quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Ansiedade

Autor: Gabriel Novis Neves

 Considerada a praga do mundo Pós-Moderno, a ansiedade é um dos efeitos colaterais do ritmo de vida alucinado em que vivemos.

Realmente, com a radical mudança de valores, era de se esperar que, pela maior intensidade dos comportamentos competitivos, aumentassem, e muito, o estresse e a ansiedade.

Acrescente-se a isso o fato de que as indústrias farmacêuticas incrementaram suas vendas graças ao aumento de rótulos de doenças da mente em patologias ditas depressivas, antes definidas apenas como estados de tristeza.

Esses episódios fazem parte do nosso cotidiano, principalmente nos momentos de grandes perdas, e é compreensível que seres racionais se abatam, temporariamente, pelas dificuldades vividas.

A “caixa da normalidade” está cada vez menor, e a culpa é do excesso de diagnósticos de doenças mentais, diz o psiquiatra Dale Archer, autor do bestseller “Better Than Normal”, recém-lançado no Brasil com o título de “Quem disse que é bom ser normal?”

Archer, de 57 anos, é psiquiatra clínico desde 1987 e fundou o Instituto de Neuropsiquiatria em Lake Charles, Louisiana (EUA). Segundo ele, estamos “patologizando” comportamentos normais.

De outubro de 2012 a setembro de 2013, o número de antidepressivos e estabilizadores de humor movimentou mais de dois bilhões de reais no Brasil, segundo dados da consultoria IMS Health.

Nos últimos cinco anos, o número de unidades vendidas desses remédios cresceu em 61%.

Vivemos num mundo em que é proibido ficar triste, como se pudéssemos, tal como hienas, sermos portadores de um estado constante de graça.

O medicamento deveria sempre ser o último recurso, depois de uma longa terapia.

Todos sabem que não é fácil enfrentar os problemas financeiros, principalmente aqueles ocasionados pelo descaso político com suas inúmeras injustiças sociais, as convenções estabelecidas - algumas absurdas -, a solidão afetiva generalizada, tudo isso somado aos desencontros comuns na vida de qualquer pessoa.

Assim, tudo é diagnosticado como ansiedade ou depressão, e as pessoas são, logo em seguida, fortemente medicadas.

Esquecemo-nos que não existe paz na natureza.

Os animais estão sempre em sinal de alerta em função da existência de predadores e das várias modificações telúricas a que estão sujeitos.

Para essa ansiedade do viver estamos todos biologicamente preparados.

Por exemplo: muitas crianças recebem o diagnóstico de hiperativas quando, na verdade, estão apenas reagindo a um meio hostil e a uma competitividade exagerada.

Atualmente, um quarto dos adultos americanos tem uma ou mais doença mental diagnosticada, segundo o Instituto de Saúde Mental dos Estados Unidos. Com certeza algo está errado nessa pesquisa, uma vez que uma gama enorme de comportamentos não pode ser traduzida exatamente como doença.

Deveríamos estar mais preocupados com uma sociedade composta por alegres crônicos alienados e menos com os seres reflexivos, algumas vezes considerados depressivos, unicamente na tentativa de entenderem o sentido da vida.

Nós médicos sabemos bem distinguir a tristeza passageira - sinal de equilíbrio emocional - dos estados depressivos crônicos, em que se faz necessário o uso de medicação.

Remédio não é para alteração humoral, remédio é para doença.

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