DOMINGOS SÁVIO BRUNO
Remexendo nas nossas lembranças, buscando informações do passado nas gavetas dos armários, sempre surgem novas idéias. E assim, neste mês de março, procurando sobre personagens ilustres da nossa cidade, eis que surgiu um nome: Licínio Monteiro da Silva. Quem foi esse homem? Papa banana ilustre? Isso sim. Mas também um dos mais nobres e ilustres políticos várzea-grandense. Também considerado um dos mais inteligentes deste estado. Homem honrado, nobre vulto desta terra, digno de muitas homenagens e destaque, como a do Honório Laucídio Galvão, no seu livro "Papa-bananas ilustres", em que destaca alguns personagens históricos da cidade vizinha de Nossa Senhora do Livramento, apesar de ser ex-prefeito da Várzea Grande/MT no período de 1953 à 1957.
Licínio era filho de médio pecuarista, sempre teve vida de muita luta, conforme descreve Joacil Ribeiro da Silva no seu Livro “Licínio Monteiro Glórias & Vitórias – Vida e Obra”. Que relata que desde pouca idade já trabalhava, e apesar de não ser poupado das lidas, apenas recebia ocupações mais suaves. Porém vem a comprovar que trabalho enobrece e dignifica... Licínio Monteiro da Silva, eis um belo exemplo de gente trabalhadora! E conforme afirma Ribeiro, não só a infância de Licínio, mas de todos os seus irmãos foram marcadas pelo trabalho e pouca brincadeira. Por falta de recursos humanos e de grupo escolar, teve inicialização escolar com sua mãe, dona Margarida, mas depois veio juntamente com os irmãos para estudar na Capital em 1912.
Licinio Monterio da Silva, de família tradicional, nascido em 17 de março de 1903, foi introduzido na política aos trinta anos de idade após retorno de viagem ao Rio de Janeiro, quando esteve em contato com o ex-governador do estado de Mato Groso e médico cuiabano, Dr. Mario Correa da Costa, que também era um conceituado profissional e político, e estabelecido naquela cidade.
Entusiasmado com convites feitos pelo ex-governador ao retornar a Cuiabá, com principal apoio da sua esposa dona Bebé, e de seu cunhado, tornou-se político, mas sem pretensões próprias, conforme relatos.
Em 1934 vitorioso na sua investida política, com a eleição de Mário Corrêa para governo do estado, afastou-se temporariamente para atuar nas suas tarefas cotidianas.
Licínio voltou a política no governo do interventor Ari Pires em 1937. Exercendo cargos de Membro fiscal da Santa Casa da Misericórdia. Já em 1941 deslanchando na vida pública e acumulando diversos cargos, na maioria sem remuneração, assim fazendo por mais de uma década, onde muitas vezes, segundo Ribeiro, deixando suas atividades particulares em segundo plano.
Em 1946, entrou de vez para a política, sempre incentivado pela esposa e pelo seu cunhado Aristides Pompeu de Campos, vencendo sua primeira eleição para Deputado Estadual por votação expressiva para a época, empossado em 20 de março de 1947, para o seu primeiro mandato, que ainda se reelegeria por mais quatro vezes, ou seja, 1951, 1953, sendo que em 53 renunciou e nessa época introduziu seu filho Sebastião Monteiro na vida pública. Licínio voltou a a vida pública em 03 de outubro de 1958. E foi reeleito no pleito seguinte... com a mesma sensibilidade de homem público, político, defensor de trabalhadores rurais e dos mais oprimidos pelo sistema.
Como Prefeito da nossa cidade de Várzea Grande, se elegeu em 26 de abril de 1953. Assumindo o comando logo em 27 de julho. E frente à prefeitura, sua primeira preocupação fora com o crescimento desordenado e mandou elaborar a reorganização da planta cadastral da cidade para ordenar o crescimento urbano.
Um dos seus maiores feitos na época foi a reversão do veto da construção do aeroporto, tendo ido até ao Rio de Janeiro e com toda sua diplomacia nata, convenceu o Ministro sobre a relevância daquela construção, e que não houve contra argumentos. Os engenheiros vieram e vistoriaram o local e aprovaram a obra convencidos e impressionados com a atuação do Prefeito Licínio Monteiro da Silva.
Licínio entregou o Paço do Couto Magalhães ao Engenheiro Júlio José de Campos em 1957.
Após ter completado 12 anos e 03 meses e 13 dias como legislador frente à Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, Licínio Monteiro recebeu em sua casa, o importante convite, pessoalmente feito pelo então Governador Fernando Correa da Costa, para assumir o honroso cargo de Ministro do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso. E para tanto foi necessário renunciar a mais de 03 anos que ainda restava do último mandato do legislativo estadual, em 8 janeiro de 1964. E atuou por quase 9 anos a serviço desse Tribunal, tendo presidido a casa nos anos de 1968 e 1972.
De acordo com informações extraídas da Publicação: “Cinqüenta Anos de História do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso – 1953 -2003, de Maria Adenir Peraro, Neila Maria Souza Barreto, Maria Aparecida Borges Barros Rocha, Licínio “Ocupou ainda outros cargos, como Presidente da Junta de Controle da FUSMAT e da Associação Rural (COMAPAN), tendo sido um dos fundadores do jornal O Social Democrata, ao lado do Senador Filinto Muller”
“Quando de seu afastamento do Tribunal de Contas, foi realizada uma sessão especial em sua homenagem. Nessa ocasião, o Conselheiro Presidente, Benjamin Duarte Monteiro, despediu-se do amigo que deixava as funções: A presidência deseja saudá-lo em nome do Tribunal e expressar seus sentimentos, a sua homenagem ao nobre companheiro que conviveu conosco tanto tempo e bons serviços prestou aqui no Tribunal. Vossa excelência, Conselheiro Licínio Monteiro, vai daqui se retirar e pode ficar certo que aqui deixa amigos. Quando tudo parecia triste, a sua risada alegrava e dela também vamos achar falta, porque V. Ex™, realmente, foi um bom amigo, um amigo de todos, em todas as horas.”
“Licínio Monteiro da Silva tem projeção definida e definitiva na história política mato-grossense em função de sua personalidade marcante e atuante por mais de quatro décadas nos diversos cargos públicos a que ascendeu com especialidade os eletivos, quando pode demonstrar o carisma em memoráveis urnas eleitorais.”
Licínio Monteiro após brilhante atuação e desempenho comprovado, requereu e teve sua aposentadoria homologada no dia do seu aniversário: 17 de março de 1973. Assim, continuou a contribuir participando da vida publica.
“O Conselheiro Licínio Monteiro da Silva faleceu em 1º de outubro de 1992, aos 89 anos de idade, na cidade de Cuiabá.”
O seu vasto curriculum e inteligência extraordinária, somada a sua gigantesca visão, serviram para fazer com que este nobre político fosse lembrado sempre pelos seus feitos e pela dignidade e pelos seus atos distintos de somar e aglutinar seguidores. Agindo sempre com diplomacia e grandiosidade de espírito.
A nossa cidade deveria tê-lo e sempre lembrá-lo, como modelo e exemplo a ser seguido. Várzea Grande tem gente de nome na história. E Licínio Monteiro da Silva faz parte da nossa história.
*DOMINGOS SÁVIO BRUNO é Engenheiro Florestal - saviobruno@terra.com.br