terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A educação que temos e a que queremos


Dirceu Cardoso Gonçalves*


Todo o país viu o governo, inclusive o presidente da República, festejando, nos últimos dias, os bons índices de desempenho do ensino, apurados segundo o Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, de 2009. Segundo a pesquisa que orienta o índice, nossos estudantes de primeiro grau chegaram a 4,6 pontos, que eram previstos só para 2011, e os de segundo grau bateram 4 pontos, superando a meta de 2011, traçada para 3,9. O Ministério da Educação trabalha para chegar a 2022 com aproveitamento da ordem de 6 pontos.

É compreensível que as autoridades festejem o alcance de metas além do estabelecido. Mas ainda é inaceitável o quadro que se encontra na maioria das escolas, onde o aluno passa todo o período, sequer é alfabetizado e, mesmo assim, sai com o diploma, sem saber o que dele fazer. A educação é um dos retratos do inchaço a que o país foi submetido a título de desenvolvimento. Durante anos, a política pública se preocupou exclusivamente em produzir número de formados sem qualquer questionamento sobre o destino desses estudantes.

Saímos daquele tempo em que o professor era respeitado e tinha o compromisso de transmitir conhecimentos reais aos alunos. Ingressamos na era em que o professor é desvalorizado e há a promoção do aluno de uma série para outra, independente do seu aproveitamento. Acabaram-se os exames, as segundas épocas e outras preocupações, pois o aluno ficou sabendo que basta comparecer à escola para ter garantida a promoção à série seguinte. E esse alunado acabou constituindo a grande massa que hoje está no mercado de trabalho, como professores! Foi um verdadeiro crime de lesa-educação-nacional.

Por conta do seu desenvolvimento tecnológico e industrial, o Brasil necessitou, cada dia mais, de trabalhadores “estudados”. Mas não foi capaz de adaptar a sua estrutura de ensino para oferecer a devida educação a essa clientela. A família que conseguiu pagar escola particular ainda saiu-se menos mal, mas quem dependeu da escola pública hoje paga os pecados que não são seus, mas daqueles que os enganaram oferecendo a escola incompetente e desatualizada. O próprio mercado de trabalho sofre com isso, pois tem vagas, mas o conhecimento dos candidatos não possibilita o seu preenchimento.

Em vez de festejar, as autoridades deveriam se preocupar em investir mais para recuperar o tempo perdido nas últimas três ou quatro décadas. Valorizar o professor, aperfeiçoar currículos e respeitar os alunos. É bem verdade que, se os índices são ascendentes, como mostra a pesquisa, pelo menos estamos no caminho certo. Mas é preciso correr a velocidades muito maiores do que as atualmente verificadas. O Brasil tem pressa e a geração mal formada tem fome. O governo e a sociedade precisam ver isso.

O Ideb divulgado no dia 1º, embora positivo, não é nenhum motivo de festa. Só poderemos festejar no dia em que deixarmos de encontrar alunos de terceira, quarta ou séries superiores que, apesar de terem frequentado a escola, continuam sem saber ler e escrever e alienados culturalmente. Acorda, Brasil!!!

Policial militar – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

aspomilpm@terra.com.br

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