terça-feira, 30 de julho de 2013

Educação pública

Terça, 30 de julho de 2013

Qualitativamente estamos na berlinda, e por mais que o governo tente dizer o contrário, uma coisa é fato: todos os índices que avaliam a qualidade do ensino ao redor do mundo nos colocam na lanterna.

JOEL MESQUITA

Não sei até que ponto a minha crítica poderá ser consensual. Mas a Escola Pública no Brasil vive um momento de calamidade. São tantas as problemáticas que se tornam duvidosas as esperanças de que haverá mudanças no horizonte; além de lidar com problemas logísticos e quadro de professores de carreira insuficiente, nossa escola não consegue mais preparar alunos para serem competitivos diante das demandas do mercado dessa sociedade pós-moderna.


Na contramão do mundo hodierno, o modelo adotado na Educação Básica e Pública no Brasil, despreza a meritocracia e contribui para a reprodução das desigualdades socioeconômicas e culturais, não preparando os alunos para os desafios da vida; no geral os estudantes da Escola Pública tem baixo desempenho nos exames que avaliam desempenho e qualidade no Ensino Básico ofertado no país.

Qualitativamente estamos na berlinda, e por mais que o governo tente dizer o contrário, uma coisa é fato: todos os índices que avaliam a qualidade do ensino ao redor do mundo nos colocam na lanterna. Em pesquisa encomendada à consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), pela Pearson, o Brasil ficou em penúltimo lugar em um ranking mundial de educação que avaliou comparativamente 40 países levando em conta notas de testes e qualidade de professores, dentre outros fatores.

Assim sendo, faltam razões para justificarem o atual modelo de Ensino Ciclado utilizado pela Rede Pública de Ensino no país. Em pleno século XXI, quando o Estado deveria está capacitando os jovens para entrar no mercado de trabalho de forma competitiva, o que temos para o momento é um Sistema Educacional Básico falido e literalmente abandonado pelo governo.

Falta professor com espírito de cientista, que ame a pesquisa e principalmente, tem faltado investimento no setor, o governo precisa criar mecanismos para que a educação volte a ser um setor que atraia o interesse de mentes brilhantes.

Sou professor da educação básica na Rede Pública e posso testemunhar a realidade lamentável em que se encontra o Ensino Público no Brasil, mais especificamente no estado do Mato Grosso. Tem faltado compromisso e um projeto de investimentos de longo prazo.

Meus alunos não possuem conhecimento essencial para enfrentar o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM e disputar vagas na Universidade Pública com igualdade em relação aos alunos oriundos do ensino privado.

A causa dessa situação vexatória a meu ver é que ao permitir a progressão continuada do aluno ao longo de sua vida escolar, a instituição escola contribuiu para que o aluno avançasse em seus estudos mesmo sendo possuidor de lacunas inadmissíveis em sua formação básica. O resultado tem sido desastroso!

Assim sendo é comum ter em sala de aula alunos e alunas concluindo o Ensino Médio, que mal sabem ler e escrever corretamente. Agora pergunto aos defensores desse modelo de escola: onde está à razão de existir dessa filosofia educacional, denominada Ensino Ciclado? Uma proposta que não tem objetivado em sua prática cotidiana agregar conhecimento efetivo ao aluno? Pergunto: é correto endossar o fracasso de uma geração de jovens estudantes? Ondem estão os professores que não se manifestam? A situação é vergonhosa e eu fico imaginando até quando esse silêncio perdurará. A problemática é grave e requer reflexão.

Até onde irá essa covardia por parte dos docentes? Isso mesmo, covardia, nossos educadores tem se portado de forma covarde. Nesse momento de crise no Sistema Educacional é premente que se abra o debate em torno do problema. Não podemos aceitar que a educação seja deixada em segundo plano. Estamos perdendo o futuro no presente. Temos que rediscutir esse modo de ensinar. Não é razoável aceitar e se submeter a essa situação constrangedora de indiferença frente à situação, que a cada ano tem se agravado.

Outro dia, estive na Universidade Federal do Mato Grosso em Cuiabá, onde me formei, quando uma professora Doutora veio até a mim e disse: meu caro aluno, a situação é grave, tenho alunos que ingressaram no Ensino Superior e que não conseguem ler ou escrever corretamente. Indaguei a ela, qual era a origem desse aluno; ela me respondeu, veio da Escola Pública. Agora eu pergunto: a culpa é de quem? Do aluno? Dos docentes com seus salários de fome? Ou é culpa do modelo adotado pelos gestores das pastas de Educação nesse país?

Uma Escola Pública, que com o atual modelo de ensino, sequer tem conseguido preparar o aluno para atender as exigências do Ensino Superior Público, não poderá está no caminho certo. É preciso que haja reformulações. O que me aflige é a indiferença culposa. Quem deveria de forma ética denunciar o sucateamento da Rede Básica de Ensino Público e a ineficácia e ineficiência do modelo de Ensino Ciclado não o fazem.

Seguindo o diapasão de nossos governantes, que não estão nem aí para a educação, os educadores, em sua maior parcela, contribuem com a disseminação de um discurso falacioso e equivocado transmitindo uma mensagem, na base do “quem cala, logo consente” de que está tudo bem. Quando na verdade o Sistema Educacional Público para o Ensino Básico se encontra falido e sem rumo.

Além do mais, não podemos nos esquecer do papel da escola, da sua missão transformadora. Se o aluno vai para a escola é porque o mesmo precisa ser moldado, preparado, ensinado, ele precisa ser treinado para enfrentar os desafios do mundo; o professor é o comandante e precisa assumir a postura de líder, de técnico, é essencial que o mesmo seja investido de “poder” na tomada de decisões. Quem conhece o aluno é o professor, e é este último quem deve decidir se o educando possui conhecimentos necessários para avançar em seus estudos. Infelizmente a progressão continuada tirou do professor a “autonomia”.

Ultimando, é preciso que haja um aggiornamento, pois num momento difícil como o que temos vivenciado, é fundamental que os educadores unam forças e disseminem a ideia de uma reforma educacional e que chamem a sociedade civil organizada para o debate. É preciso que se fale que as coisas não vão bem. A mudança precisa acontecer.

* JOEL MESQUITA é cientista social

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