Ah!!!! Quanta saudade da velha Cuiabá !!!
Da poeira das ruas, das praças,
da vizinhança, das ruas sem asfalto, das poças d’água na calcada, das
brincadeiras de rua, das carreiras na Praça Major Joao Bueno, ou melhor, no
largo do Porto, de uma infância rica em compartilhamento humano.
Pode não acreditar, eu ciscava a
avenida onde eu morava, depois da chuva, para ver se pegava ouro, isso
acontecia depois de uma gostosa e torrencial chuva, que desaguava na Avenida
Mario Correa. Cada vidrinho de ouro valia uma caixinha de chiclete, que fazia
essa troca era o Dr. Braga, dentista que atendia por ali.
Era uma alegria só, uma disputa saudável,
corríamos tanto que até escorregávamos na lama. Sem esquecer de dizer que de
vez em quando dava uma confusão!!!! Mas anda que pudesse causar desavença entre
nos.
Sou do tempo dos quitutes no
fundo do quintal. Nós tínhamos uma vizinha muito bacana, Dona Carmelita, mãe de
Eneida Yonezava, Leticia Yonezava, Eneias Yonezava, e Ester Yonezava, que deixava
as crianças da vizinhança brincar na sua casa. Eu amava, eu vivia lá. Sua casa
tinha um quintal muito lindo, era um misto de jardim e quintal. Ali, era o
nosso espaço, brincávamos, conversávamos e também brigávamos.
Como minha casa era muro como muro
com a casa dela, eu vivia mais lá do que na minha própria casa, isso porque eu
não tinha crianças da minha idade para brincar. Assim, nossas proezas eram
feitas no quintal da Dona Carmelita, com Dona Ester cuidando de tudo.
Não posso esquecer de uma pessoa
que cuidava de nós, Dona Ester, mãe de Dona Carmelita, ficava de olho em tudo.
Quando a algazarra estava muito grande Dona Ester mandava todos nos irmos para
casa. Chega !!!!Cada um vai pra sua casa!!! Tá na hora !!
Para mim, a casa da Eneida, era
um parque de diversão, tinhas lindos brinquedos, tudo era deslumbrante para
mim. Seu pai, Seo Noriak, trazia as novidades dos lançamentos dos brinquedos do
Japão, naquela época, era difícil encontrar variedade de brinquedos.
Eu nem sabia onde ficava esse
lugar, o Japão, só sabia que eram brinquedos diferentes dos vistos em nosso
meio. Só para lembrar, minha amiga, a Eneida tinha um telefone com fio que a
gente fala com outra pessoa, ele tocava e você atendia, conversávamos de verdade,
e brincando, isso marcou muita minha infância. Vai ser inesquecível. São
lembranças vivas em mim.
Vivi com muito prazer o tempo dos
quitutes, para quem não sabe o que e quitute, era uma brincadeira onde as meninas
reuniam e combinavam de fazer um quitute? Com certeza seria na casa de Dona
Carmelita, cada criança pegava em sua casa uma coisa que podia ser utilizada
para fazer o almoço, podia ser, um punhado de arroz, um ou duas cebolas,
macarrão, tomate, um pedaço de carne, depois de checar o que tinha, ai
resolvíamos o que fazer.
Os meninos faziam o tacuru, onde íamos
cozinhar. O que e tacuru? Era o fogão onde cozinhávamos, era feito por três
pedras grandes que servia para apoiar a panela, lenha, gravetos para que o fogo
pudesse fazer a comida. Depois de um certo tempo eu peguei um fogareiro a gás do meu pai, ai ficou mais
fácil e rápido.
O cardápio seguia as regras do
que as crianças traziam, geralmente era arroz, macarrão ou carne com arroz.
Tinha que ser um cardápio que fosse rápido e fácil de fazer, mesmo porque tinha
apenas uma boca de fogo. E era bem feito, gostos, ela lindo ver a comida
pipocando na panela e todos em derredor aguardando para comer em baixo de
uma frondosa e generosa mangueira. Nem
te conto com era bom, gostoso, prazeroso.
Ah!!!! Não posso esquecer das brincadeiras
dançantes que aconteciam na casa das meninas. Momento dos encontros entre
amigos, paqueras e de dançar bastante. Tudo era realizado na casa dela, Dona
Carmelita, ela tinha o prazer que ver a meninada lá, na tarde de sábado
reuníamos para organizar a festa, cada uma fazia uma coisa, cortando maca para
fazer o ponche, lavava os copos, arrumava toda a copa, o salão, o som, não
podia esquecer da meia de seda, uma bebida também denominada de licor de leite,
que podia ser com coco ou não.
Passávamos a tarde toda por conta
da brincadeira dançante, eu, Eneida a dona da casa, Nine Curvo, Tete, Eliane (as
netas de Dona Nina de Seo Severiano) Lilian, Marilia Malheiros, Wilma de Dona
Aline, Cida (falecida), Ana Catarina, Elisa, Silvia, Helo, Marlene, Simone
Malheiros, Zoca Malheiros, Silvia Malheiros. Pepe.
Cada menina convidava seu amigo
ou paquera, quando ficávamos com vergonha de convidar o nosso pretendente,
pedíamos para uma amiga fazer isso por nos. Ai, era a hora da troca de favores,
eu faço para você e você faz para mim, tá bom? Combinado? Combinado.
E assim tramávamos tudo nos
conformes!!! Depois de tudo no jeito, íamos para a porta da rua, para comentar
sobre as expectativas da festa. Comentávamos
se os rapazes vinham ou não. Era uma preocupação geral, ficávamos apreensivas,
curiosas para saber se os paqueras e amigos iam.
Não lembro que tínhamos
preocupação com o corpo, com as curvas, com o cabelo, com o sapato de salto, vaidade
excessiva, não fez parte dessa época, pelo menos para nos. Tínhamos desejo de
usar um vestido novo, um sapato ajeitado e um perfume que a mãe usava.
Tá na hora da brincadeira
dançante!!!!! A sala estava pronta, a eletrola ok, os discos de vinil
selecionados, e para não ficar com a luz acesa ou apagar totalmente, nos
colocávamos um papel salofane colorido para ficar um pouquinho escurecido. Com
era gostos e saudável esse momento, rolava muita paquera, muita conversa.
Dançávamos bem coladinhos, a músicas escolhidas eram só lentas.
O coração parecia que ia sair
pela boca, quando via o paquerinha subindo a rampa da garagem da casa de Dona
Carmelita. Meu Deus!!!! Ele veio, pulava de alegria e comentava com as amigas.
Santa ingenuidade!!!! Gostosa pureza!!!! Não havia brigas nem confusão, bafão
nem pensar!!!! Tudo na mais perfeita ordem e educação. Superdelicadas!!!
Supereducadas!!!
Cuiabá,
27 de Maio de 2019
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