A MAQUIAGEM NA VELHA CUIABÁ:
Crônica da velha Cuiabá de “trancas e tramalas”
Moisés Martins
Manhã ensolarada, despedida do outono, chegada do inverno, pelo vidro da janela do meu carro, vejo a maioria dos cuiabanos, trafegar, alguns com sorriso no rosto, próprio do cuiabano "chapa Cruz", outros com a "cara amarrada" como se estivesse insatisfeito com a vida, ou tendo uma conta vencida para saudar.
Certo é que, o burburinho da Cidade, tão distante daquela Cuiabá de "Trancas e Taramelas" que me viu crescer, indo da Prainha, Praça da Mandioquinha, Campo D`Ourique, Areão, Araés e o querido Porto, onde poucos veículos trafegavam, podendo até ser reconhecido o veiculo pelo seu dono.
Na velha “Ford de Bigode” com seu chapéu de caçador da África, lá vinha o Ilustre Dr. Silvio Curvo, nosso Senador. No Pontíac azul marinho lá vinha Benedito Herani, Ilustre e humanitário farmacêutico. Numa velha picape rural lá vinha o Dr. Agrícola Paes de Barros, um dos poucos médicos humanitários de Cuiabá, com a vocação de jornalista, fazendo circular “O Fifó" jornal cuiabano que tratava da nossa cuiabanidade.
Na Chevrolet verde claro, o meu Ilustre colega de profissão, um dos pilares da Maçonaria Mato-grossense, Dr. Nilson Constantino, que juntamente com sua Ilustre e benemérita esposa "D. Nini", deixaram hercúleos trabalhos para Cuiabá. Ele deixou rastros luminosos na comunidade maçônica, ela deixou rastros indeléveis de amor à Cuiabá, ela na Presidência do Clube mais aristocrático e cuiabano à época, O Clube Feminino.
Dr. Hélio Ponce, morador da Rua Grande, hoje 15 de novembro, bem cedo, após o “guaranazinho”, depois de tomar seu cafezinho com leite puro, da sua chácara ou da de Zico Saliês, preparado com carinho por sua esposa "D. Noíse ", surgia ele com seu Automóvel Ford importado, cuja frente parecia mais um avião a jato, lembro-me bem, da sua cor amarela, isto sem enumerar os taxistas de Cuiabá; Cerinha, Bertides, Leandro, "Mae da Praça", Paisome, onde os automóveis mais usados era o da marca Chevrolet 1946, com um porte de nobreza denunciando os anos doirados, também em Cuiabá.
Depois com a chamada modernidade, começaram a surgir os Aero Willis, os Doddges, os Mercedes, deixando as chamadas "Furrequinhas e baratinhas", onde o querido amigo Névio Lotufo (minha homenagem póstuma), fazia coleção, apenas na lembrança do cuiabano. Espaço não faltava! Ao lado da velha Catedral, demolida talvez por ser bonita demais, e a falta de sensibilidade de alguns, lá estavam enfileirados os taxistas de Cuiabá, que não se preocupavam com a comunicação, visto que, o dono do “Bar do Bugre", ao lado do Jardim Alencastro, pai do eminente sempre Reitor Dr. Gabriel Novís, possuía um telefone, que quando acionado, o próprio Sr. Bugre chamava o taxista solicitado.
Quem não se lembra do ônibus do "Berilo", sem portas, lembrando-nos os bondes de Santa Tereza no Rio de Janeiro, ou da Jardineira de “Mubaraque”, a balança mais não cai, antes que o Europeu Cuiabanizado "Bello Tabori", implantasse, em Cuiabá, através de dez Kombi novinhas acreditando há mais de trinta anos, nos serviços de transporte urbano em Cuiabá, onde tive a oportunidade e privilégio de assistir a implantação de uma nova "Maquiagem” no Transporte Urabano"? Aproveito do enseja para cobrar da Cuiabanidade, uma Homenagem perpétua à esse grande empresário, que também, naqueles idos tinha o famoso "Cine Bello" no Porto ao lado do quartel da polícia militar. “Bello Tábori”, como bom empresário, além do Cinema, montou uma sorveteria, no interior do mesmo, e no meio do filme parava o mesmo e com sua voz baritonada com sotaque carregado de erres dizia:
“Vamos parrar parra tomar sorvetes, tá muito quente!”.
As Ruas de Cuiabá, naqueles idos da minha juventude, pareciam enormes e tão largas, onde caminhões como a do meu irmão da Igreja presbiteriana Sr. Henrique de Andrade, trafegavam sem nenhum problema.
Hoje estão maquiando Cuiabá, mais precisamente, não para atender a comunidade cuiabana, mais sim a FIFA, vez que Cuiabá é uma das sedes da Copa do Mundo 2014, o que importa dizer: se não houvesse a Copa do Mundo, Cuiabá que se dane?!”.
Tenho certeza, jamais mudarão a doce canícula cuiabana. Porém, mesmo com esse "Foco" é valida a Maquiagem, onde túneis e viadutos, mudarão a "Cara de Cuiabá", pois, até nós mudamos um dia, e como, deixamos de ser jovem para caminharmos rumo à eternidade, onde teremos a certeza e a segurança que jamais nos maquiarão!
Moisés Martins ( inverno de 2011)
Moisés Mendes Martins Júnior. Poeta, compositor de mão cheia, músico, arranjador, cantor nas horas vagas, escritor com assento na Academia Mato-grossense de Letras e na Academia Mato-grossense
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