quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Tereza de Benguela, a rainha negra de Mato Grosso

Maria Rita 

Neste sábado a escola de samba Mangueira começa a etapa eliminatória para escolha do enredo de 2013. O tema é “Cuiabá: Um paraíso no Centro da América”. O projeto está em andamento e no próximo ano teremos violas de cocho e ganzás ao lado de atabaques e pandeiros na Sapucaí. Não é a primeira vez que Mato Grosso se vê representado no maior espetáculo do Brasil. Em 1994, a vida de Tereza de Benguela foi retratada na avenida pelo carnavalesco Joãosinho Trinta e a escola de samba Viradouro.

Tereza de Benguela foi rainha do quilombo do Quariterê, no período em que Vila Bela da Santíssima Trindade era a capital de Mato Grosso. Apesar da pouca representatividade na história oficial do país, Tereza é comparada ao líder negro Zumbi dos Palmares. Considerada um grande mito mato-grossense e símbolo da resistência negra no Brasil colonial.

O Quariterê surgiu praticamente com a fundação de Vila Bela, em 1752, e se localizava as margens do Rio Piolho, afluente do Rio Guaporé, a 100 km do vilarejo. Era considerado o maior quilombo da capitania e abrigava negros e índios. A agricultura era avançada, possuíam ferraria e produziam as próprias roupas. Tereza assumiu o controle do quilombo, após a morte de seu marido, o rei da aldeia. Ela governava uma espécie de monarquia parlamentarista e atuou com mão de ferro para manter grupo o unido. Torturava e mandava enforcar os infratores e súditos delatores da localização do quilombo.

Infelizmente não há muito mais registros históricos a respeito desta líder negra. Não se sabe, por exemplo, se nasceu livre ou se era uma escrava fugida. Também não há informação oficial alguma sobre sua aparência física. Até mesmo a morte desta rainha é fruto de suposição. Sabe-se, por registro oficial, que o quilombo do Quariterê foi invadido na madrugada 22 de julho de 1770. Quando um grupo de 30 homens armados sob o comando do sargento mor João Leme do Prado surpreendeu os fugitivos e se apossou do quilombo. Tereza assistiu seu império ruir.

Ela poder ter sido capturada e humilhada, com o passar dos dias teria adoecido e morrido “pasma”. Sua cabeça pode ter sido cortada e exposta a todos. Em outra hipótese ela teria assistido por dias a destruição do quilombo. Além disso, teria sido estuprada pelos soldados. Após dias em choque teria sofrido um colapso. Outra possibilidade seria a de ter comido terra para suicidar-se. Esta última hipótese é rechaçada pelos moradores de Vila Bela. Para eles a rainha morreu mesmo foi de ódio, pois não queria voltar à submissão.

A Viradouro e Joãosinho Trinta retrataram Tereza como a “rainha do Pantanal”. O quilombo do Quariterê não chegou a ser citado. Mas omissões históricas e geográficas a parte, foi um momento de holofote para um mito genuinamente mato-grossense. Faço votos para que o enredo sobre Cuiabá seja um evento positivo e que dê orgulho não só a capital, mas a todos os que residem no Estado.

Maria Rita Ferreira Uemura é jornalista, empresária, diretora da empresa de turismo de aventura Tribo do Remo e escreve exclusivamente para este blog toda quinta-feira (www.tribodoremo.com.br). e-mail: ferreirauemura@gmail.com

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