sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Os ciclos da vida do homem contemporâneo

Olga Lustosa 

A vida do homem pode ser de curta ou longa, dependendo das circunstâncias e do mundo perigoso onde ele vive. Se pressupomos que a idade média do indivíduo é de cerca de 75 anos, o tempo de vida pode ser dividido em vários momentos desde o nascimento até o fim da vida. A cada ciclo da vida, a idade é um fator determinante para a atividade intelectual.

Dos 18 aos 25 anos a educação é reforçada e o cérebro é bombardeado com a aprendizagem de várias competências que respondem as curiosidades e que seguramente facilitarão a entrada na próxima fase da vida. Dos 30 aos 50 anos somos envolvidos na estruturação da vida pessoal e profissional e muitas vezes a uma velocidade vertiginosa e sem muito cuidado com o corpo ou inspiração espiritual. É um momento crucial onde nos tornamos escravos de nossas próprias ambições, com a vida demasiadamente atribulada e os meios utilizados para alcançar os resultados nem sempre levam em consideração o estado da alma, que no processo tende a ser esquecida.

Todavia, analisando a máquina humana, estes são os anos que precisaríamos de mais cuidado para apoiarmos os próprios sonhos, precisaríamos dar a nós mesmos permissão para nos estabelecermos como prioridade. Seria a hora de viver o que nos faria verdadeiramente felizes e realizados.

Entretanto estudos apontam que a virada hoje ocorre na maioria das vezes dos 50 aos 60 anos e então é uma viagem alucinada, por razões diversas que incluem tudo, desde a pressa de se viver o que não pode, o trabalho, vida difícil, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, o divórcio e problemas econômicos. Esse desafio de enfrentar julgamentos e retomar a vida não se aprende na escola. A falha do corpo e da alma humana gera um processo difícil de juntar os elementos básicos, dar-lhes novamente função, ouvindo os sinais vitais do corpo, num processo de preenchimento do buraco espiritual, deixado pela angústia diante das escolhas que são feitas a cada dia pelo homem.

Nunca é tarde e a qualquer tempo o homem deve iniciar ou reiniciar a construção de sua existência. Sorte que o homem não nasce com comportamento acabado e por isso pode ser recuperado, tanto física quanto mentalmente, desde que o próprio corpo, alma e mente descartem os preconceitos e busquem a interação para uma vida mais proveitosa e gratificante, como um bilhete na mão para assistir a um grande espetáculo sobre novas crenças e hábitos que por anos foram bloqueados pelo ego.

O dinheiro, sem dúvida, é a força que move quase tudo o que fazemos no mundo civilizado, mas o nosso crescimento não precisa ser igual em riqueza financeira e riqueza interior. É preciso retomar o equilíbrio que esvaiu-se, que tornou impossível a missão de conciliar a realização dos sonhos, equilibrar-se em relacionamentos, estabelecer fronteiras, encontrar paz de espírito, saúde e segurança financeira. Mergulhar em si mesmo significa assumir as escolhas feitas e principalmente vive-las de modo intenso de forma que exista libertação de tudo que oprime.

Vê-se agora que a felicidade não é acidental, as ações tem efeitos cumulativos. Todavia “é preciso começar pelo mais escuro, buscar o vazio, e o negro, e o nu, e chegar progressivamente a luz”. Comte-Sponville (1997, p.13).

Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e acadêmica de Ciências Sociais pela UFMT e escreve exclusivamente neste blog toda terça-feira - olga@terra.com.br

 

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