domingo, 18 de outubro de 2015

Ética, um produto novo



     ONOFRE RIBEIRO
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    Na universidade estudei dois semestres de antropologia dentro do curso de Jornalismo e me encantei. Leio muito a respeito. Recordo-me de uma informação passada pelo professor Raposo, de que no tempo das cavernas, há cerca de 40 mil anos, o homem de Neanderthal, ainda primitivo, tinha parâmetros éticos bem definidos nas suas coisas mais simples. Por exemplo, ele demarcava com pedras o espaço de cada família dentro da caverna, separado por distâncias muito pequenas. Em cada espaço a fogueira familiar. Eles tinham o cuidado de não olharem para o espaço vizinho de modo a não invadir o que se poderia de chamar privacidade na época. Portanto, a ética nasceu junto com o ser humano quando ainda nem estava racionalizada como um valor ancestral.

    Trago o assunto por conta de uma inesperada retomada ética no Brasil. Acompanho a história brasileira desde sempre e dos anos 1950 para cá, mais de perto através do rádio na infância, depois na escola, na universidade e na mídia nesses 42 anos como jornalista. Se há uma coisa em que se pecou no Brasil foi na ética. O fim sempre justificou os meios, por menos éticos que eles fossem. Quando hoje o país naufraga a olhos vistos diante de si mesmo, e busca culpados nas crises mundiais ou em desculpas idiotas, está afundando mais na negação da ética. Fez e nega que tenha feito. “A culpa não é minha!”, nos persegue no individual, no coletivo e no público e no político.

    Importante seminário realizado em Cuiabá na última sexta-feira, promovido pelo jornal A Gazeta, indica um naufrágio maior que o do Titanic em 1912, o maior navio da época. Da falta do uso da ética na construção do Estado brasileiro e depois dele na montagem da gestão pública, construiu-se um edifício-monstro. A Constituição de 1988 construiu um Estado inchado, enorme, gordo e atrapalhador da nação. Na esteira desse Estado vieram os pecados éticos lamentáveis do aparelhamento das funções públicas por partidários desvairados por poder e por dinheiro. O aparelhamento do Congresso Nacional por interesses mercantis e outros piores e mais sujos.

    Por fim, o Poder Judiciário abrindo mão de suas sagradas prerrogativas para ceder-se ao aparelhamento estatal, em troca de favores e Deus sabe lá mais o que...! Porém, uma nova onda de indignação começou a ser esboçada a partir de junho de 2013 com jovens nas ruas manifestando mais pelo inconsciente coletivo do que por causas bem definidas. Indignação inconsciente!

    Parece que discutir sobre ética está deixando de ser utopia e coisa de malucos sonhadores, poetas, escritores e outros sem noção, como sempre se desqualificou quem enxergou que pra dentro dos olhos existe um cérebro que pensa e que um dia se indignaria, ou, quem sabe, de fato, se indignará!

    Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
    onofreribeiro@terra.com.br www.onofreribeiro.com.br

Desenvolvimento: em busca de novos paradígmas


Como pode um país ser uma pátria educadora quando nossos governantes demonstram uma incapacidade permanente?

Por: JUACY DA SILVA

Hugo Dias/HiperNotícias



Ao  longo de décadas  e séculos, sem que tenha havido uma intenção deliberada, muito mais fruto do acaso, das ações  e omissões, alguns  acertos e muitos erros, por parte de nossos governantes em todos os níveis de poder e também pelo instinto de empresários, negociantes, do suor dos  trabalhadores, inclusive de escravos que  eram tratados de forma desumana, o Brasil foi  se desenvolvendo, aos  trancos e barrancos.

Se  nossas elites governantes, tanto no passado quanto no presente   fossem melhor preparadas, agissem  com mais transparência, ética e zelo pela coisa pública, com certeza o nosso desenvolvimento teria sido muito mais dinâmico, menos excludente, harmonioso  e teria, também, reduzido as mazelas que nosso país foi acumulando ao longo de sua história e ainda hoje  afetam milhões de pessoas que jazem `a margem da sociedade.

Mesmo que não  tenha havido planejamento estratégico, um projeto de país e, por extensão  de  macro  regiões, de estados e municípios, graças ao esforço coletivo do povo brasileiro, conseguimos ocupar  um lugarzinho ,quase sem destaque no cenário internacional, muito menor e mais acanhado do que o tamanho de nosso país, de sua dimensão geográfica, de seu peso populacional, de suas riquezas naturais e outras vantagens comparativas que poderiam nos colocar, sem dúvida alguma, entre  as quatro ou cinco maiores potências mundiais neste início de século 21.

Países com muito menor potencial, com território acanhado, dependente de tudo e de todos, com população diminuta, sem  grandes recursos naturais e ainda com obstáculos ou óbices de toda natureza, conflitos, guerras, desastres naturais conseguiram vencer todos esses desafios e hoje são olhados com certa  inveja e,   ao mesmo tempo admiração, por nós brasileiros e por outros povos. Basta citar os casos da Alemanha, do Japão, de Taiwan, da Coréia do Sul, dos países nórdicos e outros mais.

Nesses países, seus governantes  em um determinado momento da  história tiveram  a capacidade de visualizar um futuro melhor para sua  gente e resolveram  definir uma única e grande prioridade , por décadas.  Esta prioridade foi a educação,  a inovação, o despertar da criatividade e como resultado o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Enquanto isso o Brasil se manteve um país  exportador de matérias primas, produtos in natura  e só, muito tardiamente, desenvolveu uma incipiente indústria, que atualmente  está em crise permanente. Hoje o Brasil está  se desindustrializando e exportando apenas “commodities” com baixo valor agregado. Somos o quarto maior Mercado usuário de tecnologias  importadas.

Há quase  um século  naqueles países o analfabetismo desapareceu, a educação de qualidade , de tempo  integral, universal e gratuita, inicialmente  até o ensino fundamental e, depois nos demais níveis, chegando até a universidade permitiu que os resultados desta revolução na educação  também  atingissem outros setores como a qualidade da mão de obra, a integração social, a melhoria dos níveis salariais, a melhoria da qualidade de vida e a  redução das disparidades e desníveis regionais, setoriais, sociais, econômicos, principalmente de renda.

Enquanto isso o nosso Brasil continua patinando com elevados índices de analfabetismo,  baixa qualidade do ensino que gera o analfabetismo  funcional, evasão  escolar nas primeiras séries, repetência, docentes  mal  preparados e mal pagos, enfim, uma educação que faz vergonha a qualquer pessoa que sonhe com um país decente, desenvolvido, com melhor distribuição  de renda e melhores oportunidades para todos.

Os  resultados do ENEM  nos últimos anos dão  uma demonstração  desta catástrofe e vergonha que tem sido o ensino médio, principalmente nas escolas públicas  e  a  crise  nas universidades e institutos federais de educação , dos hospitais universitários  também  atestam  esta lástima.  Apesar desta  situação  vexatória, o slogan  do atual governo  é “Brasil, pátria educadora”.

Como pode um país ser  uma pátria educadora quando nossos governantes demonstram  uma incapacidade permanente,  corrupção que envergonha a sociedade brasileira perante os olhos do mundo,  degradação ambiental apoiada,  estimulada e financiada pelos poderes públicos?  Índices de violência que a todos amedrontam,  a péssima qualidade de todos os serviços públicos  e o  caos permanente que ronda nossas instituições?

É fundamental, mais do que urgente  que o Brasil encontre novos paradigmas para nortear seu  desenvolvimento, caso  isso não aconteça, se ficarmos nas mãos de uma elite do poder como a que nos governa atualmente, dentro de poucas décadas  teremos perdido o bonde da história e faremos companhia para países que estão em crise e conflitos internos permanentes.

*JUACY DA SILVA é professor  universitário,  titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia. Email  professor.juacy@yahoo.com.br  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy