quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A cidade de costas para o Rio Cuiabá

Maria Rita
 

Lembro a primeira vez que vi o Rio Cuiabá. Eu tinha 13 anos e vim de férias para conhecer a cidade onde em breve eu iria morar com meus pais. Atravessamos de carro a ponte que liga a região do Porto a Várzea Grande. O tamanho do rio me impressionou. A cidade em que morava no interior do Paraná não possuía nada parecido.
Nesta mesma viagem fui levada à Passagem da Conceição e Bonsucesso. Adorei o Pacu e comi receosa a Piraputanga, pois não tinha ainda desenvolvido a capacidade de retirar os espinhos com a boca. Digo isso, pois diferente dos cuiabanos de nascimento, eu não tinha a cultura do peixe, mas rapidamente aprendi a valorizar as riquezas oriundas daquele rio. Mas o tempo foi passando e atravessar a ponte se tornou uma situação banal. Escola, trabalho e o cotidiano atribulado tornaram o Rio Cuiabá um coadjuvante na paisagem para mim. Nenhum dos meus amigos tinha o hábito de frequentar o rio, isso não pertencia ao nosso universo.

Quem passa pelas pontes observa uma cena triste. Lixo e esgoto se misturam às águas. Outro problema sério é que o Rio Cuiabá fica escondido na cidade. As pontes são os únicos pontos de onde é possível observar suas águas mansas. O planejamento urbano de Cuiabá e Várzea Grande, ou melhor, a falta dele, possibilitou que empreendimentos tomassem conta das margens e hoje quem pretende tomar banho, pescar ou usufruir de outra maneira tem que se dirigir a regiões distantes, pois não há áreas de lazer urbanas para tal finalidade.

Por conta disso é difícil acreditar que seja possível fazer turismo no Rio Cuiabá em Cuiabá. Mas para nossa surpresa tem muita gente interessada em passar o dia remando por suas águas. Escolhemos um roteiro que se inicia em Baús, distrito de Acorizal, e segue até o porto público de Nossa Senhora da Guia, em Cuiabá. São 16 quilômetros de expedição percorridos em cerca de cinco horas. Quando abrimos o passeio não tínhamos noção da demanda. O produto que lançamos causou um estranhamento inicial em nossos clientes já que normalmente descemos os rios cristalinos de Chapada. Muitos tiveram que ser convencidos de que o trajeto escolhido não é poluído, pois é visível que o problema do rio começa onde a concentração urbana da capital é maior.

Mas pouco depois de lançarmos a expedição já não tínhamos mais vagas. Lotamos de clientes cuiabanos e percebemos como a população da capital é carente deste convívio com o rio. Espero que o próximo prefeito promova políticas públicas para resgatar esta cultura por meio do desenvolvimento sustentável. Além disso, é vital que o governo, em qualquer instancia, desenvolva um programa de despoluição do Rio Cuiabá. Vale lembrar que primeiro veio o nome do rio e, depois, o da cidade. Não podemos e não queremos mais ignorar o maior ícone do meio ambiente e da cultura da capital.

Maria Rita Ferreira Uemura é jornalista, empresária, diretora da empresa de turismo de aventura Tribo do Remo e escreve exclusivamente para este blog toda quinta-feira (www.tribodoremo.com.br). e-mail: ferreirauemura@gmail.com

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