Autor: Pedro Félix é escritor
Essa vitória sobre a Espanha teve um longo percurso que começou com uma crise; a crise do açúcar no final do século XVII. Tudo começou coma expulsão dos holandeses do Brasil em 1654. Os batavos levarem mudas de cana de açúcar brasileiro para as Antilhas.
O plantio na América central quebrou economicamente o Brasil e fez a coroa portuguesa se voltar para o interior da Colônia em busca de novas riquezas, além do açúcar do litoral nordestino.
A meta de interiorização foi inicialmente realizada pela coroa e esse processo foi chamado de “Entradas”. Essas expedições que adentravam a mata a procura de outras riquezas, foram substituídas por empreendimentos particulares chamadas de “Bandeiras” e seu membros denominados de “Bandeirantes”.
Os mais conhecidos bandeirantes saíram de São Paulo, e caçavam índios e prospectavam metais preciosos. Atacavam aldeias e Missões jesuíticas, escravizando aqueles que sobreviviam a seus ataques. De Sorocaba, Itu, São Vicente e Porto Feliz vieram muitos desses para a região de Mato Grosso.
Muitos desses bandeirantes acreditavam que encontrariam a Serra dos Martírios, uma lenda criada pela bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva, o pai. A lenda dizia que no interior do Brasil existia uma Serra, que por obra da natureza havia uma coroa e a lança e cravos da paixão de Jesus Cristo esculpidos em ouro e cristais.
A lenda da Serrados Martírios também incentivou o desbravamento a Mato Grosso e o Morro de São Jerônimo chegou a ser referenciado com a serra da Lenda. Mas seja pela lenda, mas principalmente pela ótica econômica,outros bandeirantes chegaram aqui em nossa terra.
O Filho de Bartolomeu Bueno, que tinha o mesmo nome que o pai, juntamente com Manoel Campos Bicudo e posteriormente seu filho Antônio Pires de Campos, são os primeiros portugueses a pisarem em solo mato-grossense.
Por volta de 1680 a 1718 eles adentraram em nosso solo levaram muitos índios para as lavouras de São Paulo. De São Paulo partiam geralmente da cidade de Porto Feliz, na época chamada de Araritaguaba (terra das Araras). De modo fluvial chegavam aqui depois de cinco a seis meses de viagem.
Em 1719 após encontrar Pires de Campos, Pascoal Moreira Cabral, soube da existência de índios Coxiponé na região. Sua chegada trouxe a descoberta de ouro oficialmente em 8 de abril de 1719.
A descoberta levada como notícia, trouxe diversas lendas sobre os achados. Diziam que em Ikuiapa (como era chamada Cuiabá pelos índios) havia tanto ouro que qualquer fogão de chão era feito de pedras de ouro. Os bacamartes (armas de fogo de cano longo) tinham balas de ouro.
A lenda trouxe uma enxurrada de gente de todo tipo, muitos sem eira nem beira. Algumas ordens religiosas foram proibidas de entrar nas minas, pois os padres só queriam enriquecer e depois sumiam no mato deixando as batinas.
A leva de gente cresceu e me 1727, Cuiabá já tinha mais de quatro mil pessoas. O Arraial virou vila com o nome de Nosso Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Mas o ouro era de aluvião, fácil de achar, mas rápido para acabar.
A fome de ouro fez muitos dos habitantes de Cuiabá migrar para o norte e noroeste em busca de mais metais. Nesse desbravamento mais para o centro da América do Sul, fez surgir novos Arraiais, entre eles São Pedro Del Rei (Poconé), Vila Maria do Paraguai (Cáceres), Diamantino Alto Paraguai e mais a noroeste Vila Bela da Santíssima Trindade, dentre muitos outros.
Estava configurado um povoamento português em terra legalmente ainda da Espanha. Como fazer para reverter tal situação. Foi então assinado um tratado que tinha um princípio baseado na ocupação da terra. Onde existisse gente daquela nacionalidade a terra pertenceria àquela nação.
O principio foi chamado de Utti Possidetis, sendo um princípio de direito internacional segundo o qual os que de fato ocupam um território possuem direito sobre este. A expressão advém da frase uti possidetis, ita possideatis, que significa "como possuís, assim possuais". Essa argumentação foi defendida por um nobre da Corte portuguesa, mas de nascimento no Brasil chamado Alexandre de Gusmão.
Argumento aceito, as duas coroas assinaram o Tratado de Madri em 13 de janeiro de 1750 e Mato Grosso que já existia desde 9 de maio de 1748, passou legalmente a ser terra de Portugal.
Hoje Mato Grosso completa duzentos e sessenta anos de existência, sendo um grande estado com múltiplos aspectos geográficos, banhados por três bacias geográficas(Bacia Amazônica, Bacia do Paraguai e Bacia do Tocantins), com uma exuberante vegetação compreendo os biomas pantaneiro, amazônico e o cerrado. Abriga diferentes etnias, ganhando cada vez mais expressão dentro e fora do Brasil. Segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2010, Mato Grosso possui 3.035.122 habitantes, o que representa 1,59% da população brasileira. Temos muita terra que pode abrigar ainda uma imensidão de gente.
Parabéns a todos que de uma forma ou de outra contribuíram e contribui com o progresso de nosso Estado.
Pedro Félix é escritor, autor dos Livros de História de Maro Grosso 1ª, 2ª e 3ª edições, e Cuiabá, centro da América do Sul.
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