Constantemente estamos sabendo pela mídia, fatos desagradáveis sobre o trato do tema sexo, na escola, um dia é distribuição de livros indevidos ou dia é o professor que abordou o tema na sala de aula e o pai não gostou, e assim vai acontecendo as situações constrangedoras com muita freqüência seja ela por meio dos livros didáticos ou por abordagem de conteúdos.
Pipocaram situações dessa em todo lugar, mas recentemente ficamos sabendo do caso de São Paulo e Recife, os livros foram distribuídos com termos aparentemente inadequados, quando isso acontece às pessoas devem pensar que é intencional, não é o assunto é complexo, demanda quebra de tabus, mitos e resistências da sociedade. Abordar a sexualidade na escola não é uma tarefa fácil.
A sociedade brasileira parece liberal, mas, não é, carrega em suas tradições culturais um punhado de preconceitos e resistências no que diz respeito à discussão de temas de fundamental importância para ela. Neste caso, a questão sexual.
Digo isso, porque tive a oportunidade de desenvolver um Projeto de Educação em Saúde, para tratar sobre as doenças sexualmente transmissíveis, cuja finalidade era orientar os jovens do Ensino Médio a prevenção. Nós da educação, temos uma forma própria para abordar o tema na sala de aula, todo cuidado é pouco quando vai discutir sexo com os alunos e a saúde tem as suas especificidades técnicas que são primordiais para tratar do assunto, também.
Para a execução do Projeto havia necessidade de distribuir sobre o uso do preservativo, ou seja, a famosa camisinha, orientar com os alunos do Ensino Médio da rede estadual de ensino. Então, começou o grande dilema, precisávamos convencer os pais de que havia necessidade de trabalhar o assunto na escola, para depois disponibilizar o preservativo para eles.
Como estratégia de desenvolvimento do Projeto, o grupo resolveu elaborar um questionário para que os pais pudessem saber sobre o assunto de modo que as respostas pudessem dirimir ou sugerir possíveis encaminhamentos que atendesse os objetivos do trabalho. Ao elaborar o questionário surgiram sérias divergências no grupo, o pessoal da educação achava os termos utilizados pela saúde eram muito forte, trabalhar com assunto polêmico como este, exige um cuidado redobrado por parte da escola. A escola como espaço de ensino e aprendizagem, quando aborda um determinado assunto quer dizer que estamos tratando de formação para a vida, para o mundo.
A saúde lida com o tema sexo com a maior naturalidade, diz os termos técnicos com muita facilidade, pois estão tratando de um assunto de saúde pública, de prevenção de orientação. E para a educação, o assunto precisa ter um toque especial, ou seja, precisa ser trabalhado com preparo pedagógico, como formação e não como uma simples orientação sem fundamentação científica.
Lembrando o que ocorreu em Recife (PE) com Secretaria de Estado de Educação, que determinou o recolhimento de um livro de educação sexual distribuído a alunos da 4ª e 5ª séries da rede municipal de ensino, considerando que os pais de alunos consideraram a obra "obscena". Para os pais parece que é indecente, mas não é, o que acontece é que a sociedade não aborda o tema com seus filhos e não deixa que a escola faça.
Não culpo a educação e nem a saúde pelo fato ocorrido, precisamos entender que a linguagem e as ilustrações utilizadas pela saúde para explicar o assunto são essas, elas são únicas, não tem como falar sobre o assunto sem gerar polêmicas, a única forma de discutir sexo é explicar como ele é ao pé da letra. Mas, sem abordar de forma chula.
Será que a sociedade não deve pensar em assumir sua tarefa de orientar sobre a sexualidade para seus filhos? Estamos na modernidade, à tecnologia invadiu nossos lares, é fato consumado, errado ou certo, eles estão sabendo sobre o assunto, então, precisamos entrar num consenso, a sociedade e a escola, e decidir como discutir, indagar, questionar e formar nossos alunos para a vida, com conhecimentos formais que possam auxiliá-los nas decisões futuras.
É função da escola sim, mediar à inclusão do tema sexo no currículo de ensino, ou seja, como conteúdo escolar das diferentes disciplinas, para ser discutido na sala de aula, de modo a tornar as abordagens mais adaptáveis à situação didática do professor, pois, a pedagogia recomenda metodologias próprias e adequadas para tornar um assunto do cotidiano dos alunos numa abordagem também científica. Segundo César Coll (2000, p.12) a tentativa de ensinar conteúdos específicos não é intrinsecamente negativa, tudo depende de quais conteúdos se quer ensinar e, sobretudo, de como eles são ensinados e como eles são aprendidos.
Considerando a teoria da aprendizagem que Coll preconiza, há conteúdos que são abordados na escola são determinados assuntos ou saberes culturais que são discutidos nas atividades do dia-a-dia, em casa, nas rodas e no trabalho e são plenamente observados e absorvidos pela sociedade, como há também a assimilação de novos assuntos, ou seja, de novos conteúdos o que requer que as atividades educativas sejam planejadas de forma que possam ajudar os alunos a entender os saberes culturais que no momento são considerados de fundamental importância para a formação do jovem.
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