terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Discalculia – o horror à matemática

As dificuldades de aprendizagem da matemática muitas vezes são justificadas por explicações pedagógicas não suficientemente precisas, tais como: dificuldades nas habilidades pré-requeridas; falhas na compreensão de conceitos, reforço inadequado ou insuficiente, escassas oportunidades para a prática e até mesmo dificuldades de “ensinagem”. No entanto, nem sempre estas são as causas dos insucessos na aprendizagem da matemática. A razão pode ser um transtorno chamado discalculia.

Estudo dirigido pelo matemático Brian Butterworth, mostrou que entre 1.500 crianças examinadas, de 3% a 6% delas mostravam sinais de discalculia. Outros estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, Europa e Israel mostram que a prevalência da discalculia nestes países varia ao redor de 3 a 6,5%. Apesar de quase 5% da população mundial sofrerem com os sintomas deste transtorno, a maioria das pessoas nunca ouviu falar nisso.

O que é Discalculia?

Discalculia é um transtorno estrutural da maturação das habilidades matemáticas, as quais incluem as habilidades linguísticas, perceptuais e de atenção. Não decorre de uma lesão cerebral, mas de disfunções neurológicas ou imaturidade das funções neurológicas, e está associada às dificuldades específicas no processo da aprendizagem do cálculo, que se observam entre indivíduos de inteligência normal. Decorre de falhas na representação dos fatos numéricos, na execução dos procedimentos aritméticos e respectiva representação espacial, na impossibilidade de realizar cálculos mentais, de reconhecer a relação entre os diversos conceitos e utilizá-los na resolução de situações-problema.

Como reconhecer um discalcúlico?

Os discalcúlicos têm inteligência normal ou superior. A aquisição da linguagem (oral, leitura, escrita) acontece muitas vezes de forma mais acelerada, e, não raro, apresentam habilidades poéticas. Perdem objetos frequentemente e dão a impressão de distraídos. Podem apresentar dificuldades para entender ordens e planejar estratégias em jogos, de lembrar regras e fórmulas. É comum demonstrarem dificuldades em dançar porque não lembram a sequência de passos de uma dança. Os discalcúlicos parecem ter medo de lidar com números, sentem-se incapazes de realizar cálculos mentalmente, demonstram dificuldades de entender o conceito e o manejo das operações e até mesmo de fixar a tabuada. Demoram mais para compreender as operações inversas como subtração e divisão. Embora reconheçam os números, não conseguem estabelecer relações entre eles, montar operações e identificar corretamente os sinais matemáticos. As noções de espaço e tempo também são comprometidas e demoram para aprender a ler as horas, saber a sequência dos meses, do ano, lidar com as noções temporais de dia, mês e ano, ontem, hoje, amanhã e outras.

Diagnosticando a discalculia

Detectar a discalculia, no entanto, não é fácil. Na pré-escola, já é possível notar algum sinal do distúrbio, quando a criança apresenta dificuldade em responder às relações matemáticas propostas - como igual e diferente, pequeno e grande, muito e pouco, etc. Porém, o diagnóstico nesta fase é mais complexo, uma vez que a criança ainda não foi exposta ao processo de aprendizagem dos conceitos aritméticos, que, em geral, ocorre a partir dos 7 anos de idade, época em que os símbolos matemáticos e as operações são introduzidos e os sintomas da discalculia se evidenciam. Nas fases mais adiantadas da vida escolar, este transtorno também impede a compreensão dos conceitos matemáticos e sua incorporação na vida cotidiana.

Caso não seja diagnosticada a tempo, a discalculia pode comprometer o desenvolvimento escolar em outros aspectos também. O aluno discalcúlico, devido à sua limitação, pode adquirir o medo de enfrentar novas experiências de aprendizagem por desacreditar na sua capacidade. Pode também passar a apresentar problemas de conduta, tornar-se agressivo, apático ou desinteressado. É comum que pais, professores e até colegas, por desconhecerem o que realmente acontece com o discalcúlico acabem abalando ainda mais sua autoestima com críticas e punições. Por isso, é importante que se tenha, o quanto antes, o diagnóstico, o qual poderá ser feito de forma multidisciplinar, incluindo avaliação psicopedagógica e neurológica e, assim, começar o tratamento adequado.



Quézia Bombonatto

queziabombonatto@abpp.com.br

Bacharel em Matemática, Fonoaudióloga, Psicopedagoga, Terapeuta Familiar, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).

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