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MARCIO CAMILO
DA REDAÇÃO
No momento em que se
comemora o Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20), o movimento negro
em Mato Grosso anuncia a intensificação de uma luta considerada incessante: a
implementação efetiva da História da África na grade curricular dos estudantes,
por meio da lei federal 10.639. DA REDAÇÃO
Essa é uma das principais bandeiras do Instituto das Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune). O movimento negro atua no Estado há 11 anos.
"A grande maioria das
escolas não faz um estudo continuado da África. Essa matéria tem que ser
ensinada durante todo o ano"
De acordo com a presidenta do Imune, a pedagoga Antonieta Luiza Costa, a grande maioria das escolas, sejam elas municipais ou estaduais, não possui em suas grades de ensino a História da África, assim como a vinda dos povos africanos ao Brasil, no período colonial.
“A história do povo africano é repassada aos alunos de modo pontual, normalmente no Dia da Consciência Negra. Nesse dia, as escolas levantam a bandeira do negro, promovem eventos de beleza afro. Mas, será que é só isso mesmo?”, questionou a professora.
Antonieta destacou que o ensino sobre a África, e a importância do continente para a formação cultural do Brasil, precisam ser continuados. “`Precisam ser ensinados todos os dias, como se fossem uma matéria inserida na grade de ensino dos alunos”, diz.
A professora lembra a lei federal 10. 639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da História da África e a sua contribuição para o país.
Mas, de acordo com ela, a lei não é cumprida. “A grande maioria das escolas não faz um estudo continuado da África. Essa matéria tem que ser ensinada durante todo o ano”, afirmou.
A presidenta do Imune destacou que a luta do instituto é por uma política de monitoramento quanto à aplicação da lei 10.639. “Precisamos saber efetivamente como que as escolas têm ensinado a cultura negra aos alunos”, afirmou.
Antonieta também destacou a importância de contar a “verdadeira história do negro no país”.
“Precisamos deixar claro que nós não somos descendentes de escravos. Somos descendentes de reis e rainhas, que foram trazidos à força para trabalharem como escravos no Brasil. Os professores, e os livros didáticos, precisam ensinar a influência do negro para gastronomia, dança, música e literatura do país”, afirmou a militante negra.
"O dia serve como ponto de
reflexão sobre os avanços e os próximos desafios a serem enfrentados pelo
Movimento Negro tanto em Mato Grosso"
Antonieta disse que a escola é um dos espaços onde mais acontece a prática do racismo.
Ela atribui isso à falta de conhecimento, principalmente de muitos professores que não sabem lidar com situações de discriminação entre os alunos.
“A criança e o adolescente são um mero reprodutor do racismo. Normalmente, eles não fazem ideia do quanto estão sendo preconceituosas, quando xingam um colega de negrinho safado. São esses tipos de adjetivos que reforçam a prática do racismo, de maneira tão sutil, que a gente nem percebe. Aí que entra a figura do professor que precisa estar preparado para reprimir essa prática”, disse Antonieta.
O preconceito religioso-racial é outra prática que acontece nas escolas, de acordo com a professora.
A militante explicou que as crianças que possuem sua religiosidade de matriz africana são tachadas de macumbeiras. “Esses alunos acabam negando as suas origens, a sua identidade, por causa do preconceito”, afirmou.
Importância do feriado
Antonieta observou que o Dia da Consciência Negra serve para comemorar as conquistas do Movimento Negro no país, que, segundo ela, com muita luta, conseguiu instituir o feriado, além de tantas outras conquistas.
“Mas do que isso, o dia serve como ponto de reflexão sobre os avanços e os próximos desafios a serem enfrentados pelo Movimento Negro tanto em Mato Grosso quanto no Brasil”, disse.
"Precisamos deixar claro
que nós não somos descendentes de escravos. Somos descendentes de reis e
rainhas"
Entre as atividades que o Imune prepara para o Dia da Consciência Negra, está o lançamento do livro “Olhares Cruzados Brasil Etiópia”. O evento está programado para o próximo dia 30, na Comunidade Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento (47 km ao Sul de Cuiabá).
Além do lançamento do livro, o Imune prepara uma série de atividades culturais com os quilombolas de Mata Cavalo.
Imune
Além do trabalho de militância, o Instituto das Mulheres Negras de Mato Grosso realiza uma série de ações voltadas para o público negro.
Entre as atividades, estão cursos de capacitação para profissionais em Saúde Negra e de empreendedorismo voltados para o artesanato afro, quando as mulheres aprendem a confeccionar bonecas negras. Esse último já foi realizada em vários municípios.
Além de presidente do Imune, Antonieta Costa é a representante de Mato Grosso na Executiva Nacional de Mulheres Negras.
Ela também é formada em Pedagogia e Geografia, sendo professora de Ensino Fundamental e Médio na Escola Leovegildo de Mello, no bairro CPA 3.
Seu pai, Geraldo Costa, foi o fundador do Grupo de União e Consciência Negra (Grucon), que começou a atuar no Estado em 1983.
O grupo existe em todo país, espalhado em diversos conselhos.
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