terça-feira, 18 de dezembro de 2012
A educação que temos e a que queremos
Dirceu Cardoso Gonçalves*
Todo o país viu o governo, inclusive o presidente da República, festejando, nos últimos dias, os bons índices de desempenho do ensino, apurados segundo o Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, de 2009. Segundo a pesquisa que orienta o índice, nossos estudantes de primeiro grau chegaram a 4,6 pontos, que eram previstos só para 2011, e os de segundo grau bateram 4 pontos, superando a meta de 2011, traçada para 3,9. O Ministério da Educação trabalha para chegar a 2022 com aproveitamento da ordem de 6 pontos.
É compreensível que as autoridades festejem o alcance de metas além do estabelecido. Mas ainda é inaceitável o quadro que se encontra na maioria das escolas, onde o aluno passa todo o período, sequer é alfabetizado e, mesmo assim, sai com o diploma, sem saber o que dele fazer. A educação é um dos retratos do inchaço a que o país foi submetido a título de desenvolvimento. Durante anos, a política pública se preocupou exclusivamente em produzir número de formados sem qualquer questionamento sobre o destino desses estudantes.
Saímos daquele tempo em que o professor era respeitado e tinha o compromisso de transmitir conhecimentos reais aos alunos. Ingressamos na era em que o professor é desvalorizado e há a promoção do aluno de uma série para outra, independente do seu aproveitamento. Acabaram-se os exames, as segundas épocas e outras preocupações, pois o aluno ficou sabendo que basta comparecer à escola para ter garantida a promoção à série seguinte. E esse alunado acabou constituindo a grande massa que hoje está no mercado de trabalho, como professores! Foi um verdadeiro crime de lesa-educação-nacional.
Por conta do seu desenvolvimento tecnológico e industrial, o Brasil necessitou, cada dia mais, de trabalhadores “estudados”. Mas não foi capaz de adaptar a sua estrutura de ensino para oferecer a devida educação a essa clientela. A família que conseguiu pagar escola particular ainda saiu-se menos mal, mas quem dependeu da escola pública hoje paga os pecados que não são seus, mas daqueles que os enganaram oferecendo a escola incompetente e desatualizada. O próprio mercado de trabalho sofre com isso, pois tem vagas, mas o conhecimento dos candidatos não possibilita o seu preenchimento.
Em vez de festejar, as autoridades deveriam se preocupar em investir mais para recuperar o tempo perdido nas últimas três ou quatro décadas. Valorizar o professor, aperfeiçoar currículos e respeitar os alunos. É bem verdade que, se os índices são ascendentes, como mostra a pesquisa, pelo menos estamos no caminho certo. Mas é preciso correr a velocidades muito maiores do que as atualmente verificadas. O Brasil tem pressa e a geração mal formada tem fome. O governo e a sociedade precisam ver isso.
O Ideb divulgado no dia 1º, embora positivo, não é nenhum motivo de festa. Só poderemos festejar no dia em que deixarmos de encontrar alunos de terceira, quarta ou séries superiores que, apesar de terem frequentado a escola, continuam sem saber ler e escrever e alienados culturalmente. Acorda, Brasil!!!
Policial militar – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
aspomilpm@terra.com.br
Por um novo ambiente educacional
Fernando Rizzolo*
Na evolução dos projetos de desenvolvimento e inclusão social que visam à projeção da melhoria das condições de vida e da dignidade humana, encontramos a questão da educação como fator atrelado à percepção de desenvolvimento, mas, na essência, pouco explorado do ponto de vista da aplicação pedagógica. Várias são as propostas de ascender a metodologia educacional a ser implementada no contexto de transferência de renda e de melhores condições de vida da população mais carente.
É verdade que a ideia da contraprestação educacional nos projetos de inclusão representam um grande avanço, porém o maior desafio é remodelarmos o conceito educacional atual, tornando-o adequado a esse quadro evolutivo, fazendo com que o ambiente escolar se torne cada vez mais atraente ao aluno. Para tanto, para desenvolvermos essa ideia ambiental do conhecimento, precisamos antes de tudo investir numa remodelação ideológico-pedagógica dos professores. É bem verdade que, se temos avanços que levam ao desenvolvimento econômico, e que se tal desenvolvimento tem como objetivo a melhoria na educação, antes de pensarmos num novo modelo necessitamos, forçosamente, avaliar as condições de ensino que estão sendo ofertadas aos professores da rede pública, cujos baixos salários, a desmotivação e a pouca oportunidade oferecida pelo Estado no tocante ao aprimoramento profissional os fazem se sentir totalmente desprestigiados.
Uma revolução na concepção de um novo ambiente educacional passaria obrigatoriamente por uma remodelagem profissional dos professores, porque a proposta de ensino que se vê hoje nas escolas é completamente diferente da realidade vivenciada pelos alunos no dia-a-dia, principalmente no caso das crianças mais pobres. Essa mudança de concepção poderia ter início, por exemplo, na proposta de incluir na pauta de ensino algo que discuta a questão do saneamento básico e da valorização da internet, coisas ainda muito distantes da realidade de boa parte da população carente.
Com essas mudanças, estaríamos dando alguns passos adiante no que diz respeito à inclusão social, construindo ali, dentro da escola, um ambiente avançado e ao mesmo tempo dissociado do que ocorre na sociedade atual, que ainda traz em si as mazelas da violência, das drogas e da miséria. A visão de escola de tempo integral vem consubstanciar essa visão entre tempo educacional futurista e realidade social, para que isso possa servir de paradigma aos alunos no que se refere a uma visão crítica da realidade lá de fora, ainda a ser construída pelos projetos desenvolvimentistas.
Ter os professores a tarefa de construir um ambiente educacional agradável, num contexto de escola de tempo integral, numa nova perspectiva de formação ideológica dos educadores, com novas opções de disciplinas e formação cultural geral, trará ao ambiente escolar a possibilidade de as escolas se tornarem células vivas da formação cívica, levando muito mais que informação disciplinar e dando a possibilidade de o aluno se tornar um difusor crítico daquilo que ainda está se construindo na sociedade, que, além dos muros da escola, se expressa no abandono do Estado, na desagregação familiar e na miséria. A escola a um passo à frente significa reconhecer os avanços e, acima de tudo, criar um ambiente de luta na perpetuação dos ideais de cidadania.
*Advogado e editor do Blog do Rizzolo -www.blogdorizzolo.com.br
Na evolução dos projetos de desenvolvimento e inclusão social que visam à projeção da melhoria das condições de vida e da dignidade humana, encontramos a questão da educação como fator atrelado à percepção de desenvolvimento, mas, na essência, pouco explorado do ponto de vista da aplicação pedagógica. Várias são as propostas de ascender a metodologia educacional a ser implementada no contexto de transferência de renda e de melhores condições de vida da população mais carente.
É verdade que a ideia da contraprestação educacional nos projetos de inclusão representam um grande avanço, porém o maior desafio é remodelarmos o conceito educacional atual, tornando-o adequado a esse quadro evolutivo, fazendo com que o ambiente escolar se torne cada vez mais atraente ao aluno. Para tanto, para desenvolvermos essa ideia ambiental do conhecimento, precisamos antes de tudo investir numa remodelação ideológico-pedagógica dos professores. É bem verdade que, se temos avanços que levam ao desenvolvimento econômico, e que se tal desenvolvimento tem como objetivo a melhoria na educação, antes de pensarmos num novo modelo necessitamos, forçosamente, avaliar as condições de ensino que estão sendo ofertadas aos professores da rede pública, cujos baixos salários, a desmotivação e a pouca oportunidade oferecida pelo Estado no tocante ao aprimoramento profissional os fazem se sentir totalmente desprestigiados.
Uma revolução na concepção de um novo ambiente educacional passaria obrigatoriamente por uma remodelagem profissional dos professores, porque a proposta de ensino que se vê hoje nas escolas é completamente diferente da realidade vivenciada pelos alunos no dia-a-dia, principalmente no caso das crianças mais pobres. Essa mudança de concepção poderia ter início, por exemplo, na proposta de incluir na pauta de ensino algo que discuta a questão do saneamento básico e da valorização da internet, coisas ainda muito distantes da realidade de boa parte da população carente.
Com essas mudanças, estaríamos dando alguns passos adiante no que diz respeito à inclusão social, construindo ali, dentro da escola, um ambiente avançado e ao mesmo tempo dissociado do que ocorre na sociedade atual, que ainda traz em si as mazelas da violência, das drogas e da miséria. A visão de escola de tempo integral vem consubstanciar essa visão entre tempo educacional futurista e realidade social, para que isso possa servir de paradigma aos alunos no que se refere a uma visão crítica da realidade lá de fora, ainda a ser construída pelos projetos desenvolvimentistas.
Ter os professores a tarefa de construir um ambiente educacional agradável, num contexto de escola de tempo integral, numa nova perspectiva de formação ideológica dos educadores, com novas opções de disciplinas e formação cultural geral, trará ao ambiente escolar a possibilidade de as escolas se tornarem células vivas da formação cívica, levando muito mais que informação disciplinar e dando a possibilidade de o aluno se tornar um difusor crítico daquilo que ainda está se construindo na sociedade, que, além dos muros da escola, se expressa no abandono do Estado, na desagregação familiar e na miséria. A escola a um passo à frente significa reconhecer os avanços e, acima de tudo, criar um ambiente de luta na perpetuação dos ideais de cidadania.
*Advogado e editor do Blog do Rizzolo -www.blogdorizzolo.com.br
O tesouro da cultura
Por Willy Cesar*
A educação e a cultura da cidade do Rio Grande têm endereço certo na Bibliotheca Rio-Grandense, há 164 anos, completados no último dia 15. Não! Errei, desculpem-me. Do Rio Grande do Sul! Ops, errei de novo! Perdoem-me mais uma vez: do Brasil! Por Deus! Novo erro: do mundo inteiro!! Sim, o saber de todo o planeta pode ser pesquisado na grande e antiga biblioteca do sul brasileiro.
O que parece um exagero pode ser conferido facilmente, porque ali está uma das maiores coleções do Brasil em livros, jornais, revistas, mapas, fotografias, gravuras, documentos históricos, arquivos virtuais e outras fontes de consulta. Em se tratando de livros, todos os principais idiomas mundiais estão representados.
Lembro-me de que, quando o gaúcho Paulo Brossard era ministro da Justiça, no governo Sarney (1985-1989), enviou um pesquisador para fazer consultas, realizadas com sucesso nas coleções da Rio-Grandense. Em agradecimento, Brossard doou uma coleção de livros à biblioteca, escritos em chinês. Esse assunto vazou para a revista Veja, que até brincou com o ministro, porque poucos conheciam o idioma chinês na cidade: os proprietários do restaurante China-Brasil, da rua Luiz Loréa, e um professor da Furg. Os livros presenteados teriam pouca consulta, mas, enfim, pertencem ao acervo internacional da casa.
A direção da biblioteca confirma que o número de volumes em suas prateleiras anda beirando meio milhão. Os livros catalogados vêm aumentando com o trabalho de uma equipe de bibliotecárias e técnicos auxiliares, que, diariamente, alimentam os computadores. Esse número anda por volta de 72 mil, mas isso é uma pequena parte do que ainda há para entrar no sistema de arquivamento digital. Os jornais ainda não estão lançados e há muito a fazer. Esse trabalho pode andar mais rápido se houver mais recursos.
E por falar em arquivo virtual, a biblioteca guarda um CD com a coleção de O Noticiador, o primeiro jornal da cidade publicado entre 1832 e 1836. Francisco Xavier Ferreira, o Chico da Botica, foi seu criador e editor. O dia-a-dia da cidade, da província do Rio Grande do Sul e do período regencial no Brasil aparecem em detalhes. É luz sobre trevas daqueles recuados anos da história. A coleção pertenceu ao povonovense Alfredo Ferreira Rodrigues, que a doou ao Instituto Histórico e Geográfico do RS. Hoje, está no Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, de Porto Alegre. Essas duas instituições digitalizaram o periódico, agora à disposição dos pesquisadores e dos leitores.
Nessa coleção, há muitas informações inéditas ainda. Uma delas tem a ver com a nossa biblioteca. No número 78, de 8 de outubro de 1832, diz:
...nessa vila (...) tem uma livraria escolhida de três mil e tantos volumes, também particular, mas que seu proprietário a tem tornado pública...
Como sabemos que a biblioteca só surgiria em 1846, com o nome de Gabinete de Leitura, essa "livraria particular de uso público", que já existia há, pelo menos, 14 anos antes, é a prova de que a vila do Rio Grande tomava a iniciativa de sair do atraso cultural, e de forma pioneira na província. Havia caldo de cultura suficiente para que o povo, de quatro mil habitantes, pudesse se adiantar através da literatura e das aulas das titubeantes escolinhas de primeiras letras, que a coleção d’O Noticiador também anuncia.
Até o presente momento, não sabemos se os três mil e tantos volumes da livraria de 1832 foram para o Gabinete de Leitura de 1846, ou qual destinação tiveram após aquele período. Pode ser que alguém, antes de mim, já saiba disso, mas eu continuo pesquisando.
Quando ouço alguém dizer que Rio Grande é uma cidade sem cultura, rebato perguntando: quantas são as cidades do Brasil que têm uma biblioteca, particular e de uso público, com meio milhão de volumes? Quantas têm um teatro e 15 museus? E uma Universidade Federal?
O que sabemos bem é que Rio Grande, em 2010, é uma cidade que oferece ensino e cultura à sua população, através de suas escolas, do ensino fundamental aos cursos superiores; das diversas instituições de cultura, públicas e privadas, nas quais se incluem o Teatro Municipal, o Centro de Cultura e a Escola de Belas Artes, além dos 15 museus. E através da maior e mais antiga biblioteca gaúcha, uma das maiores e melhores do Brasil. ‘O tesouro da cultura rio-grandina’, como costumo chamá-la.
Obrigado a todos (as) que trabalham na Bibliotheca Rio-Grandense e aos que a ajudam. Um agradecimento especial ao também povonovense Leon Coutelle Filho, presidente da casa, e à sua diretoria.
Rio Grande tem um tesouro ao seu dispor. Saber usá-lo e apoiá-lo financeiramente é preciso!
Jornalista e escritor*
O fator humano
Gésley Coelho da Costa*
Alguns anos atrás o termo hacker era usado para descrever uma pessoa que passava grande parte do tempo mexendo com hardware ou software. O termo agora se tornou pejorativo com o significado de “criminoso malicioso”. Uso o termo como sempre o usei – no seu sentido mais antigo e benigno.
Hoje, em dia lidamos com um novo criminoso: o engenheiro social, um mágico inescrupuloso que faz você olhar a sua mão esquerda enquanto que a mão direita rouba seus segredos.
Talvez muitos pensem que computador seguro é o que está desligado. Isso é inteligente, mas é falso: o hacker convence alguém a entrar no escritório e ligar aquele computador.
Uma empresa pode ter adquirido as melhores tecnologias de segurança que o dinheiro pode comprar, pode ter treinado seu pessoal tão bem que eles trancam todos os segredos antes de ir embora e pode ter contratado guardas para o prédio na melhor empresa de segurança que existe. Mesmo assim essa empresa ainda estará vulnerável.
Os indivíduos podem seguir cada uma das melhores práticas de segurança recomendadas pelos especialistas, podem instalar cada produto de segurança recomendado e vigiar muito bem a configuração adequada do sistema e a aplicação das correções de segurança. Esses indivíduos ainda estarão completamente vulneráveis.
É natural querer se sentir seguro e isso leva muitas pessoas a buscarem uma falsa ideia de segurança. Veja o caso do responsável e carinhoso proprietário de uma casa que tem um Médico, um cadeado de fechadura conhecido como sendo a prova de roubo, o qual foi instalado na porta da frente para proteger sua esposa, seus filhos e sua casa. Agora ele está certo de que tornou sua família muito mais segura com relação a intrusos. Mas e o intruso que quebra uma janela ou descobre o código que abre a porta da garagem? Que tal instalar um sistema de vigilância resistente? Isso é melhor, mas não garante nada. Com cadeados caros ou não, o proprietário da casa permanece vulnerável. Por quê? Porque o fator humano é o elo mais fraco da segurança.
Com frequência, a segurança é apenas uma ilusão, que às vezes fica pior ainda quando entram em jogo a credulidade, a inocência ou a ignorância. Com a mesma atitude do nosso proprietário de casa consciente sobre a segurança, muitos profissionais da tecnologia da informação (TI) conservam a ideia errada de que tornaram suas empresas imunes ao ataque porque usaram produtos de segurança padrão – firewalls, sistemas de detecção de intrusos (Intrusion Detection System) ou dispositivos avançados de autenticação, tais como tokens baseados no tempo ou cartões biométricos inteligentes. Todos que acham que os produtos de segurança sozinhos oferecem a verdadeira segurança estão fadados a sofrer da ilusão da segurança. Esse é o caso de viver em um mundo de fantasia: mais cedo ou mais tarde eles serão vítimas de um incidente de segurança.
A segurança não é um produto, ela é um processo. Além disso, a segurança não é um problema para a tecnologia – ela é um problema para as pessoas e a direção.
À medida que os especialistas contribuem para o desenvolvimento contínuo de melhores tecnologias de segurança, tornando ainda mais difícil a exploração de vulnerabilidades técnicas, os atacantes se voltarão cada vez mais para a exploração do elemento humano. Quebrar a “firewall humana” quase sempre é fácil, não exige nenhum investimento além de uma ligação telefônica e envolve um risco mínimo.
É preciso estar alerta!
*Consultor em Segurança Eletrônica
Em busca da felicidade
Jorge da Cunha Dutra*
Qual ser humano não busca a felicidade? Esta é uma pergunta que dificilmente terá uma resposta negativa. A felicidade parece ser algo simples de ser entendida e encontrada, mas vejo nela um profundo mistério em seu significado, digno de toda atenção. E por reconhecer sua importância na vida das pessoas é que venho refletir sobre esse assunto.
Essa busca pela felicidade, que indico no título, pode ser vista na maioria das pessoas. Cada um a procura de diversas formas: reunindo-se com os amigos, familiares, saindo a festas, entre outras. Nessas experiências, os seres humanos tentam vivenciá-las inúmeras vezes procurando eternizar os respectivos momentos, ao máximo possível, dentro daquilo que chamamos de "tempo".
A definição de felicidade é muito ampla. Segundo a Enciclopédia Delta Larousse (1985), um de seus significados pode ser: "estado de perfeita satisfação íntima". Além deste, penso que é possível de se atribuir inúmeras outras definições para explicar essa sensação que quase todas as pessoas procuram sentir. E neste momento de reflexão, venho dizer que essa felicidade, a qual objetiva o "estado de perfeita satisfação íntima", me parece não existir. Não entro, aqui, na questão espiritual ou religiosa, mas falo somente sobre a vida terrena. Quando olho para o mundo, tenho a impressão de que o ser humano ainda acredita que alcançará a felicidade plena aqui na Terra. As pessoas chegam a pensar que, se conquistarem tais e tais objetivos, alcançarão tudo aquilo que almejam e terão atingido a felicidade. Já vi casos de pessoas dizerem: "Se eu ganhasse na loteria, resolveria todos os meus problemas!" Será mesmo? Será que resolvendo alguns "problemas" eliminam-se as tristezas que se está sujeito a sofrer? Será que realmente é possível de se prever tudo aquilo que se precisa para ser feliz plenamente? Muitas pessoas colocam a felicidade como meta em suas vidas. Pensando sobre essas questões, concluí que a felicidade plena não é possível de ser alcançada! Mas por quê? Porque tudo aquilo que cada pessoa "tem" e "conquista" está sujeito ao tempo, inclusive o seu próprio corpo, e tudo aquilo que está sujeito ao tempo não a pertence por completo, de modo que a qualquer momento poderá não ser mais seu. Acredito que só é possível encontrar a felicidade nisto: "nos momentos diários em que se está vivendo". Algumas pessoas podem até dizer: "Eu já sei que a felicidade é feita de momentos!" Para estas, espero que este texto ajude a reforçar o posicionamento; ou a questioná-lo, também! Mas para aquelas pessoas que ainda acreditam na possibilidade de alcançar a felicidade plena, a estas convido a olhar para uma nova direção.
Encaminhando-me para o final deste escrito, sugiro que a meta de vida do ser humano não seja a de alcançar a felicidade, mas a de viver bem a cada dia. E o que é este "viver bem"? Entre outras respostas, eu diria que é, pelo menos, viver de tal maneira que o ser humano se reconheça, verdadeiramente, como eterno aprendiz da vida e que perceba que o mundo não existe só para uma pessoa (o "eu"), mas também para todos os demais seres que aqui habitam. E quanto à felicidade? Sendo esta vista como um meio e não como um fim, ela estará perpassando todo o meio ambiente sem ter hora certa para chegar ou para partir e se encontrará com aquele que estiver vivenciando o momento de senti-la, sabendo que a um certo tempo ela se despedirá, deixando a possibilidade de que em muitos outros momentos possa retornar, ou não.
*Licenciado em Pedagogia (Furg) e Filosofia (UFPel)
Madre Teresa de Calcutá - Centenário do seu nascimento
Dom José Mário Stroeher*
Dia 26 de agosto de 1910 nasceu, na Albânia Agnes Gonxha Bojaxhhiu, a Madre Teresa. Hoje é o centenário do seu nascimento. Ela foi uma mulher à frente do seu tempo. Fez da própria vida uma oferta aos outros, e um instrumento de realização da vontade de Deus.
Aos 12 anos de idade, ouviu de um padre jesuíta o seguinte ensinamento: ‘Cada qual em sua vida deve seguir seu próprio caminho’. Entrou na Congregação das Irmãs de Loreto, indo lecionar geografia em Bengala. Estudando depois enfermagem e, diante da miséria da cidade de Calcutá na Índia, se tornou o remédio que ajudou a tratar as
mazelas daquela cidade, onde a miséria e a desigualdade eram gritantes.
A pedido do Papa Pio 12, fundou a Congregação das Irmãs Missionárias da Caridade em 1949, cujo carisma incluía a educação básica de crianças e adultos, o aprendizado de hábitos de higiene básica entre eles e a coleta de donativos.
Nas cartas publicadas após a sua morte, revela a sua luta interior: o fato de não sentir palpavelmente o amor de Deus. Ao contrário de outros que abandonaram a caminhada diante das dificuldades, Madre Teresa perseverou. As pessoas que conviveram com ela sempre a viram com o rosário nas mãos, levando uma vida espiritual serena e tranquila. A última frase dita por ela teria sido ‘Jesus, eu te amo’.
Em 1979, recebeu o prêmio Nobel da Paz. Ela morreu em cinco de setembro de 1997, sendo proclamada bem-aventurada pelo Papa João Paulo 2º em 2003.
Grandes comemorações ocorrem especialmente na Índia, cujo governo decidiu cunhar uma moeda em homenagem ao centenário de Madre Teresa, iniciativa que contou com o apoio da superiora geral das Missionárias da Caridade, Irmã Mary Prema.
A Diocese do Rio Grande se associa a estas homenagens no mesmo ano em que celebra também o centenário de nascimento de seu primeiro bispo Dom Frederico Didonet.
Dia 12 de setembro deste ano, data da ordenação episcopal de Dom Frederico, faremos a abertura do início dos festejos deste centenário, tendo também em vista que em 2011 a Diocese completa 40 anos. Será para nós um Ano de Graça.
*2º bispo da Diocese do Rio Grande
Natal de Jesus e Direitos Humanos
Autor: José de Paiva Netto
O Natal não é época de esquecer os problemas, mas, sim, pedir inspiração divina para resolvê-los. A sua ambiência deve ser a da fraternidade, agora mais do que nunca, imprescindível para que de fato surja a cidadania planetária, que positivamente saiba defender-se da exploração mundial endêmica. Não apenas o corpo adoece, a sociedade também.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos completa no dia 10 o seu 64° aniversário. Em apoio a tão significativo marco, apresento trechos de palestras que proferi, alguns deles reunidos em “Dialética da Boa Vontade” (1987) e “Manifesto da Boa Vontade”, de 21 de outubro de 1991, quando lancei a pedra fundamental do ParlaMundi da Legião da Boa Vontade, em Brasília, na presença de cerca de 100 mil pessoas.
Bastante se avançou desde a promulgação da Magna Carta. Todavia, há muito a ser feito para impedir que, em pleno século 21, mulheres, meninas e meninos continuem sendo vendidos como mercadoria; crianças prossigam trabalhando em fornos de carvão ou em outras atividades cujas condições são subumanas; ou que se tornem cegas por carência de vitamina A. Sem contar a tortura institucionalizada que se dissemina pelo planeta. Contudo, que tormento maior que a fome, além das multidões de analfabetos ou semialfabetizados, dos quais a perspectiva de uma existência decente é mantida distante?
Lei da solidariedade universal
Na contramão da insensatez humana, vislumbramos na vivência do Mandamento Novo de Jesus o denominador comum capaz de, fraternalmente unindo, iluminar os corações. É a religião da amizade, do bom companheirismo, destacado por João Evangelista, no Apocalipse (1:9). É a lei da solidariedade universal, portanto espiritual, moral e social. Asseverou Giuseppe Mazzini (1805-1872), patriota e revolucionário italiano: “A vida nos foi dada por Deus para que a empreguemos em benefício da humanidade”. E Augusto Comte (1798-1857), o filósofo do Positivismo, concluía: “Viver para os outros é não somente a lei do dever, mas também da felicidade”.
O amor é essencial, a começar dos governantes. Os que sofrem violência o digam.
Deveres de ser humano e de cidadão
No Sermão da Montanha de Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, (Evangelho segundo Mateus, 5:1 a 12), vemos a exaltação aos bem-aventurados. Aqueles que compreenderam ao longo das eras que, cumprindo com seus deveres de ser humano e de cidadão, têm plenamente garantidos os seus direitos, numa esfera que nem todos ainda podem conceber.
Direitos Humanos no ParlaMundi
Em 24 de outubro de 2008, por ocasião das comemorações do 19º aniversário do Templo da Boa Vontade (TBV), em Brasília/DF, a dra. Monica Sharma, diretora de Formação de Capacidades e Lideranças da Sede das Nações Unidas (ONU), participou da solenidade em homenagem aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que fez parte da Semana de Espiritualidade, Valores e Interesses Globais promovida na sede da ONU — instituição onde a LBV tem status consultivo geral no Conselho Econômico e Social (Ecosoc). Na oportunidade, foi recepcionada pelo Coral Ecumênico Infantil e, em seguida, visitou os ambientes do Templo da Paz e do ParlaMundi, o qual considerou “um espaço de coragem e compaixão, que todos precisamos manifestar”.
No local, conectando-se por videoconferência a integrantes da comunidade internacional no auditório Labouisse Hall, no prédio do Unicef, na sede da ONU em Nova York/EUA, a dra. Monica palestrou sobre o tema “Como a Espiritualidade e a Consciência podem ajudar a concretizar os Direitos Humanos”.
Ao conhecer o Instituto de Educação da LBV, em São Paulo, a dra. Monica, com quem tive o prazer de falar ao telefone, escreveu no livro de visitas:
“Esta educação é tão completa – uma aproximação holística:
“– Dos jovens membros da nossa família global para a juventude;
“– Da escola para o lar e a família;
“– Do aprender de matemática e ciências;
“– Da criatividade na música e balanço pelo caratê!
“Como podemos fazer disso um movimento mundial? Respeitando os valores profundos de cada religião e aprendendo a ‘amar em ação’”.
Eis por que pugnamos por Educação e Cultura aliadas à ação iluminante da Espiritualidade Ecumênica, para que se faça a síntese sublime entre as luzes do intelecto e o Sol do Saber Espiritual.
Corrupção e Direitos Humanos
Autor: Paulo Lemos
O dia 09 de dezembro é considerado o dia internacional anticorrupção, mediante declaração realizada pela ONU, em outubro de 2003, por intermédio da Resolução 58/4. Enquanto que o dia 10 de dezembro é o dia internacional dos direitos humanos, ante a deliberação realizada também pela ONU, em 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Como todos sabemos, ou deveríamos saber, a corrupção praticada na administração pública brasileira é responsável por inúmeros problemas sociais e, até mesmo, aniquilamento de direitos humanos e fundamentais, já que os recursos que deveriam ser destinados para atender os justos e legítimos interesses da população, em boa parte, seguem o indevido destino dos bolsos e das contas dos artífices da sangria do erário público.
Mas, além da modalidade clássica de corrupção, observada no superfaturamento de contratos e no sobpreço de bens e serviços, temos, ainda, a menos perceptível, contudo tão nefasta quanto à outra: corrupção de prioridades.
Na corrupção de prioridades, os recursos não são desviados fisicamente para uma conta nas Bahamas ou na Suíça, mas, ao invés disso, eles são aplicados no atendimento do interesse corporativo de uma instituição pública (subsídios, benefícios, auxílios etc.), na construção de prédios públicos suntuosos, entre outras coisas; ou mesmo no interesses privados e muitas vezes inconfessáveis dos detentores do poder político e econômico (asfalto na porta da fazenda ou da sede de sua empresa, política de isenção de impostos que lhe favoreça e favoreça os seus amigos etc.). Isso tudo, enquanto há uma série de feridas sociais abertas e não tratadas, em via de putrefação e morte
Diante disso, estou convencido de que o que impede o Estado de prover o cumprimento dos objetivos fundamentais previstos no artigo 3º da Constituição Federal não é a teoria da reserva do possível (insuficiência orçamentária e financeira), e, sim, a corrupção que entope as veias do poder instituído e da própria sociedade quando se dispõe a ser cúmplice desse atentado à humanidade.
Por isso, diferente dos ladrões de galinha que superlotam o desumano sistema presidiário brasileiro e mundial, acredito que os principais responsáveis pela negação dos direitos humanos e pelos crimes humanitários são os autores, co-autores e os partícipes da corrupção, seja em qual modalidade for, pois ao se beneficiarem ilicitamente dos recursos públicos e ao se servirem do povo ao invés de servi-lo, esses criminosos estão a roubar não uma galinha, mas, sim, os direitos humanos do mínimo existencial e da felicidade de milhões de pessoas.
Se o postulado mais básico e elementar dos direitos humanos está no ideário de que quando fazemos o mal para uma única pessoa é como se estivéssemos prejudicando toda a humanidade, o que concluir sobre quem pratica o mal por atacado, e não apenas no varejo, acompanhado de nefastas conseqüências?
Imaginem o dia em que cada centavo arrecadado do povo brasileiro, através da enorme carga tributária que temos, for aplicado estritamente no fomento de políticas públicas que se pautem apenas no efetivo atendimento do interesse público primário da sociedade e pela concretude dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal.
Bom, penso que, além da boa vontade e do bom caráter dos gestores públicos, há que se ter uma sociedade participativa - e não apática - que se apresente como protagonista de sua própria história, e não como mera telespectadora ou co-responsável dos desmandos praticados sob o manto do “interesse público”, que na verdade de público não tem nada. Para isso, temos que fazer mão de todos os instrumentos de acesso, participação, informação e controle, já existentes não só na Carta Magna Federal, e, também, em leis infraconstitucionais, como é o caso da observância da Nova Lei Geral de Acesso à Informação e a implantação do orçamento participativo em todas as instituições públicas, a título de direitos básicos e fundamentais, derivado de um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, qual seja: da cidadania.
Noutro passo, quanto aos direitos humanos em si, penso que mais do que comemorarmos seu advento uma vez por ano, o ideal é cumpri-los durante o ano todo.
Uma vez que são os direitos humanos que garantem uma vida digna para qualquer indivíduo e conjunto de pessoas, na medida em que assegura direito à saúde, à educação, à segurança, à moradia, à alimentação, ao lazer, à participação na administração pública, à boa administração dos recursos públicos, além de vários outros.
Portanto, precisamos de uma revolução cultural e espiritual, a partir da percepção de que somos todos apenas um e que, ao mesmo tempo, um representa a todos; independente de cor, religião, nacionalidade, condições econômicas etc. E só quando pacificarmos os conflitos internos que temos em nossas mentes e corações, promovendo a vitória do altruísmo sobre o egoísmo e da paz sobre a violência, e tomarmos consciência de que somos frutos da mesma origem e partes de um único projeto universal, é que não teremos mais corrupção, guerras, fome e catástrofes ambientais no mundo.
Sem a extinção da corrupção e a concretude dos direitos humanos, não há que se falar em sociedade civilizada.
Depressão infantil
Autor: Paiva Netto
Recente levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstra que, em todo o planeta, 20% das crianças e dos adolescentes apresentam sintomas de depressão, como irritabilidade ou apatia e desânimo. Os dados referentes ao Brasil sugerem que esse tipo de distúrbio se faz presente entre 8% e 12% da população infantojuvenil.Recente levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstra que, em todo o planeta, 20% das crianças e dos adolescentes apresentam sintomas de depressão, como irritabilidade ou apatia e desânimo. Os dados referentes ao Brasil sugerem que esse tipo de distúrbio se faz presente entre 8% e 12% da população infantojuvenil.
É um número preocupante. Saber lidar com essa problemática, que jamais esteve restrita a adultos e idosos, é providência urgente para pais e educadores.
O programa “Educação em Debate”, da Boa Vontade TV (canal 23 da SKY), que discute os principais assuntos da educação pela ótica da Espiritualidade Ecumênica, entrevistou o dr. Gustavo Lima, psiquiatra da Infância e da Adolescência, que nos aponta algumas causas da depressão nas fases iniciais da vida e como notá-las: “Primeira coisa — uma investigação clínica pormenorizada. Segunda coisa — é muito importante lembrar que os transtornos afetivos na infância e na adolescência são de causa multifatorial, ou seja, diversos fatores podem causar a depressão: genéticos, ambientais, entre outros. Entretanto, na nossa prática clínica, o que aumenta muito a chance de uma criança ficar deprimida são os ambientes familiar e escolar desfavoráveis”.
DIFERENÇA COMPORTAMENTAL
O que dificulta, de certa maneira, pais e educadores perceberem que o filho ou o educando está deprimido é o comportamento dessa patologia entre as faixas etárias: “Diferentemente dos adultos, as crianças não ficam deprimidas o tempo inteiro. Às vezes, os pais deixam de levar o filho para uma avaliação porque em algum momento do dia ele se divertiu. E isso não significa que não esteja deprimido”, esclareceu o especialista.
E alertou ainda: “É preciso, também, muito cuidado com os sintomas de ideação de morte, quando vêm à mente ideias suicidas. Quando você está diante de uma criança deprimida com esses sintomas, é muito importante uma avaliação médica e um tratamento com psicólogo. Em alguns casos, dependendo da gravidade, recorrer a tratamento farmacológico”.
PREVENÇÃO
Para o dr. Gustavo Lima — que é membro do Programa de Atendimento a Transtornos Afetivos do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP — existem algumas atitudes que podem ajudar a prevenir a depressão nas crianças: “Além de um acompanhamento pediátrico, cuidar das horas de sono e da alimentação, um ambiente familiar estruturado é fundamental. Outra coisa importante é uma escola que favoreça o desenvolvimento da criança, que consiga identificar as reais potencialidades dela. Então, saúde, bem-estar, ambientes familiar e escolar favoráveis, prestar atenção também em questões genéticas contribuem, e muito, para se prevenir a depressão infantil”.
Atentemos, pois, às elucidativas recomendações do dr. Gustavo Lima. E não descuidemos de proporcionar aos pequenos e aos jovens um espaço sadio, enriquecido por uma Espiritualidade Ecumênica orientada pelos melhores princípios éticos. Desde cedo, devemos ter consciência de que a prece, a meditação, a confiança em Deus ou nas forças da Natureza são eficientes recursos ao equilíbrio bio-psíquico-espiritual.
Ensinar a envelhecer
Autor: Gabriel Novis Neves
As crianças são ensinadas a dar os primeiros passos e a moldar os seus primeiros comportamentos. Entretanto, nunca se pensou em divulgar para os idosos os inúmeros sintomas que denunciam, antes das doenças, que passamos para um período de atenção na vida.
Atenção sim. Principalmente no que toca à vaidade física. Muitos idosos não conseguem aceitar o envelhecimento do corpo e se prendem à busca desesperada da fonte da eterna juventude.
Infelizmente, o aspecto promovido pelas plásticas e similares está bem longe de conseguir isso. Em alguns casos até essa impossibilidade fica exacerbada
Comportamentos mais moderados em todos os aspectos proporcionariam mais conforto e uma entrega a essa nova realidade. Realidade essa que, apesar da imensa propaganda de juventude eterna feita pela mídia (com finalidades comerciais óbvias), sabe-se que é totalmente falsa.
Observações e sugestões simples seriam de grande valia, dentre as quais destaque para uma alimentação correta e balanceada, ao invés de entrar de imediato num mar de remédios que, além de seus efeitos colaterais perigosos, são sempre menos tolerados nessa faixa etária.
Lembrando sempre que, essencialmente, somos o que comemos e o que pensamos.
Vida ao ar livre sempre que possível. Sol da manhã ao menos três vezes por semana, no mínimo por vinte minutos, afim de que seja permitida a absorção da vitamina D, tão importante para a manutenção de uma boa estrutura óssea.
Evitar falar de doenças, pois esse papo, além de a ninguém interessar, é altamente negativo para nós mesmos.
Segundo Pavlov - o criador da reflexologia - está comprovado que a palavra pode ter um grande efeito psicológico, e até terapêutico.
Frases muito repetidas são absorvidas e registradas por nossa córtex cerebral e podem se tornar verdades absolutas que, quando negativas, fariam os chamados reflexos condicionados patológicos.
Exercícios sempre moderados e prazerosos, de preferência os alongamentos, ao contrário dos exercitados em academias que geralmente levam os seus adeptos às visitas prematuras e constantes aos ortopedistas.
Manter laços afetivos sempre presentes, sejam através de amigos, familiares, animais de estimação e, se possível, para alguns privilegiados, com um/uma companheira de vida.
Lazer quanto mais, melhor.
Reuniões sociais, filmes, peças teatrais, livros, exposições de arte, novos cursos, enfim qualquer tipo de interesse que venha estimular o bom funcionamento dos seus neurônios. Já vai longe a época em que por falta de opções os idosos ficavam alijados de tudo que acontecia à sua volta.
Relações sexuais são sempre bem-vindas, e, se naturais, sem interferência medicamentosa, são uma grande fonte de rejuvenescimento.
Para isso há que se buscar relações de conteúdo afetivo, e não meramente atléticas e superficiais
Viagens - sempre que possível - só trazem benefícios, descentralizando a autoimagem e trazendo a perspectiva do novo, seja no campo afetivo, visual ou das ideias.
Não se esquecer de uma das maiores descobertas da humanidade, o mundo digital.
A internet com suas inúmeras possibilidades pode ser por si só, um dos maiores rejuvenescedores de que se tem notícia.
Pesquisas futuras vão comprovar isso, uma vez que permite a todos, e especialmente aos idosos mais descolados, esse mundo fascinante que a tecnologia nos oferece.
Educação deve garantir a Quilombolas acesso a conhecimentos tradicionais de seu povo, diz Fundação Palmares
Segundo diretor, é necessário haver a contextualização histórica para garantir o respeito à identidade cultural das comunidades quilombolas
Em busca do resgate das raízes das comunidades remanescentes de quilombos, o Ministério da Educação publicou, no fim de novembro, as diretrizes curriculares nacionais para a Educação Escolar quilombola. O documento institui orientações para que os sistemas de Ensino formulem projetos político-pedagógicos adequados à especificidade das vivências, realidades e história dessas comunidades.
Segundo a Fundação Cultural Palmares, existem 3.754 comunidades remanescentes de quilombos espalhadas pelo Brasil, a maioria concentrada nos estados do Maranhão, da Bahia e de Minas Gerais. Ao todo, as comunidades abrigam 130 mil famílias.
Para o diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro, Alexandro Reis, é necessário haver a contextualização histórica para garantir o respeito à identidade cultural das comunidades quilombolas. “Não adianta falar da história do Brasil, dizendo que o quilombo era espaço de resistência da escravidão sem trazer a importância da comunidade quilombola. O quilombo era um espaço de negros que fugiram da escravidão. Só isso? Quem eram esses negros? Quais eram suas línguas? Se não contextualizar, perde a riqueza histórica”, analisa Reis.
As diretrizes envolvem o financiamento, arquitetura Escolar, condições de trabalho do Professor, formação de Professores, alimentação Escolar, formas de ensinar e aprender e o processo didático-pedagógico específicos para a Educação quilombola. Além disso, também incluem as orientações sobre a obrigatoriedade do Ensino de história e da cultura afro-brasileira, como estabelece a Lei nº 10.639/2003. Segundo Reis, as diretrizes começam a ser implementadas a partir do ano que vem.
Para Reis, a Escola precisa contar a realidade da comunidade quilombola para que o Aluno tenha autoestima e perspectivas de um futuro e uma condição melhor. “Se olhar pelo viés econômico verá apenas pobreza, mas,se olhar o histórico, a produção cultural, a ancestralidade, sua forma de integração com a natureza, o Aluno vai aprender e entender melhor seu passado.”
De acordo com dados do Censo Escolar de 2010, há 210,4 mil matrículas de Alunos quilombolas distribuídos entre Educação básica, Ensino especial e de jovens e adultos. Nesse período, o maior crescimento proporcional verificoi-se no Ensino médio, onde o atendimento quadruplicou, passando de 3,1 mil para 12,1 mil matrículas.
Entretanto, de acordo com o cadastro único dos programas sociais do governo federal, 23,5% dos quilombolas inscritos no sistema não sabem ler.
Na contramão desse índice, está Dalila Lisboa, quilombola da comunidade Mesquista, da Cidade Ocidental, em Goiás. Ela é a primeira estudante quilombola formada pela Universidade de Brasília (UnB), no curso de Serviço Social. Aos 26 anos, a jovem enfrentou diversos obstáculos até alcançar seu sonho de concluir a graduação. “Pela dificuldade financeira, tive que optar entre estudar e ajudar a minha família. Trabalhei durante meses na casa de uma tia e passei dois anos e meio sem estudar.”
Ao ingressar na universidade, Dalila foi beneficiada com uma bolsa para auxílio e permanência oferecida pelo Grupo Afroatitude, do Centro de Convivência Negra da UnB. Atualmente, o benefício está em R$ 400 e atende a cerca de 25 jovens. Nos oito anos de existência, o auxílio já beneficiou mais de 200 estudantes. “Sem a bolsa, não teria como me manter na universidade.”
Fonte: Agência Brasil 02/12/2012
Evasão está ligada à violência e às drogas
Dados fazem parte de relatório inédito do Conselho Tutelar
Dados preliminares de um relatório inédito feito pelo Conselho Tutelar de Niterói — a partir da Ficha de Notificação de Casos Suspeitos — mostram que 80% da evasão escolar da rede municipal estão relacionados ao uso de drogas e à violência entre os estudantes. O conselho agora contabiliza o total de crianças que deixaram as escolas da rede para calcular a dimensão dos problemas.
Ainda segundo o relatório, 20% dos casos de evasão escolar estão ligados ao consumo de drogas por parte dos alunos. Já a violência é responsável por 60% das ocorrências.
— Essa evasão é motivada por diversos tipos de violência intrafamiliar, que acabam sendo trazidos para dentro da escola. O consumo de drogas também é uma preocupação, porque os programas de tratamento hoje ainda são falhos — afirma o conselheiro Fabiano Silveira.
Segundo ele, o projeto agora é ampliar a distribuição das fichas de notificação. A ideia é que o material também chegue aos estabelecimentos privados de ensino:
— A ficha é uma coisa nova. Temos feito reuniões nas escolas e torcemos para que esse material seja acolhido em todas as unidades em 2013. Com isso, esperamos padronizar as informações sobre as questões escolares em toda a cidade.
O relatório sobre evasão escolar foi elaborado ao longo do último ano de trabalho do Conselho Tutelar, eleito no fim de 2011. O levantamento prevê uma carência de 500 vagas na rede para o próximo ano letivo. O Conselho usou como base os dados das escolas municipais, que atendem alunos de educação infantil e dos ensinos fundamental e médio. A rede tem cerca de 20 mil matriculados.
Os números ratificam ainda dados divulgados pelo Instituto Sangari, que revelam que, no Mapa da Violência, Niterói está entre os cem municípios brasileiros com a maior taxa de mortalidade de crianças e adolescentes.
Fonte: O Globo (RJ) 02/12/2012
Lançada II Conferência Nacional de Educação (CONAE)
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, assinou na manhã desta segunda-feira, 03 de dezembro, a portaria ministerial que convoca a II Conferência Nacional de Educação (CONAE) com data marcada para 17 a 21 de fevereiro de 2014.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, assinou na manhã desta segunda-feira, 03 de dezembro, a portaria ministerial que convoca a II Conferência Nacional de Educação (CONAE) com data marcada para 17 a 21 de fevereiro de 2014. Na ocasião, Mercadante falou sobre a importância de acelerar a aprovação do Plano do Plano Nacional de Educação (PNE) no Congresso, entretanto, ressaltou que não adianta aprovar um Plano que não seja cumprido. “É fundamental que haja uma fonte de financiamento para que possamos chegar a 10% do PIB e, na minha opinião, devem ser os royalties do Petróleo.”
Para o ministro, a presidenta Dilma Rousseff tomou uma decisão histórica ao propor em Medida Provisória que 100% dos royalties provenientes dos contratos futuros de exploração de petróleo sejam investidos em educação. Mercadante pediu às entidades ligadas a educação que fortaleçam o engajamento e a mobilização junto ao Congresso para garantir os royalties ao setor. “Essa disputa é agora, pois o futuro do país depende dessa decisão”.
Realizada no auditório do Edifício Sede do Ministério da Educação (MEC), em Brasília, a cerimônia de lançamento foi conduzida pelo secretário executivo adjunto do MEC e coordenador geral do Fórum Nacional de Educação (FNE), Francisco das Chagas Fernandes e segue durante toda a manhã com painéis temático e debates interativos transmitidos em redes sociais e por teleconferências para estados e municípios que, em 2012, vêm mobilizando seus fóruns de educação.
Gil Vicente Figueiredo está presente pelo PROIFES-Federação, único representante dos docentes do ensino superior federal (Magistério Superior e Ensino Básico, Técnico e Tecnológico), no FNE, que é integrado por entidades vinculadas à educação, à comunidade científica, aos movimentos sociais, dentre outros, além de membros indicados pelo Ministério da Educação (MEC). Gestão Democrática com Participação Popular no Planejamento e na Organização da Educação Nacional é o tema do primeiro painel. O segundo aborda Estrutura, Organização e Conceitos Básicos do Documento-Referência da II CONAE; e no último, o Plano Nacional de Educação na Articulação do Sistema Nacional de Educação: Cooperação Federativa e Regime de Colaboração.
Reuniões das Comissões Especiais do FNE
Na parte da tarde, integrantes das Comissões Especiais de Monitoramento e Sistematização e de Mobilização e Divulgação do Fórum Nacional de Educação (FNE) se reúnem em Brasília para discutir as temáticas.
Nos dias 4 e 5 de dezembro, membros dessas duas comissões do FNE participam, também na capital federal, da Reunião Ampliada com representantes dos Fóruns Estaduais de Educação (FNEs). A pauta dessa atividade prevê o Planejamento dos recursos financeiros referentes ao apoio institucional para realização das Conferências Municipais, Estaduais e do Distrito Federal, além da Elaboração do Plano de mobilização dos Fóruns Municipais e das Comissões organizadoras das etapas municipais da CONAE/2014.
Fonte: PROIFES-Federação com informações do FNE 03/12/2012
Por uma nova forma de ensinar
Idealizador da Escola da Ponte prega revolução no aprendizado e critica formação de professor no Brasil
O Educador português José Pacheco, ex-diretor da Escola da Ponte, onde não há provas nem divisão por séries: "É preciso uma ruptura, em busca de uma nova Escola"
Inovação. Alunos do Projeto Âncora, em Cotia (SP): não há turmas definidas, e o conteúdo é assimilado e compartilhado pelos estudantes entre si, no ambiente Escolar
Não existe um modelo padrão de Ensino. Cada Escola deve se organizar para atender a seus Alunos. Quem defende a ideia é o Educador José Pacheco que, por mais de 30 anos, dirigiu a inovadora Escola da Ponte, em Portugal, onde o aprendizado é pautado pela confiança entre estudante e Professor: não há salas de aula tradicionais, grade curricular ou provas. Os bons resultados da instituição dão a Pacheco autoridade para questionar o método de Ensino atual. Na era das redes sociais, ele defende o compartilhamento do conteúdo Escolar pelos Alunos, levando a uma construção coletiva do saber. O Educador também classifica como "miserável" a formação dos Professores no Brasil.
- Nada acontece de diferente quando a teoria antecede a prática. É preciso uma ruptura com os modelos convencionais, em busca de uma nova Escola, que se organize em torno dos valores que unem as pessoas atendidas. A Escola não é um edifício, mas um espaço social - comenta o português, que participará do Conecta, evento sobre novas tecnologias e Educação, que ocorre quarta e quinta-feira, no Rio.
Pacheco é um dos idealizadores da Escola da Ponte, na pequena Vila das Aves, a 30 quilômetros do Porto. Na instituição, os Alunos se agrupam de acordo com sua área de interesse. Não há divisão por séries. Monitorados por Professores, o estudante faz seu plano de metas baseado no conteúdo sugerido pelo Ministério da Educação. A metodologia ganhou fama global. Encantado, o escritor e Educador Rubem Alves escreveu trabalhos como "A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir" (2003). Cerca de cem instituições no Brasil mudaram para, de certa forma, seguir o exemplo.
O próprio Pacheco está envolvido numa iniciativa que segue essas premissas, em Cotia (SP). Com 440 Alunos, cujas famílias têm rendas de até três salários mínimos, o Projeto Âncora serve ao Pré-Escolar e ao Ensino fundamental, sem turmas definidas. O aprendizado se dá conforme o interesse dos Alunos, que assimilam o conteúdo e o compartilham no ambiente Escolar.
- É um trabalho de formiguinha. Na implantação do projeto, rejeitamos tudo que não interessa. Aulas e séries são um obstáculo para o crescimento humano - diz ele.
Os resultados, segundo Pacheco, são animadores. Alunos marcados pela exclusão recebem atenção que nunca tiveram. Em seis meses, crianças analfabetas aprenderam a ler, e os Professores embarcaram na novidade.
Mas o Educador se mostra preocupado com o quadro geral do Ensino no Brasil e no mundo. Na opinião dele, os métodos em voga estão obsoletos desde o fim do século XIX.
- Basta dizer que, no Brasil, esse tipo de Educação dá origem a 24 milhões de Analfabetos funcionais. Não adianta ser a sexta economia do mundo, quando se ocupa os últimos lugares em rankings de Educação - critica Pacheco, para quem o despreparo das Escolas fica latente diante de questões atuais como o bullying. - Muitas Escolas suspendem ou expulsam Alunos, instalam câmeras de segurança. Deveriam ser adotadas novas formas de diálogo.
Para resolver esse problema, diz ele, é essencial investir na formação de Educadores:
- A formação de Professores no Brasil, não hesito em dizer, é miserável. Parte de princípios errados, como aquele de que a teoria pode anteceder a prática. Não adianta colocar jovens na faculdade e enchê-los com teorias ultrapassadas. Eles perpetuarão esse modelo.
Pacheco diz que a renovação deve englobar a forma como as recentes tecnologias são aplicadas no Ensino. Em tempo de redes sociais, não basta apenas introduzir computadores e mudar o velho quadro-negro pelo monitor digital.
- Mesmo nos EUA e na Europa, o modelo convencional de Educação continua. As novas tecnologias contribuem para a mesmice, quando deveriam proporcionar o compartilhamento de conteúdo entre os Alunos. Se as Escolas entenderem isso, podem migrar de um modelo em que os estudantes são como papagaios repetindo a lição para um ambiente onde ocorra, de fato, a construção do saber - diz o Educador. - Os jovens precisam ser incentivados a reconstruir uma sociedade doente e usar as tecnologias para fazer isso criticamente. Noto que essas ferramentas contribuem para que os Alunos se tornem solitários. Isso é uma regressão.
Evento debaterá uso de tecnologias de forma crítica
Quando o assunto é tecnologia na Educação brasileira, os desafios são inúmeros. Boa parte deles estará em pauta quarta e quinta-feira, na segunda edição do Conecta, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), no Centro de Convenções SulAmérica. Haverá palestras, oficinas e uma exposição com o que há de mais moderno em equipamentos para o Ensino.
- Queremos mobilizar os Educadores para o uso desses meios de forma crítica. A sociedade está mudando, e a tecnologia está diretamente envolvida nisso, influenciando o comportamento das pessoas e vice-versa. A Escola não pode ficar de fora, para não ser atropelada - explica o assessor de tecnologias educacionais do Sistema Firjan, Bruno Souza Gomes.
Segundo ele, um dos maiores imbróglios é a baixa qualidade da conexão de internet. A discussão terá destaque na programação, com a divulgação do relatório "Horizon Report", resultado de três meses de pesquisas feitas por 30 especialistas em tecnologia e Educação do Brasil.
O documento, diz Gomes, mostra, entre outros tópicos, como o serviço disponível no país está distante do praticado no restante do mundo. Segundo ele, de nada adianta o investimento em equipamentos de última geração se o Aluno não consegue acessar o conteúdo digital.
- Essa discussão tem que ser uma pauta efetiva do governo - avalia ele.
A pesquisa, de acordo com o especialista, também aponta a urgência de uma readequação do currículo Escolar em função dos novos meios. Ou seja, o Ensino contemporâneo precisa ser pensado também em função das possibilidades oferecidas. Parte dessa constatação se justifica pela demanda de mobilidade apresentada pelas novas gerações de Alunos.
- Os jovens querem aprender em qualquer lugar e momento. A tecnologia quebra a barreira da sala como único local de Ensino. Isso envolve todas as classes sociais.
Para uma visualização precisa da utilização desses instrumentos, o evento promove também a Expo Conecta: seis espaços vão mostrar instrumentos de alta tecnologia que podem ser introduzidos em Escolas de Ensino fundamental e profissionalizante. Entre os aparelhos que merecem destaque, está a caverna digital, espécie de cubo formado por telas que projetam ambientes, como uma plataforma de petróleo, a turbina de um avião e até o sistema solar.
O Conecta começa às 10h de quarta. Entre os palestrantes, há representantes de universidades, Escolas e organizações sem fins lucrativos, além de jornalistas. A palestra do Educador português José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, acontece às 9h de quinta-feira.
Fonte: O Globo (RJ) 19/11/2012
Aumento de crianças com necessidades especiais na rede pública expõe carências e preconceitos
Segundo pedagoga, não basta apenas a matrícula para incluir esse grupo na escola, o sistema precisa se preparar melhor para acolher essas crianças com mais qualidade
De 2003 para 2011, o número de alunos com deficiência ou doenças crônicas, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação cresceu 164%. Segundo o Ministério da Educação, em 2003, 28% dos alunos que precisavam da educação especial estudavam em classes comuns e o restante, em classes especiais. Em 2007, o percentual desses alunos incluídos nas classes regulares passou para 54% e, no ano passado, para 74%, com 752 mil estudantes inscritos.
O número de escolas de educação básica com matrículas de estudantes que precisavam da educação especial cresceu 615%. Para pedagogos e especialistas, o aumento reflete a maior inclusão de grande parte desse grupo no ambiente escolar. Antes, esses estudantes viviam confinados em casa ou em escolas especiais. A chegada desses alunos na rede pública também revela as carências e preconceitos de quem lida com esse público.
A pedagoga Glória Fonseca Pinto trabalha com crianças e adolescentes com doenças crônicas e deficientes há mais de dez anos no Rio de Janeiro. Segundo ela, para incluir esse grupo na escola não basta apenas a matrícula. “O sistema precisa se preparar melhor para acolher essas crianças com mais qualidade. As escolas precisam entender que precisam se adaptar a essas crianças e não o contrário. Existem muitos exemplos [bem-sucedidos] de crianças com comprometimentos que conseguem se formar e ganhar muita independência”.
Ela lamentou o fato de diversas escolas ainda recusarem esse estudantes. “A criança especial pode e deve frequentar uma escola regular, mas infelizmente não é toda a escola que a aceita por não ter currículo, [não dispor de] rampa e de material humano. Mas não existe receita de bolo e as escolas precisam se predispor a aceitar essas crianças”.
No Rio de Janeiro, em um ano, esse grupo de estudantes aumentou 15% na rede estadual, de acordo com a Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), com 3 mil alunos da educação especial no universo de 1 milhão de inscritos na rede estadual.
Para a professora Márcia Madureira, da equipe da Coordenação de Inclusão Educacional da Seeduc, o incremento na entrada dessas crianças e adolescente reflete um movimento de inclusão por parte da rede de ensino, mas traz enormes desafios. “O aumento do fluxo é um bom sinal e são muitos os desafios, mas estamos tentando ampliar os serviços para atender a essa demanda, como transformar todas as escolas acessíveis para cadeirantes”.
Segundo a Secretaria Estadual de Educação, 3.564 alunos com deficiência ou doenças crônicas foram inscritos na rede estadual de ensino no 1º semestre de 2012. São aproximadamente 200 Salas de Recursos que oferecem Atendimento Educacional Especializado (AEE) aos alunos com necessidades especiais e cerca de 150 profissionais atuam nestas salas.
Para a coordenadora do Núcleo de Apoio a Projetos Educacionais e Culturais, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Magdalena Oliveira, as escolas do país não estão estruturadas para receber as crianças e adolescentes com deficiência. “Com cerca de 40 alunos, é óbvio que a professora não terá estrutura para atender essa criança com deficiência. Uma escola capaz de receber uma criança com deficiências deveria ter uma fisioterapeuta motora, uma fisioterapeuta respiratória, uma fonoaudióloga, uma psicomotricista, uma terapeuta ocupacional, além de um psicólogo para poder dar apoio ao corpo docente e às crianças”.
Magdalena ressaltou que a exclusão dessas crianças e adolescentes do ambiente escolar prejudica seu desenvolvimento, pois ficam isoladas do convívio social. “A escola é o único lugar onde a gente começa a vida tendo que dar conta de ter que conviver com os amigos, aguentar a pressão dos professores e dos amigos. Isso dá para a criança uma independência e uma maturidade emocional que a gente enquanto mãe não consegue dar”. A pedagoga lembrou que a convivência das outras crianças com esse grupo também é frutífera, pois fortalece o respeito às diferenças.
Educadora diz que pais devem denunciar escolas que não aceitam alunos especiais
A diretora do Instituto Municipal Helena Antipoff, Kátia Nunes, responsável pela educação especial na cidade do Rio, disse que os pais devem denunciar nas Secretaria de Educação as escolas que não aceitarem o filho deficiente ou com doença crônica. “Se a escola não estiver preparada para esse aluno, nós vamos prepará-la. Mas a escola hoje precisa entender que ela deve se adaptar às necessidades da criança e não o contrário”.
Na prefeitura o professor, ao assumir uma turma, recebe um DVD multimídia com orientações sobre como melhor atender uma pessoa com deficiência e informando que a prefeitura oferece cursos específicos durante todo o ano. “Também temos salas de recursos multifuncionais com mais de 300 professores especialistas para dar suporte a esses alunos com deficiência”.
Segundo a educadora, não existem cursos específicos para crianças com doenças crônica, mas sim para pessoas com deficiência. “Damos acompanhamento, suporte pedagógico, mas [no que diz respeito às] questões mais fundamentais da saúde solicitamos que o pessoal da saúde caminhe junto com a gente”. Ela admitiu que faltam professores, mas informou que a prefeitura está investindo na formação de novos profissionais para sanar o problema.
A professora Márcia Madureira, da equipe de Coordenação de Inclusão Educacional da secretaria do estado do Rio, admite que faltam estrutura e mão de obra qualificada para receber esses alunos, mas que o preconceito é uma das principais barreiras para a inclusão efetiva das crianças e adolescentes com doenças crônicas e deficiências.
“O diferente sempre causa estranheza e tratar dessas questões no ambiente escolar é fundamental para acabar com preconceitos, por meio do conhecimento, e permitir que esse aluno possa participar do espaço da escola e não apenas estar nele”.
Para a representante da Secretaria Estadual de Educação os desafios são contínuos, mas a sociedade está evoluindo no caminho da inclusão. “E nós [governo] temos que encarar esses desafios e dar o suporte necessário e estamos trabalhando nisso”.
Para a professora municipal Karla Silva da Cunha Bastos, que trabalha com educação especial há nove anos, a sociedade e os governos passaram a enxergar essas crianças, que hoje têm alguns direitos garantidos, mas o desconhecimento e despreparo ainda são grandes.
“Em uma turma com 40 alunos, com tantas crianças, com tantos outros problemas sociais e mesmo patológicos, o crônico acaba dando medo. O aluno chega na aula com um balão de oxigênio, por exemplo, e o professor não sabe o que fazer. As pessoas ficam com medo de acontecer alguma coisa com a criança e elas serem culpabilizadas”.
A professora citou o caso de uma aluna com doença congênita na bexiga que precisava ir ao banheiro com frequência e, toda vez que chegava um professor novo ela precisava explicar sua condição. “Em outro caso, o aluno não podia fazer atividades físicas e o professor o chamava de preguiçoso e ameaçava dar nota baixa. Nossa formação seja no curso normal ou na faculdade não nos prepara para a realidade social que vivemos hoje”.
Karla acredita que é preciso um trabalho de conscientização sobre as especificidades das crianças com doenças crônicas. “Desde o professor, ao servente, à merendeira. Quando a criança com doença congênita se matricular, a escola precisa receber informação sobre essa doença e orientações”.
Algumas escolas ainda recusam crianças com deficiência ou doença crônica
Embora a lei exija que todas as escolas brasileiras aceitem e incluam crianças e adolescentes com deficiência e doenças crônicas, ainda existem instituições que se dizem inaptas para isso. Em muitos casos, por falta de estrutura e de informação da escola, quando o aluno é aceito acaba não tendo a atenção devida e o responsável pelo estudante precisa frequentar a escola para cuidar dele.
É o caso da menina Giovana de Oliveira Corrêa, 6 anos, que tem síndrome de Kabuki, uma desordem congênita rara, que causa déficit intelectual e problemas físicos. A mãe da menina, Evanilda Aprígio de Oliveira, ficava com ela na escola, mas conseguiu um emprego e agora paga a uma sobrinha para cuidar de Giovana.
“Por ela ser cadeirante, não consegui [vaga] na escola particular. Consegui na pública com facilidade, mas a dificuldade existe dentro da escola, pois eles não têm preparação, professora de apoio, espaço para cadeirante passar, rampa. Há boa vontade, mas falta estrutura”.
A pedagoga Magdalena Oliveira, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) diz que o caso de Giovana não é exceção. Ela coordena vários projetos de educação para crianças e adolescentes com doenças crônicas e deficiência e argumenta que a educação inclusiva está longe de ser alcançada no Brasil.
“Se você entrevistar as mães que trazem seus filhos aqui, ouvirá da maioria que eles não são aceitos nas escolas. Quando são, elas têm que ficar junto com a criança ou o adolescente e o tempo [de aula] é limitado, não é o tempo regular da escola”.
Magdalena citou o caso de um rapaz de 21 anos, com encefalopatia não progressiva (com déficit cognitivo sério) que nunca foi aceito na escola, apesar das numerosas tentativas da mãe. “Ela ainda tem esperança de ver o filho na escola. A deficiência não o impede de ter um convívio com outras [pessoas], de aprender algumas coisas, dentro das limitações dele”.
A pedagoga também contou sobre um menino de 8 anos que nasceu sem a parte inferior dos braços que não foi aceito na escola perto de casa. “Ele não tem nenhum tipo de déficit cognitivo, mas disseram para a mãe que ele deveria ir para uma escola especial”.
Atendimento educacional durante a internação facilita volta da criança à escola, diz professora
No Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), a parceria com a rede de ensino municipal completou um ano em agosto e permite que crianças e adolescentes internados no instituto tenham aulas diariamente. A média é dez crianças internadas, algumas há mais de um ano.
A professora municipal Karla Silva da Cunha Bastos, que trabalha com educação especial há nove anos e está no projeto do IFF desde o início da parceria com o governo municipal, acha que o atendimento pedagógico-educacional no hospital facilita a volta das crianças à escola sem prejuízo e ainda minimiza o isolamento social.
“A internação não atrapalha as aulas, e ainda ajudam na recuperação: a criança tem menos tempo de parar e sofrer, de se deprimir com o ambiente de quietude, injeção, enfermeira, remédio. Então é um momento mais lúdico”, observa a professora.
Aluno de Karla, Matheus Henrique da Silva Machado, de 12 anos, tem fibrose cística, doença genética que afeta uma em cada 10 mil crianças brasileiras e ataca os pulmões e o pâncreas.
“Gosto da aula aqui. É só para mim, não há milhões de alunos. Ela [a professora] pega no pé às vezes, mas eu gosto”, contou o menino que, após 29 dias internado, recebeu alta durante a entrevista.
Juliana Ramos da Silva, mãe de Mateus, notou que o filho avançou muito nas matérias escolares com a classe hospitalar.
“Meu filho passa mais tempo internado do que na escola. Quando ele volta para a escola já consegue acompanhar os amigos. Antes, quando ainda não tinha classe hospitalar, ele ficou internado uma vez, por três meses e, quando voltou ficou perdido e nem queria mais ir à aula”.
Rosângela Alvares dos Santos é mãe de Samuel, de um ano e seis meses, internado no IFF desde que nasceu com um problema respiratório crônico. “Depois que Karla chegou, ele se desenvolveu. Até mostrar a língua ele aprendeu com ela e já está comendo por conta própria. Acho interessante, pois é um estímulo diferente”.
Algumas doenças crônicas, como a fibrose cística, exigem cuidado especial para evitar infecções. São necessárias aulas individuais. Além de Karla, o instituto conta com uma professora no turno da tarde. As duas se desdobram para atender uma média de 30 alunos por mês, com idades e necessidades de aprendizado diferentes. “A gente faz das tripas coração, mas amo o que faço, dá muito prazer”.
Kátia Nunes, diretora do Instituto Municipal Helena Antipoff, responsável pela educação especial na cidade do Rio, explicou que não faltam professores interessados em trabalhar nos hospitais, mas que a especialização dessa mão de obra ainda é um desafio.
“Precisamos formar mais gente. Estamos investindo nessa formação. Se a criança está impedida de ir à escola, temos que levar a escola até eles. E constatamos, por meio de pesquisas, que a escola ajuda recuperação da saúde da criança hospitalizada”.
Maioria de crianças e adolescentes internados não tem acesso a aulas nos hospitais
Desde 1995, a legislação brasileira reconhece o direito de crianças e adolescentes hospitalizados ao acompanhamento pedagógico-educacional. É obrigação dos sistemas de ensino e de saúde municipais e estaduais organizar o atendimento educacional especializado para estudantes impossibilitados de frequentar as aulas por motivos de saúde.
De acordo com profissionais da área, passados 18 anos, a classe hospitalar - nome da modalidade de ensino que possibilita esse aprendizado nos hospitais - ainda não se tornou realidade para a maioria das crianças e adolescentes com doenças crônicas.
Para a coordenadora do Núcleo de Apoio a Projetos Educacionais e Culturais, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Magdalena Oliveira, a classe hospitalar ainda “engatinha” no Brasil, sobretudo no preparo dos professores.
“A rede hoje precisa de uma estrutura mais ampla para atender essas crianças de forma mais integral. Falta tempo para o professor estudar. A grande maioria dos cursos é paga e a classe é absolutamente discriminada, com um dos piores salários do país. Faltam professores para dar uma atenção diferenciada a essas crianças e adolescentes,” disse.
Na capital fluminense, dez hospitais contam com o apoio de professoras municipais, resultado de parcerias da prefeitura com as instituições de saúde.
O governo do estado do Rio informou que ainda não oferece classe hospitalar, mas que o projeto está sendo discutido na secretaria de Educação.
O Ministério da Educação não soube informar o número de hospitais no país que oferecem classe escola. Por meio de nota informou apenas que o atendimento em classes hospitalares é ação intersetorial organizada entre as secretarias de Educação e Saúde de cada estado ou município, conforme demanda existente
Dados do Censo 2010 mostram que o Brasil tem hoje mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência: quase um quarto do total da população. Não existem dados específicos sobre doenças crônicas, de acordo com médicos da área.
Fonte: Agência Brasil 18/112012
Mais horas-aula para português e matemática
Proposta é ter ainda uma matriz curricular unificada para que as escolas, hoje autônomas nesse assunto, possam terminar o ano letivo sem distorções de horas dedicadas às disciplinas
Uma proposta de matriz curricular de referência para a Educação básica, elaborada pela Secretaria de Estado da Educação (Seed), está sendo analisada e pode ser implantada nas Escolas em 2013. Embora as diretrizes curriculares que discorrem sobre o conteúdo que deve ser ministrado a cada ano letivo sejam bem claras, as Escolas têm autonomia para montar suas grades curriculares, o que pode gerar algumas distorções, como excesso de aulas em uma disciplina e escassez em outras. A medida prevê ainda um aumento na quantidade de aulas semanais de português e matemática.
De acordo com o órgão, o Paraná tem 2,2 mil Escolas e 2,1 mil matrizes curriculares, o que dificulta o trabalho da secretaria. Com uma matriz unificada, a intenção da Seed é priorizar as disciplinas que são a base para outras e nortear melhor o trabalho pedagógico. Além disso, português e matemática são as matérias-chave em avaliações de grande porte, como o Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) e o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).
Segundo a superintendente da Educação, Meroujy Cavet, uma série de questões levaram a Seed a fazer a proposta, entre elas a qualidade do aprendizado. “Ao final da Educação básica, o Aluno deve conhecer bem sua língua mãe, escrever um bom texto e estimular o espírito de investigação com a matemática”, explica.
Para aumentar o número de horas dessas disciplinas, outras foram sacrificadas: em alguns anos do Ensino fundamental, há redução no número de aulas de artes e Ensino religioso. Por outro lado, para poder acomodar uma grade mais robusta, o Ensino médio teve sua carga horária semanal aumentada de 25 para 27 horas semanais. Com isso, não haverá prejuízo nas disciplinas de sociologia e filosofia, que fazem parte da base nacional comum de disciplinas. A proposta de matriz curricular foi apresentada para a APP-Sindicato, que representa os profissionais da Educação, e o Conselho Estadual de Educação. Agora, as modificações serão discutidas com Escolas e municípios, para saber se existe a possibilidade de fazer a alteração para 2013. Segundo a Seed, a ideia é fazer um amplo debate para só então implantar o sistema.
O Professor da Universidade Tuiuti Joe Garcia, doutor em Educação, lembra que, historicamente, o Brasil já passou por uma série de alterações curriculares. A disciplina de Educação Moral e Cívica, por exemplo, já foi obrigatória. “Currículos Escolares sempre mudam por necessidades sociais, visões de mundo, razões de conhecimento”, pondera.
Mudança não é garantia de Ensino melhor
O aumento da carga horária de disciplinas como matemática e português não é garantia de melhoria na qualidade de Ensino. Para especialistas, é preciso fazer uma análise conjuntural detalhada antes de tomar qualquer decisão.
A Professora doutora da Universidade Federal do Paraná Monica Ribeiro da Silva, pesquisadora na área de Educação básica e Ensino médio, diz que a redução da carga horária de outras disciplinas para priorizar matemática e português é equivocada e está na contramão das novas Diretrizes Curriculares Nacionais aprovadas recentemente. “Essas novas diretrizes propõem que se atribua novos sentidos à Escola, por meio do reconhecimento da diversidade de interesses dos adolescentes, da Escola como espaço de formação privilegiado que ultrapassa o treino na provas, pela integração entre campos disciplinares como forma de atribuir significados mais profundos ao que é ensinado”, explica.
A relação entre carga horária e o desempenho dos estudantes em testes como o Ideb também é questionada. O doutor em Educação Joe Garcia, Professor da Universidade Tuiuti, lembra que, no começo da década, os brasileiros tinham um desempenho muito fraco em matemática no Pisa, mas que foram recuperando terreno e terminaram a década com resultados melhores. “Não foi o aumento da carga horária que mudou esse quadro, foram as novas metodologias de Ensino que foram introduzidas, como era feito no exterior”, afirma.
Mão de obra
Novo formato exige a contratação de mais Professores
As possíveis mudanças na matriz curricular do Paraná também remetem a um problema antigo: a falta de Professores. De acordo com a superintendente da Educação, Meroujy Cavet, a decisão de propor a mudança no currículo só foi tomada depois da confirmação de realização de um novo concurso público. Nesta semana, deve ser lançado o edital para contratação de 13 mil profissionais em todo o estado, com vagas para todas as disciplinas, não apenas português ou matemática.
A secretaria deve diminuir o número de profissionais contratados pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS), que ainda será mantido, por conta da necessidade de afastamento de Professores por causa de licenças ou aposentadorias. Para essa prova, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) está propondo a realização de um teste objetivo, de uma redação e de uma prova prática, para selecionar profissionais bem qualificados.
Fonte: Gazeta do Povo (PR) 19/11/2012
Mercantilização do ensino universitário, onde chegaremos?
Reginaldo Gonçalves
As mudanças contínuas no ensino estão, cada vez mais, evidenciando o canibalismo que o sistema de mercantilização no mercado educacional está trazendo para o Brasil. Isso está provocando reflexos que, no futuro, deverão demonstrar que as alternativas poderão reduzir, de modo consistente, o conhecimento e a busca por melhoria da informação.
A situação do ensino fundamental e médio nas escolas públicas demonstra que os alunos estão cada vez mais despreparados para cursar uma faculdade. Porém, por pressão deste mercado canibal, que transforma a educação em mercadoria, esses alunos acabam entrando em um curso superior, mas, por despreparados que estão, infelizmente não são capazes de acompanhar o ritmo, sendo obrigados, muitas vezes, a trancar a matrícula e desistir de seus sonhos.
Um dos aspectos deste cenário está nas ações do governo federal, com a concessão de bolsas de ensino parciais ou integrais. Deste modo, permite-se que um número cada vez maior de pessoas tenha acesso ao ensino universitário. Isso apenas engrossa as estatísticas oficiais, mostrando um Brasil onde os níveis de analfabetismo vêm diminuindo. Por outro lado, as instituições educacionais privadas, que oferecem bolsas de estudo, seguem um caminho de massificação do ensino para garantir o retorno desejado a seus acionistas. Hoje, a busca do aluno não é mais pelo ensino ministrado, mas, por uma mercadoria que se compra como se fosse um produto exposto no supermercado.
Transformar a educação em produto e o aluno em cliente prejudica a todos os envolvidos no sistema de ensino, sejam alunos, professores ou funcionários administrativos. O desrespeito é significativo. As contradições provocadas por esse sistema, por um lado aumentam o número de alunos por sala de aula e, por outro, reduzem os salários dos docentes, além de provocar a falta de investimentos em todo complexo educacional, em virtude da redução maciça dos gastos, principalmente os fixos. A baixa remuneração dos docentes e a falta de investimentos acabam fazendo do curso universitário – que é uma extensão do ensino fundamental e médio – seu desmantelado. O resultado é que o aluno não conseguirá atingir seus objetivos pessoais e de carreira em um patamar de qualidade que faça com as empresas o contratem.
No início de cada novo período letivo chegam notícias sobre a venda de alguma instituição de ensino que, em virtude das pressões de mercado, acaba cedendo e encerrando suas atividades. Recentemente a Fundação Escola Armando Álvares Penteado (Fecap), instituição paulistana com 110 anos de existência, teve os holofotes direcionados para seus negócios. Uma das instituições mais respeitadas do País foi notícia quando os alunos da graduação manifestaram a insatisfação com a provável venda da faculdade para o Grupo Ânima, conglomerado mineiro que já administra outras instituições de ensino, como o Centro Universitário UNA e a UniBH, ambas em Minas Gerais, e a Unimonte, em Santos (SP).
É fato que se a aquisição for concluída, mudanças ocorrerão em toda a estrutura da Fecap, pois são filosofias diferentes. Porém, esta é a primeira vez que alunos demonstram a insatisfação com a possibilidade da queda no nível educacional, algo que fez da Fecap uma instituição respeitada. Nas aquisições que ocorreram no passado, jamais houve qualquer manifestação desse tipo, mas, em geral, pela possível falta de docentes, em virtude do aumento no número de alunos matriculados. Talvez essas críticas contribuam para mudar o tom da conversa e fazer com que outras instituições de mesmo perfilpossam abarcar novos alunos, buscando o melhor nível de excelência. Se a manifestação dos alunos persistir, a instituição que assumir a Fecap poderá ter que rever seu planejamento, ou na pior das hipóteses eliminar dos livros 110 anos de respeito e tradição.
A mercantilização, sem um controle mais efetivo, pode se agravar, trazendo danos irreversíveis ao ensino. É preciso ter em perspectiva que a redução de custos em excesso destrói o alicerce de qualquer instituição. E que o ensino não é mercadoria enlatada, assim como o aluno não é cliente. Ao contrário, os jovens universitários buscam melhorar sua capacitação principalmente para atender a demanda das empresas. Estas, por sua vez, necessitam colocar em seus postos de trabalho profissionais que saibam tomar decisões de modo sensato e responsável, a fim de preservar a sustentabilidade e seus negócios.
Reginaldo Gonçalves
relmarsp@uol.com.br
Coordenador de Ciências Contábeis da FASM (Faculdade Santa Marcelina).
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Historiador de MT desvenda mistérios e teses sobre a Guerra do Paraguai
Da Redação - Priscilla Vilela
Uma das principais teses a respeito do conflito alega que o imperialismo inglês foi o responsável pela guerra. Teríamos sido bonecos manipulados pela grande potência britânica. Repetida cansativamente a ideia dos maquiavélicos ingleses e dos inocentes latino-americanos parecia uma verdade indiscutível. Mas não é.
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O livro A Guerra é Nossa mostra, por outro ângulo, quais, afinal, foram os motivos que desencadearam os combates. Para isso, se buscou dados e informações documentais que revelam, de modo incontestável, que os desentendimentos internos dos quatro países envolvidos, explicam as motivações locais do conflito. Confira.
Pesquisas foram feitas na enorme quantidade de despachos diplomáticos dos representantes ingleses em Buenos Aires e Montevidéu para Londres e de lá para eles.
Dois capítulos tratam dessas importantes informações. Se tem também pesquisas no Arquivo Histórico do Itamaraty, nos Anais do Senado e da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e ainda em jornais e documentos publicados do Uruguia e do Paraguai.
O livro aventa uma hipótese, em capítulo específico, sobre os motivos que teriam levado a região a acreditar que os ingleses provocaram a Guerra do Paraguai.
O livro já está nas livrarias em Cuiabá ou pode ser adquirido diretamente na Editora Contexto através do seu sistema de compra online (www.editoracontexto.com.br). Alfredo da Mota Menezes é mato-grossense de Poxóreo, historiador e doutor em História da América Latina.
As informações são da assessoria
“Gigantes de aço”, agressividade entre pai e filho
Erika de Souza Bueno
Quais os malefícios que os jogos violentos de videogame deixam na vida de uma criança? Por que não se pode tolerar que uma criança se envolva em um ambiente de luta, combates e ódio? O que pode acontecer a um menino que se empolga com a adrenalina ao se deliciar em cenas de violência explícita trazidas pelos jogos?
No filme “Gigantes de Aço”, Dakota Goyo dá vida a Max, um menino completamente envolvido pelos jogos de videogame. Max é o filho rejeitado de Charlie, personagem vivido por Hugh Jackman, responsável pela revolta que pode acometer qualquer família que almeja o melhor para seus filhos.
O menino protagoniza cenas que fazem o coração saltar ainda mais forte ao falar abertamente com seu pai, como se este estivesse em uma condição igual à dele. Não está. Charlie já viveu muito mais tempo que Max, já está cheio de marcas de uma vida de insucessos, que o deixam amargo e com pouquíssimos meios para contribuir de algum modo com o único filho.
Ao descer do carro de seus tios rumo ao encontro de seu pai, o menino Max já nos dá mostras de sua personalidade, pois interroga Charlie sobre o valor pelo qual fora vendido. O pai do garoto não viu nenhum problema em precificar a guarda do menino, deixando-a aos tios de Max. Não identificou nenhum “porém” em utilizar o dinheiro para adquirir mais um robô lutador.
De modo semelhante, também não levou em consideração o fato de que Max tinha acabado de perder sua mãe. Tampouco, Charlie não fez muita questão em dar a resposta que o filho queria, ou seja, o valor com que fora vendido. No decorrer do filme, incontáveis vezes somos surpreendidos pelo lado inconsequente de Charlie em relação ao menino.
Isso revolta. Porém, mais uma vez, o cinema nos dá recursos de abordagens em sala de aula, principalmente quando estamos em algum trabalho com a família de nossos alunos. No filme, o final é feliz, se é que podemos chamar assim um final que tem uma criança envolvida em cenas de tamanha agressividade. Contudo, na vida real, o final pode ser tenebroso, brutal, trágico e cruel.
O fato de os combates se darem entre robôs não colabora, de modo algum, para a diminuição da carga de violência. Enquanto as “latas” se amassam durante os numerosos combates que aparecem no filme, o caráter cruel e impiedoso das pessoas que os controlam aparece claramente.
Max, um menino de apenas 11 anos, não apenas presencia tudo isso, mas ele é participante ativo e responsável por levar o filme a um desfecho “feliz”. A comemoração, o olhar de carinho e cumplicidade entre um dos robôs e o menino, o abraço entre pai e filho...
Bom, nada disso parece compensar a angústia de termos visto uma criança desamparada pelo pai, acompanhando-o a tantos lugares inadequados à idade e aos direitos que deveriam ser assegurados a ela. Claro que esse desamparo foi aparentemente vencido, mas é só isso, tudo parece muito vago, sem bases sólidas e prematuro.
Como todo bom filme, “Gigantes de Aço” é capaz de nos deixar revoltados, ansiosos e com o desejo intenso de fazer mais pelas crianças com as quais hoje temos contato. Com nossos alunos, o filme é uma grande oportunidade de trabalho com a família de cada um deles.
Erika de Souza Bueno
bueno.erikasouza@gmail.com
Professora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, sociedade e família.
Um pouco mais de paz
Eder Roberto Dias
Estamos diante de um caos que impregna a calma de nosso melhor sentir! Deixamos de acreditar, de participar e de nos fazer felizes, pois aceitamos com muita facilidade os incômodos que absorvem a fonte natural de nossa calma. Ouvimos buzinas, gritos, dor, agitação, afobação e, no meio de tudo isso, aplicamos um esquecimento lacônico de nossa percepção de felicidade. Respiramos tão somente o pó de nossas conquistas que se entrelaçam com todas as dificuldades que nos adoecem e tomam nosso tempo e jovialidade. Estamos envelhecidos, ultrapassados e compulsori-amente desfocados da beleza que há em viver nossas etapas. Tememos a sombra que nos alcança e sequestra de nós as virtudes de conhecer aos estranhos que e comportam indiferentes com o que acontece ao seu lado. Podemos dizer que somos sofisticados, práticos, atuantes e muito informados, mas até onde estamos realmente evidenciando a busca por nossa paz? As semanas correm e escorem por entre nossos dedos (...), dormimos e se quer temos tempo para sonhar com objetivos que não sejam o dinheiro de cada mês. E, com ele, as vultosas contas de nosso cartão de crédito que consomem o suor de nosso ir e vir de um trabalho que mais nos parece ser a nossa casa. Enquanto que a nossa casa serve apenas e deposito de nosso cansaço. Buscamos culpados para tudo que não conseguimos sentir! Inviabilizamos sorrisos, pois tudo que conseguimos ver nos trás medo e muito temor. Tenho que fazer um seguro para meu carro; tenho de ter cuidado ao sair à rua; não posso passar tranquilamente por essa rua que escura pode me surpreender com um assalto. E, assim, se vão os meses, os anos e todos os desejos que são apagados de nossa mente que nos mente. Devemos ter mais direitos que deveres, podemos nos sentir felizes sem nos sentir culpados de fugir da mecânica que absorve a nossa engren agem em ferrugem e empenamento. Somos seres humanos que precisamos de entendimento, luz e realização. Não o consumo de coisas materiais, mas as espirituais que nos aproximem uns dos outros. Onde a igualdade de respeito não nos faça surpreender a nós mesmos! A gentileza é uma atitude de amparo diante do desamparo que estamos vivendo. A educação é uma virtude que não pode ser abandonada por uma associação de modismos que empregam a falta de educação como algo natural do crescimento populacional. Falamos de paz, porém caminhamos em uma contra mão de valores e conhecimento. Estamos diante de um caos que invade nossas janelas, nossas portas e camas. Deixamos de amar com intensidade e verdade, pois o normal agora é a falta de comprometimento com os sentimentos. Não sei ao certo por onde andam os sentimentos, nem sei se estes novos habitantes terrenos sabem o valor do princípio de respeitar. Consomem a vida como um cigarro que queima por sobre um cinzeiro. Para depois, um dia, se transformarem em velhos que desconhecem o conhecimento de todo bem que não viveram.
Um pouco mais de paz... aonde ela possa existir e, caso ela já tenha morrido, que renasça de nossos sentimentos, desejos e sonhos, pois em nosso amanhã a cobrança por um momento de paz será grande. E, antes que ela seja dizimada por nossa pressa, devemos ensinar aos que não a conhecem a encontrarem a si mesmos em sua mais exclusiva paz.
Eder Roberto Dias
ederoamorsemprevence@bol.com.br
Escritor, poeta, palestrante e autor do livro: O amor sempre vence... Editora Gente.
Educação: uma questão de prioridade
Leticia Bechara
O novo secretário da educação de São Paulo divulgou nesta terça-feira (4) que planeja priorizar a alfabetização de alunos de até oito anos de idade. Os dados da prefeitura de São Paulo indicam que 20% desses alunos ainda não atingiram o nível ideal. Como parte do esforço para alcançar esse objetivo, ele ampliará um programa de capacitação que já vem sendo oferecido para educadores da rede, aos sábados. Nesse curso, os professores alfabetizadores têm acesso a materiais didáticos especiais. Uma boa saída, visto que hoje se tem um conhecimento muito melhor sobre o funcionamento da mente das crianças e formas mais criativas e incisivas de desenvolver suas habilidades cognitivas.
Alfabetização realmente é a maior prioridade. Se analisarmos os dados das avaliações, veremos alunos que não dominam os códigos de linguagem e acabam carregando essas dificuldades ao longo de toda a formação escolar e da carreira profissional.
Mais interessante ainda: melhorar a educação passa prioritariamente pela formação dos professores. Como estão os cursos de pedagogia? Que tipo de profissionais estão sendo colocados no mercado? Será que esse curso não deveria ter uma prova de suficiência ao final do curso para comprovar o nível de conhecimento adquirido pelos alunos, assim como os advogados têm a prova da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB e contabilistas agora têm a prova do Conselho Regional de Contabilidade - CRC? Sem a aprovação são impedidos de exercer suas profissões.
Mais importante que defender os números dos balanços, é oferecer oportunidade para a vida de quem está estudando. O caminho da educação pode fazer isso.
A prioridade da educação vai além do domínio da linguagem. Hoje a tecnologia permite a potencialização do aprendizado e acesso ao conhecimento em todos níveis. As melhores universidades do mundo já oferecem cursos gratuitos e abertos pela web.
Muito se discute pela formação de Ensino à distância. Ainda há certos temores em relação a essa formação, com dúvidas a respeito do aproveitamento dos alunos.
Duas características são apontadas por Luciano Sathler, diretor da Associação Brasileira de Ensino à Distância - ABED, como fundamentais: os alunos dos cursos à distância apresentam bom conhecimento de informática, pois o curso exige que adquira habilidades com as ferramentas tecnológicas. Outra característica é a disciplina, muito exigida para quem tem que mostrar mais autonomia e controle.
Professores precisam ser prioridade na formação e utilização dessa tecnologia. Atualmente, as crianças, ou melhor, os alunos, têm acesso e muita curiosidade com o mundo digital e todas as suas possibilidades. Basta observar a facilidade e encanto que sentem diante de uma tela de computador, smartphone ou ipad. Portanto, entender desse universo passa a ser conteúdo obrigatório na formação de educadores.
As metas do governo paulista incluem ampliar o atendimento infantil e melhorar a qualidade do ensino fundamental. Essa é a base da formação. Não dá para pensar em colocar os recursos do governo apenas em prédios e novas salas. Quem irá ocupar esses espaços? Como esse profissional irá utilizar esses espaços? Vamos pensar nisso. A sociedade, nossas famílias, dependem e esperam que esse processo se torne cada dia melhor. Nós, educadores, também.
Leticia Bechara
leticia.bechara@trevisan.edu.br
Mestre em educação e coordenadora do vestibular da Trevisan Escola de Negócios.
domingo, 16 de dezembro de 2012
A mosca de Aristóteles
José Pacheco
06-08-2012
A escola herdeira do Iluminismo, a escola da afirmação da Modernidade, já não existe - ela vegeta, agoniza. E arrasta na sua agonia milhões de jovens condenados à ignorância e à exclusão.
Entre o aparecimento da lousa de ardósia e o da lousa digital distam séculos. Nesse longo hiato, a escola pouco, ou mesmo nada, mudou. Apenas terá mudado o tipo de material utilizado na fabricação da lousa.
Oitenta por cento dos jovens internautas comunicam com outros, pedem ajuda e prestam ajuda, em chats, emails, em múltiplas plataformas online. Num tempo em que importa mais que seja o aluno a esforçar-se, para descobrir realidades, do que uma "realidade" ser comunicada por um professor, quantos desses jovens comunicarão com os professores através da Internet?
Num tempo em que a prática da escrita da letra cursiva vai sendo abandonada, muitos docentes obrigam os seus alunos a um gasto significativo do tempo escolar no exercitar da letra cursiva, para que - segundo afirmam - os seus alunos tenham "uma caligrafia perfeita". Talvez se inspirem em Steve Jobs, que, quando passou pela universidade, apenas quis aprender... caligrafia.
Jardins de infância precocemente escolarizam a infância, instituindo rotinas, nas quais todas as crianças devem começar a dormir ao mesmo tempo, ainda que não tenham sono (e, frequentemente, "embaladas por crews, sertanejos e bandas sonoras de novelas...).
À revelia das descobertas da cronobiologia, as escolas mantêm rituais de horário fixo, como a hora de entrar e de sair, ou os cinquenta minutos de uma aula, que quase ninguém sabe explicar por que são cinquenta... E, entre dois toques de sirene, se anuncia que todos poderão ir ao recreio, ao mesmo tempo. Venho suspeitando de que existe alguma analogia entre o banho de sol dos presidiários e o recreio dos alunos... Ao mesmo tempo, todos deverão estar olhando a nuca do colega da frente. Ao mesmo tempo, todos devem merendar, todos devem fazer xixi no mesmo período de tempo.
Já alguém se prerguntou se terá sido sempre assim? Desde o século XVIII, não existe sequer uma teoria que sustente o modelo de escola, que, no nosso tempo, ainda é hegemónico.
A escola herdeira do Iluminismo, a escola da afirmação da Modernidade, já não existe - ela vegeta, agoniza. E arrasta na sua agonia milhões de jovens condenados à ignorância e à exclusão. A par da família, a escola não se adaptou aos novos tempos. Hoje, é matriz oculta do insucesso escolar e social.
Permiti que cite dois mestres. João Guimarães Rosa, que disse que mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. E Claude Lévi-Strauss, que acertou quando escreveu que sábio não é aquele que fornece as verdadeiras respostas, é aquele que faz as verdadeiras perguntas. Aqueles que, interrogando-se, se libertam de preconceitos e soluções convencionais conseguem compreender que a escola dita tradicional deverá ser demolida, e que, com o material da demolição, se poderá construirá uma nova educação. Sem esquecer que quando se alcança um determinado objetivo de projeto, o mundo já mudou de novo, e que todos os projetos humanos estão em permanente fase instituinte.
O sistema mais antigo de classificação de seres vivos que se conhece deve-se ao filósofo grego Aristóteles, que classificou e descreveu todos os organismos vivos então conhecidos.
Conta-se que Aristóteles deixou registado ter a mosca doméstica oito patas. Ao longo de muitos séculos, os copistas reproduziram a aristotélica asserção até que alguém se atreveu a desafiar a autoridade científica de Aristóteles e verificou que a mosca tem seis patas.
Quando chegará o tempo em que os protagonistas do absurdo modelo de escola, que ainda temos, se decidirão a contar as patas de uma mosca?
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JOSÉ PACHECO Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto, foi professor da Escola da Ponte. Foi também docente na Escola Superior de Educação do IPP e membro do Conselho Nacional de Educação.
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