sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Temos que reinventar a educação brasileira


entrevista com Pedro Demo, publicada na edição 441, outubro de 2013.

Pedro Demo professor emérito da Universidade de Brasília, doutor em Sociologia pedrodemo@gmail.com
 
Dados recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apontam que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) avançou no Brasil. Porém entre os três itens analisados – longevidade, renda e educação – o que menos cresceu foi o último. Ainda é um grande desafio qualificar o ensino público e garantir que as crianças aprendam, após anos de escola. Em outubro, quando comemoramos o Dia dos(as) Professores(as), acreditamos ser uma oportunidade de refletir sobre as mudanças necessárias à educação e sobre a importância de valorizar os(as) professores(as). Para isso, conversamos com Pedro Demo, professor emérito da Universidade de Brasília, doutor em Sociologia, com mais de 90 livros publicados.
  • Como está a educação do Brasil, comparada à de outros países?
Infelizmente, na comparação internacional nós temos uma imagem muito deficitária. Nossos dados nos aproximam de certa forma mais da África. No IDH nós estamos no 85º lugar, que é um dos mais baixos da América Latina. Temos tido muita dificuldade de arrumar isso, porque a nossa escola pública, que abriga 95% dos estudantes no Ensino Fundamental, literalmente é assim uma coisa de pobre para o pobre. Acho que o desafio mais importante é o professor. O Brasil não está cuidando do professor. Aqui, professor é uma das piores profissões que a sociedade oferece. O piso salarial é infame, completamente inaceitável. Todas as grandes mudanças que se fizeram na educação, por exemplo, nos países asiáticos ? Japão, Coréia e Singapura ?, que disputam o melhor lugar no mundo em termos de desempenho, começaram pelo professor. Montaram uma bela carreira, atrativa, que pega as melhores cabeças da sociedade. A gente pode ver na cara deles que a educação vale a pena. Aqui não. E nós não conseguimos avançar.
  • Mas tivemos alguns avanços, sobretudo na questão da avaliação.
Sim, criamos alguns sistemas de avaliação, mas que mostram que nós estamos indo muito devagar. A própria avaliação do Ideb é um pouco enganosa, porque é facilmente adulterada. Então nós temos um sistema de ensino que não consegue progredir. Ele é feito para dar aula. Não é feito para o aluno aprender. Nós temos muita aula. Aula de tudo que é jeito, mas não é voltada para a aprendizagem dos estudantes. Os estudantes não têm um bom aprendizado.
  • Existe uma movimentação da sociedade por mais investimento na educação. Isso pode resolver?
Isso também é outra coisa angustiante, porque todo mundo quer ver mais dinheiro em educação, mas muitas vezes é um dinheiro jogado fora. Não adianta investir na escola que temos hoje, porque é uma escola onde não se aprende. Precisaríamos recomeçar, como os Tigres Asiáticos recomeçaram. Eles reinventaram a escola, reinventaram o professor. Aí sim vale a pena pedir 10% do orçamento para a educação, e será um grande investimento. Eu tenho a impressão de que uma das coisas que mais favorece o desenvolvimento de um país é uma população bem qualificada, que nós não temos. Para se ter uma ideia, o movimento Todos pela Educação apresentou um dado de que, chegando ao fim do Ensino Médio, só 10% sabem Matemática. São 12 anos para 10%. É um aproveitamento absolutamente triste. É um país que não aprende e quer fazer parte do Primeiro Mundo.
  • As diversidades regionais do nosso país não são um agravante para os nossos problemas?
Isso complica, sim. Porque é um país muito diverso e precisa de muitos esforços diversificados. Consomem-se muitos recursos também com isso. Mesmo assim isso não é um problema de outro mundo, porque outros países enormes, como os Estados Unidos, superaram essa dificuldade. O problema maior é nosso sistema de ensino. Existem dados que mostram que quando se aumentam as aulas, os alunos, em geral, aprendem menos. O aluno não vai para a escola para escutar. Ele vai para a escola para escrever, para produzir, para fazer o seu conhecimento, para participar da sociedade do conhecimento. Não quer ficar como um ouvinte, copiando as coisas. Todo mundo sabe que isso está errado, mas a gente insiste nisso.
  • Que modelos existem no mundo que a gente segue ou deveria seguir?
Penso que todo país, de certa maneira, precisa inventar a sua proposta. A gente não pode ficar copiando. Por exemplo, Singapura teve muito êxito. Há 30 anos atrás ela não era nada e agora tem um dos melhores desempenhos do mundo. Mas Singapura era um país ditatorial e é lá do Oriente. Não tem nada a ver conosco. O que a gente pode aprender daí é que Singapura teve cabeça para fazer uma proposta própria. Valorizaram muito o professor e optaram por uma escola onde realmente o aluno aprende. Eles abandonaram a ideia do ensino. Só ficaram com a aprendizagem. Aqui nós estamos sempre atrás de um sistema de ensino. O que tem de sobra na escola é aula. O que tem de menos é aprendizagem.
  • O que significa ensino e o que significa aprendizagem?
Aprendizagem é uma coisa mais centrada no aluno. Mas nós sabemos hoje que o aluno aprende bem quando o professor aprende bem. Você tem que conseguir que o aluno se forme. Na verdade, é um movimento que você anima de fora, motiva de fora, mas acontece lá dentro, na cabeça das pessoas e da sociedade. Essa virada é muito importante. Você vai para a escola para aprender. Teria que mudar muito a formação original. Bom professor é aquele que, além de ganhar bem, sabe ler, sabe pesquisar, sabe produzir, tem texto próprio, é um protagonista da sociedade do conhecimento. O ensino tem muito de adestramento. Nem a cidadania aparece.
  • E o currículo?
O currículo é uma organização oficial dos conteúdos que a gente imagina necessários para cada ano. Há uma tendência hoje de reduzir a carga curricular. Por exemplo, para o estudo da Matemática, o Japão adota dez tópicos. O Brasil adota 40 ou 50. Ficam entupindo a criança. O Japão sempre tira os primeiros lugares nas Olimpíadas de Matemática. Eles adotam dez tópicos, mas fazem bem os dez. Os estudantes participam intensamente e por isso o Japão conseguiu que a matéria preferida pelos estudantes na escola é Matemática. Eles fazem muita gincana, muita competição, muita farra em torno da Matemática. No Brasil a Matemática ainda é um horror. E como é que a gente entra no Primeiro Mundo sem Matemática? Isso é ciência, e ciência a gente aprende não é fazendo aula. Precisa de laboratório, de museu de ciência, levando a ciência ao cotidiano da pessoa.
  • Mas implicitamente nós estamos seguindo alguns modelos?
O nosso modelo é o que nós chamamos tecnicamente de instrucionista. Na escola a gente faz instrução. Faz treinamento, mas não aprendizado, não formação. Porque o aluno fica lá escutando aula, tomando nota e fazendo provinha. E isso prepara para o século passado, mas não para o século futuro. Estamos também muito distantes das novas tecnologias. Há uma resistência muito grande da pedagogia e também do governo, insistindo que os cursos têm que ser presenciais. A nova tecnologia está aí e todo mundo precisa de computador e internet, sobretudo as crianças que vão viver nesse mundo. Mas a escola, a pedagogia se permite ignorar isso. Também não acho que novas tecnologias vão resolver tudo. Não é uma coisa mágica, mas elas invadiram tudo e se pode aprender melhor com elas. A primeira inclusão tem que ser do professor. Nós erramos, achando que colocar o computador na escola resolve. Primeiro temos que colocar o computador na cabeça do professor, porque ele é que tem que decidir o que fazer com o computador e também evitar os riscos que o computador traz para a criança. Tudo o que você quer mudar na escola com alguma profundidade tem que passar pelo professor.
  • Fala-se hoje em autoria. O que significa isso?
A questão da autoria está na moda no mundo todo porque recebeu um empurrão das novas tecnologias, que a gente tem chamado de web 2.0. Está baseada na produção de conteúdo próprio. São plataformas que não são feitas para copiar, só transmitir, reproduzir. Mas você tem que montar, construir, elaborar alguma coisa. Um exemplo mais convincente é a Wikipédia. Para você se meter na Wikipédia tem que levar texto seu. A mensagem importante é de que aprender é fazer texto próprio, é construir suas coisas, não é ficar escutando aula, copiando, repassando. Não adianta estar numa escola onde o aluno não é convidado a fazer a sua produção, onde é convidado apenas para escutar e a fazer provinha. Nós estamos na contramão da história e ficando para trás. Eu penso até que a dificuldade que nós temos hoje do crescimento da economia já é um reflexo disso. Não temos população qualificada para uma economia boa.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Família e escola: parceiras na formação do sujeito aprendiz

entrevista com Isabel Parolin, publicada na edição nº 435, abril de 2013.

Isabel Parolin psicopedagoga, autora de diversos livros e consultora institucional, Curitiba, PR. http://www.isabelparolin.com.br
 
O diálogo entre família e escola tem sido tema de muitos debates educacionais nos últimos anos. Todos nós, de certa forma, já refletimos sobre de quem é a responsabilidade de educar as crianças e os jovens. Neste mês, o jornal Mundo Jovem se propõe a discutir como essas diferentes “instituições” podem, em conjunto, contribuir para que a educação seja melhor. Para isso, conversamos com a escritora e psicopedagoga Isabel Parolin, que aborda estas e outras tantas questões sobre a família e a escola.
  • De quem é a tarefa de educar as crianças e os jovens, hoje? Realmente há uma grande dúvida, porque as famílias, a comunidade de um modo geral, imaginam que só se aprende na escola. Isso é uma crença enganosa. Na escola nós aprendemos, sem dúvida alguma, mas não é só lá que isso acontece. Costuma-se dizer que é um espaço privilegiado para se aprender. No entanto aprende-se de uma forma diferente do que se aprende na família. Quando se coloca um filho na escola, ainda que lá seja um espaço para aprendizagem, não se pode achar que ele vai aprender tudo ou que a escola conseguirá ensinar tudo que ele precisa aprender para bem viver. Por exemplo, a escola também ensina valores e algumas coisas que a família ensina, porém de forma diferente, com encaminhamento diferente e uma pontuação diferente. A família precisa ser educadora, ensinar seu filho, porque é ela quem constitui o sujeito, a pessoa, a forma de ele entender o mundo, de ler o mundo. Isso tudo é fruto da qualidade da relação que ele tem com a família. Todos têm uma forma de manifestar a sua religiosidade, de se alimentar, enfim ? isso são coisas que vão construindo o sujeito, que vão construindo um olhar sobre o valor da refeição, da união, da família, ou seja, uma forma de entender o mundo e de vivê-lo. Diferente do que acontece na escola. A escola tem recreio, tem hora de lanchar, e essas experiências, juntas, encaminham a formação do cidadão. Ambas trabalham para a mesma pessoa, mas com métodos diferentes.
  • São responsabilidades que se complementam? Sim, são complementares. As famílias, erroneamente, transferem para a escola responsabilidades que são suas. Por exemplo, a respeito da forma de se alimentar há uma queixa grande por parte das mães. A escola pode oferecer um lanche balanceado, mas, para que a criança aprenda de verdade, ela precisa saber do valor de uma nutrição adequada. Ela vai aprender na escola a diferenciar a hortaliça da verdura etc., mas quando chegar em casa precisa que a família faça isso para que ela tenha esses conceitos como verdade. E é isso que muitas vezes não acontece na relação família e escola. Existe uma transferência de tarefas, e assim a validação fica difícil. O exemplo é fundamental na aprendizagem. Quando isso não acontece, o discurso fica vazio. Por isso é que os pais queixam-se: "Eu digo, mas ele não faz!". Outro exemplo é com relação à lição de casa. A lição de casa é do aluno. O que os pais precisam é ter uma rotina em casa para valorizar a tarefa do filho. Existem pais que dizem o seguinte: "A escola passa lição para casa, mas eu trabalho o dia inteiro, como é que vai ser?" Não tem problema algum. É só desenvolver uma rotina adequada, hábitos adequados, ensinar para o filho que a responsabilidade de fazer a lição é dele e que depois a professora corrige. A construção do sujeito é da família, e a construção do aprendiz é da escola.
  • Quais são os ganhos quando família e escola formam uma parceria? O resultado é um cidadão adequado. O ganho que uma pessoa tem é o fato de aprender a fazer uma leitura adequada do mundo e a consequente inserção social. Essa pessoa vai aprender a respeitar uma fila, a atravessar a rua na faixa de segurança, porque existe uma disciplina de trânsito que possibilita que a pessoa esteja mais assegurada e uma prática social que valida essa conduta e essas leis. Se você observar, há toda uma repercussão social negativa quando há falta de entendimento do adequado fluxo social. Os pais e os avós ficam muito felizes quando as crianças têm aula de trânsito. As escolas têm projetos para educação no trânsito, mas na hora de ir para a cidade com a família, seja de carro ou de ônibus, alguns pais não agem corretamente. Aproveitam o sinal amarelo, não atravessam a rua na faixa de segurança... Não se comportam de forma que a criança veja que o que ela aprendeu na escola é validado na sociedade. E daí a criança começa a não perceber direito o que é verdade e o que não é; o que é importante saber e o que não é importante.
  • A integração entre escola e família é, então, uma responsabilidade social? A escola tem sido a grande parceira da família. Antigamente, as pessoas procuravam outros núcleos como igreja, centros comunitários etc. Hoje, as pesquisas têm mostrado que, na hora de buscar apoio, as famílias recorrem à escola. Inclusive uma consulta em postos de saúde revela que, quando é solicitado um exame neurológico, por exemplo, a família busca se certificar com a professora se aquilo é adequado. Isso representa que realmente a escola tem uma responsabilidade social importante e que ela ajuda a família a pensar os rumos que vai tomar. Muitas escolas, inclusive, perdem o mote da sua tarefa, que é provocar aprendizagem sistematizada, porque se perdem no atendimento às famílias, como se o pátio da escola pudesse se transformar num quintal de casa. Mas esse não é o caminho. As escolas de pais, por exemplo, atendem as demandas das famílias de uma forma muito bacana. Existem também as palestras e outras iniciativas. E uma coisa que vale destacar é o fato de que as escolas que tiveram melhor média no seu Ideb apontaram que fizeram um trabalho com os pais. Esse é um dado interessante, porque se espera das famílias que cumpram o seu papel de formadoras do sujeito, assim como se espera da escola que cumpra o seu papel de ensinar e provocar as aprendizagens necessárias para que essa pessoa, realmente, viva seu papel cidadão.
  • Quais problemas são percebidos quando os pais não acompanham a vida escolar dos filhos? Os problemas são bem visíveis, pois falta um pilar nessa construção: os índices baixíssimos que o Brasil tem de qualidade de educação (é o 84º país no IDH). Especialmente se considerarmos que somos a sexta economia do mundo, isso dá um disparate imenso. Há pais que não estão preocupados com o que o filho aprende, apenas querem saber se o filho foi aprovado no final do ano. Mas aprovado significa que o aluno sabe, que ele aprendeu? Com isso não estou eximindo a escola de sua responsabilidade. Acredito que a escola deve ensinar com o apoio da família ou apesar da família que a criança tenha. Um cidadão é um aprendiz, que se apropria do conhecimento historicamente acumulado na sociedade e cientificamente desenvolvido, e o torna instrumento para o bem viver e conviver. A pessoa que tem conhecimento articula o pensamento e torna-se um sujeito melhor.
  • Há responsabilidade da família para o insucesso dos índices da educação? Atenção: é da escola a responsabilidade de ensinar a ler, escrever, resolver situações problemas, entender o funcionamento do mundo através do entendimento das ciências, história etc. A família é parceira, que viabiliza, que dá suporte e que potencializa. Mesmo que a escola nem sempre ensine de forma exitosa, pois ainda se tenta ensinar muito conteúdo sem significado para os alunos, a criança ou o jovem, quando lê um jornal, precisa conseguir identificar, por exemplo, um fato geográfico nessa notícia. Caso contrário, não terá nenhum sentido ler a notícia, pois não entenderá a mensagem. Um dos motivos pelo qual o aluno não faz articulações é porque a sociedade, hoje, pouco conversa e muito pouco lê. Os pais ficam horas no Facebook, na frente da televisão, ou vão para o shopping comprar, deixando a criança sozinha, sem orientação e, geralmente, com brinquedos eletrônicos. Por isso é uma sociedade que pouco pensa. É importante pensar sobre a vida, conversar. Sem dúvida alguma, o êxito de uma criança ? do ponto de vista de ela se tornar uma pessoa sábia, conhecedora, com uma inserção social bacana ? tem a ver com uma boa escola que ensine e uma família que eduque.
  • As novas configurações familiares acarretam novos desafios para o acompanhamento escolar dos filhos? Sem dúvida, é um grande desafio. Será muito importante um diálogo diferente, uma forma de ver essa relação diferente. Por exemplo, escuto as pessoas dizendo que "avós não têm compromisso de educar". Mas o IBGE mostrou que muitos avós, hoje, ficam com a responsabilidade de encaminhar o dia a dia dos netos. Neste caso, não se pode afirmar que são só avós daquela criança. Eles são seus educadores. Quando os avós criam um neto, eles são tudo na vida daquela criança. Assim também os padrastos ou madrastas não podem se eximir de suas responsabilidades. A tarefa de educar é de todos. As reuniões com pais precisam acontecer até para que os pais tirem suas dúvidas e se formem pensadores, pensando junto com a escola a respeito de alguns aspectos que a família não tem pensado.

Integração pela escola de pais

A relação entre escola e família pode ser trabalhada pelo que se chama escola de pais, que se apresenta de várias formas. Há escolas que fazem reuniões mensais com os pais, desenvolvendo temas gerais: limites, como a pessoa aprende, como se forma um leitor etc. Existem instituições que promovem encontros com os pais a cada três ou quatro meses. Depende muito da formatação e da necessidade da escola. Mas o ideal seria que as escolas tivessem uma rotina de acolher os pais para trabalhar temas vinculados à vivência do dia a dia de educar uma criança na sociedade.

Inicialmente, é muito difícil os pais irem até a escola. Os grupos começam tímidos, mas aí a escola monta uma forma de atrair esses pais para as reuniões. E, na medida em que começam a participar, vão percebendo a importância e passam a ser multiplicadores.

Os pais atrapalham a escola quando não há clareza das fronteiras relacionais que se deve estabelecer e quando eles não podem usufruir de um processo de informação. O ideal é que a escola mostre para a família o que ela vai fazer de bom para o filho e oriente-a a respeito do que está faltando na educação da criança. Vale lembrar que a criança em casa é filho e na escola é aluno; papéis diferentes com pautas de desempenho diferentes.

Quando vão tomando conhecimento desses assuntos, os pais sentem-se mais seguros para participar na escola de uma forma mais adequada. Só que esse é um conhecimento que a escola tem que articular.

E a escola também transfere muitas coisas para a família. Não raro uma professora chama os pais e comunica que seu filho não está aprendendo... Quando necessário, a escola tem que chamar os pais, explicar que o processo de educação não acontece pela pressão, explicar que a escola tem projetos pensados para provocar aprendizagens. É comum encontrar, nas agendas, bilhetes de professores para os pais com o seguinte recado: “Seu filho está indo mal nas avaliações. Favor providenciar que ele estude”. Mas esta tarefa é da escola: recuperar a aprendizagem do aluno. Tarefa da família é garantir que ele vá à escola, faça seus temas de casa e estude.

Na maioria das escolas que se propuseram a promover escola de pais, os resultados são excelentes. Não funciona quando a escola traz os pais e não tem muito clara a fronteira que há entre eles e ficam num jogo de empurra. Quem sai perdendo é a criança que não aprende, e a sociedade que perde um cidadão adequado para o bom convívio.

Políticas sociais: para que todos tenham direitos



entrevista com Giovane Antonio Scherer, publicada na edição 442, novembro de 2013.

Giovane Antonio Scherer assistente social, mestre e doutorando em Serviço Social, da Faculdade de Serviço Social da PUCRS. giovane.scherer@pucrs.br
 
Mesmo que o Brasil tenha avançado muito nos últimos anos em termos de inclusão social e de políticas públicas para quem mais precisa, ainda permanecemos um país extremamente desigual. Segundo dados recentes, publicados pela revista Forbes, as 124 pessoas mais ricas do Brasil acumulam cerca de 12% do PIB. Esse é o verdadeiro escândalo brasileiro que deve lotar as ruas de manifestantes, por um lado, e, por outro, é a razão da necessidade e da urgência de políticas sociais na direção da equidade. Sobre este tema conversamos com o professor Giovane Antonio Scherer, assistente social, mestre e doutorando em Serviço Social, da Faculdade de Serviço Social da PUCRS.
  • O que são as políticas de inclusão?
Quando falamos em política, falamos em política pública, isto é, uma resposta dada pelo Estado a determinadas demandas da sociedade. As políticas públicas materializam-se em diversos segmentos, de diversas formas. Assim como nós temos uma política econômica, temos também a política social. Dentro da política social surgem muitas nomenclaturas: políticas de inclusão, políticas compensatórias, entre outras. O termo mais adequado seria políticas sociais, até porque inclusão é um tema muito questionado dentro do ambiente acadêmico.
  • Por que o questionamento sobre inclusão?
O que é inclusão e o que é exclusão? O que seria ser um excluído? Muitos autores falam de uma inclusão precária, ou seja, as pessoas estão dentro de algum segmento, de algum mercado, mas de uma forma precarizada. Essa dialética de inclusão-exclusão, às vezes, se torna uma armadilha. Por exemplo, se fala muito em exclusão social, mas o que é estar incluído ou excluído socialmente? Todas as pessoas participam da sociedade de alguma forma, até os moradores de rua estão inseridos dentro da sociedade e participam de alguma forma, mesmo que seja uma inclusão precária. Então eu penso que o termo mais correto para tratar essa forma de política seria política social.
  • Por que há necessidade de políticas sociais?
Principalmente a partir da Constituição de 1988, formou-se um marco para a política social. Voltando um pouco na história, podemos perceber que a política social se constitui numa luta por direitos. E a política social é uma forma de materializar esse direito. Nos primórdios do século 18, quando se rompe com a lógica absolutista da sociedade, temos o início da luta pelos direitos humanos. E a política social, então, vem dar respostas em função de pressões da sociedade, que foi se organizando e buscando pressionar o Estado para obter respostas às suas demandas, suas necessidades sociais. O Estado vai cedendo a essas demandas também por interesse em manter seu status quo, para manter o contexto apaziguado. No Brasil a gente tem a primeira aproximação com essa lógica da política social com Getúlio Vargas. Era uma lógica bem populista, de forma assistencialista, isto é, voltada para a benesse. Porém com a Constituição de 1988 é que se dá o marco histórico em que a política social se constitui numa política universal, principalmente por um tripé que se chama seguridade social, composto por: uma política de saúde (uma política universal para todas as pessoas); uma política de assistência social (para quem dela necessitar) e uma política de previdência social (para atender o trabalhador contribuinte em algumas ocasiões especiais da sua vida, por exemplo, na velhice, na doença etc.). Essas três políticas são centrais e foram desenvolvidas ao longo do tempo.
  • Em que áreas as políticas sociais são mais visíveis?
Temos que reconhecer no Brasil um avanço de todas as políticas sociais, mas percebemos que nesse avanço também há alguns retrocessos. A lógica da Constituição de 1988 é de uma política universal, para todas as pessoas. E cada vez mais percebemos alguma privatização, uma ausência do Estado para as políticas sociais. É o caso da saúde, muito fomentado nas manifestações sociais. A política de saúde é uma política universal, mas em função de um contexto de precarização e privatizações há um aumento do mercado, em que o Estado se retrai e o mercado se expande, transformando um direito social, conquistado historicamente, em uma mercadoria. Uma outra política que cresce muito, também com seus avanços e retrocessos, é a política de assistência social. Hoje se tem um sistema único de assistência social para amparar o sujeito nas suas demandas sociais. Há todo um avanço na arquitetura dessa política pública, nos serviços que ela oferece e separado por níveis de complexidade, para atender todas as demandas dessa sociedade. Então, é uma época de fomento de política social no Brasil todo, mas também é um momento de desafios, porque todo avanço é também um retrocesso nesse contexto, principalmente em função dessa lógica do desmantelamento e da precarização da política social, fomentada no contexto mundial por determinações políticas, econômicas, com a finalidade de uma diminuição do Estado.
  • As políticas sociais não deixam as pessoas dependentes e acomodadas?
Na verdade, esse discurso tem a ver com a questão ideológica. Essa forma de compreender que a política social acomoda as pessoas é uma forma reducionista e preconceituosa de compreender o contexto da política social. Porque a política social é pensada numa visão equitativa, isto é, para possibilitar que as pessoas possam se aproximar desse contexto de igualdade, pois nem todas as pessoas são iguais. A política social é pensada para garantir os direitos. A própria gestão da política deve ser pensada para um lógica de participação e não de acomodação ou de subalternidade. Essa é a grande diferença entre a lógica assistencialista (de simplesmente dar) e para uma política social que deve ser pensada e executada para atender todas as demandas do sujeito. Na verdade, a política social não é simplesmente a doação, ceder alguma coisa, mas é também possibilitar que todos tenham acesso a bens e serviços, que de outra forma talvez não teriam. O discurso de que a política social acomoda é uma ideologia bastante liberal, simplesmente para desmantelar direitos duramente conquistados.
  • Mas a política social pode emancipar o sujeito?
Na própria prática profissional do serviço social podemos ver diversas famílias beneficiárias de um programa ? por exemplo, o Bolsa Família ? que conseguem, a partir do acesso a cursos profissionalizantes, deixar o benefício e poder buscar o seu trabalho, seus direitos, seguir sua trajetória de vida. Nem todas as políticas são compensatórias. Por exemplo, existem políticas sociais de proteção contra a violência, contra a violência sexual, ou seja, existem várias políticas sociais que visam a dar conta dessa totalidade que é o sujeito. Nós não somos parte separada, nós somos um contexto integral.
  • Será que algum dia as políticas sociais não serão mais necessárias?
A política social como um todo não vai ter fim e não deve ter fim na sociedade em que vivemos. Porque a sociedade, da forma em que está organizada, no modo de produção capitalista, sempre vai gerar um impacto social negativo: pessoas fora do mercado de trabalho, processos precarizados, processos de violência. Por isso, nesse sistema econômico, a política social vai ser sempre necessária. O que pode acontecer é uma forma de diminuição da política social em função de um retrocesso do Estado, retrocesso de direitos. Mas existe uma série de lutas para que as políticas possam ser ampliadas, efetivadas, ao invés de serem reduzidas. Talvez a muito longo prazo, com um novo sistema econômico e social, com uma outra forma de organização da sociedade, aí sim, poderia a política social chegar a um fim; mas isso não é possível no modo de produção capitalista, em razão da funcionalidade da política social.
  • Como são as políticas sociais em outros países?
Existe no mundo um sistema de proteção muito mais desenvolvido do que no Brasil. Não é coisa de países periféricos ou socialistas. É coisa de país capitalista de se gestar, de se constituir enquanto país. Não é uma particularidade do Brasil. As lutas por direitos são lutas históricas do mundo inteiro que atravessam a própria história do país. Por exemplo, alguns sistemas de proteção que existem na Europa, sistemas mais abrangentes, com políticas não fragmentadas, universalistas. Os estudiosos apontam no sentido de que há necessidade de ampliar ainda mais a política social, e não reduzi-la. Que todas as pessoas possam ter acesso a ela. Na questão das cotas de algumas universidades públicas, seria mais coerente que as pessoas não precisassem dessa forma de disputa como acontece hoje. Se todas as pessoas tivessem acesso à educação, se não houvesse a redução desse direito à educação de qualidade, que é universal, não haveria necessidade de cotas.

Ações afirmativas: e eu com isso?

Se você é estudante de escola pública ou privada já deve ter ouvido falar de cotas nas universidades, e sabe quais as implicações delas na vida acadêmica. Desde 2002, diversas universidades públicas brasileiras têm implementado modalidades de ações afirmativas – como as cotas – para permitir o ingresso diferenciado para determinados grupos sociais, como negros e indígenas.

Desde 1968, quando técnicos do Ministério do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho se mostraram favoráveis à criação de lei que obrigasse as empresas privadas a manter uma porcentagem mínima de empregados negros, o Estado brasileiro e a iniciativa privada têm promovido políticas afirmativas em diferentes âmbitos da vida social – relações empregatícias, serviços de saúde, sistema eleitoral e na educação – voltadas para o enfrentamento imediato de barreiras econômicas, sociais e/ou culturais que dificultam a inclusão social.

Compensar desigualdades

No âmbito educacional, as políticas afirmativas têm por propósito compensar, em parte, a gritante desigualdade e exclusão preconizada pelas práticas tradicionais de ingresso e permanência universitária, que não levam em conta: 1) as disparidades da formação básica dos estudantes de escolas públicas para com os de escola privada, além do percentual mínimo de ingresso de estudantes negros e indígenas; 2) as dificuldades de permanência do estudante durante o percurso acadêmico, o que exige “novos acessos” diferenciados a recursos econômicos e materiais que subsidiem a formação pedagógica e a qualidade de vida.

Sem dúvida, a “onda” do momento são as cotas, modalidade em que parte das vagas do vestibular é separada para ser concorrida exclusivamente por estudantes de determinado público-alvo, como estudantes negros (cotas raciais), de baixa renda ou oriundos das escolas públicas (cotas sociais) e estudantes indígenas (cotas étnicas).

Cabe lembrar que atualmente as cotas vêm sendo preteridas, em muitas instituições, por outras modalidades de ingresso diferenciado, a exemplo das reservas de vagas – em que um público-alvo específico concorre em vestibular diferenciado, que ocorre separado do vestibular tradicional, a fim de respeitar a diversidade sociocultural – e as turmas especiais – em que toda uma turma (ou curso) é criada para incluir somente estudantes oriundos de um determinado público-alvo. Assim é o Curso de Etnodesenvolvimento, da Universidade Federal do Pará, criado em 2010 para incluir estudantes pertencentes aos povos e comunidades tradicionais e aos movimentos sociais.

Debate acirrado
De modo geral, o debate sobre as ações afirmativas apresenta-se marcado pela polarização dos discursos entre favoráveis e contrários, tendo em vista, basicamente, duas perguntas: estas políticas são justas? E mais, elas funcionam?
Em primeiro lugar, a ideia de justiça está vinculada à concepção de igualdade e liberdade que cada posição enfatiza. Para os contrários às ações afirmativas, estas violariam o princípio da igualdade entre as pessoas ao outorgar “privilégios” de promoção social a determinados segmentos ou indivíduos. Isto resultaria numa afronta ilegal à liberdade de concorrência, que toma como medida a capacidade intelectual de cada um para alcançar, por méritos próprios, as oportunidades e os objetivos de vida.

Por outro lado, os defensores das ações afirmativas procuram enfatizar que a livre concorrência ao “sabor do mercado” é uma forma de permitir a manutenção das exclusões sociais historicamente estabelecidas, principalmente porque isenta o Estado da responsabilidade de intervenção nas relações de poder que estabelecem condições sociais desfavoráveis à inclusão e participação de determinados grupos.

E quanto ao funcionamento ou eficácia das ações afirmativas em realizar aquilo que promete, será que isto ocorre? Apesar do breve período de existência de políticas afirmativas nas universidades brasileiras, estudos recentes demonstraram que estudantes cotistas têm alcançado notas iguais ou melhores do que estudantes não cotistas nos cursos universitários. Neste caso, o melhor caminho seria observar países onde as ações afirmativas existem há mais tempo, como nos Estados Unidos, cujo início data do final da década de 1960, e os resultados têm sido muito promissores na tarefa de incluir os negros nas universidades e nos empregos bem remunerados, além de fortalecer o respeito à diversidade racial.

Assis Oliveira, diretor da Faculdade de Etnodesenvolvimento da Universidade Federal do Pará (UFPA). Advogado.

Endereço eletrônico: assisdco@gmail.com

20 ANOS DE HISTÓRIA

ELIANE TEREZA LEPORONI DOS SANTOSelianeleporoni@hotmail.com

              A Escola Castelo Branco está localizada na cidade de Mirassol D’Oeste MT e neste ano completa 20 anos de sua fundação, formando cidadãos conscientes e preparando-os para o mercado de trabalho.
 Sua fundação se inicia com a história de vida da senhora Celma Conceição Cabrine, nasceu em Pirajuba em oito de Dezembro de 1960, filha de Menezes Cabrini e Dora Terezinha Bernardes Cabrini, cursou Magistério em Frutal - Minas Gerais; Pedagogia em Utuverava- São Paulo e Pós - Graduação em Teologia em Uberaba - Minas Gerais, cursos todos voltados à educação, pois estes eram seus propósitos de vida.
Em 31 de Agosto de 1988, Celma e sua família chegaram à cidade de Mirassol D’Oeste, a mesma sempre envolvida e dedicada à educação, trabalhou na escola Benedito Cesário da Cruz por oito anos.
No ano de 1991, Celma foi convidada pelas irmãs da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, para ser diretora e professora da Pré-Escola “Mundo azul”, à qual era situada no centro comunitário (antigo colégio das irmãs), lá Celma desempenhou além de professora e diretora muitas outras funções, pois não havia funcionários para auxiliá-la.
Passado algum tempo, decidiu-se que a escola iria fechar, porém, uma equipe pais de alunos percebendo a importância da educação para o futuro de seus filhos, solicitou a Celma Conceição Cabrini que a mesma desse continuidade à educação e  fundasse uma escola à qual pudesse suprir às necessidades que as crianças possuem quando iniciam sua vida escolar.
Com longo e árduo trabalho, no ano de 1993, a escola já possuía sede própria cujo nome é “CASTELO BRANCO”, tendo apoio financeiro de seu irmão Roberval Cabrini passou a ser administrada por Celma Conceição Cabrini. Um sonho concretizado e realizado...
Já no ano de 1998 a escola passou a oferecer além da Educação Infantil os Ensinos Fundamental e Médio.
Hoje a escola oferece aula de natação, quadra poliesportiva, laboratório de informática, amplas salas de aula, biblioteca, playground, e o método apostilado OBJETIVO, de excelente qualidade.  
Em 2001 esta escola fez parceria com o Instituto Cuiabano (de Cuiabá), oferecendo cursos de Psicopedagogia e Educação Interdisciplinar, mais tarde com a UNIC (de Cuiabá), oferecendo cursos de Pedagogia, Administração, Ciências Contábil e Biologia.
Neste ano de 2013 haverá mais uma parceria com a FQM (de São José dos Quatro Marcos), oferecendo cursos técnicos.
Em 27 de Agosto deste ano esta renomada escola completará 20 anos de sua fundação, nasceu com o objetivo de formar alunos críticos e ser referência neste município, atendendo consistentemente requisitos para uma boa educação, um corpo docente altamente capacitado, e respaldo da direção, coordenação, secretárias e agentes de limpeza. Conquistou a credibilidade da comunidade Mirassolense. Sem que houvesse a participação efetiva de todos não seria possível tamanho sucesso!
A homenagem ao aniversário de fundação desta unidade de ensino também se dá a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para o crescimento da mesma, pois há um grande empenho de toda equipe escolar para que o trabalho desta escola seja realizado da melhor maneira possível e construir educação com qualidade, formando tantos profissionais em várias áreas como já temos em nossa cidade – ex-alunos formados e trabalhando como médicos, veterinários, nutricionistas, arquitetos, etc., é muito importante e gratificante!
É motivo de muito orgulho para a população mirassolense celebrar 20 anos da fundação desta unidade de ensino, e externar sentimentos de respeito e gratidão a Deus, que sempre nos abençoou nesta árdua e rica jornada...
PARABÉNS ESCOLA CASTELO BRANCO PELOS 20 ANOS DE HISTÓRIA...

A Trajetória da Educação de Jovens e Adultos


SILVA, Lucimar Antonia
lucimarsilvaa@hotmail.com

RESUMO: O presente artigo utilizou-se de um estudo bibliográfico acerca dos contextos históricos do EJA, além dos movimentos ocasionados por ela e teve como objetivo percorrer a trajetória da Educação de Jovens e Adultos (EJA) desde seu surgimento no Brasil até os dias atuais visando confrontar teoria e prática desta modalidade de ensino.

Palavras chaves: Educação de Jovens e Adultos - Teoria - Prática.

A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

De acordo com Haddad e Pierre (2000), a educação de adultos já vem sendo praticada a muito tempo no Brasil. No período colonial os religiosos já exerciam sua ação educativa missionária uma grande parte era adulta, ensinavam o evangelho e transmitiam as réguas de comportamento, inicialmente com os índios e após com os escravos e negros. 
A educação de letramento de adultos começou a delimitar seu lugar na história da educação no Brasil a partir da década de 1930, neste período, a sociedade brasileira passava por grandes transformações, associadas ao processo de industrialização e concentração populacional em centros urbanos.
Foi somente no final da década de 1940 que a educação de adultos veio a se firmar como um problema de política nacional, mas as condições para que política viesse a ocorrer já vinham sendo estabelecidas ações governamentais no período anterior.
Em 1945, após a 2º Guerra Mundial foi criada a UNESCO, e este seguimento da Organização das Nações Unidas – ONU contribuiu para estimular a educação de jovens e adultos em toda parte do mundo. Esta Organização denunciava às desigualdades ocorridas entre os países, alertando o papel que deveria desempenhar a educação, em especial a educação de jovens.
No ano de 1947, no Brasil, instalou-se o Serviço de Educação de Adultos (SEA), que tinha por finalidade a reorientação e coordenação dos trabalhos anuais do ensino supletivos para os adolescentes e adultos analfabetos. Com a criação desse órgão foi desenvolvida uma série de atividades e produzidos e distribuídos materiais didáticos, visando alfabetizar a população. Esse movimento estendeu-se até fins da década de 1950, assim denominou-se a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA). A campanha teve o mérito de criar uma infraestrutura nos estados e municípios para atender á educação de jovens e adultos.
Nos anos 50, também aconteceram diversas outras campanhas, como a Campanha Nacional de Educação Rural (1952), e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (1958), porém essas campanhas poucos realizaram em termos concretos em comparação com a faixa etária de jovens e adolescentes.
Os esforços empreendidos durante as décadas de 1940 e 1950 fizeram cair os índices de analfabetismo das pessoas acima de cinco anos de idade.
 No ano de 1960, no entanto, os níveis de escolarização da população brasileira permaneciam em patamares reduzidos quando comparados à média dos países do primeiro mundo.
Segundo Freire (apud Gadotti, 1979 p.72), nos anos 1940, a educação de jovens e adultos era entendida como uma extensão da escola formal, principalmente na zona rural. Nos anos de 1950, a educação de adultos era entendida como uma educação de base, com o desenvolvimento comunitário, assim surgindo no final dos anos 50, duas tendências significativas na educação de jovens e adultos: Educação de adultos entendida como educação libertadora (conscientizadora), pontificado pelo o educador Paulo Freire e a educação entendida como educação funcional (profissional).
 Com o golpe militar de 1964, os programas de alfabetização e educação popular que se haviam se multiplicado no período entre 1961 e 1964 foram vistos como uma grave ameaça à ordem e seus programas de alfabetização de adultos foram suspensos, pelos militares, até que, em 1967, o próprio governo assumiu o controle dessa atividade lançando o Movimento Brasileiro de Alfabetização, o (MOBRAL) era a resposta do regime militar à ainda grave situação de analfabetismo no país.
O movimento MOBRAL foi criado pela Lei 5.379, de 15 de dezembro de 1967, teve inicio funcionando com uma estrutura paralela e autônoma em relação ao Ministério da Educação. Em 1969 lançou uma campanha massiva de alfabetização, estalando-se comissões municipais que se responsabilizavam pela execução de atividades e a produção de materiais didáticos eram centralizados pelos militares.
 As orientações metodológicas e os materiais didáticos do MOBRAL eram propostas de caráter técnico, muitas delas baseadas nas experiências dos seus funcionários, esvaziando-se de todo sentido crítico e problematizador contidos na proposta que vigorou de 1961 a 1964, que partia de palavras chaves retiradas da vida simples do alfabetizando adulto, para então, ensinar os padrões silábicos da língua portuguesa.
De acordo com Haddad e Pierro,

O planejamento e a produção de material didático foram entregues a empresas privadas que reuniram equipes pedagógicas para este fim e produziu um material de caráter nacional, apesar da conhecida diversidade de perfis linguísticos, ambientais e socioculturais das regiões brasileiras. (2000, p.115),

Na década de 70, a fundação MOBRAL se expandiu por todo território nacional e dele derivou-se outros programas, entre esses o mais relevante foi o Programa de Educação Integrada - PEI, que correspondia a uma continuidade do antigo primário e daria oportunidades de estudos para os recém-alfabetizandos e analfabetos.
Entretanto, em 1985 o MOBRAL foi extinto, e em seu lugar surge a Fundação Educar que desenvolvia ações diretas de alfabetização.

A Educar assumiu a responsabilidade de articular, em conjunto, o subsistema de ensino supletivo, a política nacional de educação de jovens e adultos, cabendo-lhes fomentar o atendimento nas séries iniciais do ensino de 1º grau, promover a formação e o aperfeiçoamento dos educadores, produzir material didático, supervisionar e avaliar as atividades, (HADDAD e DI PIERRO, 2000, p.120).

No período da democratização do país a Fundação Educar assumisse o papel de órgão de fomento de apoio técnico, privilegiando a modalidade de Educação de Jovens e Adultos - EJA, com o objetivo que as atividades fossem absorvidas pelos sistemas de ensino supletivos estaduais e municipais, com a finalidade de erradicar o analfabetismo do país e proporcionar condições para que uma parcela significativa da população brasileira pudesse em curto prazo de tempo recuperar o período escolar que por diversos motivos não puderam concretizar em período apropriado.
No ano de 1988, foi promulgada a nova Constituição Federal que assegura o direito da educação a todos os brasileiros, em seu art. 208 nos assegura:

O ensino fundamental é obrigatório e gratuito, assegura inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria têm direito a vaga. Tal direito é público subjetivo, é direito irrenunciável de cada um, configurando o não cumprimento, portanto, razão para o mandado de injunção. (Constituição Brasileira – 1988)

Faz-se necessário destacar também outro ponto importante da Constituição de 1988 o art. 214 que afirma:

A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à: erradicação do analfabetismo; universalização do atendimento escolar.(Constituição Brasileira – 1988)
                                       
Em 1990, declarado ano Internacional da Alfabetização, e com início do governo de Fernando Collor de Mello, foi extinta a Fundação Educar, mas não se criou nenhuma outra instância que assumisse essas funções. Assim o governo federal ausenta-se como articulador e indutor de uma política de alfabetização de jovens e adultos no Brasil.
Nos anos que antecederam o impeachment do presidente Collor, foi implantado por ele o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania – PNAC no qual prometia colocar em movimento um programa nacional, que substituiria a atuação da extinta Fundação Educar por meio da transferência de recursos federais para que as instituições promovessem a alfabetização e a elevação dos níveis de escolaridade dos jovens e a adultos, mas não sendo concluído o PNAC foi abandonado no mandato de Itamar Franco.
Ao assumir a presidência da República em 1994 o então presidente Fernando Henrique Cardoso priorizou a implantação de uma reforma político-institucional da educação pública que compreendeu várias medidas, com as quais a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Aprovada pelo Congresso a nova LDB 9.394, em 1996, segundo Haddad e Pierre a seção dedicada à educação básica de jovens e adultos resultou curta e pouca inovadora, seus dois artigos fortaleciam o direito dos jovens e adultos ao ensino básico adequado às condições peculiares de estudo, e o dever do poder público em oferecer gratuitamente na forma de cursos e exames supletivos. A única novidade era em relação à idade dos educandos, o rebaixamento para que os candidatos submetessem aos exames supletivos para 15 anos o ensino fundamental e 18 anos para o ensino médio.
O Ministério da Educação idealiza em 1996 o Programa Alfabetização Solidária - PAS, desta forma o governo volta a propor um programa nacional de alfabetização de adultos.
O PAS tinha como proposta uma ação conjunta entre governo federal, empresas, administrações municipais e universidades, além disso, o PAS contribuiu para reforçar a imagem que se faz de quem não sabe ler e escrever como um indivíduo incapaz, passível de adoção, de uma ação assistencialista, como o não alfabetizado não é visto como um sujeito de direitos. O PAS era considerado um programa acelerado de educação com duração de cinco meses, e estabelecia a ideia de que qualquer pessoa sem formação específica poderia ensinar considerando alfabetizadores semipreparados.
Um dos movimentos que podemos ressaltar também nos anos 90 é o Movimento de Alfabetização (MOVA), com uma configuração que procurava envolver o poder público e as iniciativas da sociedade civil, tendo o ideário da educação popular como princípio de sua atuação, na elaboração das propostas com contexto sociocultural dos sujeitos.
Nos dias atuais, em pleno século XXI o Brasil possui ainda um índice elevado de pessoas que não tem o domínio da leitura e da escrita, são brasileiros analfabetos e os considerados analfabetos funcionais que chegaram a frequentar a escola, mas por alguma razão tiveram que abandona-la e sendo assim voltam à condição anterior, ou seja, na condição de analfabetos.
Parafraseando Pierro e et al. (2001) a aprendizagem deve ser compreendida em sentido amplo, como essencial para a vida do ser humano, e em tal contexto cultural a educação de adulto poderia deixar de ser associada ao atraso e a pobreza e passar a ser como indicador do alto grau de desenvolvimento econômico e social.



Considerações finais:
. Das estratégias metodológicas de ensino no processo de alfabetização de Jovens e Adultos, a princípios foi feito apontamentos sobre os primeiros indícios da alfabetização de Jovens e Adultos no Brasil, mostrando que tudo começou de maneira informal. Dentro dessa perspectiva a pesquisa tem o objetivo de contribuir para a qualificação das estratégias metodológicas no processo de alfabetização do EJA.
            Foram abordados apontamentos diretamente relacionados aos métodos e práticas dentro da Educação de Jovens e Adultos que por sua vez, acaba não sendo valorizado como deveria na contribuição a promoção da igualdade entre homens e mulheres onde é inevitável um devido preparo para atender a demanda em nosso país.
Na sociedade atual a Educação de Jovens e Adultos é uma temática de extrema relevância, uma vez que todos têm o direito de desfrutar dessa prerrogativa, assim como da alfabetização e do letramento e de estudos mais aprofundados visto que estes são necessários para que o cidadão demonstre uma participação ativa nas práticas sociais e vivências com as múltiplas linguagens, inclusive com as novas tecnologias.

           

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:



Constituição: República Federativa do Brasil: Brasília. 25 ed. 1988.


GADOTTI, Moacir e ROMÃO, José (Orgs)- Educação de Jovens e Adultos: Teoria, Prática e Proposta/ 6º ed- São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2003.- (Guia da escola cidadã; v.5)

Haddd, S; Di Pierro, M, C. Escolarização de jovens e adultos. Janeiro de 2000. P. 108-130. Disponivel: www.anped.org.br/rbe/rbedigital/ rbde14/ rbd14 08 SERGIO

HADDAD E MARIA CLARA DI PIERRO. Pdf acesso em: 26 de março de 2012.

PIERRO, M, C; JÓIA, O: M, Visões da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Novembro de 2001. 6 p. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ccedes/ v21n55/ 5541. Pdf. Acesso 03 de abril de 2012.