Memorial Crítico
Iza Salies
A
minha formação escolar teve uma trajetória muito bem cristalizada nas
exigências das décadas de 60 e 70, ou seja, tempo das chamadas escolas
tradicionais. Passei pelo antigo primário, curso de admissão, ginásio,
magistério, licenciatura curta, plena e pós-graduação, toda essa caminhada
contribuiu para uma carreira profissional sedimentada na ética e nos bons
costumes.
Esse
percurso acadêmico fez o diferencial na minha profissão sim, sem dúvida, mas,
não posso negar que o fato da minha mãe ser Professora Normalista, também
influenciou consideravelmente para a consolidação da minha opção profissional
para a carreira de professor.
Percebo que as vivencias escolares foram
constituídas por bons diretores, bons professores, ensino responsável,
disciplinado, sendo em alguns momentos um pouco rígido, contudo, afirmo que
esse modelo de escola serviu e ainda serve de referencial para as minhas
atividades profissionais e da vida.
Em 1978,
quando estava cursando o segundo ano do magistério,fui convidada para dar aula
na primeira série do primário, (na mesma escola onde fazia o magistério), fui trabalhar
com a alfabetização, sem a mínima experiência, tive dificuldades de adaptação
com a prática pedagógica e pouca orientação pedagógica da coordenação, tudo foi
muito inesperado. No ano seguinte peguei uma turma de segundo ano, melhorou um
pouco, e assim fui passando pelas diferentes etapas da Educação Básica, Ensino
Superior e Pós – Graduação.
Com o
termino do magistério precisava fazer um curso superior, mas como eu morava no
interior do Estado, as possibilidades eram mínimas, era um sonho bastante distante.
Só que em 1979 a
Universidade Federal de Mato Grosso, estava interiorizando os cursos de
licenciatura, sendo Nortelândia e Rosário Oeste os primeiros municípios a serem
contemplados. Em Rosário
Oeste foi oferecido o Curso de Letras e Estudos Sociais, e eu
passei para o Curso de Licenciatura de 1º grau em Estudos Sociais,
formando em 1982, o curso era modular, intensivo, estudávamos no período das
férias escolares, com oito h/a diárias de aula, ou até mais.
Como o
curso era de Estudos Sociais, tínhamos disciplinas da Área das Ciências
Humanas, a organização curricular era composta por disciplinas do Curso de
História e Geografia, para fazer a complementação poderíamos optar por uma ou
outra das licenciaturas, assim sendo, fiz opção pelo Curso de História.
A
habilitação em História ampliou as minhas possibilidades profissionais, pude pleitear
trabalhos técnicos e pedagógicos no trabalho, mas, por outro lado às exigências
também foram maiores, as tarefas demandavam mais estudo e aprofundamento
teórico para fazer a interface com a prática, trabalhar na área técnica requer o
domínio de conhecimentos específicos da área da educação.
Não
satisfeita com uma graduação senti necessidade de fazer um outro curso, então, escolhi
Pedagogia por estar envolvida em ações pedagógicas, por situações vividas no desempenho
das minhas funções laborais e por gostar das questões que discutem o ensino, a
aprendizagem, metodologias, avaliação e práticas pedagógicas.
Tive a
oportunidade de trabalhar na Pro sol, como Coordenadora Pedagógica das Creches
de Cuiabá, cuja atribuição era fazer a interlocução da Seduc com essa Secretaria,
nessa função, fiquei pouco tempo, sendo designada para retornar para a Seduc,
assim sendo, fui trabalhar na Equipe de Ensino Médio em 1997, onde permaneci
até setembro de 2009.
Recentemente recebi o convite para trabalhar na
Superintendência de Formação da Seduc, ao aceitar tive que conhecer os documentos
produzidos pela equipe, primeiro precisou ler o Regimento Interno do setor, li
também a Política de Formação de Professores, o Projeto Sala de Professor e o
Decreto que institui os Cefapros e outras normativas pertinentes.
Pelo fato de trabalhar na Superintendência de
Educação Básica e discutir o Currículo de Ensino facilitou o olhar para a
formação de professores uma vez que a implantação das Orientações Curriculares
da Educação Básica de Mato Grosso passa necessariamente pela formação de
professores da rede estadual de ensino e as possíveis demandas de formação que
poderão surgir.
Apesar de reconhecer que meus conhecimentos são
parcos quanto às especificidades da formação de professores, mesmo assim, ao
ler os documentos percebi que há necessidade de rever a Política de Formação de
Professores, mas precisamente no que diz respeito à formação de formadores, pois,
entendo que quanto à estruturação dos Cefapros, rede física e logística de
formação, estes, está bem, havendo necessidade de pensar a formação de
formadores.
Posso estar equivocada, mas neste momento vejo uma
forte preocupação do órgão em fortalecer os Cefapros o que não deixa de ser preciso,
porém o ponto fundamental da Política de Formação de Professores está no papel
da Seduc frente à Formação de Formadores.
Cumpri ressaltar, que o meu referencial de formação
continuada que construí ao longo desse período de trabalho com formação de
professores da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino, percebo que os
professores que atuam nessa etapa de ensino, encontram dificuldade em conciliar
a teoria com a prática, como também de trabalhar as inovações pedagógicas
postas pela reforma do governo federal e as implantas pelo Estado.
Essa é uma preocupação que angustia os
profissionais que lidam com a formação, sinto que estamos num eterno redemoinho
que dificulta reverter essa situação.
As nossas proposituras de cursos quando programadas
estão sempre direcionadas para a implantação e ou implementação de Projetos ou Programas
do Mec, da Seduc e os da própria escola, deixando a desejar quanto ao
aprofundamento da discussão sobre as questões mais específicas da prática
escolar, ou seja, pedagógica do professor, quanto ao Currículo de Ensino,
Projeto Pedagógico ou (Político), Ensino, Avaliação da Aprendizagem,
Metodologias, Concepções de Aprendizagem, inovações pedagógicas, seleção de
conteúdos e outros, tudo isso é de fundamental importância para que possamos
orientar às escolas e atender as demandas de formação de formadores.
Apesar de transitar em todas as etapas da educação
básica como professora, confesso que só após trabalhar com formação de
professores é que senti de fato que a minha profissão é ser professora, não só
pelo aspecto social em que está inserida, como em reação à ciência do ensino e
da aprendizagem.
Não posso negar que os cursos que fiz ao longo da
minha formação continuada em serviço ou não, foram de fundamental importância
para a consolidação de uma trajetória profissional madura, com clareza das
limitações impostas pelo sistema, que nos faz muitas vezes impotentes profissionalmente,
mesmo assim, ainda sonho com a educação, arrepio, tenho utopias, incertezas,
desejos de mudança, vontade de transformar a realidade dos jovens de classes
sociais economicamente menos favorecidas, por condições desconhecidas que só possuem
a escola pública como caminho para uma formação humanística, integral capaz de
progredir na vida, no trabalho, ser cidadão e ter uma vida digna.
Participei de vários projetos
da Seduc e também com parcerias com outros órgãos, sempre com o compromisso de
articular interesses comuns, na intenção de fazer a integração da educação com
a sociedade, ou melhor, desenvolver projetos cujos temas sejam socialmente
relevantes e que precisam ser abordados no Currículo da Educação Básica e que
possam contribuir com a formação de professores.
Considerando a longa
trajetória percorrida com professora e tendo em vista o interesse de pesquisar
as condições em que se encontram a Formação de Formadores da Seduc, pretendo desenvolver
durante a pesquisa de mestrado, caso seja aprovada, o tema proposto, na certeza
de poder contribuir para retomar e fortalecer as discussões sobre a formação de
formadores enquanto uma ação que está sob o olhar dos próprios Cefapros.
O ponto fundamental do estudo
desta proposta está respaldado na indagação: como estão sendo formados os
formadores dos Cefapros, havendo necessidade questionar quanto à falta de uma
ação afirmativa por parte da Seduc que direcione ou apresente proposições que
possam fortalecer essa ação, pois ainda continuamos com deficiências na pratica
pedagógica do professor, pouca fundamentação teórica de concepções pedagógicas
e dificuldades de romper com práticas seculares de dar aula.
Cabe
neste momento afirmar que essas preocupações surgiram ao longo do
desenvolvimento do meu trabalho com o currículo de ensino, com formação de
professores e também porque pretendo ampliar, aprofundar os meus conhecimentos
acadêmicos, por considerar que um profissional da educação precisa estar
atualizado e preparado para o desempenho de suas funções de professor e ou de
formador de formadores de professores, pois a sociedade exige profissionais competentes,
capazes de contextualizar saberes com a vida, com o mundo do trabalho e em
especial na profissão.
Esta propositura
tem a intenção de contribuir com a pesquisa na área educacional, não só pelas
experiências que aconteceram durante a minha carreira, mas também, pela vontade
de transpor desafios que surgem durante os trabalhos, que superados, com base
em estudos profundos que demanda aportes teóricos da academia para ajudar a
entender as demandas que a sociedade requer e a escola precisa atender com
qualidade.
Para tanto precisamos
investigar as causas do hiato que há entre a Seduc, enquanto responsável pela
formação de formadores e os Cefapros que são responsáveis pela formação de
professores.
Pensando assim, pergunto
Como a Seduc definiu a formação de formadores na Política de Formação de
Professores da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino? ? E a formação dos formadores
como está sendo desenvolvida atualmente? A formação de formadores é feita pela
Seduc, pelos Cefapros ou por instituições formadoras conveniadas pelo órgão?Há
um programa de formação para os formadores por parte da Seduc? Ou dos Cefapros?
Onde está garantida essa formação?
Ao finalizar, quero aqui
expressar a minha preocupação com essas questões, que hoje estão obscuras tanto
para mim como para a Seduc e que requer investigação científica, endossados por
uma academia para validação como política de formação para este órgão, são questionamentos
que precisam de respostas urgentes, rápidas e eficazes.
Temos pressa, precisamos
fazer uma Educação Básica de qualidade, e para tal, faz-se necessário pontuar
considerações sobre a Gestão da Formação dos Formadores de Professores para fomentar
a discussão sobre a formação de formadores como resposta da Seduc que urge por ações
contundentes que possa fazer parte da Política de Formação de Professores e
contribua no diferencial da qualidade da prática do professor.
Cuiabá,
23 de outubro de 2009.
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Iza Aparecida Saliés