O câncer de mama é
uma das mais agressivas patologias humanas, não só pelo aspecto biológico, mas
como uma entidade psico-social importante. A mama feminina é um órgão dinâmico,
que se modifica ao longo do mês, embalada pelos hormônios sexuais, que regem o
ciclo menstrual mensal.
Como um roseiral com botões, a glândula mamária só se
torna madura após a abertura das flores, o que só ocorre após uma gestação à
termo, isto é, que chega ao final. Por isso o conceito de que engravidar e
amamentar reduz o risco de desenvolver câncer no órgão. Por lógica, as
estruturas mais frágeis, imaturas, são mais sensíveis às agressões que
favorecem doenças. Portanto, se a mulher teve uma gestação que chegou ao final
ou amamentou, ela terá uma mama mais madura, cheia de botões abertos, mais
protegida e com menor chance de agressão.
O que não a protege 100%, pois mesmo
assim ainda terá botões imaturos num universo de rosas abertas. A mama na
mulher é substrato da sua feminilidade, maternidade, vaidade, beleza e
sexualidade. Enfim, suporta uma carga imensa no psiquismo e socialização, mais
que qualquer órgão no ser humano. A idade reduz a agressão hormonal mensal, mas
traz um processo de substituição de tecido mamário pelo adiposo, tornando o
órgão flácido e com conflitos internos devido a esse processo biológico.
A
guerra travada pelos tipos de tecido em transformação é uma das causas,
atualmente conhecidas, do aumento da incidência do câncer de mama a partir dos
40 anos de idade. Onde há conflito tecidual, ocorre fragilidade e o surgimento
de um ambiente fértil para a transformação celular maligna. Pesquisadores em
todo o mundo se debruçam na busca de dados que possam reduzir a incidência do
câncer de mama, tornando-se a patologia humana mais estudada no momento. Por
essa razão a medicina conseguiu reduzir a mortalidade, mesmo que a incidência
tenha aumentado exponencialmente.
O incremento do número dos casos novos se
deve em especial pelo ganho na expectativa de vida das mulheres, que em todo o
mundo supera ao dos homens e a redução nos óbitos pela divulgação da existência
do problema, tornando as mulheres mais atentas e diagnosticando com
precocidade, o que favorece a redução das complicações presentes em situações
de doença avançada. Como sabemos, ninguém morre de câncer de mama pela mama,
mas sim pelas complicações da doença em outros órgão mais nobres, sob o ponto
de vista biológico.
O nosso grupo de estudos tenta contribuir com a melhora na
abordagem à doença, desenvolvendo uma pesquisa com cientistas de diversas
nacionalidades, que utilizam uma observação clínica, feita por mim, aqui em
Mato Grosso, de que as índias brasileiras não possuem essa doença. O que
parecia ser impensável mostrou-se tecnicamente comprovado e análises de DNA
dessa população revelaram um surpreendente achado.
Sabemos que as células
eucariontes (as que possuem núcleo), há milhões de anos atrás, estabeleceram
uma parceria com algumas bactérias produtoras de energia e se agruparam numa
simbiose, onde as primeiras oferecem condições satisfatórias de desenvolvimento
com suprimento protéico, e as outras, em troca, produzem energia. Como toda
produção de energia resulta em lixo tóxico, essas bactérias, chamadas
mitocôndrias, possuem um mecanismo natural de eliminação dos resíduos. A esse
processo denominamos antioxidação.
As índias brasileiras possuem uma
super-expressão de um gene responsável pela antioxidação celular, o que em
síntese reduz agressões ao núcleo celular e a ocorrência de mutações
responsáveis pela promoção inicial do câncer mamário. Encontra-se em andamento
um estudo que propõe a inserção de novos hábitos alimentares que, espera-se,
deverão reduzir a incidência da doença significativamente. No mês de outubro o
mundo científico se movimenta em alerta contra a doença.
As cidades se colorem
de rosa para chamar a atenção para o problema, criando a sensação para as
portadoras de que não estamos desatentos e vamos vencê-lo em breve. Por
enquanto só podemos convencer as mulheres de não terem medo de desenvolverem
câncer de mama, pois ainda esta é a nossa maior arma, não ter medo, pois dessa
forma conseguem identificá-lo precocemente e eliminá-lo com segurança.
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