terça-feira, 1 de novembro de 2011

Advogado critica reserva de vagas e defende cotas para filhos de políticos

Da Redação - Julia Munhoz

Diante da revolução das redes sociais e das discussões envolvendo a reserva de cotas na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o advogado Eduardo Mahon, ‘sacou da gaveta outra velha idéia aparentemente canastrona, mas perfeita para a realidade brasileira. Os cidadãos que pertencessem a cargos eletivos deveriam matricular seus filhos no sistema público de ensino pelo prazo que durasse o mandato’.

Em seu artigo, o advogado manda o seguinte questionamento: Se os políticos querem reservar vagas para alunos carentes no ensino público superior, porque não reservar vagas para os próprios rebentos no ensino público médio e fundamental?


Reserva de vagas

As redes sociais virtuais estão revolucionando a forma das pessoas interagirem. Usando uma comunicação fácil, informal, sem intermediários, chamam atenção pela dinâmica com que os amigos e conhecidos completam as próprias informações, impressões, pensamentos. Pululam as críticas irreverentes que empolgam uma enorme parcela da população que está imbuída em passeatas, manifestos, mobilizações inteiramente virtuais, mas não menos verdadeiras. Revoluções contemporâneas germinaram de um comentário partilhado, de uma fagulha virtual.

É o caso da campanha “Lula, faça o tratamento pelo SUS” que circula no Facebook. De muito mau gosto, a idéia não é original, mas não deixa de ter seus méritos. De pronto, já sabemos que se trata de uma postura piegas. Até porque um cidadão faz o tratamento de saúde onde bem entenda (os que podem). A irreverência cruel somente desnuda o abismo entre o trato especialíssimo da rede particular de saúde e o caos do sistema público. E a disparidade fica mais odiosa quando se trata justamente de quem deveria zelar pela opção da qual não fez uso por ser a pior.

Superando esse caso particular, quero sacar da gaveta outra velha idéia aparentemente canastrona, mas perfeita para a realidade brasileira. Os cidadãos que pertencessem a cargos eletivos deveriam matricular seus filhos no sistema público de ensino pelo prazo que durasse o mandato. Se os políticos querem reservar vagas para alunos carentes no ensino público superior, porque não reservar vagas para os próprios rebentos no ensino público médio e fundamental?

Matriculando os filhos nas redes públicas de ensino, invariavelmente nossos mandatários saberiam ao certo o que está certo ou errado com investimentos, contratações, reformas, grades curriculares, segurança, enfim, todo o contexto do mundo público que, infelizmente, vive à míngua da antiga credibilidade.

Particularmente, sou capaz de apostar alto na reviravolta instantânea que as escolas e universidades dariam, apenas de abrigar junto ao filho da empregada doméstica, os pimpolhos bem nutridos de prefeitos, deputados, senadores e governadores.

Imaginem a cena: uns chegando de ônibus e outros de motorista, mas todos com o mesmo uniforme escolar e comendo da mesma comida servida no colégio. Isso sim, seria uma revolução de costumes, ética que falta ao brasileiro. Ético mesmo seria uma reunião de pais e mestres, numa escola onde estudassem os filhos de patrões e empregados, por ser pública e acessível a todos, concorrida pela qualidade superior de ensino.

É muito fácil misturar o público com o privado em proveito próprio. Aproveitar-se de carros oficiais e motoristas para serviços particulares, passagens aéreas e diárias, cartões corporativos e outras milongas. Justo seria se o público se aproveitasse da experiência, do prestígio, da influência, da visibilidade, do poder e de tudo o que os particulares pudessem oferecer. É a garantia, a fiança e o aval de uma nação verdadeiramente democrática.Não chega a socializar os meios de produção à moda marxista, mas não faria nada mal uma pitada da mofada ideologia pra temperar.

Pensando bem, essas campanhas em nada lembram pieguice ou canastrice. É apenas a perplexidade pela qual somos surpreendidos com a simples lógica da ética republicana no pensamento público. Porque, pela compostura genuinamente republicana, em casa de ferreiro, a última coisa que se espera encontrar é um espeto de pau.

Eduardo Mahon é advogado

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