Lembro
a primeira vez que vi o Rio Cuiabá. Eu tinha 13 anos e vim de férias para
conhecer a cidade onde em breve eu iria morar com meus pais. Atravessamos de
carro a ponte que liga a região do Porto a Várzea Grande. O tamanho do rio me
impressionou. A cidade em que morava no interior do Paraná não possuía nada
parecido.
Nesta mesma viagem
fui levada à Passagem da Conceição e Bonsucesso. Adorei o Pacu e comi receosa a
Piraputanga, pois não tinha ainda desenvolvido a capacidade de retirar os
espinhos com a boca. Digo isso, pois diferente dos cuiabanos de nascimento, eu
não tinha a cultura do peixe, mas rapidamente aprendi a valorizar as riquezas
oriundas daquele rio. Mas o tempo foi passando e atravessar a ponte se tornou
uma situação banal. Escola, trabalho e o cotidiano atribulado tornaram o Rio
Cuiabá um coadjuvante na paisagem para mim. Nenhum dos meus amigos tinha o
hábito de frequentar o rio, isso não pertencia ao nosso universo.
Quem passa pelas
pontes observa uma cena triste. Lixo e esgoto se misturam às águas. Outro
problema sério é que o Rio Cuiabá fica escondido na cidade. As pontes são os
únicos pontos de onde é possível observar suas águas mansas. O planejamento
urbano de Cuiabá e Várzea Grande, ou melhor, a falta dele, possibilitou que
empreendimentos tomassem conta das margens e hoje quem pretende tomar banho,
pescar ou usufruir de outra maneira tem que se dirigir a regiões distantes,
pois não há áreas de lazer urbanas para tal finalidade.
Por conta disso é
difícil acreditar que seja possível fazer turismo no Rio Cuiabá em Cuiabá. Mas
para nossa surpresa tem muita gente interessada em passar o dia remando por
suas águas. Escolhemos um roteiro que se inicia em Baús, distrito de Acorizal,
e segue até o porto público de Nossa Senhora da Guia, em Cuiabá. São 16 quilômetros
de expedição percorridos em cerca de cinco horas. Quando abrimos o passeio não
tínhamos noção da demanda. O produto que lançamos causou um estranhamento
inicial em nossos clientes já que normalmente descemos os rios cristalinos de
Chapada. Muitos tiveram que ser convencidos de que o trajeto escolhido não é
poluído, pois é visível que o problema do rio começa onde a concentração urbana
da capital é maior.
Mas pouco depois de
lançarmos a expedição já não tínhamos mais vagas. Lotamos de clientes cuiabanos
e percebemos como a população da capital é carente deste convívio com o rio.
Espero que o próximo prefeito promova políticas públicas para resgatar esta
cultura por meio do desenvolvimento sustentável. Além disso, é vital que o
governo, em qualquer instancia, desenvolva um programa de despoluição do Rio
Cuiabá. Vale lembrar que primeiro veio o nome do rio e, depois, o da cidade.
Não podemos e não queremos mais ignorar o maior ícone do meio ambiente e da
cultura da capital.
Maria Rita Ferreira
Uemura é jornalista, empresária, diretora da empresa de turismo de aventura
Tribo do Remo e escreve exclusivamente para este blog toda quinta-feira
(www.tribodoremo.com.br). e-mail: ferreirauemura@gmail.com
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