Gabriel Novis Neves
Vinicius de Moraes disse certa vez que muitas
pessoas com o avançar dos anos, e com a proximidade da morte, “começam a fechar
as portas do seu passado”.
Talvez, por pudor, os idosos não gostem de mostrar
a sua decadência física ou mental. No meu entender, é um ato de pura proteção
contra comentários de alguns jovens: “gozem a vida que ainda lhes resta”.
Qualquer idoso, sem a “Doença do Alemão”, percebe
isso com facilidade, especialmente quando está em lugares públicos.
Os “brotos”, atualmente "galera", de um
modo geral, detestam idosos, principalmente sem uma boa identidade (cartão de
crédito).
Essa invenção capitalista tem o poder da
transformação: transformam velhos gagás em jovens simpáticos, com futuro
brilhante pela frente, pois, afinal, a expectativa de vida vem aumentando dia a
dia.
Esse cartão é tão maravilhoso, que é um símbolo de
cultura, dado a sua possibilidade de se exprimir em vários idiomas.
É o companheiro ideal que um velho tem para, com
conforto, e em ditas boas companhias, dar a volta ao mundo.
E, com que satisfação, os garotos dizem que o
cartão é milagroso e resolvem todos os seus anseios.
No caso do velho, ajuda, e muito. Não resolve, mas
dá para enganar.
A figura do idoso criada pela sociedade é de um
poupador contumaz - muitas vezes irrita seus herdeiros quando a gorda poupança
demora a chegar às suas mãos.
O velhinho não é bem visto gastando o seu dinheiro
ganho com anos de trabalho.
É interpretado como um dilapidador do patrimônio da
família. O velho ideal é o sofredor. A alegria maltrata os jovens, que
reinvidicam esse sentimento de prazer como sendo deles.
O bom velhinho é o hipocondríaco, que não tem
limites para pagar consultas médicas, exames laboratoriais e uso indiscriminado
de medicamentos, alguns ainda em fase de experimentação.
Velho namorar é visto como alguém irresponsável, já
com o pé na cova.
Velho alegre, só o desconhecido. É enquadrado como
personagem folclórico. O aceitável é o depressivo ou com uma doença incurável.
Ficar em casa com reumatismo esperando a morte
também compõe o perfil do velho ideal.
Ser velho no Brasil, este país tropical, das
praias, dos jovens e do carnaval, é uma arte difícil de elaborar.
Gabriel Novis Neves é médico
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