sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

MT - Duas vias que se demarcam pela vida: Estevão e Rubens de Mendonça desbravadores da história de Mato Grosso

Da Redação - Marianna Marimon


Duas vias que levam para uma vida. O espelho de um é o reflexo do outro. Desbravadores de um Mato Grosso esquecido no coração do Brasil. Desbravadores das letras, das histórias, das peculiaridades. Desbravadores da terra do ouro, do garimpo, do rio que corre solto. Desbravadores de si. Hoje não falaremos de um ícone, mas de um pai e um filho. Estevão e Rubens de Mendonça fizeram a história se tornar história no papel, com uma paixão avassaladora pela vida, por Mato Grosso e Cuiabá, pelas letras.

Estevão de Mendonça (1869-1949) foi topógrafo, professor, advogado, historiador e escritor. Autodidata, não se formou em nenhuma academia. A sua academia foi a própria vida e a fome pelo conhecimento. Sua neta, filha única de Rubens, Adélia conta que o avô era tão apaixonado pelas letras, que ao trabalhar na loja de um tio, sempre perdia as vendas, de tão compenetrado que era em suas leituras.

Sob o olhar da neta, que não chegou a conhecer o avô, Estevão de Mendonça era aquilo que o pai pintava: um homem sisudo, fechado, mas que também reservou surpresas. Adélia descobriu que o avô era poeta, e fazia versos com rimas em uma caderneta que até hoje, tem guardada em sua casa. É ela própria quem diz que a missão dos ‘desbravadores de Mato Grosso’ era realizar um registro da história do Estado. Memória, história, livros, obras, cadernos, e até um tinteiro que usava para escrever. Tudo Adélia guarda.

Um dos seus maiores feitos foi a publicação do livro Datas Matogrossenses cuja primeira edição saiu em 1919. Mas, não foram apenas livros que marcaram Estevão, que também se arriscou nas páginas dos principais jornais da época em Cuiabá. Além disso, não era dado a esta vida política. Recusou ser deputado, interventor e até presidente de Mato Grosso.

Monteiro Lobato quando veio à Mato Grosso, ficou impressionada com a grafia de Estevão e o descreveu como um ‘diamante’ descoberto lá no coração do Brasil. Dizem que a maior diferença entre Estevão e seu filho Rubens (1915-1983), que também foi historiador, jornalista, escritor e poeta, reside justamente aí: na poesia. Mas, Rubens seguiu os passos do pai e também fez poesia com a história e através da história.

No jornalismo, Rubens era combativo. Adélia conta que para o pai ‘jornalismo se fazia nem que fosse na marra’ . Foi através da revista “Pindorama” fundada em 1939, que Rubens buscava divulgar o que acontecia em Mato Grosso para todo o país. Foi um dos fundadores do Movimento Graça Aranha. E fundou, dirigiu e atuou em vários jornais do Estado.

É um dos membros da Academia Mato-grossense de Letras, assim como o pai, que por incrível que pareça, não votou no filho quando se candidatou à acadêmico. Isto porque Estevão não era tão chegado a essa coisa de ‘poesia’ (mas em seus cadernos, deixava que os poemas ganhassem vida). Rubens também era do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

E Rubens, descrevia o cotidiano como ninguém. Era um romântico incurável. Encheu de poemas a sua bela e amada Ivone. Foram mais de 38 obras feitas em toda a sua vida. Mas, um dos amigos da época em que lutavam pelas letras em Cuiabá, Wlademir Dias-Pino, um dos maiores poetas visuais do mundo, cobrou a recuperação do seu acervo, esquecido nos porões da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). E para isso, Wlademir citou o pai Estevão, que dizia que quem morre em Mato Grosso, morre duas vezes. O esquecimento famigerado do Estado com relação àqueles que deram o sangue e a vida para elevar seu nome ao país.

Do que sobrou, a filha de Rubens é responsável por preservar a memória da família. Mas, lamenta que mesmo com todo o reconhecimento, as pessoas só conhecem Estevão e Rubens, por serem nomes de rua e avenida, respectivamente. Estevão de Mendonça também leva o nome da maior biblioteca do Estado.

Destas duas vias que carregam a história dos que fizeram a história de Mato Grosso, poucos sabem que as letras e a poesia, foram a força motriz para o engajamento apaixonado de recuperar aquilo que poderia se perder. Os registros ficam. A memória também. E pelas duas vias que recebem os seus nomes passam milhares de pessoas, que sequer sabem o que representaram os Mendonças, para o Estado de Mato Grosso.

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