Meirevaldo Paiva
Diferentes Países adotaram a idéia do “Big Brother” pela via comercial da TV. O produto oferecido, embora seu formato seja semelhante a todos, ao explorar tendências e subjetividades remete historicamente para os espetáculos gregos, romanos, medievais até chegar no século XXI com um público sempre disposto a ver sangue, terror, crueldade, maldade e jogo de paixões seja num filme, seja na dramatização de uma notícia sobre crimes e violências. Não fosse assim, nos Países supostamente mais civilizados, não imperaria a tendência por uma mídia investigadora e exploradora de escândalos sociais, financeiros, e sentimentais.
O conceito do “Big Brother” (Grande Irmão) deve-se ao escritor George Orwell que, no romance “1984”, profetizou o modus vivendi de um País massificado, sob a vigilância do totalitarismo ideológico. No romance, porém, o povo vive os horrores de uma vigilância permanente de seus gestos, de suas palavras, das alterações de suas feições, do controle de seus sentimentos e de seus olhares, uma tentativa de desocultar pensamentos dirigidos contra seus dominadores. “Big Brother” é a idéia de um Grande Irmão que a tudo vigia, espia, invade a privacidade do cidadão, acompanha diuturnamente o povo totalmente submetido a esse fatalismo fabricado pela ciência e pela tecnologia a serviço da dominação política, econômica, educacional e cultural.
A TV capitalista com muita competência em ampliar lucros se apropriou da idéia de montar o espetáculo de um laboratório de animais humanos sob o “vigiar e o punir” foucaultiano do Grande Irmão para que diferentes povos pudessem e possam se distrair, identificar-se com os protagonistas ou masoquistamente acompanhar a vida de pessoas pela disputa de um prêmio ao mesmo tempo em que exprimem suas máscaras, seus desejos sexuais reprimidos, suas intimidades numa arena em que os seres humanos são expostos publicamente para consumo de espectadores ávidos por um espetáculo de paixões encarceradas.
À parte as diferentes interpretações da mensagem orwelliana, o “Big Brother” encontrou terreno fértil para se desenvolver em sociedades que se massificaram pelo hiperconsumismo, pelo cotidiano em que tudo se transforma num espetáculo de imagens a ser digerido sem críticas, daí o consumo da vida de celebridades, de escândalos amorosos, do lixo humano das paixões, do desencontro das pessoas pela via da incomunicabilidade, das disputas e das concorrências em que prevalecem as fragilidades – vaidade, orgulho, egoísmo - do ser humano.
No Brasil, a idéia do Big Brother, uma casa fechada com os atores em disputas e concorrências, uma surda luta de interesses e de poderes, se estende por outros segmentos da sociedade, a começar pelo Congresso Nacional transformado num cenário de razões, de paixões, de sentimentos descontrolados, de escândalos, de alianças pelo domínio de poderes. Graças à mídia é possível acompanhar muitos desses atores que, inclusive, não honram seus papéis dentro do regime democrático.
No Brasil, o povo cada vez mais se vê vigiado em seus passos, politicamente controlado por contas bancárias, por planilhas de uso de energia elétrica, por declarações de imposto de rendas, por mecanismos de órgão de segurança, por escutas telefônicas, por um sistema de ensino que tenta impedir que o povo se capacite para ler e entender o que os governantes deixam de fazer, já que o que fazem tem o rumo do domínio do poder.
No caso do ensino, a situação se agrava porque se constata que uma forma de enfraquecer um povo é vedar-lhe o acesso aos bens culturais do País e que tem como conseqüência direta a mediocridade da informação e do conhecimento ora para conformar e submeter intelectualmente o povo ora para formar dirigentes a serviço do sistema. Mas, com o Big Brother político em andamento, seus promotores esquecem que as mobilizações sociais também avançam para em nome da cidadania vigiar e controlar os poderes constitucionais sem olhos mágicos, sem vedações ideológicas que não sejam as da realidade política a ser transformada.
Meirevaldo Paiva é Educador
Artigo publicado no Jornal O Liberal
Diferentes Países adotaram a idéia do “Big Brother” pela via comercial da TV. O produto oferecido, embora seu formato seja semelhante a todos, ao explorar tendências e subjetividades remete historicamente para os espetáculos gregos, romanos, medievais até chegar no século XXI com um público sempre disposto a ver sangue, terror, crueldade, maldade e jogo de paixões seja num filme, seja na dramatização de uma notícia sobre crimes e violências. Não fosse assim, nos Países supostamente mais civilizados, não imperaria a tendência por uma mídia investigadora e exploradora de escândalos sociais, financeiros, e sentimentais.
O conceito do “Big Brother” (Grande Irmão) deve-se ao escritor George Orwell que, no romance “1984”, profetizou o modus vivendi de um País massificado, sob a vigilância do totalitarismo ideológico. No romance, porém, o povo vive os horrores de uma vigilância permanente de seus gestos, de suas palavras, das alterações de suas feições, do controle de seus sentimentos e de seus olhares, uma tentativa de desocultar pensamentos dirigidos contra seus dominadores. “Big Brother” é a idéia de um Grande Irmão que a tudo vigia, espia, invade a privacidade do cidadão, acompanha diuturnamente o povo totalmente submetido a esse fatalismo fabricado pela ciência e pela tecnologia a serviço da dominação política, econômica, educacional e cultural.
A TV capitalista com muita competência em ampliar lucros se apropriou da idéia de montar o espetáculo de um laboratório de animais humanos sob o “vigiar e o punir” foucaultiano do Grande Irmão para que diferentes povos pudessem e possam se distrair, identificar-se com os protagonistas ou masoquistamente acompanhar a vida de pessoas pela disputa de um prêmio ao mesmo tempo em que exprimem suas máscaras, seus desejos sexuais reprimidos, suas intimidades numa arena em que os seres humanos são expostos publicamente para consumo de espectadores ávidos por um espetáculo de paixões encarceradas.
À parte as diferentes interpretações da mensagem orwelliana, o “Big Brother” encontrou terreno fértil para se desenvolver em sociedades que se massificaram pelo hiperconsumismo, pelo cotidiano em que tudo se transforma num espetáculo de imagens a ser digerido sem críticas, daí o consumo da vida de celebridades, de escândalos amorosos, do lixo humano das paixões, do desencontro das pessoas pela via da incomunicabilidade, das disputas e das concorrências em que prevalecem as fragilidades – vaidade, orgulho, egoísmo - do ser humano.
No Brasil, a idéia do Big Brother, uma casa fechada com os atores em disputas e concorrências, uma surda luta de interesses e de poderes, se estende por outros segmentos da sociedade, a começar pelo Congresso Nacional transformado num cenário de razões, de paixões, de sentimentos descontrolados, de escândalos, de alianças pelo domínio de poderes. Graças à mídia é possível acompanhar muitos desses atores que, inclusive, não honram seus papéis dentro do regime democrático.
No Brasil, o povo cada vez mais se vê vigiado em seus passos, politicamente controlado por contas bancárias, por planilhas de uso de energia elétrica, por declarações de imposto de rendas, por mecanismos de órgão de segurança, por escutas telefônicas, por um sistema de ensino que tenta impedir que o povo se capacite para ler e entender o que os governantes deixam de fazer, já que o que fazem tem o rumo do domínio do poder.
No caso do ensino, a situação se agrava porque se constata que uma forma de enfraquecer um povo é vedar-lhe o acesso aos bens culturais do País e que tem como conseqüência direta a mediocridade da informação e do conhecimento ora para conformar e submeter intelectualmente o povo ora para formar dirigentes a serviço do sistema. Mas, com o Big Brother político em andamento, seus promotores esquecem que as mobilizações sociais também avançam para em nome da cidadania vigiar e controlar os poderes constitucionais sem olhos mágicos, sem vedações ideológicas que não sejam as da realidade política a ser transformada.
Meirevaldo Paiva é Educador
Artigo publicado no Jornal O Liberal
Nenhum comentário:
Postar um comentário