Bel Santos: Em Guarulhos, SP, por exemplo, tem sido destaque a implementação da Lei 10.639/03, a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na Educação Básica. Eles perceberam que não pode ser uma iniciativa somente do educador. O município investiu em cursos, como um de “metodologias de enfrentamento do racismo e de promoção da igualdade racial”, que discute as práticas, desde as situações que acontecem na sala de aula, para você pensar: como é que alguém vai colocar isso no currículo sem ter conhecimento da história africana ou afro-brasileira? Então se trata de ter um professor que, além de desenvolver atividades na Semana da Consciência Negra, vai pensar uma forma de trazer o referencial africano para a Geografia, a História, a Literatura etc. Esses educadores produzem artigos que são publicados na revista Ashanti, que é distribuída para toda a Rede Municipal. O município tem ainda o Prêmio Akoni de promoção da igualdade racial, que é para fotografia, ilustração em quadrinhos e slogans São os alunos construindo campanhas de promoção da igualdade racial. Existem outras experiências: capacitação de educadores, educação a distância (UERJ), na comunicação (Canal Futura)... Então, estou bem otimista porque vejo mais avanços do que retrocessos com a regulamentação dessa Lei. Mas o professor precisa ir atrás dos materiais e compartilhar experiências entre educadores.

Mundo Jovem: Como lidar com alunos que demonstram desinteresse pelos assuntos relacionados à cultura africana?
Bel Santos: O jeito de lidar tem que ser o de não trazer a presença africana só no currículo na disciplina de História. Isso tem que estar nos painéis dentro da escola. Os caminhos são esses: colocar mais melanina, mais pigmentação no currículo como um todo, na estética da escola e trazer para o currículo a diversidade do povo brasileiro. A Alemanha, por exemplo, tem uma estratégia curricular: recontar a história para não esquecer e para não repetir os erros. As crianças estudam a Segunda Guerra, o Holocausto, visitam campos de concentração. Deveríamos, no Brasil, ter um museu que recontasse o que foi a escravidão e destacasse a presença negra no país. No entanto a nossa metodologia aqui tem sido a do “abafa o caso” e parar de falar para ver se esquece.


--------------------------------------------------------------------------------

Por que dizer 100% negro?


Muitos perguntam se isso também não é racismo. Mas se pararmos na frente das lojas, das bancas de jornais, elas já eram 100% brancas. Então quando as organizações começaram a dizer 100% negro era exatamente para provocar esse debate, mostrar que vivíamos numa sociedade que se sentia 100% branca, mesmo sem estar escrito numa camiseta: todos os manequins brancos, todas as capas de revistas com pessoas brancas. Na verdade não somos 50% um e 50% outro, somos um monte de coisas.

Mas é importante trabalhar com esse desafio da diversidade, da humanidade e da identidade, que estão o tempo todo juntas. A minha humanidade garante que sou igual a todos; a diversidade, que sou igual a alguns e diferente de outros; e a identidade, que sou diferente de todo mundo. Então você não consegue pegar um grupo e dizer que é 100% alguma coisa. Mas quando optamos por destacar uma diversidade de algum grupo, é exatamente para quebrar a hegemonia que finge e inviabiliza essa diversidade. Seria, por exemplo, como discutir o “dia do homem”, porque existe o dia da mulher. Porque vivemos num país que ainda é machista, é importante que haja um dia para discutir a identidade da mulher. A mesma coisa quando foi se discutir o 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), pois temos um povo que adora feriado, e pela primeira vez vimos as pessoas reclamando de um feriado, por achar injusto ter um dia para discutir a questão racial. Nesse sentido, acho válido o debate que a camiseta provoca, de ter um grupo que não ac ita a sociedade 100% branca e quer trazer a sua identidade

Entrevista publicada na edição nº 422, novembro de 2011.
É tempo de resgatar a cultura afro-brasileira

Professores podem realizar inscrição para mestrado gratuito em matemática até 26/10

Da Redação
Em São Paulo

Professores interessados em realizar mestrado gratuito em matemática podem se inscrever no exame de admissão do Profmat (Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional) até as 23h59 do dia 26 de outubro, pelo site www.profmat-sbm.org.br. É cobrada taxa de inscrição de R$ 39.

O Profmat é um programa de pós-graduação gratuito, reconhecido pelo MEC/CAPES (Ministério da Educação/Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A prioridade é para professores da rede pública, que podem solicitar bolsas de estudo da Capes, no valor de R$ 1.200. Também são oferecidas vagas para os demais candidatos.

São oferecidas 1.575 vagas em 67 polos em todos os estados e no Distrito Federal - 80% das vagas são destinadas para professores das redes públicas da educação básica que atuem na docência de matemática. No momento da inscrição, o candidato deve indicar a instituição associada e o polo em que deseja estudar. As vagas para cada instituição podem ser consultadas aqui.

O exame será realizado no dia 26 de novembro, a partir das 13h. Serão 35 questões de múltipla escolha, com peso de 70% da prova, e três questões dissertativas, que irão compor 30% da nota final. A prova avaliará os seguintes itens:

Construção de significados para os números;
O conhecimento geométrico e a realidade;
Grandezas e medidas e resolução de problemas do cotidiano;
Variações de grandezas;
Resolução de problemas algébricos;
Organização de dados e tratamento da informação.
O resultado será divulgado no no prazo máximo de seis semanas após a realização do exame. Outras informações podem ser obtidas no edital do programa.

Se a vida sofre mudanças, também a escola deve mudar

polo@polors.com.br

Artigo publicado originalmente na Revista Digital, sob a forma de Tendências Especial, em 24/03/1999

A partir do momento em que a FIAT pensa em construir um novo automóvel até o momento em que este chega às estradas, passam-se sete anos. A partir do momento em que a Glaxo pensa em desenvolver um novo remédio até o momento em que este chega às farmácias, passam-se treze anos. Isto significa que estas empresas são obrigadas a antever quais serão os gostos, os desejos, as exigências, e portanto, a recepção do público com uma grande antecipação. É este o tipo de empresa que geralmente chamamos de marketing oriented.

Usando um critério semelhante, qual seria então a capacidade de antevisão da escola? Se hoje uma criança de seis anos se inscreve na primeira série primária, passará para o ginásio no ano de 2003, entrará na universidade no ano de 2011 e dela sairá em 2016. Somente depois de três ou quatro anos de especialização, em 2020 ela poderá finalmente começar a trabalhar.

Em relação a hoje, é muito provável que em 2020 o câncer e a Aids sejam completamente derrotados por uma vacina preventiva, os computadores sejam capazes de escutar, traduzir, sintetizar e responder em qualquer língua, os microprocessadores e os transistores sejam quase tão pequenos quanto um neurônio, os automóveis sejam todos teleguiados, os cegos possam ver através de aparelhos óticos artificiais, os trens alcancem a velocidade de mil quilômetros por hora, os bens de consumo durem cinco vezes mais, o bióxido de carbono da atmosfera tenha se tornado inofensivo, remédios sejam capazes de simular, estimular ou inibir os sentimentos. É provável que a média de vida seja de aproximadamente 850.000 horas e o tempo que dedicado ao trabalho não supere 30.000 horas.

Não se trata de ficção científica, mas de previsões calculadas com base no estado atual de pesquisas científicas. Previsões estas que a escola deveria obrigar-se a fazer, se quiser orientar a sua própria ação pedagógica e as escolhas de seus estudantes. Este é o problema: a escola italiana é capaz de fazê-lo?

A Itália em confronto

Atualmente existem 197 países em todo o planeta: os mais ricos e desenvolvidos pertencem à OCSE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e são 29; os mais importantes em absoluto são sete e constituem o G7. A Itália, sendo pequena, conseguiu ocupar uma destas sete posições privilegiadas e chega a produzir 3,4% de toda a renda do mundo: mais que a Grã Bretanha (3,3%) e quase tanto quanto a França (3,6%). Até mesmo mais que toda a África colocada junta ( 3,3%).

Se compararmos a performance de um profissional italiano com a de um colega estrangeiro, quase nunca sairemos perdendo. O conjunto destas constatações deveria legitimar uma certeza, quase um orgulho: somando tudo, a nossa escola não tem nada a invejar na dos outros países avançados. A verdade é que até agora nos salvamos graças à mistura de culturas clássica e científica de nosso país, que nos forneceu instrumentos para sobreviver à concorrência internacional. A guerra fria e a divisão geopolítica em dois blocos favoreceram o nosso país, que tem a ventura de estar colocado topograficamente no cruzamento que assinala a divisão das águas entre o Norte e o Sul do planeta, e o Oeste e o Leste do mundo.

Mas hoje a divisão em blocos foi substituída por uma numerosa rede de relações plurilaterais, a concorrência se faz sem piedade -sobretudo no plano cultural e científico-, e é difícil ser otimista quando se tenta prever o êxito no futuro confronto entre os resultados da nossa escola e o das escolas inglesas, estadunidenses, soviéticas, alemãs, japonesas e até chinesas.

A Sociedade Alfabetizada

O sentido da escola está na transformação da vida, na transformação da sociedade, na transformação do trabalho e sua relação com o tempo livre. A sociedade, como é de conhecimento geral, passou de um arranjo industrial, centrado na produção de bens materiais, para um arranjo pós-industrial, centrado na a produção de bens imateriais: símbolos, informações, estética e valores. Paralelamente, cresceu a preparação intelectual de cada um: na Itália, há cem anos, os analfabetos eram 45% da população; hoje são menos de 3%. Todos os anos se imprimem 200 milhões de livros; 10.000 jornais e três bilhões de cópias de periódicos. Nas bibliotecas públicas são consultados três milhões de livros por ano. Dezesseis milhões de italianos assinam tv a cabo; 90% dos adultos assiste o telejornal todos os dias. A quase totalidade dos trabalhadores é alfabetizada, e a grande maioria exerce funções preponderantemente intelectuais. À medida em que aumenta a potência das máquinas, é possível delegar a elas grande parte do trabalho intelectual do tipo executivo; as atividades que se tornam monopólio do homem são preponderantemente criativas.

A sociedade eficiente

Há cem anos atrás, em 1891, haviam aproximadamente 30 milhões de italianos, que trabalhavam em geral 40 bilhões de horas ao ano. Hoje existem aproximadamente 57 milhões de italianos, que trabalham 30 bilhões de horas ao ano. Contudo, produzem 13 vezes mais.

Isto depende de pelo menos 5 fatores simultâneos:
1) o progresso tecnológico, que difunde máquinas cada vez mais capazes de substituir o homem, seja no trabalho físico, seja no trabalho intelectual;
2) o progresso organizativo, graças ao qual se consegue obter cada vez mais eficiência paralela à tecnologia;
3) a globalização, que determina uma abertura crescente de trocas numa escala internacional, uma oferta cada vez mais integrada, uma interdependência cada vez mais estreita entre as economias e as culturas, uma competição planetária, com o conseqüente redimensionamento dos salários e do estado social;
4) a divisão internacional do trabalho, devido à qual grande parte dos produtos e serviços vêm de lugares onde o custo da mão-de-obra é menos elevado; 5)as privatizações, que geram fortes ganhos de eficiência e, conseqüentemente, drásticas reduções de pessoal.

A sociedade informada

Em 1956, pela primeira vez em um país -os Estados Unidos-, o número de colarinhos brancos superou o de colarinhos azuis. Daniel Bell caracterizou esta data como o início da sociedade pós-industrial, evento histórico comparável àquele que, na Inglaterra de cem anos atrás, assinalou a ultrapassagem do número de trabalhadores industriais sobre o de camponeses. Em 1995, pela primeira vez em um país - os Estados Unidos novamente-, vendeu-se mais computadores que televisores e trocou-se mais mensagens pela Internet que pelo correio: de fato, 40% das famílias americanas têm um computador, 25% têm dois computadores e por dez anos consecutivos os assinantes da Internet aumentaram em 5% ao ano. No setor da informática as transformações são tão velozes que 80% do faturamento atual deriva de produtos que há dois anos nem mesmo existiam. O business da informática propriamente dita da Itália representa mais de 20%. Portanto, o trabalho necessário para colocar o país no passo certo é imenso; o papel das organizações é fundamental, e o da escola, imprescindível.

A gestão da inovação

Segundo as estatísticas da ONU, entre 1960 e 1990 o índice de pessoas que vivem em condições desesperadas baixou de 70 para 46%, e a taxa de instrução média nos adultos subiu de 47 para 69%. Na Itália o teor de vida ostentado até nas regiões mais pobres testemunha um progresso que os nossos avós não poderiam nem mesmo imaginar. Porém, a cada 1000 crianças que entram na primeira série primária, somente 684 conseguem obter o diploma de segundo grau e somente 165 conseguem se graduar na universidade. Na região do Vêneto, onde a renda média é a mais alta do país, o percentual dos diplomados no segundo grau e dos graduados é bem mais baixo: a pobreza reduz a escolaridade no Sul e a riqueza a reduz no Norte, onde um jovem prefere trabalhar logo ao invés de completar a própria formação.

Assim, falta o suporte cultural indispensável para dominar as inovações, que correm em cinco direções:
1) um progresso tão veloz que parece indomável;
2) um precipitar tão rico e rápido de acontecimentos que induzem a um esmaecimento e a uma perda de sentido;
3) um crescente medo de ser despedido, que antes concernia somente à classe operária e que agora se estendeu aos empregados, gerentes, e até diretores;
4) uma crescente abertura entre as velhas e novas gerações, entre os portadores de um paradigma existencial do mundo industrial e os portadores de um novo paradigma do mundo digital e virtual;
5) uma percepção de que se é ao mesmo tempo ameaça e ameaçado por parte dos países emergentes, sobretudo os orientais, com seus eficientismos, suas insondáveis especificidades culturais, suas tenazes operosidades desvinculadas da exigência de direitos civis que são para nós irrenunciáveis. A escola, portanto, é chamada a provocar tempestivamente as mudanças, a compreender a natureza e o alcance, a orientar os jovens de modo que sejam capazes de administrar a inovação e não de se submeter à ela.

Um novo paradigma

O conjunto das inovações determinou o advento de um novo paradigma, que chamaremos de digitalidade. Um número crescente de pessoas aderentes a este paradigma apresenta um modo de viver completamente novo em relação àquele que por dois séculos caracterizou a sociedade industrial. Estas pessoas formam uma massa volumosa e homogênea, separada e contraposta em relação a todos aqueles que não são digitais. Um dos profetas desta revolução, Nicholas Negroponte, indica que o âmago da revolução está na passagem dos átomos para as cifras. Um outro, Bill Gates, sustenta que a revolução aconteceu em duas etapas: primeiro com a invenção do computador, e depois com a estrada da informática. Estas são algumas das causas. Mas a essência do fenômeno consiste no fato de que ele não se deve a um ou mais fatores únicos, mas sim a um complexo de novidades iniciadas cada uma por iniciativa própria, e depois lentamente fluídas através de um sistema coerente, que por comodidade definitória chamamos de digital, mas que trata de campos diferentes: da ciência e da tecnologia à estética, da biologia ao trabalho e ao costume.

Aqueles que compartilham este paradigma até fazer dele um fato mental e mantêm um comportamento otimista em relação à vida e ao destino do ser humano, nutrem confiança nos confrontos das espécies que ocupam o planeta, e estão certos que a tecnologia, a inteligência e a criatividade prevalecerão sobre os instintos autodestrutivos do homem. A informática é só um dos pilares culturais sobre os quais se baseia esta confiança. À ela é preciso acrescentar:
1) a satisfação para a conquistada ubiqüidade, graças aos meios personalizados de comunicação planetária (do fax ao celular, do correio eletrônico à Internet);
2) uma disponibilidade de virtualidade, que torna as relações sempre mais abstratas e enriquece os sentidos de novas dimensões;
3) as esperanças legitimadas pela engenharia genética, graças a qual pode-se contar com uma vida ainda mais longa e sã do que a atual;
4) a feminilização da sociedade, em que não somente as mulheres conquistaram o acesso às salas com botões que os homens haviam reservado para si, mas as virtudes femininas da subjetividade, da emotividade, da estética e do cuidado com o corpo humano lentamente conquistaram também os homens.

Os digitais têm um comportamento positivo em relação às inovações organizativas e em relação à flexibilidade das formas externas de teletrabalho; privilegiam a organização por objetivos; crêem na necessidade de substituir os sistemas de controle (adotados pelo trabalho físico, parcelado e executivo) pelos sistemas de motivação (adotados pelo trabalho intelectual e criativo). São convencidos de que o trabalhador pós-industrial não deve vender tempo, mas sim resultados.

Os digitais têm intimidade com a informática e com a onipresença, com as conquistas da biologia e com iguais oportunidades. Além disso, cultivam uma estética pós-moderna destinada a dar sentido às coisas e aos eventos, e a compor em um único desenho os vários fragmentos de atividade de ócio em que a vida atual se estende e se fragmenta. Amam o tempo livre ao menos enquanto tempo de trabalho; vivem a noite como o dia; admiram a arte, ao menos aquela clássica. Até um tempo atrás, aqueles que aceitavam a engenharia genética não coincidiam com aqueles que aderiam à virtuosidade, os virtuais não coincidiam com os feminilizados, e assim por diante. Hoje, ao contrário, os digitais compartilham em bloco destas novidades da época, as quais acabaram por contribuir para a construção de um único, coerente paradigma, que serve de linha divisória das águas entre todos aqueles que (por mais adultos, com trabalho e renda certa) pertencem ainda à cultura moderna, e todos aqueles que (por mais jovens, freqüentemente desempregados, quase sempre cultos) já pertencem à cultura pós-moderna.

A formação total

Enquanto aumenta o tempo livre, a educação familiar e escolar continuam a privilegiar a preparação do jovem para o trabalho. A severidade da disciplina, o ritmo das tarefas escolares, o conteúdo dos programas visam a preparar cidadãos mais para as 70.000 horas de trabalho que para as 300.000 horas de não-trabalho que caracterizam a nossa vida. Nas escolas mais célebres (pensa-se a mítica Phillips Academy americana ou a Yoyogi School japonesa ) os ritmos são ainda obsessivos, o horário é estressante, a competitividade não tem limite. Por quê? Porque tudo é predisposto em função da futura profissão, da máxima eficiência, da carreira pela qual se sacrifica o afeto familiar, a liberdade de pensamento, a vida toda, sem nenhum interesse resíduo para o tempo livre.

Contra esta filosofia do sacrifício, que não serve mais nem à eficiência das empresas nem à criatividade dos indivíduos, hoje conspira o alongamento da vida e o progresso tecnológico. Mas, devido aos hábitos desenvolvidos, os nossos programas escolares ficam marcados mais pela obsessão do bem-fazer do que pelo prazer do bem-estar.

O trabalho oferece, sobretudo, a possibilidade de realização prática, de ganho, de prestígio e de poder. O ócio oferece, sobretudo, a possibilidade de introspecção, de brincadeira, de convívio, de amizade e de amor. Perpetuando programas de inspiração industrial, a escola forma os jovens para o pouco trabalho que lhes resta, ao invés de formá-los para o muito tempo livre que acabarão por dispor.

Uma formação total, ao contrário, deve preparar ao mesmo tempo para o trabalho, para o estudo e para o tempo livre, porque a vida de todo adulto que exerce atividades intelectuais é afinal um inextricável conjunto destas três formas complementares. Como premissa para uma formação total, é necessário um pacto entre as gerações para redistribuição do trabalho, da riqueza e do poder. Depois, é necessário que a escola alimente o jovem de novas capacidades, como a de formar-se para o trabalho (dimensionando o papel e a duração), de vender resultados com alto valor agregado, de adquirir as qualidades necessárias para projetar o seu próprio futuro, de fazer a hibridização equilibrada entre trabalho, estudo e tempo livre, de formar-se para ócio criativo através do crescimento cultural, de requintar o próprio senso estético, de tender a uma qualidade sempre mais requintada da própria vida. Sobretudo é preciso que o país inteiro compreenda que a escola é tudo: o futuro coletivo da nossa pátria no mundo e a condição da felicidade individual dos cidadãos. Quando, no final de 1.800, o ministro Baccelli propôs a escola de ensino básico (da primeira à oitava série), a oposição perguntou o que faria a Itália com tantos alfabetizados. O ministro respondeu que a quinta série primária não servia para trabalhar mas para viver. A mesma coisa vale hoje: não para o diploma de ginásio, mas para a graduação.

Decálogo para educar quem terá trinta anos em 2015

Com base em todas as observações sintetizadas até aqui, podemos propor uma espécie de decálogo para a escola hoje frequentada pelos adolescentes que terão trinta anos em 2015. Contém previsões e sugestões de provável utilidade.

Longevidade. Em 2015, quando os atuais alunos do ginásio tiverem trinta anos e estiverem no início de suas atividades profissionais, a esperança de vida será de cem anos e de ótima saúde. A maioria das pessoas se torna velha só no último ano da própria vida, portanto estes estudantes viverão, trabalharão, amarão, até 2085, experimentado coisas que hoje nem mesmo conseguimos imaginar.

Tecnologia. Em 2015, quando os atuais alunos do ginásio tiverem trinta anos, a duração dos bens de consumo será quatro vezes maior que hoje, existirão elaboradores mil vezes mais potentes do que os atuais, um microprocessador será tão grande quanto um neurônio humano, custará menos de cem dólares e a sua potência será igual a de um bilhão de transistores. Conseqüentemente, em 2015 todos os trabalhos manuais e intelectuais de tipo repetitivo e executivo poderão ser desenvolvidos pelas máquinas. A escola, se quer ser útil aos seus alunos atuais, deve educá-los à criatividade suportada pela informática.

Trabalho e formação. Em 2015, cada indivíduo disporá de 30.000 horas de trabalho. O horário perderá importância, e nos países ricos a semana de trabalho não superará 15 horas em três jornadas. Os atuais estudantes trabalharão com resultados e não com tempo, misturando o estudo, o trabalho e o tempo livre. A instrução será entendida como formação permanente, e ocupará ao menos 100.000 horas de suas vidas. Haverá guerra sem limite entre criatividade e burocracia. Serão remunerados também os estudantes e as donas de casa. Ninguém desempenhará funções operárias por mais de cinco anos. Se ainda houverem desempregados, eles terão, de qualquer forma, um salário, enquanto muitos daqueles que trabalharem, o farão sob a forma de voluntariado.

Onipresença e maleabilidade. Em 2015, será possível fazer contato com qualquer pessoa em qualquer ponto do planeta, através do celular, computador e redes: sem dar um passo. As pessoas teleaprenderão, teletrabalharão, teleamarão, e se teledivertirão. Correrão, desta forma, o risco de se tornarem abstratos demais devido à falta de contato material com seus semelhantes. Portanto, desde agora, a escola deve contribuir para educá-los para uma familiaridade equilibrada com os instrumentos de comunicação e com a virtualidade.

Tempo livre. Em 2015 cada pessoa disporá de 400.000 horas de tempo livre. Isto constituirá o problema mais atormentador: como ocupar estas horas? Como evitar o tédio? Como conseguir crescer intelectualmente? Alcançar uma maior violência ou uma maior paz social? E a violência, será virtual ou real? É preciso, portanto, que a escola desde hoje prepare seus alunos para o tempo livre, mais do que prepara para o tempo de trabalho, e que os ensine a simular virtualmente os cenários nos quais eles deverão trabalhar e viver.

Androginia. Em 2015, as mulheres poderão ter um filho sem ter um marido, enquanto os homens não poderão ter um filho sem ter uma mulher. Também por isso as mulheres estarão no centro da sociedade, de onde administrarão o poder com a dureza derivada das razões submetidas nos últimos dez mil anos. Os valores até aqui cultivados preponderantemente pelas mulheres -estética, subjetividade, emotividade, flexibilidade- terão colonizado também os homens.

Ambos compartilharão as atividades de produção e de reprodução. No estilo de vida, prevalecerá a androginia.

Estética. Em 2015, todas as tecnologias serão mais precisas para aqueles que as usarem (já hoje os relógios de pulso mudam um milionésimo de segundo ao ano). Descontada a perfeição técnica, somente qualidades formais dos objetos interessará. Por isso, aqueles que se dedicarem às atividades estéticas serão mais apreciados do que aqueles que se dedicarem às atividades científicas e práticas. A estética se expressará também através da informática, e desde hoje os alunos deverão ser educados para o casamento entre tecnologia e beleza.

Ética. Em 2015, o trabalho será quase que completamente terceirizado. Na sociedade dos serviços, a confiança constituirá a primeira vantagem competitiva e a ética dos profissionais constituirá seu mais alto mérito. Como a sociedade industrial é muito mais honesta e menos violenta do que a rural, assim a sociedade pós-industrial será muito mais honesta e menos violenta do que a atual. Portanto, se quiserem ter sucesso, os atuais alunos deverão ser cavalheiros, e desde agora a escola deverá ser mais severa ao educar para a correção profissional e social.

Subjetividade. Em 2015, cada pessoa tenderá a diferenciar-se fortemente das outras, no que diz respeito aos gostos, desejos e comportamentos individuais. Esta pessoa tenderá a fazer somente aquilo que sente paixão, e se ativará exclusivamente nos setores que se sente intensamente motivado. A motivação será o maior fator competitivo, e a escola deve começar a perceber isto desde agora.

Qualidade de vida. Em 2015, quando os atuais alunos do ginásio tiverem trinta anos e estiverem no início de sua atividades profissionais, a maior parte das pessoas estará certa de que só se vive uma vez, e que, portanto, é preciso viver bem. Grande parte das profissões consistirá em atividades dedicadas ao bem-estar próprio e dos semelhantes. Como se viverá mais, cada um se preocupará cada vez menos com a quantidade de vida, e cada vez mais com a sua qualidade. A escola não poderá fingir não sabê-lo.

Domenico De Masi é professor de sociologia do Trabalho na Universidade de Roma e consultor de corporações como a IBM, a Glaxo e a Fiat.
Autor: polo@polors.com.br
polo@polors.com.br

Depoimentos de alunos

* “Hoje em dia os jovens não dão importância para o trabalho do professor, se julgam acima deles e acham que podem tudo em suas aulas. Mas provavelmente, no futuro, estas atitudes terão sérias conseqüências e sentirão falta de quem se dedica tanto a eles hoje”. (Maithê Medeiros - 16 anos, Ensino Médio)

* “Ser professor exige dedicação, equilíbrio, força de vontade e, principalmente, paciência. O que eu acho legal é a troca de conhecimentos entre professor e aluno, porque além de ensinar, o professor também aprende” (Jéssica Ribeiro - 16 anos, Ensino Médio)

* “Professor é aquele que, além de ensinar, está sempre disposto a te ajudar. Às vezes fico mais tempo com meus professores do que com meus próprios pais” (Elisiane Scheffer Caetano - 16 anos, Ensino Médio)

* “Se existe alguém que nos ensina a trilhar caminhos, respeitando as diferenças, esse alguém é o professor. Ele aprende para ensinar e vive a aprender. A escola é a base de tudo e o professor é a fortaleza que compartilha um tempo de sua vida e é a nossa segunda família. Professores nos fazem pensar em coisas que jamais imaginaríamos refletir, em coisas dolorosas como a verdade e a realidade. Um simples gesto muda a vida de muitos, que aproveitam para aprender e a conviver com erros e tropeços que a vida dá. O professor nos prepara para o futuro. Seus conhecimentos nos ajudam a escolher caminhos. Destes caminhos, nasce o futuro. Não é o professor que vai nos dizer o que fazer, ele apenas vai nos acompanhar para quando estivermos prontos, abramos asas para voar” (Eduardo M. Pereira, 16 anos - Ensino Médio)

MT- Começa hoje semana científica da UFMT no Araguaia

De Barra do Garças - Ronaldo Couto


Mostra reúne trabalhos dos 16 cursos da UFMT do AraguaiaA primeira Semana Cientifica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) do campus de Barra do Garças começa nesta segunda-feira (17) com mostra de cursos e trabalhos desenvolvidos por alunos e acadêmicos da instituição no Vale do Araguaia. A UFMT oferece 16 cursos nos campus de Barra e Pontal do Araguaia nas áreas de humanas e exatas.

A exposição estará aberta à visitação durante todo o dia e também à noite com apresentação de trabalhos acadêmicos. Os alunos do curso de Jornalismo prepararam um mural de fotos, um informativo e vão apresentar também vídeos e áudios realizados pelos alunos do 2º e 3º ano.

As mostras de cursos e extensão eram realizadas separadas e pela primeira vez a universidade resolveu reunir todos os produtos numa mostra única. O objetivo é fortalecer o produto oferecido pelo campus do Vale do Araguaia.

A Semana Cientifica do Araguaia reserva para os dias 17 e 18 de outubro a mostra dos cursos. Na seqüência, nos dias 19, 20 e 21 de outubro o espaço será destinado para mostra de pesquisa e extensão com exibição oral ou escrita de trabalhos. Serão realizadas mesas de debates e palestras.

A abertura do evento será logo mais às 19 horas no campus de Barra. A exposição estará à disposição de manhã, à tarde e a noite a partir desta terça-feira.

Entrevista com Charles Hadji

A avaliação nos limites da razão é o instigante título do livro que o francês Charles Hadji atualmente está escrevendo. "Tento mostrar como é possível escapar aos desvios e às perversões da grande tentação avaliativa que tomou conta nossa época e que fica evidente na insanidade das premiações e das classificações, na veneração dos indicadores e no desprezo das finalidades", adianta o professor emérito da Universidade Pierre Mendès-France Grenoble 2. Considerado um dos maiores estudiosos da avaliação na atualidade, Hadji desenvolve um trabalho de reflexão e de pesquisa metodológica sobre uma avaliação que, além da simples eficácia ou mesmo da equidade, está voltada para aquilo que ele chama de educatividade ou valor propriamente educativo (VPE) de toda ação com pretensão educativa. "Essa ação foi educativa?: eis a pergunta que em geral se esquece de fazer!", explica Hadji. Enquanto o novo livro não chega às livrarias, leia na entrevista a seguir algumas das ideias que têm pautado toda a sua obra: "É hora de a avaliação recobrar sua razão".

Muito além dos indicadores


Quais foram, na sua opinião, as principais as mudanças ocorridas na esfera educativa nestes últimos anos?

Correndo o risco de ser um pouco sucinto, visto que esta análise exigiria um trabalho sério, de ordem histórica, econômica e sociológica, eu destacaria cinco mudanças educativas importantes nos últimos 30 anos, referindo-me particularmente à situação da França: primeiro, a mudança do público das instituições de ensino, sobretudo nos níveis de ensino secundário e superior; segundo, a mudança nos comportamentos escolares em um contexto de dessacralização, no qual já não se atribui o mesmo prestígio à escola, e de dessantuarização, no qual a escola não é mais uma ilha, um refúgio calmo e protegido, ao abrigo dos sobressaltos e das tensões do mundo, sendo que a violência irrompeu nas próprias salas de aula; terceiro, a mudança nas condições de exercício do ofício de professor; quarto, as mudanças das expectativas em relação à escola, ou seja, em um clima de crise econômica e social, atribui-se a ela a responsabilidade de prevenir e de regular todos os problemas: de violência social, de competência técnica e econômica dos trabalhadores, de conflitos entre culturas e religiões e, ao mesmo tempo, manifesta-se em relação a ela desencanto, no melhor dos casos, e desprezo no pior deles. Finalmente, as mudanças nas tecnologias da informação e da comunicação.

Podemos dizer que as práticas avaliativas acompanharam essas mudanças?

Em relação a essas importantes transformações, as práticas de avaliação com certeza não evoluíram tão rápido nem de maneira tão satisfatória quanto seria necessário. É claro que não se deve esperar da avaliação que, como um cata-vento, siga todas as evoluções e se adapte a todas as mudanças do contexto, sob pena de perder seu espírito, isto é, de esquecer a especificidade dos serviços que ela pode e deve oferecer em razão de sua essência. É preciso lembrar, agora e sempre, que a avaliação serve para dizer se uma realidade é aceitável em face de determinadas expectativas, formular aquilo que chamei de "julgamento de aceitabilidade".

Qual é o impacto dessas mudanças
na avaliação escolar?

A maior heterogeneidade dos alunos criou algumas dificuldades de ordem didática e pedagógica: o que é preciso ensinar a esses alunos e como fazer isso de maneira eficaz? Progressivamente, impôs-se a ideia de centrar o ensino em um "patamar comum" de conhecimentos, de competências e inclusive de regras de comportamento, e a avaliação teria então como tarefa essencial apreciar sua construção. A necessidade de se centrar em noções essenciais, em aprendizagens fundamentais, caminhou logicamente a par da emergência e do desenvolvimento de uma corrente que se instalou em vários países francófonos (Quebec, Comunidade Francesa da Bélgica, cantão de Genebra): a da abordagem da avaliação pelas competências. Se uma "pedagogia da integração" dá ênfase às competências que todo aluno deve dominar, a avaliação das aquisições deve ser focalizada nas competências, que serão apreciadas em situações concretas e complexas. A necessidade de dar mais atenção à diversidade dos alunos, levando em conta a singularidade de seus percursos de aprendizagem, levou, aliás, ao desenvolvimento de ferramentas como o portfólio, coleção seletiva de trabalhos de um aluno que ilustra, por meio de suas realizações, os esforços e progressos feitos. Essa ferramenta de autoavaliação é considerada por alguns como uma alavanca para melhorar o ensino, podendo inclusive ser utilizada nas classes pré-escolares.

E em relação às mudanças no ambiente
escolar e na profissão docente?

As evoluções dos comportamentos (alunos mais difíceis) e o aumento da violência voltaram o foco para os estabelecimentos de ensino e para o "clima" que reina em cada um. Assim, desenvolveu-se uma corrente de pesquisa sociológica centrada na observação de eventuais "efeitos-estabelecimento", procurando determinar a parte do clima nesse efeito, ao mesmo tempo em que se multiplicavam as tentativas de avaliação, sejam externas (por especialistas), sejam internas (pelos atores do terreno), sejam mistas. As transformações do ofício de professor, que passa a ser "facilitador de aprendizagens" em um contexto mais difícil, provocaram inúmeros conflitos de ordem mais ideológica do que científica. Isso teve como efeito confundir a questão da avaliação "formativa" e lançar uma espécie de véu de ignorância sobre a pertinência fundamental da intenção de colocar as avaliações feitas durante a escolaridade a serviço das aprendizagens dos alunos.

A questão das expectativas em relação à escola que o senhor levanta parece ser um dos maiores desafios para a avaliação. O senhor concorda com isso?

A mudança das expectativas em relação à escola deveria ter conduzido a uma reflexão coletiva aprofundada sobre suas finalidades, o que não ocorreu verdadeiramente. Ora, a falta de especificação das finalidades torna qualquer priorização discutível (quais devem ser, de fato, as expectativas consideradas prioritárias?) e, em última análise, qualquer avaliação do sistema arriscada. É por isso que as avaliações nacionais de caráter global, assim como as avaliações internacionais das aquisições do tipo PISA, desenvolvem-se em um clima de conflito ideológico sobre a queda do nível ou os efeitos nefastos de centrar no aprendiz (na França) ou sobre o malefício da supressão das notas (na Suíça). Também nesse caso, a questão da avaliação não fica clara em certos debates que acompanham as evoluções recentes do cenário educativo. Um importante esforço de esclarecimento ainda precisa ser feito, tanto no que diz respeito às missões da escola quanto no que se refere aos usos da avaliação dessas missões.

E qual é o papel das novas tecnologias na avaliação?

Começa-se a constatar o desenvolvimento de práticas de avaliação que utilizam as novas tecnologias de forma apropriada, isto é, como uma ferramenta eficaz de coleta de informações sobre o trabalho dos alunos e sobre os seus resultados. Embora não seja da natureza dessas tecnologias transformar o ato de avaliação, elas podem melhorar consideravelmente a sua prática. Porém, como já observei, seu maior interesse é de ordem pedagógica.

Voltando à questão da diversidade, como
levar em conta as diferenças entre os alunos,
em particular nos seus ritmos, e ao mesmo tempo respeitar as exigências de rendimento?

Trata-se de uma questão de ordem didática e pedagógica: a avaliação aqui só é envolvida de maneira secundária, como auxiliar da tarefa de ensinar e de formar. O problema é gerir adequadamente a heterogeneidade dos alunos. Uma das respostas é o desenvolvimento de práticas de "pedagogia diferenciada". É no seio dessas práticas que a avaliação formativa encontra todo o seu sentido e toda a sua dimensão, orientando o professor sobre as suas escolhas (relativas à composição de grupos temporários de trabalho, à seleção de tipos e níveis de exercícios, à implementação de métodos específicos) e sobre os efeitos dessas escolhas. Podemos pensar então que essa diversificação dos "menus", dos ritmos, dos métodos, é o caminho mais apropriado para possibilitar que crianças de origens, motivações e competências diversas progridam no seu ritmo, mas em uma mesma estrutura educativa, na qual poderão avançar também na consciência de seu pertencimento a uma mesma "cidadania", no sentido de um patamar comum de competências de base − e isso até a conclusão do ensino fundamental obrigatório. Uma avaliação centrada nas competências é totalmente coerente com essa prática no âmbito de uma progressão educativa mais voltada para "aquilo que não se pode ignorar" do que para "aquilo que se deve saber". Assim, a uma orientação tradicional, que leva a ampliar os programas em excesso, segue-se uma orientação inovadora, que privilegia o essencial.

A maneira de pensar a avaliação oscila
segundo os paradigmas educativos. Haveria
tendências dominantes na avaliação escolar?

É preciso primeiramente identificar os "paradigmas" educativos existentes hoje. Poderíamos opor a educação tradicional ou tradicionalista (que privilegia a transmissão de um conteúdo a alunos mais passivos) à educação nova (caracterizada pela confiança na capacidade de desenvolvimento positivo da criança, que deve ser ativa). A educação tradicionalista teria hoje a cara da "escola republicana", daqueles que querem voltar aos métodos "que foram postos à prova no passado", um passado geralmente mítico e fantasioso! E a educação nova teria a cara de todos aqueles que preconizam uma pedagogia ativa, centrada no trabalho dos alunos. No primeiro caso, a avaliação escolar tem como principal objetivo medir a efetividade da transmissão dos saberes. No segundo caso, visa a apreciar a situação de cada aluno em cada um dos campos de desenvolvimento. No primeiro caso, poderíamos falar de avaliação administrativa institucional; no segundo, de avaliação pedagógica. As duas são necessárias em uma atividade educativa instituída. O problema seria que a necessidade de uma fizesse esquecer a da outra. Poderíamos acrescentar a esses dois paradigmas o da "pedagogia de domínio", oriunda dos trabalhos de Bloom e fundada na ideia de que todos os alunos serão capazes de aprender se lhes derem o tempo necessário conforme uma progressão organizada racionalmente. Nesse caso, a avaliação serve para verificar, ao final de cada unidade de ensino, o domínio das competências ensinadas, o que vai no mesmo sentido da avaliação centrada nas competências.

Quais mudanças na avaliação podem ser previstas para os próximos anos?

Não sendo adivinho, não me arriscarei (tal como em matéria de futebol, por exemplo) a fazer prognósticos que a realidade terá o prazer malévolo de desmentir amanhã! Contudo, duas coisas parecem-me mais ou menos certas: a primeira é que, em uma sociedade conturbada, na qual a exigência de resultados torna-se uma obsessão, a demanda de avaliação só tende a aumentar. A extensão do campo da avaliação nesse aspecto chega a ser impressionante hoje. A segunda é que, diante disso, deve-se procurar sempre manter um equilíbrio entre avaliação administrativa e avaliação a serviço dos públicos, tendo-se o cuidado para que a avaliação não se torne um instrumento de opressão a serviço de um poder tentado pelos abusos, mas também para que ela não deixe de lado suas exigências de pertinência e de objetividade. É por isso que será preciso voltar permanentemente ao fundamental, lembrando aquilo que dá sentido à atividade de avaliação: tentar verificar em que medida os objetivos considerados prioritários foram ou não atingidos. Isso sempre estará além da simples medida e do mero recurso a indicadores. Eis finalmente o prognóstico que me arrisco a fazer.

« voltar

Lelo Coimbra é o novo presidente da Comissão Especial do PNE 2011-2020

Parlamentar assume com compromisso de garantir o maior consenso possível Arquivo/Romero Mendonça/Secom

Da Redação do Todos Pela Educação*

O deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES) foi eleito, nesta terça-feira (27), o novo presidente da Comissão Especial do Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020 (PL 8035/10). Ele substitui Gastão Vieira (PMDB-MA), que se licenciou para assumir o Ministério do Turismo no último dia 16.

Coimbra é médico sanitarista e já foi secretário de Educação do Espírito Santo, de 2005 a 2006. Segundo informou a Agência Câmara, ele foi o único candidato ao cargo e obteve os votos de todos os 15 parlamentares presentes na reunião da comissão. Ele assumiu o posto com o compromisso de garantir o maior consenso possível na votação do plano.

O PNE deverá ser a principal diretriz para as políticas públicas educacionais no Brasil e, para vigorar, precisa ser debatido e aprovado pelos parlamentares do Congresso Nacional e passar pela sanção presidencial. Neste momento da tramitação, os deputados e a sociedade aguardam parecer do relator Angelo Vanhoni (PT-PR).

Recursos do PIB
Vanhoni já afirmou que seu parecer deverá ser divulgado em meados deste mês. Ele também informou que seu relatório deverá propor algum número entre 7% e 10% do Produto Interno Bruto (PIB), para a meta de aplicação de recursos públicos na Educação. A proposta inicial, de autoria do governo, estabelecia 7% do PIB para o setor.

Atualmente, União, estados e municípios investem, juntos, 5% do PIB em Educação. O texto do Executivo propõe a ampliação desse valor para 7% até 2020, mas entidades ligadas ao setor pedem a aplicação de 10%. Para Vanhoni, uma meta intermediária é “a ousadia possível”.

Pontos de dissenso
De acordo com o novo presidente, dois pontos deverão causar maiores divergências nos debates: o percentual do PIB a ser investido na área e as possibilidades de parcerias entre o governo e instituições privadas de Educação. “Um segmento minoritário, mas importante, entende que a Educação deve ter natureza 100% pública. Contudo, não é correto desconhecer a importância das instituições privadas para o desenvolvimento da nossa Educação”, disse.

Apesar das discordâncias que devem ocorrer, Coimbra promete buscar coesão entre governo e oposição. “A gente só deve colocar o relatório em votação quando tivermos uma convergência mínima. Teremos, sim, divergências em debate, mas, na hora do voto, essas divergências já devem estar bem organizadas e trabalhadas”, destacou.

A expectativa de Lelo Coimbra é que o relatório de Vanhoni seja votado até o final de novembro deste ano. Logo após, caso seja aprovado e não haja recurso para análise do projeto pelo plenário da Câmara, o texto segue para o Senado.


* Com informações da Agência Câmara

Falta à Justiça brasileira a definição clara do que é qualidade da Educação

Com esse conceito, operadores do direito podem trabalhar pela garantia do aprendizado Alexandre Ondir/TPE

Da Redação do Todos Pela Educação, em Brasília

Falta aos operadores do direito a definição clara do que é “qualidade da Educação”. Com esse conceito, o sistema judiciário brasileiro pode atuar de forma mais efetiva para garantir um ensino de qualidade a todos os alunos, afirmaram participantes da sessão “Justiça pela qualidade da Educação”, realizada nesta terça-feira (13), no Congresso Internacional “Educação: uma Agenda Urgente”.

Veja como foi o Congresso Internacional "Educação: uma Agenda Urgente"

“O que é qualidade? Como incorporar a qualidade no sistema de Justiça? Nós do sistema judiciário não discutimos a qualidade, mas sim a falta dela. Precisamos definir quais os critérios objetivos para podermos levar ao Judiciário”, disse Luiz Antonio Ferreira, promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo e representante da Associação Brasileira dos Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP).

Para o diretor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oscar Vilhena Vieira, apesar dos avanços nos últimos anos, ainda falta participação das escolas de direito nesse debate. “Juristas trabalham com conceitos, mas precisamos fazer um esforço para refinar o significado do direito à Educação e traduzir isso em mecanismos jurídicos. A academia jurídica poderia fazer esse mapeamento e me parece que a comunidade jurídica ainda deve muito”, afirmou.

Segundo Vieira, esse mapeamento é fundamental para guiar os agentes do direito e assegurar que as ações de sucesso sejam aproveitadas por outros operadores: “As escolas de direito poderiam mapear quais foram as ações do Judiciário que contribuíram para impactar no aprendizado de maneira positiva. Precisamos saber o que funcionou”.

Justiça deve combater a desigualdade
Outro ponto levantado pela secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) Maria do Pilar Lacerda, é o impacto negativo da desigualdade social na Educação do País. “Pensar a questão da Justiça na Educação é pensar a injustiça da desigualdade social, como no pagamento dos professores da rede pública de ensino. É pensar num País que naturalizou a injustiça e a desigualdade”.

“Não há qualidade sem equidade. Não queremos um País com meia dúzia de pessoas bem formadas, enquanto uma grande massa responde a comandos. Queremos cidadãos ativos e participativos. Por isso, deveríamos colaborar com uma sistematização da legislação sobre Educação e ter clareza do que precisa ser cobrado”, afirmou André Lázaro, presidente do Conselho Assessor das Metas 2021 da Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI), que sintetizou os resultados do debate.

Sobre o Congresso
O movimento Todos Pela Educação, em parceria com instituições nacionais e internacionais, promove, até sexta-feira (16), o Congresso Internacional “Educação: uma Agenda Urgente”.

O encontro pretende abordar diferentes temas fundamentais para acelerar a melhoria do aprendizado dos alunos e da Educação Básica no País, como: carreira docente, formação inicial do professor, regime de colaboração entre os entes federados, uso das avaliações nas práticas de sala de aula e na gestão educacional, definição das expectativas de aprendizagem, Educação integral, equidade e inclusão, e justiça pela qualidade da Educação. No último dia, em uma sessão especial, o evento congregará movimentos de 13 países da América Latina que, assim como o Todos Pela Educação, se articulam para melhorar a Educação em seus países.

O Congresso Internacional “Educação: uma Agenda Urgente” conta com o apoio institucional do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife); com o patrocínio do BID, Fundação Educar DPaschoal, Fundação Itaú Social, Instituto Gerdau, do Itaú BBA e do Instituto Natura; e com o apoio da Agência Tudo, Canal Futura, CNE, Confederação Nacional da Indústria (CNI) e DM9DDB.

Brasil quer educação de país desenvolvido em 2022

luan.santos

Fortaleza – O Brasil quer chegar a 2022 com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) igual ao de países desenvolvidos, com o analfabetismo erradicado e com oportunidade para todos. Foi o que disse a assessora especial do Ministério da Educação, Linda Goulart. Ela coordena o 1ª Seminário Internacional de Mobilização Social pela Educação, que acontece até amanhã, em Fortaleza, reunindo 500 participantes de todo o País. Entre os palestrantes, estão renomados estudiosos como os colombianos Bernardo Toro e Bernardo Nieto, especialistas em mobilização e reformas educacionais, e Heather Weiss, diretora do Havard Family Research.

De acordo com Linda Goulart, o diálogo pela educação deve ser estendido à sociedade. “É por esse motivo que o MEC está se dedicando a repassar para os agentes que atuam no setor técnicas e experiências de mobilização no sentido de promover a interação entre família, escola e comunidade”, explicou.

Segundo ela, o seminário tem como objetivo proporcionar espaço para discussões sobre a importância da participação das famílias na vida escolar dos filhos, bem como de que maneira a colaboração de segmentos organizados da sociedade e os órgãos públicos de áreas correlatas à educação, além das lideranças sociais e religiosas, podem contribuir no processo de melhoria da qualidade da educação.

Hoje, os palestrantes Bernardo Nieto e Márcio Simeone Henriques falaram sobre o tema Comunicação e Mobilização. Nieto definiu e apontou as implicações dos processos de trocas sociais que buscam a mobilização. “A comunicação é fundamental para estabelecermos essas mudanças, porém não pode fazer milagre”, comentou. Segundo ele, o “motor fundamental é o impulso criador dos dirigentes”. Ele lançou a seguinte pergunta para a plateia, formada por gestores em sua maioria: “Somos impulsionadores ou obstáculos para essas mudanças?”.

Já Henriques, professor do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal de Minas Gerais, perguntou: “Que estratégia de comunicação é necessária para envolver o público em temas relativos à Educação?”. Segundo ele, a resposta é dada pelo educador brasileiro Paulo Freire: a da coparticipação.

Fonte: Agência Estado

MT- Gestores e assessores pedagógicos conhecem o Pronatec

Técnicos da Coordenadoria de Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) apresentaram a diretores e assessores pedagógicos de Cuiabá e Várzea Grande, o total de vagas e cursos que serão ofertados a estudantes de Mato Grosso dentro do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) 2011/2012.

Cerca de 50 cursos de Formação Inicial Continuada (FIC) e Técnicos serão ofertados a 10.360 alunos que estejam matriculados no 2º ou 3º ano do Ensino Médio de Escolas Estaduais, que estejam localizadas nos municípios onde haja unidades formadoras. Os responsáveis pela oferta dos cursos são as unidades do Serviço Nacional da Indústria (Senai), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).

Durante explanação no evento, a técnica da Seduc responsável pelo Programa no Estado, Elissandra Vaz explicou que os cursos serão ofertados no contraturno escolar. Ela disse ainda que a Secretaria deverá elaborar um edital que definirá as formas de seleção dos alunos interessados em participar do programa.

Presente no evento, a diretora regional do Senac, Gilsane Tomaz destacou que as nove unidades da entidade serão utilizadas para desenvolvimento do Pronatec. “A expectativa é ofertarmos já no próximo mês 2.700 vagas para FIC. E em 2012 vamos expandir com a implantação dos cursos técnicos” disse.

O diretor regional do Senai, Gilberto Figueiredo, contou que as unidades do Sistema irão formar 4.144 alunos nos cursos de Formação Inicial Continuada e Técnicos.

Cursos

Entre os cursos FIC a serem ofertados estão: aplicador de revestimentos, carpinteiro, pedreiro, mestre de obras, soldador, auxiliar administrativo, recepcionista e vendedor. A carga horária gira em torno de 150 a 200 horas.

A formação técnica será na área de edificações, segurança do trabalho, informática, guia de turismo, análises químicas, entre outros, com carga de 800 a 1.600 horas.

Conforme a secretária adjunta de Políticas Educacionais, professora Fátima Resende, o Pronatec trata-se de um esforço do governo federal em parceria com as Secretarias de Estado de Educação para atender as necessidades formativas voltadas ao Ensino Médio.

“O Ministério da Educação é nosso parceiro nesse trabalho de reduzirmos a evasão escolar entre os jovens, adolescentes e adultos. Essa realidade está presente tanto em Mato Grosso como em todo o país, e o Pronatec pretende atuar nesse sentido”, disse a secretária.

O diretor Ercy de Arruda da Escola Estadual João Crisóstemo de Figueiredo, localizada em Cuiabá, acredita que o programa deverá cumprir com esse objetivo, pois muitos estudantes abandonam as aulas para poderem trabalhar. Contudo, em profissões de baixa remuneração por falta de formação.

“Agora com o Pronatec eles poderão aprender uma profissão, mas para isso terão de estar matriculados e freqüentado as aulas do ensino médio, ou seja o programa será uma importante ferramenta para manutenção dos alunos na escola”, finalizou.



VOLNEY ALBANO
Assessoria/Seduc-MT

Escola pública dá exemplo ao mundo

Durante 60 dias por ano, além das férias, os alunos não precisam pisar na sala de aula. Eles ficam em alguma atividade educativa nas proximidades da escola. Pode ser um estágio na empresa, um curso de dança numa companhia profissional ou a participação num laboratório de uma universidade. Por causa de seus resultados, essa escola de ensino médio está dando um exemplo ao mundo (coloquei mais detalhes no www.catracalivre.com.br).

É uma escola pública, chama-se Summit e fica na Califórnia (EUA). A maioria dos seus alunos é escolhida por sorteio, e todos (vamos repetir, todos) entram na faculdade e são disputados pelo mercado do trabalho.

Eles fazem tudo o que uma boa escola pode fazer: tempo integral, professores sempre treinados, boa remuneração (o salário varia a partir do desempenho dos alunos), salas pequenas, recuperação diária aos alunos com dificuldades, etc.

O fascinante é como eles, para estimular os alunos a aprenderem mais e melhor, passaram a administrar toda a cidade e suas redondezas como uma escola.

A Summit acabou de ser apontada uma das dez escolas mais transformadoras dos EUA. Eles até vão muito bem nos testes nacionais, ficam acima de 99% de todas as escolas americanas, incluindo as particulares. Mas o teste é um detalhe, o fundamental é preparar para a vida, gerando gente curiosa, focada e entusiasmada que, no final, é o que importa.

Isso é o que significa dialogar com o futuro. E não a pobreza mental de achar que educação é apenas sala de aula.

*
Um dos segredos da escola é preparar os alunos mais preparados a serem professores dos alunos com mais dificuldades.


Gilberto Dimenstein, 54, integra o Conselho Editorial da Folha e vive nos Estados Unidos, onde foi convidado para desenvolver em Harvard projeto de comunicação para a cidadania.

Estudo vê melhoria no ensino com criação de bônus para docente

ANTÔNIO GOIS
DO RIO

Um estudo apresentado ontem em seminário da Fundação Itaú Social, no Rio, conclui que o sistema de bônus por resultado para professores na rede estadual de São Paulo teve impacto positivo nas notas de estudantes do quinto ano.

A conta foi feita também para os estudantes do nono ano, mas, neste caso, não foi detectado impacto. O bônus é dado de acordo com o resultado da escola no Idesp, um indicador criado pelo governo para avaliar as condições da qualidade do ensino.

O trabalho dos pesquisadores da USP de Ribeirão Preto (313 km de SP) Cláudia Oshiro e Luiz Guilherme Scorzafave é um dos primeiros a serem divulgados sobre o programa, iniciado em 2008.

Eles compararam a variação nas notas entre 2007 e 2009 na Prova Brasil (avaliação federal) nas escolas estaduais com as unidades municipais. Foram usadas instituições com as mesmas características e que atendem perfil de aluno semelhante.

O ganho da rede estadual em matemática no período foi de sete pontos. Isso representa pouco mais da metade do que se espera que um aluno aprenda em um ano, já que 12 pontos na escala desta avaliação equivalem ao aprendizado no ano letivo.

Uma hipótese levantada por Scorzafave para explicar por que o mesmo resultado não foi encontrado no nono ano é que, nesta série, com estudantes mais velhos, pode ser mais difícil ter impacto a curto prazo.

Questionado se o ganho maior não pode ser resultado de outras políticas, o pesquisador disse que a premiação por mérito, no período analisado, foi, em sua avaliação, a política mais importante.

Recentemente, a Prefeitura de Nova York abandonou sua política de bônus após um estudo ter concluído que ela não era eficiente.

Cursos até nível médio podem ser equivalentes no Mercosul

A Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul) discute hoje a criação de uma tabela de equivalências entre os graus e títulos relativos a cursos de níveis fundamental e médio não técnico de países do Mercosul. O parecer pela aprovação da Mensagem 436/10, que trata do tema, será votado pelos membros da delegação na reunião.

Relator da mensagem, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) apresentará parecer favorável à equivalência. O conteúdo da proposta é o mesmo que já foi aprovado pelo Conselho do Mercado Comum, em San Miguel de Tucumán, Argentina, em junho de 2008.

O relator acredita que a equivalência entre os títulos e graus permitirá uma maior aproximação entre os países. "O setor educacional, que é a base da formação e da preparação dos indivíduos para a vida, merece destaque. A equivalência promoverá o reconhecimento mútuo e o livre trânsito", diz Arruda.

A votação será presidida pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR) e acontecerá às 14h30, no plenário 19, na ala Alexandre Costa do Senado Federal.

Da Redação/MM.

Agência Câmara de Notícias

Venda o seu peixe, vendendo-o bem!

Lair Ribeiro

O ato de vender faz parte da rotina de todos nós. A todo momento você precisa vender uma idéia ou um conceito, e para que a sua opinião seja aceita, é necessário saber argumentar, comunicar-se bem.

A habilidade do convencimento, crucial em vendas, sempre esteve presente em nossa vida. Naturalmente, de modo mais acentuado em algumas pessoas do que em outras, mas nunca ausente. Muitas vezes, sentimos que perdemos essa habilidade, mas, na verdade, ela apenas está escondida por trás das crenças que vamos adquirindo pela vida afora. Basta um pouco de treino para recuperá-la.

Em vendas, quando falamos de “pessoas”, estamos falando de “comprador” e de “vendedor”. Tão importante quanto descobrir a necessidade do comprador é desvendar seus mistérios, seus valores, sua motivação... Da mesma forma, é necessário desenvolver habilidades necessárias a vendas, como boa comunicação, poder de influência, motivação, presença marcante, autoconfiança, dedicação, ambição, orgulho, determinação, coragem, otimismo, entusiasmo e sede de aprendizado.

Mas de nada adianta você ser comunicativo, influente e autoconfiante, assim como não adianta conhecer bem o cliente, saber de suas motivações e anseios se você não tiver um bom conhecimento sobre o produto a ser vendido. É preciso saber tudo a respeito do produto, que tanto pode ser um bem material como uma idéia, um serviço ou um talento.

Além disso, conhecer o seu mercado e promover ações que contribuam para agregar valor ao produto também devem fazer parte da sua estratégia de venda. Sem isso, será difícil entrar em uma negociação com expectativas de sucesso. Porém, é preciso ir além. Se você quer fazer a diferença, lembre-se da importância dos detalhes nesse processo.

Sua argumentação terá de ser boa o suficiente para convencer o cliente não apenas a respeito dos reais benefícios que o seu produto poderá lhe oferecer, como também de que ele tem bons motivos para comprá-lo. Por isso, explique claramente o que é o seu produto e como ele poderá beneficiar o cliente. Se, antes, você já tiver feito um bom trabalho de conhecimento do cliente, não lhe será difícil encontrar o argumento certo para ir ao encontro das expectativas dele. Mas você tem de saber quais são essas expectativas; do contrário, você não estará ajudando seu cliente a satisfazer um desejo, mas, sim, “empurrando-lhe” um produto.

Antes de entrar em uma negociação, estipule o mínimo que você está disposto a aceitar e que pode conceder, e o máximo que pode esperar e que pode oferecer. Ao trabalhar com esses limites você preserva sua capacidade de persuasão e poderá usar suas concessões com parcimônia e estratégia.

Enfim, ajuste seu timing: estenda-se o bastante para falar tudo o que o cliente precisa saber sobre o produto e seja breve o suficiente para que o cliente não se sinta perdendo tempo com você. Lembre-se de que toda conversa, por mais interessante que seja, tem o seu auge e, depois, começa a tornar-se desinteressante. Não corra o risco de o cliente perder o interesse na sua conversa. Acima de tudo, tenha em mente que tanto você quanto o cliente podem – e devem – sair ganhando com a negociação. Portanto, jamais entre numa negociação pensando em tirar vantagem sobre a outra parte ou em prejudicá-la, caso a negociação não transcorra tão favorável aos seus interesses quanto você gostaria. Manter uma postura de ganha-ganha é fundamental para o sucesso da negociação. Lembre-se: negociação não é competição!

Seminário debate a integração dos sistemas de ensino

A Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (Sase) do Ministério da Educação promove em Porto Alegre, nesta quarta-feira (19), e na quinta, o quarto encontro do ciclo de seminários A Sase e a Articulação com os Sistemas de Ensino. O encontro apresenta a secretaria e debate a estruturação do Sistema Nacional de Ensino (SNE). Já foram realizados encontros em Teresina, Rio de Janeiro e Cuiabá.

Entre os objetivos do ciclo constam a aproximação entre os entes públicos de educação, de forma que conheçam o trabalho realizado pelas secretarias de educação, fóruns e instâncias colegiadas das regiões brasileiras; o diálogo acerca dos programas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e a reunião de informações para elaboração de uma agenda de organização do Sistema Nacional de Educação (SNE).

No Brasil, país organizado como federação cooperativa, as responsabilidades educacionais são compartilhadas e complementadas pelos governos federal e estaduais e pelas administrações municipais (prefeituras). Para o secretário da Sase, Carlos Abicalil, a articulação entre os sistemas de ensino é fundamental para a melhoria da qualidade da educação. “A superação das desigualdades, a garantia de equidade e de acesso, da permanência, do êxito e da qualidade social da educação nas diversas etapas e modalidades é tarefa de alcance nacional, com estratégias adequadas e vinculadas às peculiaridades locais”, disse Abicalil.

O secretário, que tem participado dos seminários, destaca a representação de todos os segmentos e a disposição de desdobrar os esforços conjuntos em cada estado. Para ele, há uma forte identidade com os propósitos apresentados e entusiasmo com a decisão do MEC de criar a secretaria com essas finalidades. “No Sul, nossa expectativa é reproduzir o êxito das três edições regionais anteriores”, disse.

O ciclo de seminários terá ainda o encontro para a região Norte, nos dias 26 e 27 próximos, em Belém. Recife receberá o encontro da região Nordeste, em 9 e 10 de novembro.

Sase — De acordo com o Decreto nº. 7.480, de 16 de maio de 2011, a nova secretaria tem atribuições específicas de apoiar o desenvolvimento de ações para a criação de um sistema nacional de educação que aprofunde o regime de cooperação entre os entes federados; assistir e apoiar o Distrito Federal, estados e municípios na elaboração, adequação, acompanhamento e avaliação democrática dos planos de educação, em consonância com o estabelecido no Plano Nacional de Educação (PNE), bem como no aperfeiçoamento dos processos de gestão na área educacional; promover a valorização dos profissionais da educação, com apoio e estímulo à formação inicial e continuada, à estruturação da carreira e à remuneração e às relações democráticas de trabalho.

Nutricionistas revelam a dieta ideal para o Enem

Nos dias de prova, a orientação é comer em casa e ingerir alimentos leves. No próximo fim de semana, aproximadamente 5,4 milhões de estudantes vão testar seus conhecimentos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2011.

Após um ano inteiro de preparação, nenhum deles deseja por tudo a perder. Para isso, é preciso estar atento a diversos fatores, como horário da prova e regras do exame. Outro fator que merece atenção redobrada é a alimentação. Cuidados simples garantem a energia necessária e evitam transtornos, como uma intoxicação indesejada em dias decisivos.

"Esta não é uma época propícia para experimentações", alerta Isabel Correia, especialista em nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Por isso, o estudante deve dar preferência a alimentos que habitualmente fazem parte de sua dieta e evitar outros, que não fazem." Há, contudo, uma regra geral: não é recomendada a ingestão de alimentos gordurosos e pesados, como feijoada, carnes gordas e frituras. Eles exigem mais do organismo para a digestão e provocam sensação de sonolência, prejudicial para a realização da prova. "Por outro lado, é importante ressaltar que, em hipótese nenhuma, o participante deve comparecer ao exame em jejum", diz Isabel. O importante, portanto, é o equilíbrio.

Antes da prova - A nutricionista Roberta Stella sugere que a preparação do candidato comece um dia antes da prova. "Na sexta-feira, o estudante deve ficar atento ao que come, pois isso terá reflexos nos dias de prova”, diz a especialista. O ideal é começar com um café da manhã rico em frutas, fibras e carboidratos. “Eles dão energia e são de fácil digestão. Certamente, não vão comprometer o desempenho do participante.” Por volta das 11h, é hora de um lanche. A receita é simples: pão integral, peito de peru e queijo. “Quem quiser, pode trocar o lanche por um prato de salada.”

Isabel Correia, da UFMG, sugere àqueles que optarem por um almoço, um prato com salada, arroz, feijão e carne magra – sempre em quantidades reduzidas, para não pesar no estômago. “Tudo precisa ser bem dosado. Equilíbrio é fundamental ou a receita desanda.” A especialista indica que o candidato coma duas horas antes do início da prova para evitar que a famosa sensação de moleza depois do almoço o atinja durante a resolução das questões.

Durante a prova – O Enem é uma prova extensa e o tempo é curto. Em média, o aluno tem três minutos para responder cada questão. A concentração é necessária e a distração custa caro. Portanto, é recomendada a ingestão de alimentos rápidos e práticos durante a tarde de exame. Barrinhas de cereais são uma boa opção: pequenas, leves e energéticas. Chocolates são gordurosos e, dependendo da temperatura ambiente, podem derreter. Frutas também são indicadas. “O estudante deve dar prioridade a alimentos não perecíveis e que não façam muita sujeira”, diz Isabel.

Roberta Stella lembra de outro item essencial: água. “É preciso se hidratar adequadamente, principalmente nos dias de muito calor. A falta de líquido pode provocar sonolência.” Para a nutricionista, refrigerantes estão fora de questão. “O gás pode provocar sensação de estufamento. Sucos podem ser bons substitutos.”

Depois da prova – Depois de uma maratona de textos, gráficos e números, é hora de repor as energias. No sábado, primeiro dia de Enem, não convém exageros. Afinal, no domingo, ainda há mais trabalho a ser feito. A recomendação é a mesma: comida leve, sem exageros. “Nada de fast food”, diz Roberta, referindo-se a lanche gordurosos, cheios de condimento. Bebidas alcoólicas devem ser evitadas. “Elas são diuréticas, provocam mal-estar e ressaca.”

Mais uma vez, não é aconselhado ao candidato comer fora de casa ou ingerir alimentos cuja procedência é desconhecida. Ele deve jantar ao menos duas horas antes de se deitar, ou a digestão poderá atrapalhar o sono. “Afinal, tudo o que o estudante não precisa nesse momento é de uma noite mal dormida”, lembra Isabel. Na manhã seguinte, é hora de repetir o ritual do café da manhã e do almoço.


Fonte: VEJA

Infraestrutura adequada nas escolas melhora aprendizagem

IG

A falta de bibliotecas, computadores, laboratórios de ciências, auditórios e quadras de esportes nas escolas prejudica a aprendizagem dos estudantes da América Latina. Essa é a conclusão do estudo Infraestrutura Escolar e Aprendizagens da Educação Básica Latino-americana, que será divulgado na tarde desta terça-feira pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A análise feita a partir do Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Serce), feito em 2006, mostra que o desempenho dos alunos que estudam em ambientes com boa infraestrutura é superior ao dos que estão em escolas piores. Os dados consideram os resultados de 200 mil alunos de 3ª e 6ª séries do ensino fundamental de 16 países da América Latina em provas de linguagens, matemática e ciências.




De acordo com o estudo, os estudantes de escolas urbanas sem ambientes acadêmicos adequados poderiam subir as médias de 506 pontos em provas de linguagens e 497 pontos em matemática para 525 pontos e 524 pontos, respectivamente, caso tivessem condições melhores de ensino. Os alunos de colégios rurais, por sua vez, aumentariam as notas de 465 para 487 em linguagens, e de 480 para 497 em matemática.

“Nas provas do Serce, 20 pontos adicionais significam um quarto da diferença entre a obtenção de um nível insuficiente de aprendizagem e um nível adequado”, afirma o relatório do BID. O estudo mostrou ainda a precariedade na infraestrutura das escolas da região e revelou que há grandes diferenças entre estabelecimentos urbanos e rurais, públicos e privados. O desempenho dos menos favorecidos é pior nas provas.

Na relação entre a infraestrutura escolar e os resultados acadêmicos dos estudantes, o estudo diz que os fatores que mais contribuem para bons desempenhos são: a presença de espaços de apoio ao ensino (bibliotecas, laboratórios de ciências e salas de computadores), a garantia de serviços públicos de eletricidade e telefonia, a existência de água potável, rede de esgoto e banheiros em número adequado.

“Os governos latino-americanos têm dado atenção à questão da ampliação da cobertura escolar com êxito. Nisso temos melhorado”, afirma Jesús Duarte, um dos autores do relatório, especialista em educação do BID. “Mas agora que as crianças estão nas escolas, é necessário dar atenção à infraestrutura e aos recursos físicos delas para melhorar a aprendizagem. Há muito a ser feito nesse sentido”, diz.

Para diminuir a distância de aprendizagem dos estudantes menos favorecidos, os especialistas do BID apontam em que os gestores deveriam priorizar o investimento de recursos. Nas escolas urbanas, segundo eles, deve-se construir mais bibliotecas, laboratórios de ciências, salas com computadores e espaços multiuso. Nas zonas rurais, ainda é preciso acabar com deficiências como a falta de acesso à água potável, banheiros, rede de esgotos, eletricidade e telefonia.

Mais infraestrutura, melhores resultados
A construção de espaços como bibliotecas, laboratórios de ciências e computadores aumenta a pontuação dos estudantes em provas de linguagens, como mostra o estudo.




Condições precárias

Os dados do estudo mostram que os países da América Latina ainda não oferecem condições básicas de funcionamento aos professores e estudantes que frequentam as escolas de educação básica. Uma em cada cinco escolas não tem acesso à água potável e o dobro não conta com rede de esgoto. Há telefones em pouco mais da metade e um terço dos colégios não oferece número suficiente de banheiros aos alunos. Falta eletricidade em 10% das escolas desses países.

Além disso, cerca de 88% dos colégios da região não têm laboratórios de ciências, 73% não têm refeitório, 65% não possuem salas de computação, 63% não oferecem salas de reuniões para os professores, 40% não possuem biblioteca e em 35% das instituições não há espaço para a prática de esportes.

Quando se compara as escolas usadas pelos mais favorecidos economicamente (as urbanas privadas) e pelos mais pobres (as rurais), as diferenças aumentam. Enquanto, 81% das escolas privadas urbanas têm laboratório de informática, menos de 13% das escolas rurais possuem esses espaços.

No Brasil, os especialistas destacaram que menos de um terço dos colégios possuem salas com computadores disponíveis para a comunidade escolar e menos de 10% das escolas oferecem laboratório de ciências. Argentina, Paraguai e Uruguai são os que possuem escolas com melhor estrutura física na América do Sul.

O estudo

O Serce utiliza nas provas conteúdos comuns aos currículos oficiais dos países e o enfoque às habilidades necessárias para a vida, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Além disso, o estudo combina os dados com questionários aplicados aos estudantes e às famílias sobre suas condições socioeconômicas e aos diretores e professores sobre as escolas.

STF decide hoje se advogado precisa passar na OAB

Supremo vai julgar se Exame de Ordem é constitucional ou inconstitucional

Reprodução

A polêmica voltou à tona no ano passado quando o exame bateu recorde de reprovação
R7

O STF (Supremo Tribunal Federal) colocou na pauta desta quarta-feira (26) o julgamento que vai decidir se o Exame de Ordem da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), atualmente obrigatório para os diplomados em direito que quiserem exercer a profissão, é constitucional ou inconstitucional.

A polêmica voltou à tona no ano passado quando o exame bateu recorde de reprovação. Em dezembro de 2010, somente 11 mil dos 116 mil inscritos (9,74%) foram considerados aptos pela OAB para exercer a profissão.

O julgamento que começa hoje pode acabar com o Exame da OAB. Mesmo assim, os preparativos para 5º Exame de Ordem, que está marcado para o próximo dia 30 de outubro, seguem normalmente.
Além disso, o STF pode interromper a sessão a qualquer momento, caso algum dos ministros do Supremo peça mais tempo para analisar o assunto. O responsável pelo recurso é o bacharel em direito João Antônio Volante. Ele alega que o exame da OAB vai contra a Constituição, pois não permite o livre exercício da profissão.

Já o vice-presidente do Conselho Federal da OAB, Alberto de Paula Machado, acredita que tanto do ponto de vista técnico, quanto do político, o Exame de Ordem deve ser mantido pelo STF. Para ele, a prova serve para evitar que cidadãos sejam prejudicados por profissionais despreparados.

- Tecnicamente, a Constituição Federal remete à lei ordinária a disciplina das profissões. Politicamente, o Exame faz bem para a sociedade porque protege o cidadão contra profissionais não preparados para o exercício da profissão.

Histórico

Em julho, o Ministério Público Federal deu parecer afirmando que a exigência de aprovação no exame para que o bacharel em direito possa se tornar advogado e exercer a profissão fere o direito fundamental à liberdade de trabalho, consagrado pela Constituição Federal de 1988.
O parecer foi assinado pelo subprocurador-geral da República Rodrigo Janot. Ele sustentou que a prova aplicada pela Ordem dos Advogados deve ser declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Para Janot, o Exame de Ordem cria uma restrição ilegal de acesso à profissão de advogado.

A Justiça Federal também já chegou a determinar a inconstitucionalidade do exame para o exercício da profissão de advogado.

A liminar havia sido concedida pelo desembargador Vladimir Souza Carvalho, do Tribunal Regional Federal da 5.ª Região (TRF-5), cujo filho foi reprovado por quatro vezes no exame entre 2008 e 2009.

A decisão beneficiava apenas Francisco Cleuton Maciel e Everardo Lima de Alencar, mas abria brecha para novas ações no mesmo sentido. No entanto, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Cezar Peluso, cassou a decisão.