terça-feira, 17 de novembro de 2020

 

Segredos


A qualidade dos segredos é sempre diretamente proporcional ao grau de repressão de cada época. 


As mulheres, sempre muito mais reprimidas em todos os tempos, foram sempre as portadoras dos maiores sigilos, principalmente no âmbito pessoal. 


A hipocrisia imposta pela sociedade abarrota a humanidade de culpas, que a rigor não existem, pois foram ditadas por regras de conduta para que a nossa parte animal estivesse sempre sob controle.
As religiões tiveram um papel importante na imposição desses códigos, mitos e dogmas. 


Para as classes abastadas surgiram as terapias, sempre inacessíveis aos menos afortunados. Estes, sempre contaram com os médicos e com os líderes religiosos, tidos como fieis portadores de grandes segredos. 


O fato é que o ser humano tem necessidade de se livrar de suas “culpas”, o que geralmente só acontece quando consegue dividi-las com alguém de sua confiança. 


A igreja católica, muito sabiamente, estipulou as chamadas penitências, sempre proporcionais ao tamanho de cada “pecado”.
As penitências nada mais são do que medidas preventivas para não despertar o animal que habita em cada um de nós. Estamos a muitas léguas da perfeição de um verdadeiro ser humano pensante.
Passo a passo a humanidade vem se livrando de inúmeros preconceitos, fonte de muitas infelicidades. 


Um deles, o homossexualismo - atualmente relativamente bem aceito, até com legislação própria, mas já foi motivo de destruição de várias vidas através dos séculos. 


Ainda hoje, em pleno século XXI, dois segredos inconfessáveis ainda fazem parte de um grande número de mulheres: a admissão de violência doméstica e o da traição conjugal. 


Incrível que eles permaneçam numa época em que as mulheres atingiram a igualdade na divisão de trabalho com os homens e, portanto, os mesmos direitos. 


Os quatro séculos de submissão feminina deixaram marcas profundas, fazendo com que algumas mulheres ainda façam do casamento a sua mais segura fonte de renda. 


O confessar vida sexual prazerosa no passado era quase um crime, tal como é nos dias atuais admitir o contrário. 


A cultura atual é massacrante. Temos a obrigação de sermos belos, jovens, magros, felizes e sexualmente muito ativos. 


Dessa maneira, permanecem em nós muitos segredos inconfessáveis, apesar desse mundo glamoroso que se nos é imposto atualmente.
Os homens, mais permissivos, são bem mais abertos entre si, omitindo apenas o que mexe diretamente com a sua vaidade. 


Felizmente vivemos tempos de menos hipocrisias, em que temas pessoais ou coletivos, outrora os mais escusos, são discutidos de maneira mais transparente e cada vez mais desmistificados, até mesmo no meio familiar. 


Uma nova ordem começa a livrar o mundo de seus estigmas falso moralistas.

Gabriel Novis Neves

 

 

Memorial Crítico

                                                                        Iza Salies 

 

          A minha formação escolar teve uma trajetória muito bem cristalizada nas exigências das décadas de 60 e 70, ou seja, tempo das chamadas escolas tradicionais. Passei pelo antigo primário, curso de admissão, ginásio, magistério, licenciatura curta, plena e pós-graduação, toda essa caminhada contribuiu para uma carreira profissional sedimentada na ética e nos bons costumes.

          Esse percurso acadêmico fez o diferencial na minha profissão sim, sem dúvida, mas, não posso negar que o fato da minha mãe ser Professora Normalista, também influenciou consideravelmente para a consolidação da minha opção profissional para a carreira de professor.

          Percebo que as vivencias escolares foram constituídas por bons diretores, bons professores, ensino responsável, disciplinado, sendo em alguns momentos um pouco rígido, contudo, afirmo que esse modelo de escola serviu e ainda serve de referencial para as minhas atividades profissionais e da vida.   

Em 1978, quando estava cursando o segundo ano do magistério,fui convidada para dar aula na primeira série do primário, (na mesma escola onde fazia o magistério), fui trabalhar com a alfabetização, sem a mínima experiência, tive dificuldades de adaptação com a prática pedagógica e pouca orientação pedagógica da coordenação, tudo foi muito inesperado. No ano seguinte peguei uma turma de segundo ano, melhorou um pouco, e assim fui passando pelas diferentes etapas da Educação Básica, Ensino Superior e Pós – Graduação.

Com o termino do magistério precisava fazer um curso superior, mas como eu morava no interior do Estado, as possibilidades eram mínimas, era um sonho bastante distante. Só que em 1979 a Universidade Federal de Mato Grosso, estava interiorizando os cursos de licenciatura, sendo Nortelândia e Rosário Oeste os primeiros municípios a serem contemplados. Em Rosário Oeste foi oferecido o Curso de Letras e Estudos Sociais, e eu passei para o Curso de Licenciatura de 1º grau em Estudos Sociais, formando em 1982, o curso era modular, intensivo, estudávamos no período das férias escolares, com oito h/a diárias de aula, ou até mais.

Como o curso era de Estudos Sociais, tínhamos disciplinas da Área das Ciências Humanas, a organização curricular era composta por disciplinas do Curso de História e Geografia, para fazer a complementação poderíamos optar por uma ou outra das licenciaturas, assim sendo, fiz opção pelo Curso de História.

A habilitação em História ampliou as minhas possibilidades profissionais, pude pleitear trabalhos técnicos e pedagógicos no trabalho, mas, por outro lado às exigências também foram maiores, as tarefas demandavam mais estudo e aprofundamento teórico para fazer a interface com a prática, trabalhar na área técnica requer o domínio de conhecimentos específicos da área da educação.

Não satisfeita com uma graduação senti necessidade de fazer um outro curso, então, escolhi Pedagogia por estar envolvida em ações pedagógicas, por situações vividas no desempenho das minhas funções laborais e por gostar das questões que discutem o ensino, a aprendizagem, metodologias, avaliação e práticas pedagógicas.

Tive a oportunidade de trabalhar na Pro sol, como Coordenadora Pedagógica das Creches de Cuiabá, cuja atribuição era fazer a interlocução da Seduc com essa Secretaria, nessa função, fiquei pouco tempo, sendo designada para retornar para a Seduc, assim sendo, fui trabalhar na Equipe de Ensino Médio em 1997, onde permaneci até setembro de 2009.

Recentemente recebi o convite para trabalhar na Superintendência de Formação da Seduc, ao aceitar tive que conhecer os documentos produzidos pela equipe, primeiro precisou ler o Regimento Interno do setor, li também a Política de Formação de Professores, o Projeto Sala de Professor e o Decreto que institui os Cefapros e outras normativas pertinentes.

Pelo fato de trabalhar na Superintendência de Educação Básica e discutir o Currículo de Ensino facilitou o olhar para a formação de professores uma vez que a implantação das Orientações Curriculares da Educação Básica de Mato Grosso passa necessariamente pela formação de professores da rede estadual de ensino e as possíveis demandas de formação que poderão surgir.

Apesar de reconhecer que meus conhecimentos são parcos quanto às especificidades da formação de professores, mesmo assim, ao ler os documentos percebi que há necessidade de rever a Política de Formação de Professores, mas precisamente no que diz respeito à formação de formadores, pois, entendo que quanto à estruturação dos Cefapros, rede física e logística de formação, estes, está bem, havendo necessidade de pensar a formação de formadores.

Posso estar equivocada, mas neste momento vejo uma forte preocupação do órgão em fortalecer os Cefapros o que não deixa de ser preciso, porém o ponto fundamental da Política de Formação de Professores está no papel da Seduc frente à Formação de Formadores.

Cumpri ressaltar, que o meu referencial de formação continuada que construí ao longo desse período de trabalho com formação de professores da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino, percebo que os professores que atuam nessa etapa de ensino, encontram dificuldade em conciliar a teoria com a prática, como também de trabalhar as inovações pedagógicas postas pela reforma do governo federal e as implantas pelo Estado.

Essa é uma preocupação que angustia os profissionais que lidam com a formação, sinto que estamos num eterno redemoinho que dificulta reverter essa situação.

As nossas proposituras de cursos quando programadas estão sempre direcionadas para a implantação e ou implementação de Projetos ou Programas do Mec, da Seduc e os da própria escola, deixando a desejar quanto ao aprofundamento da discussão sobre as questões mais específicas da prática escolar, ou seja, pedagógica do professor, quanto ao Currículo de Ensino, Projeto Pedagógico ou (Político), Ensino, Avaliação da Aprendizagem, Metodologias, Concepções de Aprendizagem, inovações pedagógicas, seleção de conteúdos e outros, tudo isso é de fundamental importância para que possamos orientar às escolas e atender as demandas de formação de formadores.    

Apesar de transitar em todas as etapas da educação básica como professora, confesso que só após trabalhar com formação de professores é que senti de fato que a minha profissão é ser professora, não só pelo aspecto social em que está inserida, como em reação à ciência do ensino e da aprendizagem.

Não posso negar que os cursos que fiz ao longo da minha formação continuada em serviço ou não, foram de fundamental importância para a consolidação de uma trajetória profissional madura, com clareza das limitações impostas pelo sistema, que nos faz muitas vezes impotentes profissionalmente, mesmo assim, ainda sonho com a educação, arrepio, tenho utopias, incertezas, desejos de mudança, vontade de transformar a realidade dos jovens de classes sociais economicamente menos favorecidas, por condições desconhecidas que só possuem a escola pública como caminho para uma formação humanística, integral capaz de progredir na vida, no trabalho, ser cidadão e ter uma vida digna.   

Participei de vários projetos da Seduc e também com parcerias com outros órgãos, sempre com o compromisso de articular interesses comuns, na intenção de fazer a integração da educação com a sociedade, ou melhor, desenvolver projetos cujos temas sejam socialmente relevantes e que precisam ser abordados no Currículo da Educação Básica e que possam contribuir com a formação de professores.

Considerando a longa trajetória percorrida com professora e tendo em vista o interesse de pesquisar as condições em que se encontram a Formação de Formadores da Seduc, pretendo desenvolver durante a pesquisa de mestrado, caso seja aprovada, o tema proposto, na certeza de poder contribuir para retomar e fortalecer as discussões sobre a formação de formadores enquanto uma ação que está sob o olhar dos próprios Cefapros.

O ponto fundamental do estudo desta proposta está respaldado na indagação: como estão sendo formados os formadores dos Cefapros, havendo necessidade questionar quanto à falta de uma ação afirmativa por parte da Seduc que direcione ou apresente proposições que possam fortalecer essa ação, pois ainda continuamos com deficiências na pratica pedagógica do professor, pouca fundamentação teórica de concepções pedagógicas e dificuldades de romper com práticas seculares de dar aula.

  Cabe neste momento afirmar que essas preocupações surgiram ao longo do desenvolvimento do meu trabalho com o currículo de ensino, com formação de professores e também porque pretendo ampliar, aprofundar os meus conhecimentos acadêmicos, por considerar que um profissional da educação precisa estar atualizado e preparado para o desempenho de suas funções de professor e ou de formador de formadores de professores, pois a sociedade exige profissionais competentes, capazes de contextualizar saberes com a vida, com o mundo do trabalho e em especial na profissão.

  Esta propositura tem a intenção de contribuir com a pesquisa na área educacional, não só pelas experiências que aconteceram durante a minha carreira, mas também, pela vontade de transpor desafios que surgem durante os trabalhos, que superados, com base em estudos profundos que demanda aportes teóricos da academia para ajudar a entender as demandas que a sociedade requer e a escola precisa atender com qualidade.

Para tanto precisamos investigar as causas do hiato que há entre a Seduc, enquanto responsável pela formação de formadores e os Cefapros que são responsáveis pela formação de professores.

Pensando assim, pergunto Como a Seduc definiu a formação de formadores na Política de Formação de Professores da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino? ? E a formação dos formadores como está sendo desenvolvida atualmente? A formação de formadores é feita pela Seduc, pelos Cefapros ou por instituições formadoras conveniadas pelo órgão?Há um programa de formação para os formadores por parte da Seduc? Ou dos Cefapros? Onde está garantida essa formação?

Ao finalizar, quero aqui expressar a minha preocupação com essas questões, que hoje estão obscuras tanto para mim como para a Seduc e que requer investigação científica, endossados por uma academia para validação como política de formação para este órgão, são questionamentos que precisam de respostas urgentes, rápidas e eficazes.

Temos pressa, precisamos fazer uma Educação Básica de qualidade, e para tal, faz-se necessário pontuar considerações sobre a Gestão da Formação dos Formadores de Professores para fomentar a discussão sobre a formação de formadores como resposta da Seduc que urge por ações contundentes que possa fazer parte da Política de Formação de Professores e contribua no diferencial da qualidade da prática do professor.   

 

 

                                                   Cuiabá, 23 de outubro de 2009.

 

                                                   _________________________

                                                          Iza Aparecida Saliés