Na
unidade prisional feminina de Tangará da Serra, aconteceu no último dia 2, a
tarde da beleza e cidadania a 34 mulheres encarceradas, evento organizado por
um grupo de tangaraenses, representantes da sociedade civil e Poderes
Constituídos. Doze profissionais (cabeleireiras, maquiadoras e manicures), de
forma voluntária, passaram a tarde no cárcere elevando a auto estima daquelas
mulheres que se encontram em situação de prisão. Foi emocionante, marcante e
inesquecível e nos mostrou que atitudes singelas se tornam grandiosas e
valiosas a outras pessoas. As reeducandas transbordavam de felicidade!
Transcrevo a fala
de uma reeducanda. Ela transmite exatamente o espírito do trabalho que o
Organismo Estadual de Políticas para as Mulheres vem desenvolvendo em Mato
Grosso. E nesta de linha de eficácia, seriedade, comprometimento, em que,
através de atitudes simples, mas grandiosa e marcante para estas mulheres
segregadas que continuaremos no desenvolvimento das políticas para as mulheres
deste Estado e através dos resultados honramos a confiança em nós depositada e
o compromisso do governo do Estado com as mulheres de Mato Grosso.
"Boa tarde a
todas senhoras, senhores e reeducandas!
Quero aproveitar
esta oportunidade para expor o quanto estamos felizes com a chegada de um dia
como hoje neste lugar, onde como em outras unidades prevalece a rotina. Privar
um ser humano da sua liberdade é algo muito sério! Ninguém sai como entrou,
somos completamente modificadas, umas para o bem aproveitando este tempo para
reflexão de nossos erros. Sentindo o preço alto que se paga por cometer um ato
indevido. Percebendo os verdadeiros valores da vida, como todos que amamos e
precisamos e dinheiro nenhum compra. Infelizmente, alguns em sua revolta, em
sua falta de visão no futuro, por só enxergar as dificuldades e obstáculos que
encontrarão, optam por continuar no erro cada vez se afunda mais, pedem as
esperanças e acabam por se acostumar com as duas opões que lhe restam: cadeia e
morte. Mas hoje neste dia tão especial para todas nós o dia da ressocialização
quero falar de sentimentos e pré-conceitos.
Todas aqui estamos
pagando por nossos erros, ou por erros dos outros, todas as presas, seja aqui,
seja no Paraná, seja em São Paulo, digo, porque são lugares que passei por
diversas penitenciárias, como o famoso Carandiru, cheio de histórias de dor e
sangue, como Tremembé onde estão os grandes bárbaros do século. Conheci muitas
mulheres criminosas, frias, amarguradas, e muitas nem verão mais a rua, devido
à idade, estado de saúde, etc. Nestes tantos anos aprendi ler olhos, e em todos
os lugares que passei estes olhos gritam numa só voz: “eu estou arrependida”!
“E agora quem me dará uma nova chance”?
E as que conseguem
sair determinadas a não mais errar, com sonhos e planos e cheias de esperança,
se deparam com uma sociedade de portas fechadas, que nos condenam pelo passado
e não nos dá nova oportunidade. Somos julgadas e condenadas novamente mesmo
quando já não devemos mais a justiça. E por isso estou aqui hoje em nome de
todas para dizer que a falta de oportunidades para ex-presidiario pode sim
gerar monstros. Mas a grande maioria são apenas mulheres, guerreiras, mães
sofridas com saudades de seus filhos. São filhas que mal saíram da
adolescência, sentem-se só, num submundo de horror onde muitas ainda têm
vontade de chamar chorando por suas mamães. Todas, jovens, adultas, senhoras,
choramos lágrimas pesadas da dor, da solidão, do abandono, do arrependimento.
Para todos aqui
presentes, que não são privados de sua liberdade, hoje é somente uma
confraternização e todos voltam pra suas casas.
Para nós será uma data inesquecível, onde nos sentiremos por algumas horas parte da sociedade. É a força da esperança que não vai morrer em nosso peito. Lembrem-se: precisamos reconquistar a responsabilidade. Somos nós mesmas que decidiremos até que ponto podemos ser livres. Obrigada a todos por fazerem que nos sintamos vivas e que podemos sim recomeçar.
Para nós será uma data inesquecível, onde nos sentiremos por algumas horas parte da sociedade. É a força da esperança que não vai morrer em nosso peito. Lembrem-se: precisamos reconquistar a responsabilidade. Somos nós mesmas que decidiremos até que ponto podemos ser livres. Obrigada a todos por fazerem que nos sintamos vivas e que podemos sim recomeçar.
Obrigada pelo
carinho!"
Ana Emilia Iponema
Brasil Sotero é professora, advogada, doutoranda em Ciências Jurídicas e
Sociais, palestrante sobre violência de gênero, ex-presidente do Conselho
Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso e superintendente e gestora de
políticas públicas para as mulheres de MT e escreve exclusivamente para este
blog toda sexta-feira - soteroanaemilia@gmail.com -
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