sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O foco deve ser a aprendizagem e não a "ensinagem"

Jacir José Venturi - jacirventuri@hotmail.com

Engenheiro, professor de matemática e presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).

Estando há poucos dias em Fortaleza, ouvi do próprio filho uma jocosa história que Lauro de Oliveira Lima – cearense e autor de mais de 30 livros sobre educação, falecido em 2013 – contava com graça aos amigos professores que acolhia em sua casa:
– Estão vendo este meu cachorro? O nome dele é Dog, e eu o ensinei a falar! – provocava Lauro, diante do espanto de seus interlocutores. E prosseguia:
– Vem cá, Dog! Diga boa-noite! Boa-noite, Dog!
Fazia-se um silêncio sepulcral, e evidentemente nada de um grunhido que sugerisse um boa-noite.
Então, Lauro se safava:
– Ensinar eu ensinei, só que ele não aprendeu.

Evidentemente, por melhor que seja o mestre, jamais há de ensinar um cão a falar, porém essa folclórica alegoria enseja ensinamentos para nós, seres humanos. Há uma dicotomia entre aprendizagem e “ensinagem” – palavra essa que subverte a norma culta, e como faz boa rima caiu no gosto popular. O professor só ensina se o aluno aprende. “Não ensino meus alunos. Crio a condição para que aprendam” – se faz oportuno Albert Einstein.

No SalaMundo 2013 – um dos maiores eventos educacionais do Brasil, realizado em Curitiba –, o filósofo colombiano Bernardo Toro segue a mesma toada: “Quando o ensino é mais importante do que a aprendizagem e algo vai mal, os culpados são os alunos. Se a aprendizagem é mais importante, nós, adultos,é que temos a responsabilidade de mudar as coisas. A escola é lugar de aprender e não de ensinar”.
Para ser um bom professor, nada mais relevante que a didática, com a premissa de que no ambiente da sala de aula são intensas e constantes as mudanças, o que requer reciclagem continuada.Destarte, a simbiose entre a paixão pelo ensino e a vontade de investir na própria formação demonstram quem realmente quer ser um bom didata.O professor deve ser um eterno aprendiz, mantendo-se atualizado nos avanços da sua matéria e das novas práticas e tecnologias educacionais. Aula que tem que ser dada merece ser bem dada e, para tanto, bem preparada. É um ganha-ganha, pois agrega valores ao aluno e ao professor.

O desafio é dar uma boa aula e manter a motivação e a disciplina. Quase todo dia o professor tem o seu calvário. Conflitos com alunos são inevitáveis. Mas pare e pense: quem é o adulto na relação? Impor autoridade e limites são tarefas precípuas do professor. Sem disciplina não há aprendizagem na escola, tampouco na vida. A indisciplina – esse câncer do nosso sistema educacional – é abominada pelo próprio conjunto de alunos, como bem demonstrou um estudo apresentado no SalaMundo 2013 pelos pesquisadores Francisco Soares e James Ito-Adler. Eles próprios se diziam surpresos, uma vez que esperavam que as respostas fossem instalações físicas, didática dos professores, merenda, etc. Mas não!
Perguntarama cada aluno: o que mais o incomoda na escola?

Resposta prevalecente: bagunça.

Quando o diretor investe o melhor de sua energia na sala de aula, todo o ambiente escolar se transforma. A sala de aula representa os metros quadrados mais nobres de qualquer organização educacional, e é nesse espaço que devemos colocar os melhores talentos. Há um mote, em que duas palavras merecem reverência: educar com entusiasmo. Educar vem do latim ducere, que significa conduzir, mostrar o caminho. Entusiasmo tem etimologia no grego en-theo(en=dentro, theo=Deus). Para os gregos politeístas, quem têm entusiasmo tem um Deus dentro de si. Nada de grandioso pode ser obtido sem entusiasmo e nenhuma missão é mais grandiosa do que a de educador, pois este tem como legadodeixar no mundouma geração melhor que a sua.

Programa do MEC estimula a formação de negros e indígenas

Agência Brasil -

O Ministério da Educação (MEC) lançou o Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento. A medida foi publicada na edição de ontem (21) do Diário Oficial da União.O programa de intercâmbio é voltado para estudantes negros, indígenas e com deficiência do ensino superior e já está em vigor.

De acordo com a publicação o objetivo do programa é proporcionar a formação e a capacitação de estudantes autodeclarados pretos, pardos, indígenas ou que portadores de deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades, com elevada qualificação em universidades instituições de educação profissional e tecnológica e centros de pesquisa no Brasil e no exterior.

Para o MEC, o programa vai dar oportunidades de novas experiências educacionais e profissionais a esses estudantes. O programa também ampliará a participação de estudantes negros, indígenas e com deficiência, em cursos técnicos de graduação e pós-graduação e no desenvolvimento de projetos de pesquisa.

Outros pontos importantes do programa são a promoção da igualdade racial, a valorização das especificidades socioculturais e linguísticas dos povos indígenas, além da acessibilidade e da inclusão no Brasil, bem como estimular a troca de experiência em âmbito internacional para a construção de igualdade de direitos e de oportunidades no país.

O Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento será desenvolvido em parceria com Universidades e Instituições Comunitárias de Ensino Superior Historicamente Negras nos Estados Unidos. Parte das bolsas de estudo será oferecida pelo Programa Ciência sem Fronteiras e parte será destinada aos cursos de ciências humanas.

Os critérios de participação do programa serão definidos pela Secretaria de Alfabetização Continuada, Diversidade e Inclusão (Secadi) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

90% acham que escola integral é ‘necessária’




Nove em cada dez brasileiros consideram escola em período integral necessária para a educação das crianças. O resultado está numa pesquisa nacional do Datafolha feita para a Fundação Itaú Social com 2.060 pessoas. A margem de erro é de dois pontos.

A resposta surgiu quando os entrevistados foram apresentados à definição de “educação integral” como “escolas em que os alunos ficam mais horas por dia, com atividades diversificadas”. Ao todo, 36,3% nunca tinham ouvido falar em educação integral, a maioria desses pertence a classes mais baixas. “Precisamos disseminar o conceito de educação integral”, explica Patrícia Mota Guedes, gerente de educação da fundação.

Apesar de ser desconhecida por mais de 1/3 dos entrevistados, a escola integral está prevista no Programa Mais Educação (PME), de 2007, mas é rara no País. Isso porque a maioria das escolas tem dois turnos. A pesquisa mostra que parte dos entrevistados faz, espontaneamente, uma associação do estudo integral com melhora da educação (34%) e com ocupação do tempo livre (30%).

Fonte: Folha de S. Paulo

Projeto quer decifrar como é calculado o salário dos professores no Brasil

Proposta do projeto é decifrar como se forma o salários dos professores.


A baixa remuneração dos professores é, sem dúvida, um dos maiores problemas brasileiros com relação à educação. Os pesquisadores do Observatório da Remuneração Docente têm estudado o assunto em busca de algumas respostas e soluções. O projeto abrange nove programas de pós-graduação de universidades públicas e privadas do País, e tem sua coordenação nacional centrada na Faculdade de Educação (FE) da USP.

A fim de entender mais profundamente como é calculado o salário dos professores brasileiros, os diversos núcleos que compõem o Observatório se dedicam a analisar os dados já coletados e a estudar a legislação vigente nos distintos estados e capitais desde 1996 (ano de implantação da Lei de Diretrizes e Bases).

Por meio dos números fornecidos, é possível identificar o total de matrículas, quantos professores são necessários para atender a demanda e a relação de alunos por professor. Outra variável utilizada no desenvolvimento de análises é o orçamento público: quanto de receita há e as despesas que se realiza. Todos estes são fatores para se chegar à remuneração dos professores.

Duas impressões sobre a remuneração docente que puderam ser observadas por intermédio da pesquisa se destacam: ela é muito baixa, e o governo concorda com isso; não há entendimento da composição do salário pelos próprios trabalhadores, de modo que a maioria dos professores ignora seus benefícios, descontos e planos de carreira.

O conhecimento do sistema deveria ser um requisito básico para que alguém decidisse ser professor. Assim como em outras profissões, a vontade individual e um ideal imaginário sobre a carreira somam-se à remuneração como critérios de escolha. Essa informação, porém, é muito complexa, como revelaram as pesquisas. Professores têm apenas uma ideia vaga de como é calculada e, muitas vezes, não conhecem seus direitos.

Segundo Rubens Barbosa de Camargo, coordenador nacional do Observatório, “os fatores, valores, denominações, planos de carreira e critérios variam muito de acordo com a rede”. Em alguns locais, o final da carreira pode nunca ser atingido pela maioria dos profissionais. Em outros, há condições para se chegar até lá, por meio de titulações (mestrado, doutorado, pós-doutorado), por exemplo. Na opinião do pesquisador, essa variação mostra “como o sistema é complexo e como não há parâmetros comuns, mais interessantes e perceptíveis de modo mais claro”.

No censo escolar, que é realizado anualmente, não há uma pergunta destinada aos docentes sobre o salário. Por meio desse questionário, poderia ser feito um levantamento mais preciso dos valores. Os dados são retirados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feita pelo IBGE ou da Prova Brasil. Esta última, porém, é aplicada apenas para a quarta e a oitava séries do ensino fundamental e para o terceiro ano do ensino médio. E não são todos os professores que respondem; normalmente, apenas os de português e matemática.

Em termos médios, os valores obtidos por meio destas fontes podem representar a expressão do salário bruto de todos. Mas a rigor, observa o pesquisador, trata-se de um perfil de professores específico.

ANÁLISES INICIAIS - Ao término do primeiro período de pesquisa, que será renovado, o Observatório verificou que realmente a remuneração dos professores é muito baixa frente às outras profissões. Entretanto, ela tem crescido nos últimos anos. Um dos parâmetros usados para aferir isso é chamado de valor/aluno/ano do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) — os valores que esses fundos trouxeram para as diferentes regiões foram significativos, o que pode ter impactado a melhora do salário docente na educação básica.

A partir de 2008, também houve a instituição da Lei do Piso, que determina o mínimo que um professor pode receber no Brasil, porém seus efeitos não foram avaliados, já que a pesquisa ainda não foi desenvolvida no período após aprovação da lei (2011).

Outra constatação foi de que diferença entre o menor e o maior salário de uma mesma rede se tornou menor. O mais baixo aumentou, mas o mais alto ficou praticamente estagnado. Isso significa que a carreira docente se tornou pouco atraente, já que não proporciona uma grande elevação da remuneração ao longo do tempo. Não há profissionais interessados em permanecer dando aulas.

Na opinião do coordenador do Observatório, “as elites nacionais nunca consideraram a educação das massas no Brasil um valor essencial tanto para a formação de uma nação soberana, independente, quanto para o desenvolvimento do capitalismo, com a necessidade de mão-de-obra qualificada”. Por esse motivo, completa Camargo, os investimentos públicos de longa data realizados no País sempre foram aquém do necessário e da capacidade financeira. “Há muitos anos o Brasil é um país de destaque em produção de riquezas no mundo, só que isso nunca se reverteu em uma política pública que valorizasse a questão da educação das massas”, avalia.

Liderança: a visão de Gandhi e de Chico Mendes


Por ROSA MARIA DE SALES GUIMARAES BARROS
Doutoranda em psicologia social
Especialista em dependência química pela Universidade Federal do Espírito Santo
Psicopedagoga e Psicanalista.
RESUMO
                  O presente artigo visa a contextualizar duas lideranças que aos olhos menos treinados, parecem não encontrar foco de unidade, pelas características temporais, culturais e sociais aparentemente distintas. Gandhi e Chico Mendes reuniram em suas militâncias políticas um sentido que necessita urgentemente ser resgatado e disseminado em todas as sociedades atuais. O sentido de integração com a natureza e valores humanos o cuidado de si mesmo, a necessidade de manter o homem em seu território produzindo o sentimento de pertencimento e o sentimento da não exploração. Ambos lutaram de forma pacífica pelo bem comum, protegendo sempre o direito à consciência do pensamento emancipador. Demonstraram ativamente que as diversidades é que formam a unidade. Os dois líderes mudaram paradigmas que se tornaram universais por serem inerentes a essência humana.

Palavras-chave:Liderança-natureza-liberdade-mudanças de paradigmas

INTRODUÇÃO

A primeira década do século XXI assistiu ao avanço de uma economia tirana, com divisões de classes sociais marcadas por um profundo desrespeito à essência humana.

Para se conceituar o termo líder/liderança, não se parte dos “Stakeholders”, gestores e políticos pré-fabricados para empresas atuais que, a serviço de uma economia capitalista reproduzem de forma inconsciente e controlada a liberdade dos indivíduos, ao fazê-los acreditar que são privilegiados e colocá-los, porém, sujeitados a uma ideologia que despotencializa qualquer força inerente ao indivíduo, frente ao círculo de exploração, onde enredados, desconhecem os perigos para sua liberdade e para seu futuro, de modo que sua verdadeira essência é afastada pela nefasta presença da ideologia e do pensamento regulador.

Defende-se e aborda-se neste artigo como líder/liderança, raros homens que corajosamente, escutam aos próprios questionamentos e com uma intuição “divina”, são guiados e movem as massas para compartilharem e lutarem para o bem comum contra as injustiças e direitos de igualdade e de pertencimento dos seres humanos, o que provoca sempre um pensamento participativo, emancipado e livre, alternativos ao sistema enquadrador.

Julga-se que seria difícil fazer comparações entre os dois tipos de líderes em questão, devido aos diferentes contextos territoriais, culturais e temporais. Ao ser surpreendido pelas mudanças das ideias já formatadas pela própria cultura e história, leva-se a entender o subjetivo humano, que por essência nasce livre, mas rapidamente se aglutina aos modos de controle capitalista e muitas vezes morre inconsciente de sua condição natural e de direito, que é a liberdade.

Ao certo não se sabe o que desencadeia este despertar nos homens outrora controlados pelo sistema econômico e político, mas sabe-se que fatos limitantes às condições humanas, ascendem em alguns a verdadeira liderança, o pensamento e a vida emancipada – a verdadeira liberdade.

Ao ressaltar o controle inconsciente exercido pelo poder capitalista e mostrar que o homem livre sofre sempre a punição por não estar em conformidade com a obediência exigida por aquele poder, estes líderes lutam por sua liberdade de pensamento e arrebanham multidões, o que provoca reflexões no contexto das ciências humanas, e corrobora para o destaque das diferenças entre os seres irracionais, a evolução natural, emancipadora e livre. Isso nem sempre as ciências puras com seu materialismo dogmático é capaz de compreender, explicar ou permitir. Busca-se através de uma visão antropológica progressista, como o homem evolui dentro do conceito “cuidar de si mesmo”, livre e sujeito de sua própria história em seu território, o que contribui sempre para o bem comum.

Este trabalho objetivou discorrer sobre o tema liderança, com a preocupação de analisar as necessidades dos homens e sua conduta social hoje, definidas sempre por momentos históricos e desejos gerados por um sistema sócio-político e econômico alienantes, consumista e de controle sob o ponto de vista do indivíduo “assujeitado”. E por fim deixar contribuições e novos paradigmas para a humanidade

LIDERANÇA: “A ORDEM PURA DE QUE NECESSITAMOS”.

  Exalta-se aqui, duas importantes figuras, Mohandas Karanchand Gandhi e Francisco Mendes Filho. Gandhi morreu na mesma década em que nasce Chico Mendes. Ao paradoxo início/fim, tempos diferentes, homens voltados para a essência natural do humano, embora estivessem em diferentes continentes e pertencentes a diferentes culturas, lutaram pela igualdade de direitos, justiças e liberdade do homem. Foram defensores do pertencimento dos indivíduos, as diversas relações subjetivas e produtivas do território de onde são oriundos. Para estes homens a liberdade é o maior bem que deve ser assegurado. Partilha-se a ideia estoicista que para muitos com a revolução Francesa,(1789), perdia sua força e desvinculava líderes modernos de seus conceitos, do liberalismo econômico e do sistema capitalista. Embora as reflexões estoicas nunca deixaram de permear os pensamentos dos filósofos visionários ,que interpretavam a nova ordem do século XVIII, como um afastamento do homem da natureza a serviço de um novo sistema econômico e social, instaurados com a revolução industrial. A harmonia universal e comunhão com a natureza (Deus) defendido por Spinoza(1677) como dois nomes para as mesmas realidades, sempre fez parte do inconsciente coletivo humano e foram desfocados a partir dos mecanismos de controle e leis de produção da economia, fazendo que os mesmos perdessem a liberdade de pensamento emancipação para o pensamento regulação.(Boaventura,2000).

Quem afinal eram estes homens?

Gandhi, um homem que fugia aos padrões de beleza ocidentais, cuja etnia e religião, foi motivo de preconceitos no mundo ocidental, onde se achou não pertencente, quando estudou Direito em Londres. Isto a ele concedido, por pertencer às castas mais favorecidas dos Hindus. A Índia vivia mergulhada em pobreza e assujeitada ao domínio da coroa Inglesa.  Quando retorna a Índia, depois de conhecer o mundo e as ideias ocidentais, percebe a grande dominação, preconceito, injustiças a que seu povo era submetido. Diante de tanto sofrimento e constantes humilhações e impotência que vivia seu país, encontrou uma arma poderosa para lutar contra o poderio capitalista – a “resistência pacífica”, provocativa e ativa, abominava qualquer tipo de violência. Esta foi a arma que usou e ensinou os indianos a utilizarem contra o autoritarismo e as injustiças do governo inglês, que culminou na independência da Índia.

Valeu-se da religião como propulsor de valores morais e da disciplina, e aceitou a todas as religiões hindus, sem segregação. Buscou com disciplina estes valores morais, para defender a ideia que o homem, em comunhão com suas virtudes, está mais perto da natureza e de Deus.

Sua trajetória mostra a sensibilidade e essência humana. O que por evolução e consciência máxima diferenciaria o homem dos animais irracionais. A violência, independente de condição física ou moral, é uma violação do que é humano e sempre deve ser entendida como ferramenta de controle e poder tirano. Este conceito e ideia fizeram parte da política de Gandhi, que arrastava a Índia inteira sobre sua liderança.

Sua militância devolveu aos indianos a autoestima e coragem para desobedecer ao que a coroa inglesa os impunha. Ganhou notoriedade internacional por sua obstinação em mostrar ao mundo as injustiças e sofrimento ao qual eram submetidos pela Inglaterra. Pregava que uma forma de lutar era tornar a injustiça visível e que qualquer forma tirana de governo em algum momento de sua história será arrebatada.

Gandhi manteve sua liderança entre os hindus por 25 anos, ensinou e mostrou aos indianos e ao mundo, que a humildade e a simples verdade eram mais poderosas que impérios.

Despiu-se de quase toda cultura ocidental, em protestos contra os altos impostos imputados à Índia. Passou a fazer suas próprias roupas e a utilizar os transportes públicos e caminhadas para as suas viagens políticas. Sublinhou com isto sua independência pessoal aos países superindustrializados.

George Marshall (1953), secretário Americano de estado, definiu Gandhi como “o porta voz da consciência de toda humanidade”.

Percebe-se que este estilo de líder, além de interferir ativamente no território ao qual pertence, modifica e implementa novos paradigmas sociais, conscientizam os indivíduos locais da importância de sua força grupal e dos recursos que a unidade cultural e de pensamento podem adquirir, transcendendo fronteiras, criando identificações com realidades e contextos de outras sociedades. Diferentes dos líderes capitalistas, fabricados pelo interesse de corporações e de grupos particulares, voltados aos modismos em prol de um consumismo controlador que tem como objetivo vender uma ideia sem se importar com o aspecto humanístico e evolutivo do homem. São movidos pela competitividade lucrativa e não pelo bem comum.

Chico Mendes, como Gandhi, era um obstinado pela verdade. Porém só teve acesso a educação formal, aos 19 anos de idade. Soube ouvir a sua “consciência divina” e entender bem cedo as injustiças, exploração e controle que os grandes latifundiários e governantes impunham aos seringueiros, índios e povos da floresta amazônica. Estes exploradores, insensíveis aos problemas da sustentabilidade, visavam somente a lucros e não se importavam com o destino dos habitantes da região.

A história e a tragédia da Amazônia começaram há 150 anos, quando descobriram então, na grande floresta amazônica, a “Hévea brasiliens”, conhecida como seringueira. Brasileiros que vieram das regiões mais áridas e secas do nordeste trocaram sua região, por um mundo de águas e de abundância natural.

Não foram fazer fortunas, mas foram se sustentar, e por isto, tinham uma relação de harmonia com a floresta e respeito aos que a habitavam, uma vez que os índios se mostraram desde o início, anterior ao chamado ciclo da borracha, como inimigos dos seringueiros e de quem invadisse o território entendido pelos mesmos como área de pertencimento indígena. A descoberta da borracha para a indústria mundial atiçou a ganância dos capitalistas e uma onda de exploração se instalou na Amazônia e trouxe com ela todos os tipos de conflitos e interesses. No início do séc. XX a indústria automobilística estava em plena ascensão e a seringueira nativa na floresta chegou a produzir 40 mil toneladas de borracha que era quase toda exportada para a América do Norte.

O entendimento do mundo capitalista pelas riquezas da Amazônia, não foi somente em relação ao cultivo das sementes roubadas que os Ingleses e Holandeses levaram para serem cultivadas na Ásia, que desencadeou uma crise histórica do ciclo da borracha. Foi também responsável pelos desmatamentos que vieram com a exploração da madeira, indústrias farmacêuticas, e todo tipo de extração cruel e inconsciente. Em parceria com governos corruptos, empresas internacionais se uniram a grandes latifundiários, e submeteram os povos da floresta e habitantes da região, que viviam do extrativismo a uma tirana subjugação, pobreza e conflitos.

Neste cenário crescia Chico Mendes, que vê sua cultura ser desrespeitada, as relações entre a natureza e os homens não era mais possível. Muitos eram desapropriados das terras em que viviam, por conta das extrações permissivas por parte do governo e da polícia federal, para empresas que tinham capital internacional. Em busca de lucros a qualquer custo e de imediato.

Indignado com a situação a que seu povo estava sendo submetido, Chico Mendes inaugura um tipo de luta diferente para combater o direito de extração natural, modo de sobrevivência dos povos da floresta e desrespeito a floresta. O nível de queimadas, desmatamento e de servidão dos que necessitavam da floresta não podia ser mais tolerado. Quando os peões chegavam com as motosserras para derrubarem as florestas, encontravam famílias inteiras que se punham em frente aos tratores para impedir a ação comandada pelos seringalistas. A este enfrentamento pacífico foi dado o nome de “Empate” que tinha como objetivo criar um ato político, chamar atenção para o que se passava na Amazônia e principalmente criar reservas extrativistas. Os seringueiros eram expulsos do território onde tinham o sustento de suas famílias, e obrigados a viverem em países vizinhos na mais profunda pobreza. Por isto, fundou-se o Conselho Nacional dos Seringueiros – CNS, para que a classe tivesse representatividade. Chico Mendes foi perseguido por suas ideias de preservação que desconfortava aos que promoviam com fúria lucrativa o desmatamento.

Como Gandhi, conscientizou, hindus e mulçumanos a pararem de brigar entre si para lutarem juntos pela mesma causa. Chico Mendes viabilizou uma aliança entre índios e seringueiros, inimigos históricos, para lutarem pela causa da floresta. Isto lhe custou a vida.

Chico Mendes e Gandhi, líderes que só pararam de lutar pelo que acreditavam pela razão maior que se contrapõe a vida – a morte!

A notoriedade dos dois líderes pacifistas, pertencentes a diferentes  continentes e tempo, alargou-se de tal forma, que tanto Mahatma  Gandhi, quanto Chico  Mendes, não puderam mais ser ignorados, pagaram com a morte, porém mudaram paradigmas e tiveram o reconhecimento mundial.

Desobedientes ao sistema capitalista, que tem como pilar, exploradores e explorados conformados inconscientes e controlados, os dois líderes trabalharam para o bem comum, e invadiram de forma transportadora, conceitos e novos paradigmas evolutivos humanos, que se difundiram por todos os continentes do planeta.

Percebe-se que a segunda década do séc. XXI ascende desconfortos ao paradigma conhecimento regulação, pouco a pouco temos notícias de insurgências dentro de vários países onde o poder controlador se fazia presente.  Felizmente perceberam que estas insurgências são oriundas de um sentimento a favor do conhecimento para a emancipação e com isto entende-se que o sistema capitalista tal como existe até o momento está com os dias contados é “uma morte anunciada”.

Ao interpretar Boaventura (2000), a população mundial sente a necessidade e é a favor de travessias, mas necessita de novos paradigmas para ir de uma margem a outra. Para tanto, as perguntas que surgem: Será que novos líderes surgirão, como artistas a decodificar o nosso caos humano e social? Gandhi e Chico Mendes viveram em países miseráveis e explorados, e não viram os seus países agora emergentes, autônomos, conduzirem sua própria história. Será que a população mundial verá e sentirá uma nova era desvinculada de um capitalismo parasitário?

É certo que a evolução das sociedades se nota a partir de pequenas aldeias globais, percebem-se que movimentos semelhantes, insurgem em todo o planeta, como um descontentamento geral que grita por mudanças. Com o avanço tecnológico e evolutivo do homem, o controle das massas não é mais tarefa tão fácil e rastreante, como outrora, que permitiu o surgimento deste homem mais crítico de sua história social, decidido a fazer os ajustes que lhe convier.

O poder utilizado por décadas para controle da população, pela engenharia social, já não alcança o mesmo sucesso.  “As armas silenciosas para guerras tranquilas”, começam a se mostrar ineficientes, pela própria natureza do homem que “assujeitado” a poucos, e por muito tempo, clama por sua liberdade.

Este ser divinamente indomável, que sempre existiu dentro de cada ser humano, embasados por ícones históricos como Gandhi e Chico Mendes, começam a contextualizar a história da humanidade de forma natural e não sistemática, mas como uma forma intuitiva de se estar no mundo agora, e construir um dia-a-dia que culminará em um futuro diferente do que os “desvirtuados” haviam planejado para a humanidade! A própria evolução humana resgatou conceitos essenciais que faziam parte de nossa racionalidade e que haviam caído ao esquecimento, controlados por poucos, mas que era direito dos efeitos históricos e evolutivos.

A este período de ganância, poder, controle alienantes, escravos dentro de seu próprio território, que se compara a uma galeria tubular que conduz pelo fogo a uma saída de extermínio e insanidade. O sentimento de confiança e empoderação pelo intuitivo que tem se aperfeiçoado, e agora conduz a todos, embora os desavisados e mais lentos demorem ainda a entrar no vagão da evolução humana, onde as relações sociais, devem concorrer para o bem comum, para as virtudes, inerentes a natureza humana .

A globalização evolução, fez isto pelo homem, as atitudes morais tendem a se unificar. Diferentes concepções morais em relação ao planeta e ao humano serão rechaçadas e descartadas, pois o homem tem agora um olhar integral sobre si mesmo, sem desconsiderar suas peculiaridades e culturas territoriais, exalta sua unidade com a natureza humana, do contrário, este modelo existente de sistema social, terminaria por extinguir a espécie.

Parte-se de uma reflexão racional Weberiana o desenvolvimento desta razão, poder e dominação, que encontrou a resistência nestes líderes que buscaram nas tradições de caráter sagrados, motivações para se oporem ao poder dominante, e por isto, sua militância foi legitimada, pela autoridade a eles conferida.

Dividiam o conhecimento do território e da cultura, e a denuncia do desejo de todos. Este carisma, também personificado no arquétipo de herói, assumiu nestes atores, Gandhi e Chico Mendes a proporção do sagrado, por abnegação da própria vida em prol da causa, que exerce limites físicos e se mostram opositores à violência.Embora por um período adormecidos e dominados por tanto tempo, subjugados a engenharia social, homens como Gandhi e Chico Mendes, atuam como arquétipos do “cuidar de si”.

CONCLUSÃO
Os tantos mitos criados pelo homem no percurso civilizatório, não foram capazes de apaziguar o desconforto constante produzido por seu desejo compulsivo em dominar a natureza e o mundo. Quando se pensa que os avanços são reais e para o bem comum, se tem notícias que os recursos materiais são destinados a poucos e que o grande contingente humano ainda sobrevive em profundo descaso dos dirigentes controladores.

Doenças surgidas do estresse do se “tentar enquadrar”, do se deixar conduzir, em elos de correntes que nunca se sabe quem os puxa. E o homem segue com modificação da sua natureza livre, dorme menos e trabalha mais, e se afunda nas facilidades dos empréstimos e cartões de plásticos, e compra toda produção material, interpretados por Jean. J. Rousseau (1776), como incapazes de conduzirem o homem a maior moralidade e felicidade.

Pois bem, percebe-se que líderes como Gandhi e Chico Mendes, tentaram e mudaram paradigmas humanos, numa tentativa de conscientização de unidade entre homem e natureza. Ao aproximar pensamentos e condutas de integralidade, física, psíquica, biológica e social. Visão extremamente pertinente no contexto histórico atual, onde o processo globalizador, que deveria fortalecer e promover qualidade de vida provoca um tornado que envolve a todos em uma sucessão de fatos contraditórios e perigosos, que se leva a pensar em uma “esquizofrenização coletiva”. Que criam sentimentos de medo, incertezas, e deixa órfãos a todos, pois a impressão é que o mundo agora, necessita e tem urgência em estar fora deste “controle”. Vários movimentos se organizam neste momento, claro como insurgências.A criatividade aos absurdos do consumo criou dois tipos de infelicidade: a dos homens que já não tem o que comprar, se deparam com o vazio, se coisificam, o que os leva cada vez mais longe do que é o humano, e assim, banalizam a vida, em troca de sofisticação nas relações, e se enclausuram em casas com sistemas de segurança, encarcerados; e o outro tipo de homens, que a qualquer preço, lutam por resultados favoráveis a corrida projetada pelo sistema, ignoram semelhantes, envolvem-se em redes de corrupção, e usam a palavra sustentabilidade para diminuir a culpa que por intuição humana e sentimento, temem que lhes será cobrada, pois impedem a natureza de pulsar, e reprimem e devastam o que é natural, vislumbram forças contrárias que não poderão conter. O convívio com o medo constante, a perda da alegria e o pior se afastam cada vez mais da consciência do humano.

A história nos ensina que a resistência a novos paradigmas também são naturais. Portanto, que venham líderes naturais, do território “mundo”, que instaurem uma nova ordem que nos faça mais humanos, mais conscientes e evoluídos, mais livres.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GANDHI- Direção de Richard Attenborough. Roteiro de Jonh Briley, Alyque Padansee e Candice Bergen,1982.
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JUNG, C.G. Aspectos do drama Contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1988.
LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Edições Tempos brasileiros, 1985.
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Zeitgeist – Moving Forward.Direção de Peter Joseph, 2011.
Zeitgeist- Addendum. Direção de Peter Joseph, 2008.

A inteligência das crianças

Os pequenos já nascem “plugados” em dispositivos tecnológicos



No artigo anterior, tratei da ignorância. Falei das consequências sofridas por crianças, cujos pais desconhecem coisas óbvias.

Hoje, mesmo com as belas cenas das prisões dos mensaleiros do PT roubando a cena e forçando a pauta, continuo falando do tema, mas reflexiono sobre as crianças que já nascem “plugadas” em dispositivos tecnológicos: celulares, tablets... Portanto, a despeito do analfabetismo, inclusive o funcional, e da fome, que subsiste em nosso país, refiro-me à maioria das “crianças de hoje”.

Essa condição de modernidade das “crianças de hoje”, mesmo entre as mais pobres e filhas de pais ignorantes, nos dá a impressão de que estamos diante de seres quase sobrenaturais, de “tão inteligentes que são”.

E estamos mesmo!

Mas que tipo de inteligência têm as novíssimas gerações?

Antes de tudo, vale lembrar que o ser humano sempre esteve envolto a descobertas e/ou a sofisticações tecnológicas. Motivo: biblicamente falando, depois do “carreirão” que Adão e Eva tomaram de Deus, era preciso tornar menos penosa a existência na Terra; era o espaço de que tecnologia precisava para driblar as “maldições divinas”.
"Vale lembrar que o ser humano sempre esteve envolto a descobertas e/ou a sofisticações tecnológicas."


Assim, os meninos que nasceram, por exemplo,, quando a roda foi inventada recebiam de “mãos beijadas” uma invenção de parar o mundo; ou melhor, de fazê-lo girar sem parar.

As gerações posteriores foram só acumulando inovações. A partir da Revolução Industrial – portanto, a humanidade já moderna e imersa na dinâmica do capitalismo vigente –, as máquinas com “feições” mais atuais foram tomando conta de nossas vidas; foram poupando nossos braços, nossas pernas. Nossos esforços físicos foram diminuídos.

Contudo, tal ocupação começou a ser tão perigosa que intelectuais e artistas modernos/contemporâneos logo trataram de tencionar isso. A título de exemplo, Chaplin, em “Tempos Modernos” (1936), questionava a sobrevivência humana em meio ao mundo tão industrializado.

No Brasil, destaco a obra Jeremias sem-chorar(1964), de Cassiano Ricardo. Ali, lê-se o poema “Ladainha”, um dos mais emblemáticos dessa contemporaneidade atolada na tecnologia. Eis o texto:

“Por que o raciocínio, os músculos, os ossos? A automação, ócio dourado, o cérebro eletrônico, o músculo mecânico mais fáceis que um sorriso. Por que o coração? O de metal não tornará o homem mais cordial, dando-lhe um ritmo extracorporal? Por que levantar o braço para colher o fruto? Por que labutar no campo, na cidade? A máquina o fará por nós. Por que pensar, imaginar? A máquina o fará por nós. Por que fazer um poema? A máquina o fará por nós. Por que subir a escada de Jacó? A máquina o fará por nós. Ó máquina, orai por nós”.

Esta “Ladainha” tem cerca de 50 anos! Quando foi composta, o autor talvez não imaginasse que, p. ex., um carro e um apartamento seriam tidos como “inteligentes”. Esse “conceito de vida”, ou inversão da lógica, é recente.

E é a partir desse conceito de vida –ou dessa inversão –que precisamos questionar o tipo de inteligência que os humanos passaram a ter recentemente. A meu ver, por já nascerem acopladas às máquinas, as “crianças de hoje” logo as manuseiam. Seus fofos e singelos dedinhos são como partes de teclas e telas. Mecanicamente, saem e entram em joguinhos, programas, sites... Uma desenvoltura incrível!

Todavia, essa desenvoltura pode não passar de atos mecânicos. Podemos estar gerando seres humanos que só farão poemas com o auxílio dos “cérebros” e dos “sentimentos” das máquinas; ou talvez nem os farão! Gerações que não subam nenhuma escada, muito menos a de Jacó.

ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Jornalismo pela USP e professor de Literatura pela UFMT.


Vulnerabilidades e resistências da população negra

No Brasil com a abolição da escravatura a população negra não conseguiu uma inserção qualificada no mercado de trabalho
 
 
 
O racismo têm estruturado violências que restringem as oportunidades de desenvolvimento de negro/as e de acesso às políticas públicas, a proteção social, a justiça e aos direitos, tais opressões provocam restrições de liberdade, discriminações, estigmatizações e humilhações. Diante dessas desigualdades tem papel fundamental as lutas de resistência, em particular a ênfase na rememoração e afirmação de um legado afro brasileiro.

No Brasil com a abolição da escravatura a população negra não conseguiu uma inserção qualificada no mercado de trabalho, por inúmeros motivos, dentre eles a presença do estigma de seres inferiores, perigosos ou criminosos, sujeitos destituídos de ética e moralidade no trabalho, trabalhadores braçais desqualificadas e ignorantes, o que acabou por bloquear oportunidades de crescimento profissional; bem como não logrou êxito em elevar o nível de escolaridade em igualdade com as populações não negra. Esses dois aspectos foram fundantes para a reprodução histórica das desigualdades raciais, retraduzidas em baixo nível de escolaridade, baixo status socioeconômico, racismo institucional, perda de expectativa de vida e outras violências.

De acordo com a Nota Técnica do IPEA – Vidas Perdidas e Racismo no Brasil (Nov./2013) há a prevalência de homicídio entre os negros, principalmente o jovem negro, pois para cada homicídio de não negro, 2,4 negros são assassinados em média. Quando consideradas todas as violências letais, ou seja: homicídios, suicídios e acidentes –, os homens de cor negra são os que apresentam a maior perda de expectativa de vida - 3,5 anos de vida, contra 2,57 dos homens de outra cor/raça. Os dados revelam que mais de 39 mil pessoas negras são assassinadas todos os anos no Brasil, contra 16 mil indivíduos de todas as outras etnias/raças.

Diante de tantas vulnerabilidades é preciso dizer que a população negra tentou e tenta resistir historicamente, e o fez de diversas formas com estratégias politicas diferentes, pela constituição dos Quilombos, com as revoltas (dos Alfaiates (1798), da Chibata (1910)), pela via da cultura e religião – Irmandades religiosas e religiões de matriz Africana, imprensa negra, clubes negros, fóruns, conferências de promoção da igualdade racial, conselhos de políticas e outros.

Nesse dia Nacional da Consciência Negra, para além de uma data comemorativa, significa um momento de reflexão sobre a presença persistente do racismo nas nossas práticas cotidianas, de denúncia do mito da democracia racial, da dificuldade de acesso a justiça e a educação. A demanda no tempo presente volta-se para efetivação da igualdade racial, de politicas de redução das desigualdades raciais, através das ações valorativa como a lei 10.639/03 e afirmativa como as cotas raciais no ensino superior e no mercado de trabalho, como oportunidades de reafirmar perfis identitários negros e de maior valorização da cultura negra.


*ZELMA MADEIRA é Doutora em Ciências Sociais pela UFC e professora da Universidade Estadual do Ceara

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

MT - Movimento quer ensino da História da África nas escolas

Reprodução




MARCIO CAMILO
DA REDAÇÃO
No momento em que se comemora o Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20), o movimento negro em Mato Grosso anuncia a intensificação de uma luta considerada incessante: a implementação efetiva da História da África na grade curricular dos estudantes, por meio da lei federal 10.639.

Essa é uma das principais bandeiras do Instituto das Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune). O movimento negro atua no Estado há 11 anos.
"A grande maioria das escolas não faz um estudo continuado da África. Essa matéria tem que ser ensinada durante todo o ano"

De acordo com a presidenta do Imune, a pedagoga Antonieta Luiza Costa, a grande maioria das escolas, sejam elas municipais ou estaduais, não possui em suas grades de ensino a História da África, assim como a vinda dos povos africanos ao Brasil, no período colonial.

“A história do povo africano é repassada aos alunos de modo pontual, normalmente no Dia da Consciência Negra. Nesse dia, as escolas levantam a bandeira do negro, promovem eventos de beleza afro. Mas, será que é só isso mesmo?”, questionou a professora.

Antonieta destacou que o ensino sobre a África, e a importância do continente para a formação cultural do Brasil, precisam ser continuados. “`Precisam ser ensinados todos os dias, como se fossem uma matéria inserida na grade de ensino dos alunos”, diz.

A professora lembra a lei federal 10. 639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da História da África e a sua contribuição para o país.

Mas, de acordo com ela, a lei não é cumprida. “A grande maioria das escolas não faz um estudo continuado da África. Essa matéria tem que ser ensinada durante todo o ano”, afirmou.

A presidenta do Imune destacou que a luta do instituto é por uma política de monitoramento quanto à aplicação da lei 10.639. “Precisamos saber efetivamente como que as escolas têm ensinado a cultura negra aos alunos”, afirmou.

Antonieta também destacou a importância de contar a “verdadeira história do negro no país”.

“Precisamos deixar claro que nós não somos descendentes de escravos. Somos descendentes de reis e rainhas, que foram trazidos à força para trabalharem como escravos no Brasil. Os professores, e os livros didáticos, precisam ensinar a influência do negro para gastronomia, dança, música e literatura do país”, afirmou a militante negra.

"O dia serve como ponto de reflexão sobre os avanços e os próximos desafios a serem enfrentados pelo Movimento Negro tanto em Mato Grosso"
Preconceito na escola

Antonieta disse que a escola é um dos espaços onde mais acontece a prática do racismo.

Ela atribui isso à falta de conhecimento, principalmente de muitos professores que não sabem lidar com situações de discriminação entre os alunos.

“A criança e o adolescente são um mero reprodutor do racismo. Normalmente, eles não fazem ideia do quanto estão sendo preconceituosas, quando xingam um colega de negrinho safado. São esses tipos de adjetivos que reforçam a prática do racismo, de maneira tão sutil, que a gente nem percebe. Aí que entra a figura do professor que precisa estar preparado para reprimir essa prática”, disse Antonieta.

O preconceito religioso-racial é outra prática que acontece nas escolas, de acordo com a professora.

A militante explicou que as crianças que possuem sua religiosidade de matriz africana são tachadas de macumbeiras. “Esses alunos acabam negando as suas origens, a sua identidade, por causa do preconceito”, afirmou.

Importância do feriado

Antonieta observou que o Dia da Consciência Negra serve para comemorar as conquistas do Movimento Negro no país, que, segundo ela, com muita luta, conseguiu instituir o feriado, além de tantas outras conquistas.

“Mas do que isso, o dia serve como ponto de reflexão sobre os avanços e os próximos desafios a serem enfrentados pelo Movimento Negro tanto em Mato Grosso quanto no Brasil”, disse.

"Precisamos deixar claro que nós não somos descendentes de escravos. Somos descendentes de reis e rainhas"
Programação


Entre as atividades que o Imune prepara para o Dia da Consciência Negra, está o lançamento do livro “Olhares Cruzados Brasil Etiópia”. O evento está programado para o próximo dia 30, na Comunidade Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento (47 km ao Sul de Cuiabá).

Além do lançamento do livro, o Imune prepara uma série de atividades culturais com os quilombolas de Mata Cavalo.

Imune

Além do trabalho de militância, o Instituto das Mulheres Negras de Mato Grosso realiza uma série de ações voltadas para o público negro.

Entre as atividades, estão cursos de capacitação para profissionais em Saúde Negra e de empreendedorismo voltados para o artesanato afro, quando as mulheres aprendem a confeccionar bonecas negras. Esse último já foi realizada em vários municípios.

Além de presidente do Imune, Antonieta Costa é a representante de Mato Grosso na Executiva Nacional de Mulheres Negras.

Ela também é formada em Pedagogia e Geografia, sendo professora de Ensino Fundamental e Médio na Escola Leovegildo de Mello, no bairro CPA 3.

Seu pai, Geraldo Costa, foi o fundador do Grupo de União e Consciência Negra (Grucon), que começou a atuar no Estado em 1983.

O grupo existe em todo país, espalhado em diversos conselhos.


Governo Federal cria bolsa de estudos para negros

Objetivo é formar e capacitar alunos no Brasil e no exterior

DO G1
Foi publicada na edição desta quinta-feira (21) do Diário Oficial da União a portaria do Ministério da Educação (MEC) que institui o Programa de Desenvolvimento Abdias Nascimento, que vai oferecer bolsas de estudos a estudantes negros e indígenas. A portaria entra em vigor já nesta quinta.

De acordo com o texto, o objetivo é formar e capacitar, com bolsas no Brasil e no exterior, estudantes "autodeclarados pretos, pardos, indígenas e estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades".

Com as bolsas, o ministério procura proporcionar experiências educacionais e profissionais "voltadas à educação, à competitividade e à inovação em áreas prioritárias para a promoção da igualdade racial, do combate ao racismo". Além do "estudo e valorização das especificidades socioculturais e linguísticas dos povos indígenas, da acessibilidade e inclusão no Brasil, e da difusão do conhecimento e da história e cultura afro-brasileira e indígena".

Segundo o texto publicado no DO, as áreas prioritárias e os critérios de participação ainda serão definidos em regulamento.

Anúncio em agosto


O anúncio do programa que entra em vigor nesta quinta foi feito em agosto. Na ocasião, o ministério informou que parte das bolsas deve ser oferecida pelo Programa Ciência sem Fronteiras, que tem como meta distribuir, em quatro anos, 100 mil bolsas de estudo para universitários brasileiros em outros países.

Segundo o MEC, que em agosto fez uma reunião com universidades dos Estados Unidos, parte da cooperação deve incluir uma rede de 106 universidades e instituições públicas norte-americanas localizadas nos estados e territórios dos EUA afetados historicamente pela escravidão e que foram criadas nos anos de 1960 para oferecer cursos a jovens americanos negros. Hoje em dia, estudantes internacionais e de outras etnias também podem estudar nelas.

O ativista do movimento negro Abdias Nascimento, homenageado pelo MEC no programa, morreu em maio de 2011. Ele fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944 e criou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros (Ipeafro) em 1981 para continuar sua luta pelos direitos do povo negro, sobretudo nas áreas da educação e da cultura. Abdias também foi deputado federal, senador e secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro, de 1991 a 1994.

MT - Justiça manda Estado fazer concurso para professores

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Cotidiano / EM 120 DIAS
21.11.2013 | 15h40 - Atualizado em 21.11.2013 | 15h41
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Vagas de efetivos são ocupadas por temporários em pasta desde 2008

MidiaNews

Juiz Alex Figueiredo ordenou que Estado realize concurso público para contratação de professores





LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
O Governo do Estado deverá realizar um concurso público, dentro de 120 dias, para a contratação de professores para as áreas de Educação Profissional e Tecnológica, que deverão atuar na Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secitec).

A decisão é do juiz da Vara Especializada de Ação Civil Pública e Ação Popular, Alex Nunes de Figueiredo, atendendo parcialmente à solicitação feita em ação do Ministério Público Estadual (MPE).

Na decisão, o magistrado ainda proíbe o Estado de realizar novas contratações temporárias, prorrogar ou renovar os contratos já existentes na Secitec e que contrariem a Constituição Federal.

Na ação, o MPE denuncia que as contratações de “centenas de professores” foram feitas em desacordo com a legislação federal e estadual, uma vez que não possuíam caráter de urgência.

Além disso, o Governo teria criado 320 cargos, dos quais apenas 37 estariam ocupados por servidores efetivos. Dos 283 restantes, 143 são vagas preenchidas por trabalhadores temporários.

De acordo com o juiz, o contrato emergencial apenas seria correto caso visasse ao preenchimento de necessidades imediatas, quando não há tempo hábil para a realização de um processo licitatório.

Figueiredo ressalta, em sua decisão, que esse não é o caso, uma vez que as contratações temporárias vêm ocorrendo desde 2008, para preenchimento de cargos efetivos, “cujo desempenho prescinde de permanência e, portanto, destoa completamente da temporariedade e da excepcionalidade exigidas pela lei”, exigindo, assim, a interferência do Poder Judiciário.

“O simples fato de haver quatro vezes mais servidores temporários do que concursados, todos ocupando igualmente cargos inerentes a servidores efetivos, já autoriza e legitima a intromissão do Judiciário no âmbito da administração para corrigir tão patente ilegalidade”, afirmou, em trecho da decisão.

MT - Índia e Brasil: Em diversas viagens, escritora busca auto-conhecimento na sabedoria oriental

Da Redação - Stéfanie Medeiros

 As coisas começaram com um curso de administração na Universidade de Mato Grosso (UFMT), mas antes de tudo, tornou-se uma busca por auto-conhecimento. Não dizia mais respeito a gerir empresas, negócios e administrar bens no mais puro sentido da palavra. Não. O objetivo agora era tornar-se senhora de si, conhecer seus desejos, vontades e angústias e, a partir disto, elevar o espírito.

A viagem para a Índia veio de forma inesperada, quase que por acaso. Já em contato com técnicas terapêuticas corporais importadas do oriente para o Brasil, Enildes Côrrea, 55 anos, não hesitou quando surgiu a oportunidade de estudar esta prática no oriente. Com um “sim” como resposta, Enildes realizou o sonho de visitar o país de nascimento de Guatama Buddha.

“Fiquei encantada com tudo o que tive oportunidade de vivenciar na Índia. Um modo de viver totalmente diferente, voltado para a interiorização e a espiritualidade, e que plantou em mim a semente do retorno. O Oriente tornou-se uma atração irresistível em minha vida”, disse Enildes em entrevista ao Olhar Conceito.

É difícil dizer, ao longo dos anos, quais os momentos mais marcantes de suas viagens à Índia. Mas Enildes lembra do “Ser Desperto”, o místico sufi indiano Kiran Kanakia, que conheceu em 1994 e com quem viveu ao longo de 12 anos consecutivos. “Encontrá-lo e tornar-me parte da sua família foi uma bênção. Um mestre iluminado é fonte de luz, silêncio, amor e sabedoria. Sua simples presença silenciosa e amorosa é um bálsamo alquímico para as nossas mais profundas e doídas feridas internas”.

Segundo Enildes, o mestre é o “Grande Terapeuta”. Sentar-se com ele é como sentar-se consigo mesma e a compreensão da vida, tanto externa quanto interna, foi onde Kiran a ajudou encontrar o caminho da paz interior e o retorno a si. Foi ele que disse a Enildes: “Entenda como viver, como estar em harmonia, como estar em equilíbrio, como estar em sintonia com a vida. Uma vez que você compreende como estar em sintonia, a vida se torna uma dança”, palavras que a terapeuta e escritora nunca esqueceu.

Enildes também ressalta que a convivência com mestre Kusum Modak, que foi quem criou o famoso método terapêutico da Yoga Massagem Avuvérdica Tradicional, e também com o doutor Mukund Bhole, criador da abordagem Anubhava Yoga, “expert” em Pranayamas (práticas respiratórias de Yoga).

Estas e muitas outras experiências foram relatadas em vários artigos e textos que Enildes aos poucos publicou nos jornais de Cuiabá. A recepção acolhedora e positiva dos leitores fez com que estes escritos fossem reunidos no livro “Vida em palavras”, lançado em Brasília em 2010.

“Enildes associa a velha Cuiabá com a velha Índia e tece uma poderosa rede de alquimia humana, cultural e de sabedoria. Mesmo à distância, as duas pátrias se parecem tanto na exata simplicidade de suas origens. Não é uma obra de filosofia nem religiosa. É de provocações que atingem esse novo viver diário do mundo moderno, tão atropelado pela urgência de ir e vir aos mesmos lugares de sempre, em busca de respostas que nunca estiveram fora de nós mesmos”, diz um trecho do prefácio, escrito pelo jornalista Onofre Ribeiro, ex-Secretário Adjunto de Comunicação do Estado de Mato Grosso.



Este ano, Enildes participou do Seminário "Índia e Brasil: uma parceria para o Século XXI", organizado pela Fundação Alexandre de Gusmão em parceria com a Embaixada da Índia no Brasil. O evento foi realizado 3 de outubro, no auditório Paulo Nogueira Batista, do Palácio Itamaraty, em Brasília (DF). No evento, a escritora e terapeuta chegou a entregar um exemplar de seu livro aos embaixadores Ashok Tomar, da Índia, Hardeep Puri, ex-representante permanente da Índia nas Nações Unidas, José Vicente de Sá Pimentel, presidente da Fundação Alexandre de Gusmão, e à subsecretária-Geral Política II, Maria Edileuza Fontenele Reis.

Sobre o futuro, Enildes tem projetos de escrever um segundo livro com temas voltados ao aprofundamento da espiritualidade. Também está focada no detalhamento de conteúdos apresentados em “Vida em Palavras”.

Curiosidade: Sonho de um jardim

Enildes Côrrea, através de uma carta, sugeriu ao governador de Mato Grosso da época, Dante de Oliveira, que no Parque Mãe Bonifácia, ao invés de se contruírem quadras na entrada principal, fosse feito um jardim. A carta, publicada nos três principais jornais da cidade, foi acatada e é uma das responsáveis pelo “Jardim do Cerrado” do Parque.

Confira a carta:

“ Cuiabá, 28 de dezembro de 2001.

Senhor governador Dante de Oliveira,

Através desta, quero registrar minha sugestão referente às obras a serem implementadas no Parque Mãe Bonifácia.

Tomei conhecimento, por meio dos jornais, de que lá serão construídas quadras de esportes. Por que não fazer um jardim, ao invés de quadras? A construção dessas quadras pode ser transferida para outras áreas da cidade, onde, certamente, há mais necessidade delas. Um belo jardim não existe em Cuiabá, a não ser nas residências das elites que aqui vivem.

O jardim vai estar mais em sintonia e harmonia com o parque, que predispõe ao silêncio, à contemplação e à meditação. Fui caminhar lá. Imaginei as pessoas, do alto do mirante, contemplando a beleza desse jardim, que visualizei nos moldes de um que visitei na cidade de Nova Délhi, no qual existe um lindo templo dedicado à paz – o Templo de Lótus. A sensação que tive foi tão boa! Por alguns instantes, foi como se um pedacinho da Índia, esse país que tanto amo, tivesse sido transportado para o Parque Mãe Bonifácia.

Aliás, sempre que ando pelas suas trilhas e atravesso aquelas pequenas pontes e, principalmente, quando desfruto e comungo com o silêncio, a beleza e uma certa magia que sinto suspensa no ar daquele local, lembro-me da semelhança existente com o famoso parque de um dos ashrams onde estudei naquele país. Tão bonito é o parque, que se tornou, tal qual o nosso Mãe Bonifácia, uma das atrações turísticas de Poona.

Entretanto há uma diferença entre eles, o de lá foi idealizado e concretizado como um presente dos discípulos ao Mestre e à sua gente. O daqui, uma iniciativa do atual governo deste Estado, que ofertou esta obra ao povo cuiabano.

Tenho certeza de que, assim como eu, muita gente irá preferir o jardim às quadras. Deixemo-las para os clubes, praças, escolas e onde mais se fizerem prioritárias. Ainda está em tempo de mudar o projeto! Espero que V. Exª, na qualidade de amigo número um do parque, como todos nós sabemos, reflita seriamente sobre esta ideia. Seria como um oásis em Cuiabá, um imenso gramado bem verde e bem cuidado, cheio de flores amarelas, vermelhas, brancas... Um presente ao parque, aos seus amigos e a todos os seus visitantes. Um culto à paz e à contemplação, bem de acordo com o que lá buscam as pessoas que o frequentam.

A energia do local vai ficar ainda melhor se, no lugar de concreto e barras de ferro, forem semeadas naquela terra sementes de lírios, orquídeas, margaridas, amores-perfeitos, cravos, rosas...

Então, num futuro próximo, os avós passearão com seus netos por esse jardim e poderão mostrar-lhes que cada flor, assim como nós, tem sua beleza única, seja ela uma rosa vermelha ou um amor-perfeito. Que cada expressão que floresce tem a sua radiância e a sua própria fragrância.

E eu, também já avó, levaria o meu pequeno tesouro para que ele visse, com seus lindos olhos verdes, que o cravo e a rosa deixaram de brigar e entraram em comunhão.

Desejo a todos que neste momento estão lendo esta carta que, no Ano Novo, as pedras que machucam e ferem os nossos pés sejam substituídas pela maciez da grama coberta pelo colorido, suavidade e beleza das flores.”

Educação para a diversidade - em busca da libertação; tema é debatido em seminários na UFMT

Da Redação - Marianna Marimon

“Quando a educação não é libertadora, o oprimido quer ser opressor”, já afirmava um dos maiores educadores e filósofos do mundo, o brasileiro Paulo Freire. Esta frase está pichada em um muro em Cuiabá, e chama a atenção pelo grito social de socorro, para que aqueles que apenas passam, possam se chocar com a imensidão desta sentença. Para debater a educação para a diversidade, a Semana da Diversidade de Mato Grosso promove uma programação intensa nesta quinta-feira (21) e sexta-feira (22), no auditório da Faculdade de Economia no 2º andar na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). As inscrições são gratuitas no local.

Entre os seminários que serão promovidos na Semana da Diversidade, acontece o I Seminário “Educação para Diversidade: Justiça social, inclusão e direitos humanos”, que irá contar com a presença da secretária estadual de Educação, Rosa Neide Sanches, a reitora da UFMT, Maria Lucia Cavalli Neder, o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno, e o presidente da ONG Livremente, Alexsanders Virgulino.

Debater a questão da educação, já que são recorrentes os abusos sofridos por pessoas de outros gêneros sexuais que não a heterossexualidade. A educação é um direito de todos, mas muitos sofrem perseguições pelas diferenças, seja sexual, de gênero ou física. O evento visa discutir e pensar estratégias de combate ao preconceito e a marginalização de alguns sujeitos no ambiente escolar.

A Semana da Diversidade de Mato Grosso irá culminar na XI Parada da Diversidade é organizada pela ONG Livre-Mente: Conscientização e Direitos Humanos, em parceria com o Núcleo Interinstitucional de Estudo da Violência e Cidadania da UFMT.

A UFMT é pioneira na questão da diversidade, já que foi a primeira universidade do Brasil a adotar o nome social de travestis e transexuais. Como exemplo, podemos contar a história de Eliza, estudante de enfermagem cujo sonho era realizar uma cirurgia de mudança de sexo pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Este debate é muito complexo, e o primeiro passo para procurar melhorias na educação para a diversidade é o diálogo. O sonho de Eliza era se tornar quem sempre acreditou que fosse, e é assim com muitos jovens e adultos, cujo medo é o principal empecilho para serem felizes: o medo da repreensão de terceiros. Olhar-se no espelho e não se reconhecer é o maior pesadelo destas pessoas que lutam diariamente para serem reconhecidos por uma sociedade discriminadora, que prega um padrão que nunca existiu.

Em busca da libertação que já sonhava Paulo Freire, a educação para a diversidade pode ser o caminho para que não haja mais opressores ou oprimidos, e as diferenças sejam acentuadas como positivas e não negativas.

PROGRAMAÇÃO:

21 de Novembro de 2013.

[TARDE]

13h00m - Credenciamento

14h00m - Mesa de Abertura.

- Sr. Carlos Magno - Presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Trassexuais
- Senhora Rosa Neide Sandes de Almeida - Secretária de Educação do Estado de Mato Grosso.
- Maria Lucia Cavalli Neder - Reitora da Universidade Federal de Mato Grosso
- Alexsanders Virgulino - Presidente da Ong LIVREMENTE

Mesa 1 - Educação e Diversidade: Justiça Social, Inclusão e Direitos Humanos.

15h00m - Prof° Luiz Augusto Passos - "A Efetivação do Estado Laico"

15h40m - ( a confirmar) "O Papel do Judiciário na Garantia dos direitos da população LGBT"

16h40m - Discussão.

 [NOITE]
Mesa 2 - Unidade na Diversidade: A Construção Humana na Diversidade e os Diferentes Atores Sociais.
18h30m - Carlos Magno (ABGLT); "Conquistas de Direitos e Movimentos Sociais"

19h15m - ( ... ) "Os atores Sociais e a diversidade sexual"

20h0m - (...) "A efetivação de uma educação inclusiva por meio da gestão pública"

20hm - Discussão.
22 de Novembro de 2013

[MANHÃ]
08h30m - Apresentação Artística

Mesa 3 - Educação e Identidade: Construindo os Vários Saberes Sobre Gênero, Identidade de Gênero, Masculinidades e Feminilidades.
9h00m - (...)
Tema: "Masculinidades e Feminilidades na Escola"

09h45m - (...)
Tema:"Identidade de Gênero na Escola"

10h30m - (...)
Tema: "Saberes sobre Gênero e Identidade na Universidade"

11h15m - Discussão.

[TARDE]
Mesa 4 - Educação, Cultura e Sociedade: Elementos para uma Cultura Inclusiva.
14h00m - Apresentação Artística

14h30m(...)
Tema: "Movimento Negro e Questões de Gênero e Sexualidades.

15h10m - Prof° Dr° Moises Lopes (Departamento de Antropologia da UFMT).
Tema: “Movimentos Sociais e Diversidade”.

15h50m - PROFa Dr. Dolores Galindo (ECCO)
Tema: Movimento Feminista e as questões de Gênero e Sexualidades.

16h40m - Discussão.

17:30 Encerramento