Neste
sábado a escola de samba Mangueira começa a etapa eliminatória para escolha do
enredo de 2013. O tema é “Cuiabá: Um paraíso no Centro da América”. O projeto
está em andamento e no próximo ano teremos violas de cocho e ganzás ao lado de
atabaques e pandeiros na Sapucaí. Não é a primeira vez que Mato Grosso se vê
representado no maior espetáculo do Brasil. Em 1994, a vida de Tereza de
Benguela foi retratada na avenida pelo carnavalesco Joãosinho Trinta e a escola
de samba Viradouro.
Tereza de Benguela
foi rainha do quilombo do Quariterê, no período em que Vila Bela da Santíssima
Trindade era a capital de Mato Grosso. Apesar da pouca representatividade na
história oficial do país, Tereza é comparada ao líder negro Zumbi dos Palmares.
Considerada um grande mito mato-grossense e símbolo da resistência negra no
Brasil colonial.
O Quariterê surgiu
praticamente com a fundação de Vila Bela, em 1752, e se localizava as margens
do Rio Piolho, afluente do Rio Guaporé, a 100 km do vilarejo. Era considerado o
maior quilombo da capitania e abrigava negros e índios. A agricultura era
avançada, possuíam ferraria e produziam as próprias roupas. Tereza assumiu o
controle do quilombo, após a morte de seu marido, o rei da aldeia. Ela governava
uma espécie de monarquia parlamentarista e atuou com mão de ferro para manter
grupo o unido. Torturava e mandava enforcar os infratores e súditos delatores
da localização do quilombo.
Infelizmente não há
muito mais registros históricos a respeito desta líder negra. Não se sabe, por
exemplo, se nasceu livre ou se era uma escrava fugida. Também não há informação
oficial alguma sobre sua aparência física. Até mesmo a morte desta rainha é
fruto de suposição. Sabe-se, por registro oficial, que o quilombo do Quariterê
foi invadido na madrugada 22 de julho de 1770. Quando um grupo de 30 homens
armados sob o comando do sargento mor João Leme do Prado surpreendeu os
fugitivos e se apossou do quilombo. Tereza assistiu seu império ruir.
Ela poder ter sido
capturada e humilhada, com o passar dos dias teria adoecido e morrido “pasma”.
Sua cabeça pode ter sido cortada e exposta a todos. Em outra hipótese ela teria
assistido por dias a destruição do quilombo. Além disso, teria sido estuprada
pelos soldados. Após dias em choque teria sofrido um colapso. Outra
possibilidade seria a de ter comido terra para suicidar-se. Esta última
hipótese é rechaçada pelos moradores de Vila Bela. Para eles a rainha morreu
mesmo foi de ódio, pois não queria voltar à submissão.
A Viradouro e
Joãosinho Trinta retrataram Tereza como a “rainha do Pantanal”. O quilombo do
Quariterê não chegou a ser citado. Mas omissões históricas e geográficas a
parte, foi um momento de holofote para um mito genuinamente mato-grossense.
Faço votos para que o enredo sobre Cuiabá seja um evento positivo e que dê
orgulho não só a capital, mas a todos os que residem no Estado.
Maria Rita Ferreira
Uemura é jornalista, empresária, diretora da empresa de turismo de aventura
Tribo do Remo e escreve exclusivamente para este blog toda quinta-feira
(www.tribodoremo.com.br). e-mail: ferreirauemura@gmail.com
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