sexta-feira, 11 de julho de 2014

Privatização do ensino superior?

União de grupos aumenta a força das universidades privadas


 
 
Está aumentando a força das universidades privadas no Brasil. A última ação nessa área, a união dos grupos Kroton e Anhanguera, chama a atenção.

Parece que só na China tem um grupo em educação superior privado como esse.

O novo grupo do Brasil terá mais de um milhão de estudantes. Seu valor de mercado chega a 13 bilhões de reais e irá faturar cerca de um bilhão por ano.

O grupo terá 96% de concentração no ensino superior e 4% no ensino básico. O filé é o ensino superior.
"O novo grupo do Brasil terá mais de um milhão de estudantes. Seu valor de mercado chega a 13 bilhões de reais e irá faturar cerca de um bilhão por ano"


Em 2004, foi criado o Prouni pelo governo federal e depois o Fies, um fundo para financiamento estudantil, com a finalidade de dar bolsas para graduação em instituições privadas do ensino superior.

Estas universidades são isentas de tributos para dar a bolsa aos estudantes. Há também pagamento direto para essas instituições. Praticamente acabou a inadimplência, o governo federal é o grande comprador do produto.

Tem elogios ao Prouni, mas tem muita crítica também. Quase ninguém é contra o programa porque não podia deixar ao relento mais de um milhão de brasileiros prontos para entrar no ensino superior.

Mas se diz também que ele deveria ser por um tempo determinado, como no caso das cotas nas universidades. Que eternizar o programa é a mercantilização e privatização no longo prazo do ensino superior.

Já há uma movimentação do capital financeiro para esse lado. Sabem que a coisa vai continuar, pois dos 10% do PIB para a educação se terá eternamente dinheiro para o Prouni e o Fies.

Outra critica é que, em um Prouni por tempo determinado, as universidades federais teriam que ser ampliadas para receber a nova leva de estudantes.

Depois, o dinheiro gasto com o Prouni, ajudaria a manter essa universidade ampliada. Nela se tem muito melhor ensino que nas universidades privadas.

Jogam os estudantes com bolsas do Prouni e do Fies, no geral os mais pobres, em universidades que ensinam pouco.

Quantos doutores têm nas universidades privadas? Alguém acredita que essas universidades vão mandar professores fazer doutorado fora e pagar seus salários por quatro anos?

Quantos livros, artigos acadêmicos, em revistas nacionais e internacionais, são publicados nas universidades particulares? Faça uma comparação com os das universidades públicas?

Nas universidades privadas, a ênfase se dá em cursos sem muita aceitação no mercado de trabalho. Geologia, agronomia, matemática, física, medicina são coisas raríssimas.

Mais achados dos especialistas? A renúncia fiscal para aquelas universidades, de 2006 a 2013, cresceu 166%. O dinheiro para as universidades federais no mesmo período cresceu 86%.

O Chile enviesou pela quase privatização do ensino desde o governo Augusto Pinochet. Michele Bachelet, recentemente eleita, quer voltar atrás. O Brasil caminha na direção que o Chile está abandonando.

Mas o Prouni e o Fies dão votos e ajudam no discurso e na eleição.

Ninguém vai bulir nisso, nem a oposição se chegar ao governo.

As universidades públicas que se cuidem.

ALFREDO DA MOTA MENEZES é professor universitário e articulista político em Cuiabá.
pox@terra.com.br
wwwa.alfredomenezes.com

Fusão leva grupo a vender faculdades em Mato Grosso

No Estado, Grupo Iuni foi comprada por empresa por R$ 600 milhões, há quatro anos

MidiaNews

A Unic, na Avenida Biera-Rio, em Cuiabá, integra o Grupo Kronton, mas não será vendida





ISA SOUSA
DA REDAÇÃO

Duas instituições de Ensino Superior de Mato Grosso serão vendidas para atender as recomendações do Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade), autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça.

São elas: Anhanguera, em Cuiabá, e a unidade Kroton (Unic), em Rondonópolis (212 km ao Sul da Capital).

A determinação federal é reflexo da compra do Grupo Iuni - ao qual pertence a Universidade de Cuiabá (Unic), por exemplo - pela Kroton Educacional.

O Iuni, que pertencia ao empresário Altamiro Belo Galindo - irmão do ex-prefeito de Cuiabá, Chico Galindo (PTB) -, foi adquirido em 2010, pelo montante de R$ 600 milhões.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, nesta semana, o empresário Rodrigo Galindo, filho de Altamiro, afirmou que empresas nacionais e estrangeiras haviam expressado interesse no processo, que deve ser “competitivo”.

Ao MidiaNews, por meio de sua assessoria, a direção da Kroton explicou que há prazo para atender as exigências do Cade e, durante o processo, não será levada em consideração apenas a oferta em valor.
"Não será levada em consideração apenas a oferta, mas também a capacidade do comprador em manter a operação com qualidade, para minimizar qualquer impacto para a operação"

“Mas também a capacidade do comprador em manter a operação com qualidade, para minimizar qualquer impacto para a operação. Além disso, os grupos mantêm o compromisso de prosseguir normalmente com todas as operações das instituições, sempre garantindo a excelência acadêmica, respeito aos alunos, professores e colaboradores”, disse a assessoria.

Apesar de, segundo a Folha, a venda dos ativos começar agora, no segundo semestre, a Kroton afirmou ao MidiaNews que as negociações com possíveis interessados são confidenciais, bem como o prazo.

Estrutura em Mato Grosso

A compra do Grupo Iuni pela Kroton Educacional não altera, pelo menos neste primeiro momento, a estrutura das unidades de ensino e nem seus nomes.

Em Mato Grosso, fazem parte desta fusão a Universidade de Cuiabá (Unic), o Centro Universitário Cândido Rondon (Unirondon) e polos da Unopar e da Anhanguera.

“O modelo acadêmico e os ajustes das mensalidades seguirão conforme planejamento original dos grupos, prévio à aprovação do Cade. Qualquer mudança será devidamente comunicada e com a antecedência necessária para os alunos”, completou a assessoria.

18 estados

Com a integração de parte da Anhaguera, a Kroton passou a contar com 125 unidades de ensino superior, em 18 estados e 83 cidades brasileiras, além de 726 polos de Graduação de Educação a Distância (EAD) credenciados pelo Ministério da Educação (MEC), localizados em todos os estados brasileiros e também no Distrito Federal.

A Kroton não informou dados sobre número de cursos e volume financeiro por região. Segundo a instituição, eles não são públicos.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

MT - Projetos integram práticas para fortalecer o Paz na Escola


O projeto “Rede Digital pela Paz”, da Polícia Judiciária Civil, e o “Mais Educação”, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), foram temas da reunião da Comissão Executiva do Programa Paz na Escola, na terça-feira (08). Os integrantes da Comissão tiveram a oportunidade de conhecer os dois projetos e os resultados obtidos. As ações de ambos servirão de modelo para a formatação do Paz na Escola cujo objetivo é a redução dos índices de violência registrados nas unidades.

Na exposição, a gerente de Gestão de Projetos e Coordenadora do Programa Mais Educação, Luzia Abich, mostrou aos participantes a evolução das adesões ao Programa, atualmente com 350 escolas estaduais participantes.

O programa desenvolve atividades no contraturno escolar como, dança, música, esportes.
As investigadoras da Polícia Civil, a frente do Rede Digital pela Paz, também apresentaram os resultados do projeto que nasceu em 2012. Edleuza Afonso Mesquita e Evellyn Laura de Oliveira Borges relataram  que o objetivo do Rede é a construir atitudes que fortaleçam a mudança. As investigadoras afirmam que o Rede Digital nasceu da necessidade de trabalhar com as crianças e adolescentes os crimes cibernéticos, uma vez que o acesso as redes sociais é cada vez mais constante nesta faixa etária.

“Vamos às escolas, fazemos palestras, promovemos as discussões, afinal, na maioria das vezes os adolescentes nem sabem que estão em situação de risco. Por isso, trabalhamos a conscientização dos alunos e diminuir os índices de criminalidade”, diz Edleuza Mesquita.

Na ocasião, as investigadoras apresentaram os números de violência no ambiente escolar registrado pela Polícia Civil. Em 2012, por exemplo, foram: 294 extravios de documentos; 281 furtos; 160 ameaças; 87 lesões corporais; 10 casos de uso de droga; e 02 homicídios. No total, 1260 ocorrências. Já em 2013,  foram registrados: 376 extravios de documentos; 277 furtos; 118 ameaças; 88 lesões corporais; 07 casos de uso de drogas; e três homicídios. Total 1373 casos.

O levantamento mais recente, de 2014, apontou até junho, 126 casos de extravio de documentos, 109 furtos, 39 ameaças, 36 lesões corporais, 03 casos de uso de droga e nenhum homicídio.

Segundo a integrante da Comissão do Paz na Escola na Seduc, professora Enelinda Scala, as parcerias são muito importantes e só vem a somar para mudar a realidade. A professora diz que conhecer os dados dos projetos que estão em desenvolvimento é essencial para a construção deste novo trabalho. “Temos que ter a esperança de que podemos mudar esta realidade. E nós só vamos conseguir atingir a cultura da paz quando chegarmos a um patamar social diferente, temos que somar as forças” afirma Enelinda Scala.

ALINE MARQUESAssessoria/Seduc-MT

MT - Indígena do Xingu conclui mestrado na UnB


O indígena Makaulaka Mehinako,  33 anos, que mora na aldeia Kaupüna do Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, é o terceiro do território xinguano a conquistar um título de mestrado. Ele acaba de defender a tese pela Universidade de Brasília (UnB), uma das mais requisitadas do País. Estudou a língua Imiehünaku (Mehinaku), de família linguística Aruak, falada apenas por cerca de 300 integrantes da etnia Mehinako, da qual ele também faz parte.

Somente aos 14 anos Makaulaka aprendeu a ler e escrever, mas o professor dele logo viu que tinha capacidade intelectual e o incentivou a seguir em frente. Levando os estudos adiante, apesar das muitas dificuldades, em 2000 terminou o magistério, sob a coordenação do Instituto Socioambiental (ISA), que atua junto aos povos xinguanos.  No ano seguinte, em 2011, começou a funcionar o Projeto 3º Grau Indígena promovido pela Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), em Barra do Bugres (MT), que oferta cursos para a formação de professores indígenas, e ele fez Ciências Sociais. Depois fez ainda uma especialização na área da educação, chegando ao mestrado em linguística.

“Meu objeto de estudo foi minha própria língua. Aprofundei o parco conhecimento linguístico existente sobre a Mehináku”, explica. Cada um dos povos que vive no Xingu fala um idioma próprio. No caso da língua Mehináku, como explica Makaulaka, “é rica em verbetes como qualquer outra”, para que possam se referir a tudo que compõe o mundo em que vivem. Esse é um universo cultural brasileiro pouco conhecido e diverso.

Makaulaka atua hoje como professor concursado pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e recebe salário para isso. “Meu desafio é manter a vitalidade da língua Mehináku, que é boa, o que significa que é falada pela maioria da nossa comunidade. O que me preocupa é futuro dessa língua. Será um trabalho suado para fazermos uma política linguística, para que exista como é hoje”.
O povo Mehinako também fala português, mas, conforme Makaulaka, com dificuldade. Ou fala “gradativamente” ou “quase acelerado”.  Também chegaram ao mestrado os indígenas Aisanain Paltu e Wary, ambos da etnia Kamayurá, que também habita o Parque Nacional do Xingu. Eles já estão partindo para o doutorado.

Na universidade, Makaulaka, que eventualmente pinta o corpo, tinha medo de sofrer discriminação. Mas nunca presenciou alguém o atacando por ser indígena. “Essa é uma discussão que rola fora”, diz ele, se referindo a “rodas” onde os “diferentes” não frequentam.
Para Makaulaka, se especializar significa “ser protagonista da própria história, conquistar o reconhecimento como intelectuais assim como qualquer cientista, trabalhar com qualidade, reivindicar respeito que qualquer ser humano merece e ter capacidade de correr atrás daquilo que queremos de melhor para nossa vida individualmente e coletivamente”.

Fonte: Terra

Educar e Evangelizar: as diferenças entre Ensino Religioso e Catequese


Cód. 19AR03

Educar e evangelizar: as diferenças entre Ensino Religioso e Catequese Por Antonio Boeing, Gerente de Pastoral da Rede Salesiana de Escolas (RSE) O Ensino Religioso é reconhecido na legislação brasileira como uma disciplina da área do conhecimento e que tem como objeto o fenômeno religioso. No entanto, nas instituições católicas de ensino, muitas vezes há pouca compreensão sobre as diferenças entre essa disciplina e a Catequese.
A Igreja Católica, tanto em âmbito mundial como nacional, tem tratado dessa questão em diversos documentos e é com base neles que pretendemos fomentar uma reflexão que auxilie o trabalho de professores e coordenadores das escolas católicas.

A Educação é um tema central para a Igreja Católica, que tratou dessa questão em diversos documentos resultantes do Concílio Vaticano II e das conferências episcopais latino-americanas de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007). Em todos os documentos, a preocupação da Igreja é com a formação integral do ser humano e com o respeito à liberdade religiosa. Nesses documentos a escola católica aparece como responsável por ajudar a desenvolver a educação da fé. Entretanto, quando se faz referência ao Ensino Religioso, este é tratado como ensino da religião, pastoral educacional, educação pastoral, educação religiosa escolar etc. Essa diversidade de termos permitiu que, ao longo da história, houvesse uma interpretação dúbia quanto à natureza, ao conteúdo, aos objetivos e à identidade do Ensino Religioso que é ministrado na escola.

Em nosso País, também a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sempre tratou a Educação como uma questão fundamental para a Igreja Católica. Desde sua instalação até os dias atuais, tem dedicado tempo e espaço para a Educação em geral – e para a Educação católica mais especificamente – em seus debates e documentos, e manifesta uma preocupação constante com o Ensino Religioso, exercendo sobre ele uma grande influência.

No caso dos documentos emitidos pela CNBB, fica mais claro o posicionamento da Igreja Católica de diferenciação entre o Ensino Religioso e a Catequese. O Ensino Religioso é considerado como parte integrante de uma área do conhecimento, e deve ser ministrado com respeito à diversidade cultural e religiosa do povo brasileiro e de acordo com a legislação nacional. Essa concepção vem se fortalecendo ao longo dos anos e está expressa em diversos documentos, entre os quais pode ser dado como exemplo o Documento da CNBB 47, “Educação, Igreja e sociedade”, no qual a Conferência preocupou-se com a identidade do Ensino Religioso, seus objetivos, métodos e relações com as demais disciplinas. Nesse texto, afirma-se que “O Ensino Religioso escolar visa a educação plena do aluno, a formação de valores fundamentais através da busca do transcendente e da descoberta do sentido mais profundo da existência humana, levando em conta a visão religiosa do educando. O Ensino Religioso deve encaminhar os alunos para a respectiva comunidade de fé, onde nas Igrejas cristãs se dá a evangelização, através da Catequese, da celebração, da prática e da vivência religiosa”.

Nossa compreensão, com base nessa reflexão histórica, é de que a relação entre o Ensino Religioso na escola e a Catequese é uma relação de distinção e de complementaridade. O Ensino Religioso penetra no âmbito da cultura e nas relações com outras formas do saber; ele faz parte do saber veiculado na educação pelas diferentes disciplinas curriculares e colabora para a aquisição das diferentes formas de conhecimento do universo cultural que o aluno é capaz de interiorizar e aprender.

O Ensino Religioso escolar é uma disciplina com as mesmas exigências das outras, e deve ser ministrado com o mesmo rigor. Não se situa como um acessório na escola, e sim, necessita fazer o diálogo interdisciplinar no mesmo patamar das demais disciplinas curriculares que buscam a formação da personalidade do aluno. Assim, este ensino, mediante o diálogo interdisciplinar, desenvolve e completa a ação educadora da escola.

Enquanto a Catequese é o campo específico para tratar o conteúdo da doutrina cristã, o Ensino Religioso necessita de uma linguagem pedagógica e seu conteúdo precisa respeitar a diversidade cultural religiosa do educando. Quando a Catequese e o Ensino Religioso trabalham o mesmo conteúdo, com a mesma metodologia e linguagem, corre-se o risco de criar no aluno certa antipatia por determinados conteúdos e até mesmo certo afastamento de futuros aprofundamentos na própria doutrina cristã.

O professor não precisa, e não deve, esconder sua opção religiosa, assim como a escola católica enquanto instituição não pode em momento algum esquecer que é uma escola confessional. O que ressaltamos é que o Ensino Religioso escolar pode levar o aluno a compreender que os grandes problemas existenciais são comuns a todas as religiões e diferentes culturas. E pode ajudá- lo na busca de aprofundamento e conhecimento da mensagem cristã, em sua comunidade eclesial. Mas, para isso, é importante que o professor de Ensino Religioso tenha um profundo conhecimento da matéria e adote uma postura inclusiva e dialogante. Assim, a educação cristã na família, a Catequese na comunidade eclesial ou no contra-turno escolar e o Ensino Religioso na escola, cada qual com suas próprias características, estão correlacionados com a formação integral das crianças, dos adolescentes e dos jovens.

Sugestões de Olho: -Olho 1: “O Ensino Religioso escolar é uma disciplina com as mesmas exigências das outras, e deve ser ministrado com o mesmo rigor.”

- Olho 2: “Em todos os documentos, a preocupação da Igreja é com a formação integral do ser humano e com o respeito à liberdade religiosa.”

A REFORMA DO ENSINO MÉDIO



Danilo Gandin*
O Quarto Congresso Internacional de Inovação, realizado na FIERGS (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul) nos dias 16 e 17 de novembro, começou com um painel chamado “Educação: Novos Fluxos de Conhecimento”. Durante toda a manhã falaram seis excelentes painelistas: dois pesquisadores da educação, uma da Alemanha e outro dos Estados Unidos, o criador da Escola da Ponte, de Portugal, o presidente do Instituto Alfa e Beto, o Diretor Regional da ABIMAQ e a representante da Secretaria de Educação do RS.

Todos convergiram em duas direções fundamentais: a primeira sobre a necessidade de mudanças profundas nas escolas, para acompanhar as exigências feitas pelas realidades atuais; a segunda sobre as principais características dessas mudanças.

Nesta segunda linha de reflexão, há uma concordância entre o que eles disseram e aquilo a que chegam os estudos mundiais e brasileiros desde a década de 70. Tomo como paradigma, porque representam muitas outras propostas, as conclusões da conferência mundial sobre ensino superior da UNESCO, especialmente dirigidas ao século 21 e publicadas em “As Demandas do Mundo do Trabalho”, de Ulrich Teichler, Centro para a Pesquisa sobre Ensino Superior da Universidade de Kassel, Alemanha.

Embora essas conclusões refiram-se ao ensino superior, elas concordam com tudo que os teóricos pensam para o ensino médio. Lembro-me de uma reunião entre empresários gaúchos e o então Departamento de Educação Média da SEC/RS, nos primeiros anos da década de 70, em que os empresários disseram aos educadores: “Ensinem Filosofia, o resto da profissionalização nós fazemos”.

São como dez mandamentos que reproduzo a seguir. Seja flexível, isto é, não se especialize demais. Invista na criatividade, não só no conhecimento. Aprenda a lidar com incertezas (o mundo está assim). Prepare-se para estudar durante toda a vida. Tenha habilidades sociais e capacidade de expressão. Saiba trabalhar em grupo, bons empregos exigem isto. Esteja pronto para assumir responsabilidades. Busque ser empreendedor, talvez você crie seu emprego. Entenda as diferenças culturais (o trabalho globalizou). Adquira intimidade com novas tecnologias, como a internet.

O ensino médio nunca teve uma identidade própria; sempre representou um hiato entre o ensino fundamental e o ensino superior, suportando os “conhecimentos” formalizados do vestibular. Julgo serem estes dez mandamentos um referencial suficiente para um dar-lhe uma direção. Uma proposta deste tipo será, também, uma vacina contra a ideia de profissionalização universal no ensino médio; sabemos que isto aprofundaria a diferença entre escolas para ricos e escolas para pobres. Uma proposta assim, também evitará o erro da década de 70; vivemos uma situação parecida, com um crescimento econômico importante, com a consequente falta de mão de obra especializada. Não é hora de fazer do ensino médio o lugar da profissionalização, mas de ter escolas técnicas, não muitas, mas de qualidade, de dar a todos um ensino transdisciplinar (não interdisciplinar), de retomar a vocação dos cursos mais rápidos do Senac, Senai, Senar... e de abrir facilidades para que empresas ofereçam cursos de preparação de profissionais, com rapidez e com destino já determinado.

*Professor, escritor e conferencista.

A importância das relações para a adaptação e aprendizagem dos alunos


Por Rúbia Beatriz Pienis, professora do Colégio La Salle São João - Porto Alegre / RS Estar com os alunos todos os dias, organizar materiais, explicar os conteúdos, avaliar, reavaliar, aprender a conviver com a classe, ensinar-lhes a ter consciência de seus deveres, formas de convívio social, valores e normas, fazem parte de uma grande relação diária.

No decorrer de todo processo de desenvolvimento, a afetividade é como uma “energia” que impulsiona as ações, ficando claro, no caso da escola, a importância da relação entre professor e aluno, de modo que ambos convivam em um ambiente de harmonia e que a aprendizagem possa fluir com mais facilidade, proporcionando maior rendimento e interação entre ambos. Nesta perspectiva, os educadores, hoje, precisam focar no desenvolvimento integral do educando, ressaltando neste processo, o lado afetivo/cognitivo, juntamente com o conhecimento do próprio “eu”, a fim de tornar a aprendizagem prazerosa e significativa.

Frison (2002) salienta que: “Todo ser humano traz consigo reações e emoções que se manifestam, diferentemente, em cada situação. Num processo de aprendizagem pode-se sentir afeto um pelo outro e demonstrá-lo. É uma maneira de se apostar nele, isso pode servir como catalisador para o desempenho positivo da boa aprendizagem” (p.254).

Existem várias formas de se demonstrar gratidão pelo carinho recebido das pessoas e, na escola, o aprender pode ser uma delas. Saber escutar o outro é uma demonstração de afeto de extrema importância nas relações interpessoais, pois o outro percebe que existe um envolvimento positivo nas ações, proporcionando um ambiente amoroso e tolerante com a aprendizagem. Almeida (2000, p.78), afirma que o homem, como uma pessoa completa, considerada em suas relações com o meio e em seus diferentes domínios, afetivo, cognitivo e motor, pode entender melhor a importância da afetividade englobando emoções, sentimentos e paixões em sua relação com a cognição. E reafirmar a importância do outro na formação do Eu.

Diante disso, o educador tem um papel muito importante e deve estar sempre preparado para as relações interpessoais em que contradições e conflitos fazem parte do contexto do aluno e o diálogo é a base que possibilita a exteriorização de sentimentos, valores, linguagem e pensamento. A escola é um ótimo local para se desenvolver a sensibilidade e diferentes tipos de contato. Na amizade grupal aprende-se a ter cooperação e responsabilidade. É a partir da convivência em grupo que o indivíduo vai procurar se identificar com alguém. A escola, portanto, deve voltar-se para a qualidade das suas relações, valorizando o desenvolvimento afetivo, social e não apenas cognitivo, como elementos fundamentais no desenvolvimento da criança como um todo.

Tem se pensado muito e investigado sobre a relação entre o professor e o aluno nos últimos tempos. Cunha (1989) em seu estudo sobre "o bom professor" investiga o dia-a-dia do professor como indivíduo e como educador; analisa, também, sua prática e metodologia e, a partir de uma caracterização desse profissional, propõe novas direções para a formação dos professores. Ainda segundo sua análise, a relação professor e aluno passa pela forma como o professor trabalha seus conteúdos, como ele se relaciona com sua área de conhecimento, por sua satisfação em ensinar e por sua metodologia. (p.70-71) HILLAL (1995) cita que: "o primeiro professor de uma criança tem grande importância na atitude futura desse educando, não só durante a sua fase de aprendizagem, mas na sua relação com os sucessivos professores." (p. 19) A importância da relação mestre e aprendiz para o sucesso do aluno em sua vida estudantil é fundamental, de forma que a predileção do estudante por algumas disciplinas, muitas vezes passa pelo gostar ou não de um determinado professor. A interação entre ambos é ainda importante para a adaptação do aluno ao processo escolar.

Contudo, é de fundamental importância que o professor esteja consciente de sua responsabilidade, tomando decisões de acordo com os valores morais e as relações sociais de sua época, considerando ainda as condições de vida familiar e social de seus alunos.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. A dimensão Relacional no Processo de Formação docente: Uma Abordagem Possível. In: O coordenador pedagógico e a formação docente. São Paulo: LOYOLA, 2000. BORGES, Pedro F. O professor da década de 90. Artigo apresentado no simpósio de qualidade total na Universidade Mackenzie, 1995. CUNHA, Maria Isabel. O bom Professor e sua Prática. Campinas, Papirus: 1989.

D'OLIVEIRA, M. H. Analisando a Relação Professor-Aluno: do Planejamento à sala de Aula. São Paulo: CLR Balieiro, 1987. FRISON, Lourdes, M. B. O orientador educacional como mediador do processo pedagógico e das relações interpessoais. In: Educação e Contemporaneidade. Canoas: ULBRA, 2002.

HILAL, Josephina. Relação Professor-Aluno: Formação do homem consciente. São Paulo, Ed. Paulinas, 2ª edição, 1995. VYGOSTSKY, Lev S. - A Formação Social da Mente - Martins Fontes- São Paulo. 5ª edição, 1994.

Redes sócias e tecnologia no contexto escolar


 Carlos Seabra
As redes sociais existem há milhares de anos, fazem parte da própria civilização e da cultura da humanidade de modo tão intrínseco que mal temos consciência de sua existência. Além das relações presenciais, há muito que a distância tem sido superada por mecanismos de comunicação como a escrita, os correios, a imprensa, o rádio, o telégrafo, a televisão etc.

Porém, as redes sociais hoje estão em evidência e o senso comum designa cada vez mais por este termo as redes que se desenvolvem através das tecnologias de informação e comunicação na internet (Twitter, Facebook, Foursquare, Delicious, Skoob, LiveMocha, Flickr, YouTube, Wikipédia e muitas mais), além de outros ambientes de interação na web.

Sua interconexão com a mobilidade (celulares, smartphones e tablets), torna as redes sociais ainda mais em poderosos e naturais instrumentos para que a humanidade faça o que sempre fez desde o início de nossa espécie: tecer relacionamentos, físicos ou virtuais, envolvendo finalidades profissionais, sexuais, amizades, casamentos, negócios… Como isso pode ser usado na educação é algo que necessita, principalmente, de acompanhamento e engajamento proativo dos professores, que podem através desses ambientes acompanhar, mais do que nunca, como seus alunos pensam, como se expressam, e assim desenvolver e adequar suas estratégias pedagógicas.

A forma em que as redes sociais podem ser usadas como ferramenta pedagógica – e certamente elas têm esse grande potencial – é justamente um desafio para os próprios professores procurarem essa resposta!

O contexto está dado: as redes sociais são usadas pelos alunos de forma intensiva e um professor que apenas acompanhe o que seus alunos ali escrevem, que veja os interesses, os assuntos sendo discutidos, que perceba como eles se comunicam, como articulam suas discussões, esse professor terá no mínimo um conhecimento ímpar de como seus alunos pensam e como interagem.

Usar os dispositivos de comunicação para o ensino e a aprendizagem, evitando que seja mais um dispersor de atenção, ainda é um grande desafio! Sem dúvida que tais recursos precisam ser usados, mas o caminho passa por inúmeras questões que não são novas mas ficam bastante agravadas com essas tecnologias. Há que se evitar, por um lado, o simples banimento da sala de aula ou da escola. Por outro lado, evitar também que sejam distrações que prejudiquem a aprendizagem, tirando o foco do que realmente interessa – que é o processo de construção do conhecimento.

Como usar um livro ou um filme na aula? Certamente boa parte dos professores terá algumas respostas para isso, embora saibamos o quão ainda são mal utilizados na escola esses recursos. Assim como não basta pegar um filme e exibí-lo em sala de aula (é necessário pensar atividades antes ou durante sua exibição, além de talvez exibir apenas um trecho significativo) também não se trata de “liberar” o uso do telefone celular em sala de aula.

O uso de celulares em sala de aula pode ser uma interessantíssima possibilidade ainda pouco estudada e aplicada, com contradições que podem ser mais um motivo de conflitos e proibições do que uma real oportunidade de ferramenta de ensino e aprendizagem. A grande preocupação e justo receio dos educadores é com o potencial desvio de atenção que os alunos podem ter: imaginemos durante uma aula eles ficarem a conversar com namorados, familiares ou amigos! Mas o mesmo potencial distraidor podem ter as canetas e folhas de papel, pois um aluno pode não prestar atenção à aula e fazer outras coisas com esses recursos. Claro que o exemplo é fraco, pois o potencial de distração do celular é muito maior, canetas e papéis não tocam e não fazem outras tantas coisas… O principal, a nosso ver, é uma experimentação e uma pactuação do professor com os alunos: experimente discutir com eles os limites e as possibilidades, como uma abordagem inicial. É necessário pensar nas ações, nas tarefas, nos processos cognitivos envolvidos, ter uma estratégia pedagógica, seja para o uso de celulares seja para tablets ou mesmo computadores. E pensar isso pensando não só na sala de aula mas também na integração com outros momentos da vida dos alunos, em suas casas, em atividades extra-escola etc.

Quando são meros distratores, quando não são utilizadas de forma integrada em estratégias de ensino e aprendizagem, estas tecnologias todas podem até atrapalhar mais do que ajudar. Assim como papel e lápis por si não resolvem nada e até podem ser usados para produzir material preconceituoso, racista ou sexista, assim como o audiovisual pode apenas tirar a atenção e o foco de uma aula, tudo o que não seja pensado e não tenha uma proposta de uso consistente pode impactar negativamente. Não existem receitas prontas nem ditames a seguir. O grande desafio é justamente esse: os educadores devem se apropriar das tecnologias para pensar que usos podem fazer delas. E não ter receio de experimentar, de errar, nem tampouco cair na armadilha de acreditar em soluções prontas e mágicas!

O desenvolvimento do senso crítico é um dos esteios da educação, sem dúvida. O uso da internet e das redes sociais apenas permite maior integração e transparência das relações entre os alunos e deles com assuntos e temas de seu interesse. Cabe aos educadores aproveitar a possibilidade aberta por essas tecnologias para acompanhar mais de perto os jovens e construir, em conjunto com eles, novos processos integradores da formação crítica de cidadãos, de artistas, cientistas, profissionais, de seres humanos na mais plena acepção. Não basta colocar um monte de computadores, DVDs e outros artefatos nas escolas. É preciso focar os esforços nos processos de ensino e aprendizagem, de modo criativo e crítico, buscando aliar a inovação tecnológica, o lúdico e o motivacional, com a seriedade pedagógica que tantas vezes sucumbe ante as rotinas desmobilizadoras e desinteressantes que são os verdadeiros geradores dos resultados dessas avaliações, que colocam nosso país num patamar muitas vezes inferior a seu real potencial.

As novas tecnologias de informação e comunicação são extensões do cérebro, permitem concretizar conceitos, juntar dados a informações significativas, desenvolver projetos que exijam a aplicação prática de conceitos teóricos… Mas é necessário levar em conta que o mero uso dessas tecnologias não garante maior domínio da linguagem ou do raciocínio, não assegura a formação cultural nem o desenvolvimento de cidadãos, pois isso somente é assegurado quando há uma efetiva apropriação pelo projeto pedagógico, e esse é o desafio que torna os professores o elemento central dessa questão. As tecnologias potencializarem a aprendizagem é um fato somente se houver o engajamento dos professores e dos alunos em projetos específicos, pois não é algo que ocorra espontaneamente, a não ser em casos esporádicos. Engajar os alunos em atividades que levem à leitura e escrita, ao raciocínio, à pesquisa e à produção, seja em processos de comunicação escrita com alunos de outras cidades, redação de pequenos contos ou poesias, ou minirreportagens e publicação em blogs, são alguns exemplos de possibilidades que permitem que esse potencial redunde em estímulo e facilitação da aprendizagem.

É fundamental que os professores coloquem a “mão na massa”, que experimentem, que se apropriem. Sem isso, abrir-se-á um grande fosso entre eles e seus alunos, e mais ainda, entre eles e um mundo cada vez mais digital. As tecnologias, disseminadas em larga escala e que estão sendo usadas até pelas classes mais carentes, devem ser pensadas também do ponto de vista dos educadores, que as usem em seu quotidiano, em sala de aula, para se atualizarem, para fazerem um uso pedagógico das mesmas. O papel do professor é cada vez mais o mesmo: que ele deve ser, sempre, um estimulador da aprendizagem, que saiba perceber o que se passa na cabeça de seus alunos, que identifique suas dificuldades de aprendizagem, que procure criar estratégias facilitadoras da construção do conhecimento.

A função de educar não é mais dominar todas as informações e as repassar aos alunos, mas sim acompanhá-los na pesquisa dessas informações, estimulando o pensamento crítico e autônomo e preparando-os para aprenderem a aprender. Outro aspecto importante a considerar é que, a cada dia, mais pessoas das classes mais carentes têm acesso às novas tecnologias, incluindo internet e celulares. Mesmo a imensa parcela da população que ainda não tem acesso será incluída, com o barateamento do custo dos equipamentos e políticas de universalização. O grande desafio é desenvolver estratégias pedagógicas, atividades motivadoras e projetos que levem à construção do conhecimento, pensando-se em promover uma “inclusão cognitiva” para além da chamada inclusão digital.

Faculdades particulares preenchem a lacuna da educação no Brasil



São Paulo, Brasil – A educação superior no Brasil está cada vez mais nas mãos de empresas com fins lucrativos.

Embora as faculdades particulares tenham sofrido fiscalização nos Estados Unidos, a indústria está tendo uma boa aceitação por aqui na medida em que o governo tenta atender a demanda pela educação superior com preços acessíveis.

No entanto, os alunos são quase que exclusivamente das classes superiores do país, e os orçamentos generosos de pesquisas e a força de trabalho sindicalizada fazem que o custo por aluno seja três vezes e meio o custo das faculdades particulares.

O investimento do setor privado na educação técnica, básica e fundamental também está crescendo. A empresa britânica Pearson comprou em dezembro do ano passado a Multi, uma rede de escolas de idiomas, em uma negociação de mais de 880 milhões de dólares em dinheiro e em transferência de dívida. A Avenues, uma escola particular de Nova York cujos investidores incluem as empresas de fundos de investimento Liberty Partners e a LLR Partners, anunciou planos de abertura de campus em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nos últimos cinco anos, fusões e aquisições expandiram ainda mais algumas das maiores redes, concentrando o poder nas mãos dos grupos comerciais gigantes. As 10 maiores redes de faculdades no Brasil agora educam quase 35 por cento dos alunos do país.

As duas maiores redes de instituições de ensino no Brasil – A Kroton Educacional e a Anhanguera Educacional – receberam do órgão antitruste (o CADE) em maio a aprovação para o processo de fusão. Ambas as empresas negociam na Bolsa de Valores de São Paulo, e a fusão criará a maior instituição de ensino comercial de capital aberto do mundo, no valor de mais de oito bilhões de dólares.

As universidades da empresa resultante terão mais de um milhão de alunos. Entre eles, Claudinei Mota, estudante de matemática na Uniban, parte do Grupo Anhanguera, que conseguiu um empréstimo do governo federal para ajudar a pagar a mensalidade de 400 reais (180 dólares) mensais. 'Eu não conseguiria estudar sem o empréstimo', contou.

Ele espera conseguir emprego como professor de matemática, o que lhe possibilitaria pagar o empréstimo e continuar estudando para se formar professor universitário. A dívida da faculdade de Mota ficará em cerca de 16.200 reais, com os juros, se ele levar nove anos para pagar o empréstimo (os professores do ensino público ganham cerca de 3,000 reais mensais em São Paulo).

'Eu preferiria uma universidade pública, mas o processo seletivo é muito concorrido. A maioria das vagas vai para os formados em escolas particulares, que são mais preparados', Mota explicou.
Desde 2003, o Partido dos Trabalhadores governa o Brasil. Apesar de ocasionais relações contrárias ao setor comercial, o governo só recebe elogios dos empresários do setor de ensino.

De 2002 a 2012, o número de alunos do ensino superior no Brasil duplicou para sete milhões. Mesmo assim, com apenas 17 por cento dos brasileiros com 18 a 24 anos na faculdade, existe uma lacuna que precisa ser preenchida. O governo prometeu aumentar essa porcentagem para 33 por cento até 2020.
Para atender esse lucrativo mercado em crescimento, fundos de investimento privados americanos e brasileiros, corporações e bancos de investimentos estão comprando e integrando instituições de ensino em ritmo acelerado.

Os especialistas em educação alertam que a ênfase no aspecto comercial da educação nem sempre coloca os alunos em primeiro lugar. Apesar de tais preocupações, o sistema comercial provou ser interessante para um governo com recursos limitados.

'O governo não teve escolha a não ser trabalhar com o setor privado. Ele não consegue atender a demanda sozinho', declarou Fernando Iunes, diretor geral do banco de investimento do Itaú BBA no Brasil.

Em 2004, o então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início ao programa Prouni, que oferece bolsas para que os alunos de baixa renda frequentem universidades particulares. Desde que assumiu o cargo em 2011, a Presidente Dilma Rousseff ampliou o programa e aumentou em mais de quatro vezes o orçamento dos empréstimos para os alunos enquadrados no programa Fies.

Os empréstimos subsidiados têm uma taxa anual de juros de 3,4 por cento – um grande negócio em um país onde a inflação está em mais de seis por cento e os bancos quase sempre cobram mais de 40 por cento de juros nos empréstimos pessoais – e os estudantes podem aguardar até 18 meses depois da formatura para começar a pagar.

Cerca de 5,3 milhões dos sete milhões de universitários brasileiros estavam em instituições privadas em 2013. Aproximadamente 31 por cento deles receberam auxílio das bolsas do Prouni ou dos empréstimos do Fies ou de ambos.

Já que a grande onda de empréstimos estudantis começou apenas em 2011 e esses estudantes têm até 2016 para começar a fazer os pagamentos, ainda não está claro se os graduados brasileiros terão os mesmos problemas que muitos americanos têm com a dívida.

João Carlos Santos, analista sênior do setor educacional do banco de investimentos brasileiro, o BTG Pactual, disse que as grandes empresas trabalham com o governo para expandir os empréstimos estudantis subsidiados.

'Isso lhes deu uma vantagem adicional em relação aos grupos menores, que não podiam influenciar no processo, e acelerou a consolidação do setor', Santos declarou.

O apoio do governo vigente ajudou os investidores a colherem alguns retornos dos seus investimentos na educação comercial. A Advent International, empresa americana de investimento privado, comprou 28 por cento de participação da Kroton em 2009, o suficiente para lhes dar o controle da Kroton juntamente com os fundadores. Ela escolheu um novo diretor executivo, conduziu a empresa através de sete aquisições e multiplicou o seu corpo discente 11 vezes antes de vender suas ações no ano passado. A Pátria Investimentos, empresa brasileira de investimento privado, teve um papel semelhante na segunda maior rede do país, a Anhanguera, e a GP Investments fez isso com a terceira maior rede de faculdades, a Estácio.

As universidades públicas brasileiras ainda são consideradas as melhores do país pelo prestígio e pela qualidade de pesquisa. E o ensino nas universidades públicas é gratuito.

A Advent comprou a sua participação na Kroton por 141 milhões de dólares em 2009. Quando a vendeu no ano passado, a participação valia cerca de um bilhão de dólares.

Outro grande ator é a Laureate Education, uma empresa de educação americana de capital privado, cujos proprietários são o gigante Kohlberg Kravis Roberts, o megainvestidor George Soros, a Vulcan Capital de Paul G. Allen e o fundo de cobertura da Point72 Asset Management (a antiga SAC Capital Advisors).

A Laureate fez 12 aquisições desde que entrou no Brasil em 2005. Ela agora tem mais de 200.000 alunos no país.

'É difícil encontrar outro país no qual o governo esteja trabalhando tanto, em parceria com o setor privado, para ampliar o acesso à educação superior', disse José Roberto Loureiro, presidente das operações da Laureate Brasil.

A Corporação Financeira Internacional, uma divisão do Banco Mundial que investe em projetos que reduzem a pobreza e incentivam o desenvolvimento, também está apoiando o setor. A CFI está envolvida com a Laureate e com várias outras redes de faculdades comerciais no Brasil.

Patrick Leahy, gerente sênior da CFI na América Latina, disse que mesmo que essas redes nem sempre ofereçam os diplomas de maior prestígio, elas dão aos alunos a capacitação e formação com preços acessíveis que lhes permitem ter ascensão profissional. Os profissionais com formação universitária no Brasil ganham em média 2,6 vezes mais do que os com formação do ensino médio.

'O sistema não é perfeito, mas sem dúvida é um sucesso', Leahy declarou.

A Laureate ainda está buscando fazer mais acordos, segundo Loureiro, e outras fusões estão acontecendo em ritmo acelerado.

Loureiro reconheceu que as faculdades particulares não conseguiam concorrer com as universidades públicas brasileiras e seus 'orçamentos infinitos', porém, insistiu que há melhora na qualidade da educação nas faculdades que eles adquiriam.

Oito em cada nove faculdades da Laureate avaliadas pelo MEC de 2009 a 2012 melhoraram suas classificações nos testes nacionais padronizados após sua aquisição pelo grupo.

Entretanto, Nelson Cardoso Amaral, professor de pedagogia da Universidade Federal de Goiás, alertou que as avaliações podem não contar a história completa. Amaral disse que as redes particulares apenas provaram que sabem 'ensinar para os testes', e não que estavam necessariamente educando bem os alunos.

'A fiscalização das faculdades particulares por parte do governo é muito fraca', disse. 'Não temos informações suficientes para julgar com precisão a formação que elas estão oferecendo'.

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MT - Seduc licita R$ 15 milhões em eventos

Diego Frederici 
Sandra Carvalho 
 
Enquanto vários indicadores da educação em Mato Grosso apresentam índices abaixo da média nacional, como aponta relatório do Ministério Público de Contas (MPC), a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) licitou R$ 15,2 milhões o fornecimento da quantidade extraordinária de 311 mil refeições durante eventos em Cuiabá e Várzea Grande, além da locação de salas, equipamentos de som e passagens intermunicipais.
 
Conforme publicação no Diário Oficial do Estado, a Seduc pretende fornecer 162.500 almoços durante esses eventos e que terão custo de R$ 4,07 milhões aos cofres públicos. E serão 149.500 jantares ao valor de R$ 3,8 milhões.
 
O edital ainda licitou 30.030 hospedagens e que somam R$ 4,5 milhões. A previsão de gastos com locação de salas é de R$ 1,2 milhão; e com a instalação de som e kit multimídia é de R$ 139,9 mil. A Agência de Viagens Universal EPP vai fornecer 8.300 passagens intermunicipais à Seduc e que terão custo de R$ 1,3 milhão.
 
Na outra ponta, o Ministério Público de Contas de Mato Grosso (MPC-MT), órgão ligado ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT), divulgou um relatório referente ao exercício financeiro do governo estadual em 2013 em que aponta que entre dez indicadores que mensuravam a qualidade do sistema de ensino da rede pública – entre eles taxa de abandono do ensino médio e desempenho da prova objetiva do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – seis apresentaram resultados abaixo da média brasileira, além de terem piorado em relação ao exercício de 2012.
 
Principal porta de entrada do ensino superior gratuito no Brasil, o Enem ainda deixa muito a desejar quando o assunto é a nota da prova objetiva das escolas estaduais. A média nacional – que já é baixa quando levamos em conta que dificilmente um estudante com menos de 600 pontos consegue acesso a algum curso nas universidades federais brasileiras – foi de 484 em 2013. No mesmo ano, Mato Grosso obteve desempenho médio de 469 pontos nessa parte da avaliação.
 
Os adolescentes também estão mais desmotivados a continuarem seus estudos na rede pública. O índice de desistência dos alunos de 6º ao 9º ano subiu de 1 para 1,8 entre os anos de 2012 e 2013. A taxa de abandono dos estudantes do ensino médio em Mato Grosso, que no ano passado foi de 14,30%, também ficou acima da média nacional, tendo índice de 10,50% no mesmo período. 
 
 
Houve queda de rendimento em matemática e português
 
Apesar de registrar algumas melhorias, como o aumento de 21,87% da taxa de escolarização líquida entre as pessoas de 15 a 17 anos nos últimos cinco anos, isto é, o percentual da população de determinada faixa etária que se encontra matriculada no nível de ensino adequado à sua idade, o relatório do Tribunal de Contas apresenta outras falhas preocupantes nas políticas públicas voltadas à educação mato-grossense.
 
Um deles é o resultado das escolas estaduais na Prova Brasil, sistema de avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do Ministério da Educação (Inep/MEC). A metodologia tem o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos. Aqui os índices são ainda piores: houve queda de rendimento nos últimos cinco anos nas disciplinas de matemática e português do ensino fundamental (ver quadro).
 
Em face desses problemas, vale salientar que o Estado aplicou na educação 26,12% da sua receita líquida de impostos (R$ 1,66 bilhão), quase 10% a menos do que orienta o artigo 245 da Constituição Estadual, que é 35%. Em sua defesa, o Poder Executivo afirma que investe em áreas ligadas indiretamente ao ensino – como pesquisa e subvenções a instituições desportivas e culturais, por exemplo. No entanto, o estudo do TCE não especificou os gastos ou entidades contemplados nessas despesas.
 
 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

MT- Está em vigor o novo Plano Estadual de Educação de Mato Grosso


Desde o dia 6 de junho está vigorando em Mato Grosso o Plano Estadual de Educação (PEE) 2014/2024. O documento  se tornou a lei nº 1011/2014, depois de passar por conferências públicas e ser sistematizado pelo Fórum Estadual de Educação. Em 17 metas básicas integra os caminhos para garantir a qualidade da educação no Estado.

A nova formatação garantiu ao plano proximidade com as propostas do Plano Nacional de Educação, sancionado no último dia 26 de junho como Lei nº. 13005/2014. Ambos fortalecem a oferta da Educação para parcelas da população mais vulneráveis com as modalidades específicas do Campo, Quilombola, Indígena, Prisional, de Jovens e Adultos, Especial Inclusiva e Profissional.

A organização das metas e das estratégias dimensionam as prioridades da educação em Mato Grosso, tendo em vista o Sistema Único de Educação, a qualidade da educação, a formação e valorização dos profissionais da educação, a carreira, o financiamento, a educação de tempo integral, as etapas e modalidades de ensino, indicando o que, quanto e quando as ações planejadas serão efetivadas.

“Com a nova organização e priorização das metas, o acompanhamento da implementação do PEE se torna mais eficiente, permitindo que todos os segmentos interessados possam monitorar sua execução”, destaca a secretária de Estado de Educação, Rosa Neide Sandes de Almeida, membro do Fórum Estadual de Educação.

Confira abaixo na íntegra o PEE
Assessoria Seduc/MT