por Suzane da Rocha Vieira*
“Estrangeiro eu não vou ser
Cidadão do mundo eu sou”
Milton Nascimento
Nos últimos anos, as questões ambientais têm adquirido uma grande importância em nossa sociedade. Com as mudanças que o mundo vem sofrendo, a partir da crise da modernidade, acentuaram-se os números de estudos na busca de soluções para os problemas sociais, ambientais, políticos e econômicos que se está passando. Assim começam a surgir novos paradigmas que visam uma direção mais sistêmica e complexa de sociedade.
Foi a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972 que se ampliou o conceito de Educação Ambiental e na Conferência de Tibilisi em 1977 que internacionalmente reconheceu-se que:
A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida. (SATO, 2002: 23-24)
Assim, a partir da década de setenta emergiram em todo o mundo discussões acerca da Educação Ambiental, e tais discussões vêm ganhando espaço com o passar dos anos. E, como não poderia deixar de ser, um desses espaços é a escola. Dessa maneira, urge uma reformulação no sistema educativo, a partir de novas práticas pedagógicas que sejam promotoras de sujeitos de ação e não de adaptação, de cidadãos responsáveis e conscientes de seu papel no mundo.
Dessa forma, criou-se, no mundo inteiro, um consenso mundial de que o nosso futuro, enquanto homens e mulheres organizados em sociedade, depende das relações estabelecidas entre os homens e os recursos naturais. Inicialmente, a Educação Ambiental apresentava um caráter preservacionista, com ações voltadas apenas para o cuidado com a natureza mas hoje sabemos que ela não se limita simplesmente às modificações ambientais, ela possui um caráter social e político que não podem ser negados, uma vez que o ambiente é um todo complexo.
Nesse processo, a Educação Ambiental vem adquirindo uma grande importância no mundo, sendo hoje pertinente que os currículos escolares busquem desenvolver práticas pedagógicas ambientalizadas. Assuntos como ética, estética, respeito e cidadania planetária devem estar presentes diariamente na rotina da sala de aula.
Como perspectiva educativa, a Educação Ambiental deve estar presente no currículo de todas as disciplinas, uma vez que permite a análise de temas que enfocam as relações entre a humanidade, o meio natural e as relações sociais, sem deixar de lado suas especificidades.
É necessário ter claro que a Educação Ambiental não deve estar presente no currículo escolar como uma disciplina, porque ela não se destina a isso, mas sim como um tema que permeia todas as relações e atividades escolares, buscando desenvolver-se de maneira interdisciplinar, conforme preconiza o Plano Nacional de Educação Ambiental - Lei 9795/99.
A interdisciplinaridade é explicada por Norgaard (1998) através de uma metáfora muito interessante, nela ele simboliza a orquestra para explicar a importância da interdisciplinaridade. Se todos os pesquisadores envolvidos numa pesquisa possuíssem os mesmos entendimentos sobre um determinado conhecimento, estaríamos tocando um só instrumento e alcançando as mesmas notas musicais. Mas possuir conhecimentos complementares ou divergentes seria comparável a uma orquestra, onde tocar juntos requer uma partitura mais elaborada e uma competência mais considerável. Ainda que numa orquestra os músicos não possam escolher as partituras que tocam juntos ou eleger o regente, o som da improvisação orquestral pode representar uma revolução, onde a dissonância pode ser compreendida como parte da transição da modernidade, e onde os conhecimentos se complementam para a interpretação conjunta de uma realidade.
Portanto, a dimensão ambiental traz a necessidade de uma rica orquestra musical, uma vez que a educação ambiental, deve ser entendida como educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza
Para Moreira “nas escolas não se aprendem apenas conteúdos sobre o mundo natural e social; adquirem-se também consciência, disposições e sensibilidades que comandam relações e comportamentos sociais do sujeito e estrutura sua personalidade” (1995: 50). Assim, a interdisciplinaridade envolve muito mais do que integração entre as disciplinas, ela precisa envolver conhecimentos do cotidiano dos alunos e que lhes traga significado. Por isso, a Educação Ambiental precisa fazer parte do cotidiano escolar, para refletir sobre questões atuais e pensar em que mundo se deseja viver, e, então, por em prática a máxima do pensamento ecologista mundial de poder agir local e pensar global.
A maneira como o currículo é oferecido na maioria das escolas não permite um arranjo flexível para que os professores possam incluir a dimensão ambiental em suas aulas. É necessário que o currículo seja entendido como “algo que se constitui nas relações intersubjetivas na comunidade escolar, relações essas inerentemente políticas, e, portanto, mesmo que implicitamente sempre intencionais. Currículo é um processo inacabado” (GALIAZZI, GARCIA, et al. 2002: 100). É concordando com Sacristán (1998) que compreende o currículo como algo construído no cruzamento de influências e campos de atividades diferenciadas e inter-relacionadas, permitindo analisar o curso de objetivação e concretização do currículo em vários níveis e assinalando suas múltiplas transformações,que se viabiliza a educação ambiental na escola.
De acordo com Sato,
Há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares, como atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora da sala de aula, produção de materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política ambientalista. Cabe aos professores, por intermédio de prática interdisciplinar, proporem novas metodologias que favoreçam a implementação da Educação Ambiental, sempre considerando o ambiente imediato, relacionado a exemplos de problemas atualizados (2003: 25).
Atualmente, o currículo escolar vem transformando-se e atendendo as exigências do paradigma da pós-modernidade, que entende a sociedade como uma totalidade. Segundo Santos (2000), a modernidade está assentada sobre dois pilares de construção do conhecimento, onde o primeiro é o conhecimento-regulação e o segundo o conhecimento-emancipação. Sendo que o conhecimento que se consagrou foi o conhecimento regulação, dominando e anulando as possibilidades de implementação do conhecimento emancipação.
Conforme Barcelos (2002), a retomada do conhecimento emancipação permitirá o surgimento de uma nova relação entre conhecimento e cidadania, em que o ato de conhecer é também ato de reconhecer que o outro não mais é visto tomado apenas como objeto, mas como sujeito do conhecimento. E é para esse tipo de conhecimento que a Educação Ambiental está voltada, um conhecimento construído, desenvolvimento da cidadania, da autonomia e da ética.
Entretanto, Barcelos (2002) apontará que para se atingir o conhecimento emancipação é necessário uma construção paradigmática, que “permite distinguir as disciplinas sem, no entanto, separá-las, isolá-las, associar sem, com isso, reduzir ou anular qualquer uma das partes ou disciplinas envolvidas”. O que não será uma tarefa muito fácil, tendo em vista que tudo no mundo está fragmentado, mas para se construir uma conscientização ambiental/planetária é necessário desconstruir a compartimentalização do conhecimento.
Considerando que a Educação Ambiental tem por objetivo a busca do conhecimento integrado de todas as áreas para a solução dos problemas ambientais, a fragmentação do conhecimento perde o sentido, uma vez que esta educação visa o conhecimento emancipação. Portanto, a EA tem sido identificada como transdisciplinar isto é, transpassa todas as disciplinas já que ela, segundo Sato, “sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais dos seres humanos” (2002: 24).
Porém, a construção de um currículo deve levar em conta o indivíduo, a sua sociedade e a sua história de forma a criar uma situação de um compromisso que possa gerar a transformação. Sobre o desenvolvimento de um currículo Giesta, assim se pronuncia:
o estudante analise a coerência de seus próprios valores e comportamentos, assim com da sociedade; aprenda a obter informações e desenvolver competências para perceber o ambiente particular como parte as sociedade global, entre outras aprendizagens que lhe dêem suporte para melhor compreender o mundo, os fatos, as pessoas. (1999:120).
Portanto, é evidente a necessidade de trazer para os currículos escolares os conhecimentos, os valores e comportamentos do estudante e da sociedade da qual ele é partícipe em uma relação recíproca de influências que envolvem uma variedade de conceitos e visões de mundo. As palavras de Giesta expressam essa realidade da seguinte maneira: “a educação se dá na interação com as pessoas e com o meio ambiente” (1994: 183).
Percebe-se, então, que o currículo é uma construção social, no sentido que está diretamente ligado a um momento histórico, a uma determinada sociedade e as relações que esta estabelece com o conhecimento. Partindo disto, existe nas diversas realidades uma pluralidade de objetivos com relação ao que ensinar, no sentido de que os conteúdos propostos compõe um quadro bastante diverso e ao mesmo tempo peculiar.
Deste modo, a escola ao propor o desenvolvimento do currículo escolar voltado para a questão ambiental, deve proporcionar a participação de todos no processo de sua construção execução, tendo os alunos como sujeitos do processo. Os conteúdos precisam ser revistos para que os mesmos convirjam entre as disciplinas de forma interdisciplinar, além de terem sua importância dentro da Educação Ambiental.
A Educação Ambiental precisa ser entendida como uma importante aliada do currículo escolar na busca de um conhecimento integrado que supere a fragmentação tendo em vista o conhecimento emancipação. Uma vez que, segundo Sato, a EA “sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais dos seres humanos” (SATO, 2002: 24). Sendo assim, apresenta-se como uma peça importante no currículo escolar.
Referências
BARCELOS, T. M. (2002). Subjetividade: inquietações contemporâneas. Educação e filosofia 32, (16), 149-159.
GALIAZZI, M. C. et. Al.. Construindo Caleidoscópios: organizando unidades de aprendizagem. Revista eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental, Rio Grande, v. 09, p. 98 –111, jul. – dez. 2002.
GIESTA, N.C. Tomada de decisões pedagógicas no cotidiano escolar. Porto alegre:UFRGS, 1994.
MOREIRA, A . F. Currículos e Programas no Brasil. Campinas: Papirus, 1995.
NORGAARD, Richard. A improvisação do conhecimento discordante. In Ambiente & Sociedade, Ano I, n. 2, p. 25-40, 1998.
SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sob a prática. 3ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
SANTOS, B. S. A critica da razão indolente – contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000.
SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: Rima, 2002.
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* Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e aluna especial do Programa de Pós-graduação em Educação Ambiental da Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Educação ambiental e o currículo escolar
Como saber se meu filho tem um problema de ansiedade?
Teresa Artola González
SITUAÇÃO FAMILIAR: Marta tem 8 anos e tem uma irmã, Lourdes, de 6 anos. Até há alguns meses era uma menina alegre e tranquila, ainda que sempre tenha sido um tanto tímida. Ultimamente, seus pais notaram que ela mudou. Toda sua antiga energia e alegria evaporou-se. Parece triste e mostra grande resistência para empreender qualquer atividade nova. Lhe custa muito dormir e quando o consegue tem frequente pesadelos. Chora com frequência e, frequentemente, sem um motivo aparente.
Converteu-se em uma menina solitária que evita suas antigas amigas e se resiste a conquistar novas amizades. Se tornou mal-humorada e irritada, ainda que ela insiste em que não tem nada.
Seus pais, Fernando e Carmem, não entendem muito bem o que é que está acontecendo. Faz seis meses que se mudaram de cidade, por motivos de trabalho de Fernando, e portanto de colégio. Certamente, não entendem que isto pudesse afetar tanto a filha. De fato, o resto da família adaptou-se muito bem: estão agora em uma cidade menor, possuem uma casa muito mais bonita, em um bairro com belos jardins onde há muitas crianças da idade de suas filhas.
Mas para Marta não lhe interessa descer para jogar. Frequentemente diz que lhe dói a cabeça e prefere ficar em casa lendo.
O colégio é também muito melhor em relação ao que frequentava antes. Cuidam mais da formação das meninas e a cada uma lhes destaca uma preceptora que colabora com os pais na educação das meninas. Mércia, a preceptora de Marta, disse que ela é uma menina muito dócil e inteligente, ainda que frequentemente fique distraída cometa erros absurdos por ser muito impulsiva. Também tiveram problemas de adaptação: lhe custa relacionar-se com suas companheiras e, em várias ocasiões, estas mexem com ela porque usa óculos para melhorar sua visão.
Nos primeiros meses faltou com frequência ao colégio pois teve muitas dores de barriga e vômitos. Seus pais, assustados, a levaram ao médico, que lhes disse que estas dores são consequência do “nervosismo”. Mas nervoso de que?, se perguntavam seus pais.
Carmem, sua mãe, é também muito nervosa e perfeccionista em excesso: gosta que tudo esteja perfeito e é muito exigente: com as notas, com a ordem. Entretanto é tremendamente sociável e já tem um montão de amigas em sua nova cidade. Não entende por que a sua filha lhe custa tanto adaptar-se.
Em casa, Marta também está muito insuportável: Chega do colégio de mau humor. Se aborrece por qualquer coisa e chora com frequência sem motivo aparente. Seus pais se perguntam se não será pela idade e esperam que com o tempo volte a ser a menina que era antes.
O que é a ansiedade e como se produz?
A ansiedade é uma resposta natural do organismo que lhe prepara para reagir (lutar ou fugir) ante um perigo real ou imaginário. É um espécie de radar que foi muito útil à humanidade em um passado perigoso.
Sem preocupações ou sem medos não poderíamos evitar as coisas potencialmente prejudiciais com as quais nos encontramos cada dia.
Se trata, portanto, de uma resposta adaptativa do organismo que lhe prepara para enfrentar uma situação de perigo: o coração bate mais depressa para contribuir maior quantidade de oxigênio, os músculos ficam tensos.
Todas estas atividades se desencadeiam como consequências da ativação do Sistema Nervoso Autônomo (SNA). Se trata de um sistema nervoso independente cuja atividade não está submetida ao controle direto do cérebro (pelo que lhe denomina autônomo). Por isso, quando o SNA se ativa, estaremos nervosos, mesmo quando nosso “cérebro pensante” nos diz que não existe perigo real e que nosso medo é irracional.
Hoje em dia, raramente a sobrevivência nos exige fugir ou lutar. Entretanto, nosso sistema nervoso continua respondendo aos sinais de perigo e pode ativar-se ante situações que não coloquem em perigo nossa sobrevivência física, mas nosso bem estar emocional ou intelectual.
Por exemplo, o SNA de uma criança pode ativar-se quando lhe perguntam na classe, quando lhe critica um professor, quando outras crianças zombam dela.
A ANSIEDADE NÃO É UMA DOENÇA,
MAS UMA REAÇÃO NATURAL DO ORGANISMO QUE OCORRE DE FORMA
INADEQUADA
Frequentemente, esta resposta se desencadeia de forma inadequada ante situações ou estímulos que não supõem nenhum risco real para a pessoa, ou melhor aparece ante situações apropriadas mas de forma excessiva: por exemplo, quase todas as pessoas experimentam um certo nervosismo ante os exames mas, se este é excessivo, falaremos de ansiedade.
Como identificar se meu filho tem um problema de ansiedade?
Nem sempre é fácil identificar se uma criança tem um problema de ansiedade.
A ANSIEDADE PODE
APRESENTAR-SE COM FREQUÊNCIA
DE FORMA DISFARÇADA
Entre os muitos aspectos que a ansiedade pode adotar estão o mau humor, a irritabilidade, o comportamento agressivo, o fracasso escolar, a obstinação, a rebeldia.
Frequentemente, as crianças ansiosas são etiquetas como “preguiçosas” ou “estúpidas”. Assim, uma criança, cujos primeiros dias de colégio estão marcados pela ansiedade, parecerá menos ágil, capacitado ou competente que seus companheiros, já que a ansiedade excessiva tem um efeito negativo sobre o rendimento. É, pois provável que seus professores o “etiquetem” como torpe ou pouco brilhante. Uma vez que ocorre isto, se requer uma enorme quantidade de provas em sentido contrário para que os professores mudem de opinião sobre a criança.
Também pode manifestar-se sob a forma de sintomas físicos como dores de barriga, vômitos, dor de cabeça, ou ser interpretado como consequência de outros conflitos como ciúmes, mau caráter, agressividade ... Todas estas manifestações são formas através das quais a criança se defende da ansiedade.
Por exemplo, se seu filho tem medo do professor de matemática, é possível que sofra vômitos ou dores de barriga cada vez que tem aula com ele.
Se estas artimanhas não lhe servem, é provável que evite mentalmente a situação, fantasiando durante a aula, com o qual seu rendimento será cada vez menor, ou melhor que quando tiver que fazer um exame responda com muita rapidez para evitar o mais cedo possível a situação (o que certamente lhe levará a cometer muitos erros absurdos).
Lhe proporemos que responda as perguntas do seguinte questionário, que pode ajudar-lhe a determinar se seu filho sofre uma ansiedade excessiva.
Questionário de D. Lewis para detectar ansiedade
1 – Dorme mal (custa para dormir ou acorda com frequência durante à noite).
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
2 – Tem pouco apetite.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
3 – Se aborrece muito pelas contrariedades.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
4 – Chora sem nenhum motivo aparente.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
5 – Padece de muitas doenças benignas (resfriados, dores de barriga ...)
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
6 – Está arisco e mal-humorado
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
7 –Resiste a tentar novos objetivos:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
8 – Sua conduta é conflitiva em casa ou no colégio.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
9 – Baixou em seu rendimento na sala de aula sem razão aparente.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
10 – Começou a fazer xixi na cama uma e outra vez.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
11 – Se cansa com facilidade.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
12 – Tem medo quando tenta realizar algo novo.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
13 – Se mostra muito sensível às críticas justificadas.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
14 – É tímido em relação aos demais.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
15 – Gosta de estar com os amigos ou familiares:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
16 – Tem dificuldades para fazer amigos
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
17 – Pede que lhe desculpem para ausentar-se na classe determinados dias:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
18 – Tem pesadelos
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
19 – Não gosta das mudanças em sua rotina:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
20 – Lhe custa levantar-se por sua conta:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
PONTUAÇÃO: Anotar 5 pontos para cada resposta c, 2 para cada resposta b, e 0 para cada resposta a. Se a pontuação ficou acima de 25 pontos, sugere-se que continue lendo este texto.
Como se manifesta a ansiedade?
A ansiedade pode adotar formas diversas. Geralmente se dão quatro tipos de repostas de ansiedade: a ansiedade geral difusa ou crônica, os medos, as fobias e as conduta rituais ou obsessivas.
A – ANSIEDADE CRÔNICA
Por ansiedade geral ou crônica se entende um estado de preocupação devido a uma circunstância incerta ou inespecífica que ameaça em provocar algum dano grave. Nestes casos, a angústia mental e física que experimenta a pessoa que a sofre não pode atribuir-se a uma pessoa, anima ou situação concreta. A criança tem medo mas nada de concreto; fica intranquila, ansiosa.
A pessoa que a sofre a experimenta como uma espécie de “nuvem negra” que lhe rodeia desde o momento que se desperta até o instante em que dorme. Como um estado constante de apreensão e preocupação. Como um “flutuar” no ar” como um “medo sem saber do quê”.
Este excesso de ansiedade também recebe o nome de síndrome de estresse depressivo e costuma ir acompanhado de sintomas como:
- Esgotamento, perca de energia e fadiga.
- Perca de confiança em si mesmo e interesse pelos demais.
- Diminuição das relações pessoais.
- Irritabilidade: a criança se torna cada vez mais irritada, é incapaz de suportar qualquer contratempo ou frustração e tende a valorizar mais os fracassos que os êxitos.
- Depressão: choro frequente, falta de amor próprio e sentimentos de indecisão (não posso fazer nada).
- Problemas de saúde: dores de barriga, dores musculares (costas e pescoço), dores de cabeça, vômitos.
Nas crianças, a ansiedade crônica está na base e muito problemas escolares e frequentemente dificulta a capacidade da criança para:
- Assimilar as lições.
- Resolver problemas.
- Tomar decisões.
- Aprovar exames.
- Fazer amigos.
- Relacionar-se com seus professores.
Tem também importantes efeitos negativos sobre a própria imagem, auto-estima e segurança em si mesmo da criança.
Há certas épocas na vida da criança nas quais pode estar especialmente propensa a padecer deste tipo de ansiedade:
- Ao começar a etapa escolar.
- A mudança de colégio e a necessidade de fazer novos amigos.
- Ao finalizar a educação secundária com a preparação dos temidos exames.
- Para a puberdade: sua mente e seu corpo devem adaptar-se as mudanças que têm lugar a esta idade.
Também, certos acontecimentos importantes na vida da criança podem gerar uma ampla dose de ansiedade:
- A morte de um familiar ou amigo próximo.
- A separação de seus pais.
- A perca de emprego do pai ou da mãe.
- A mudança de domicílio.
- A morte de um animal muito querido.
- O rompimento com um amigo íntimo.
ESTEJA ATENTA, NESTES MOMENTOS, SEU FILHO NECESSITA
COMPREENSÃO E APOIO
B – OS MEDOS
Os medos se referem à ansiedade provocada por algo que seu filho pode ver, ouvir ou experimentar: medo aos cachorros, aos estranhos, aos exames. Costumam estar acompanhados dos mesmos sintomas físicos e mentais que a ansiedade, se bem que costumam apresentar-se de forma mais intensa mas tão duradoura.
Os medos variam conforme a idade da criança. As crianças dentre 0 e 3 anos temem especialmente distanciar-se dos pais e desconfiam dos estranhos.
Entre os 4 e 6 anos, é a idade da imaginação transbordada, os medos aos fantasmas, os monstros, as bruxas, a escuridão. A medida que a criança se torna adulta, os medos imaginários são reempregados por outros reais.
Entre os 6 e 12 anos, alguns dos medos mais comum são os seguintes:
- Medo de ser ridicularizado, zombado, castigado, criticado ou sentir-se humilhado.
- Perder o amor ou respeito de seus pais, a não cumprir suas expectativas, ao fracasso.
- Medo a dor física, machucar-se, fazer feridas.
- Medo à morte, às guerras (por volta dos 8 anos).
- Medo ante alguns fenômeno naturais (tempestades, por exemplo ).
- Medo à relação com outras crianças: fazer novos amigos, ser ridicularizado.
- Medo à escola, aos exames, à matemática, aos esportes.
- Medo sexual, que lhe vejam nu, que não seja uma pessoa “normal”.
Geralmente, estes medos infantis constituem uma etapa passageira mas podem continuar e converter-se em um problema quando:
- A criança tem um temperamento ansioso e sensível.
- Os pais têm medos parecidos.
- A criança teve que enfrentar acontecimento estressantes.
- Após uma experiência negativa de medo na vida real.
- Não se fez nada para ajudar a criança superar seus medos.
- Se deu muita importância ao medo.
- Quando se evitam as possíveis situações que geram o medo.
COMO SEMPRE,
O MELHOR É PREVENIR
O que fazer ante estes casos? Em primeiro lugar, prevenir o medo. Isto implica que devem evitar-se as ocasiões que provocam ansiedade. Para isso é fundamental que, em sua casa, existe um ambiente de calma e serenidade. As discussões entre os pais, uma atmosfera tensa, a irregularidade habitual dos horários o nervosismo e a agitação são fatores que não contribuem ao sentimento de segurança que precisa seu filho.
UM CLIMA FAMILIAR DE CALMA E SERENIDADE É FUNDAMENTAL PARA
PREVENIR A ANSIEDADE NAS CRIANÇAS
Depois deverá tranquilizar seu filho. Tentará compreender-lhe, mostrar-lhe mais afeto e não deve zombar de seus medos. Procure um momento propício para falar-lhe deles.
A seguir deverá tentar uma reeducação progressiva. Assim, se seu filho tem medo à escuridão, lhe permitirá deixar uma luz ao princípio e irá diminuindo paulatinamente até tirar-lhe totalmente. Ao mesmo tempo irá tratando de inspirar-lhe autoconfiança e segurança em si mesmo. E tem especial cuidado em não utilizar o medo como meio educativo.
PARA SUPERAR SEUS MEDOS DEVER IR POUCO A POUCO
COMO SE ESTIVESSE SUBINDO OS DEGRAUS DE UMA ESCADA
C – AS FOBIAS
O termo “fobia” significa pânico ou medo: Diferem de outro tipo de medos em três aspectos fundamentais:
- O medo é intenso, até tal ponto que a criança não seja capaz de controlá-lo.
- O objeto temido não implica uma ameaça real (por exemplo, um rato ou um cachorro).
- O medo é tão forte que faz com que a criança trate de evitar a situação no futuro.
As fobias pelos animais e outros objetos específicos são muito comum nas criança dentre 2 e 6 anos de idade. A partir desta idade, a maioria das crianças são capazes de superar suas fobias. Se uma fobia continua até a adolescência, é provável que se mantenha na vida adulta.
A melhor forma de tratar as fobias é abordada logo, antes de que se estabeleçam. O principal problema para superá-la é que a criança fóbica tenha tanto medo que faça todo o possível para evitar o objeto temido, e desta maneira nunca pode averiguar que realmente não há nele nada a temer.
Pode ajudar seu filho fazendo-lhe enfrentar-se aos objetos ou situações temidas muito lentamente mediante pequenos passos escalonados. Programe cada passo com muito cuidado de forma que quando deve superá-lo apenas experimente uma ligeira ansiedade. Se nota que tem medo, é que vai muito depressa, ou os passos são muito grandes. Neste caso deverá voltar atrás até um passo que seu filho seja capaz de superar.
D – CONDUTAS RITUAIS E OBSESSÕES
Uma conduta ritual é uma ação repetitiva que tem um significado especial para a pessoa que a realiza. Produz uma sensação de alívio e redução da tensão. Muitas crianças dentre 5 e 10 anos apresentam condutas rituais:
- Colocar em fila seus bonecos ou jogos.
- Colocar sempre as coisas na mesma ordem.
- Não pisar nas faixas dos ladrilhos da rua.
- Repetir muitas vezes a mesma palavra ou frase .
- Fazer as coisas sempre na mesma ordem.
- Fazer sempre as coisas da mesma maneira (antes de dormir, tomar banho ...)
- Comprovar as coisas uma e outra vez.
- Tocar todos os objetos de forma reiterada.
Estes atos rituais costumam constituir uma forma através da qual a criança elimina sua ansiedade. Ao conservar as coisas iguais e familiares, a criança se sente mais segura. Certamente, em ocasiões, estes rituais podem chegar a dominar a criança. Nestes casos deverá pesquisar o que é que pode lhe produzir ansiedade e impedir de forma firme mas carinhosa em que realiza estas condutas. A princípio é normal que proteste. Mas ao longo, sua firmeza transmitirá a seu filho sentimentos de segurança e bem estar.
As obsessões são similares aos comportamentos similares mas se diferenciam destes em que se trata de pensamentos persistentes e indesejados e são mais frequentes nos adultos que nas crianças.
O que é que lhe deixa ansioso?
A ansiedade costuma ser o resultado de sentimentos de inadequação ou inferioridade. Estes podem surgir como resultado de algumas das circunstâncias que a seguir detalhamos.
PAIS EXCESSIVAMENTE CRÍTICOS, EXIGENTES E PERFECCIONISTAS:
Se você ou seus professores criticam a criança com frequência por seus erros, se os mostram excessivamente exigentes e dão a impressão de que seu carinho ou respeito depende de seu êxito, é muito provável que a pressão que a criança experimenta por cumprir suas altas expectativas gere nela ansiedade.
Neste caso, a criança está excessivamente preocupada por satisfazer as expectativas dos adultos e responder suas exigências. Isso implica uma perca de segurança, uma atitude de autocrítica, um descenso da motivação e uma imagem negativa de si mesmo.
ELOGIE SEUS ÊXITOS
E NÃO DARÁ TANTA IMPORTÂNCIA
A SEUS FRACASSOS
Quando critica uma criança com frequência por suas faltas, esta acaba sentindo-se culpada. Se torna medrosa ante as nova situações e se sente insegura em suas relações com os demais. Qualquer ameaça, critica pessoal ou sugestão desfavorável aumenta seus sentimentos de insegurança.
Em outras ocasiões, o medo ao fracasso não provém das altas expectativas dos pais, mas da própria criança; como quando deseja igualar os êxitos de seu irmão maior, ou parecer-se a seu pai.
Há crianças que podem ir muito bem ao colégio, mas o que lhes motiva é o medo ao fracasso em lugar da necessidade de êxito. Enquanto que o que motiva a criança não é o obter um êxito, mas o evitar a todo custo um fracasso, qualquer erro gerará uma notável dose de ansiedade.
PROBLEMAS FAMILIARES. Quando os pais têm problemas, discutem com frequência, têm problemas de trabalho ... as crianças podem desenvolver uma ansiedade intensa. Muitos pais pensam que seus filhos não se dão conta da existência destes problemas, já que procuram não discutir na sua presença. Deve ter em conta que seu filho tem uma espécie de “radar” e detecta facilmente qualquer problema.
AS RELAÇÕES COM OUTRAS CRIANÇAS: As relações com outras crianças podem ser, também, fonte de ansiedade. As ameaças por parte de um menino mais forte, as conversas dos companheiros, podem supor para algumas crianças uma ansiedade considerável.
INQUIETUDES SEXUAIS: Pode originar-se com frequência como consequência de cenas vistas na televisão de filmes visto às escondidas, de brincadeiras de caráter sexual de outras crianças. Os pais devem ter em conta que a melhor forma de prevenir este problema é conversando com os filhos e adiantando-se em tratar sobre os temas de educação sexual para ser os primeiros em estabelecer as idéias positivas.
PAIS INSEGUROS E ANSIOSOS: As crianças ansiosas costumam ter pais, e em especial MÃES, com altos níveis de ansiedade.
Os medos específico não se passa de pais para filhos, mas o que pode ocorrer é que a criança herde um SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO mais sensível à estimulação e, portanto, uma tendência à ansiedade, uma maior vulnerabilidade à ansiedade.
Mas, fundamentalmente, a ansiedade se transmite de pais para filhos através de seu comportamento. Quando os próprios pais são medrosos ou inseguros podem transmitir a criança seus medos. Se continuamente lhe advertimos possíveis perigos, se lhe superprotegemos e não lhe deixamos ser independentes, não é de estranhar que nosso filho se sinta inseguro e imite nosso comportamento .
LEMBRE QUE A ANSIEDADE É
CONTAGIOSA. MANTENHA A CALMA
E A SERENIDADE
Frequentemente, a ansiedade se disfarça em forma de mau humor, irritabilidade, comportamento agressivo, impulsividade e outras formas de má conduta.
Além disso, muitas crianças ocultam suas inquietudes por:
- Medo a que não se leve a sério.
- Medo a parecer bobas ou infantis ou covardes.
- Medo a que lhe repreenda, ridicularize ou humilhe.
Para averiguar com certeza o que é que está preocupando a seu filho deverá observar atentamente e aprender a escutar-lhe com uma mentalidade receptiva.
CADA CRIANÇA É DIFERENTE
CONHEÇA A SEU FILHO
Uma forma de identificar a causa das ansiedades de seu filho é que se proponha a levar um pequeno diário de seu comportamento. Não é necessário descrições longas e detalhadas. Basta que anote brevemente o que a criança fez durante o dia junto com qualquer sintoma de ansiedade: dor de barriga, perca de apetite, pesadelos, choro.
Dito em registro convém que se refira ao que ocorreu imediatamente antes e depois das manifestações de ansiedade.
Anote o que aconteceu justo antes de que seu filho mostrasse sintoma de ansiedade, o momento do dia, e o lugar onde esta se apresentou (antes da aula de ginástica, quando criticou, quando viu a determinado professor), assim como o ocorrido como consequência deste comportamento: se lhe castigou, se lhe permitiu sair com uma das suas ...
A cabo de uns dez dias releia todas as anotações e tente ver se há algo a fazer em comum: por exemplo, pode descobrir que seu filho tem dor de barriga cada vez que tem um jogo de futebol ou que fica de mau humor cada vez que tem uma festa; estas anotações lhe darão importantes pistas do que está acontecendo com a criança.
Também é fundamental que saiba ESCUTAR a seu filho: uma escuta atenta que lhe permita entender o que disse além daquilo que não disse resulta fundamental. Para isso, convém que tenha em conta as seguintes recomendações:
- DEIXE O QUE ESTÁ FAZENDO: As crianças nem sempre escolhem o momento mais oportuno em que querem ser escutadas. Se está na cozinha fazendo a torta para o jantar tem duas opções: ou deixar a torta e escutar-lhe atentamente ou dizer a seu filho que nesse momento não pode escutar-lhe com suficiente atenção e logo lhe chamará para conversar com ele. Mas NÃO FAÇA AS DUAS COISAS AO MESMO TEMPO.
- NÃO ESCUTE QUANDO ESTIVER ABORECIDA: Quando seu filho chega em casa com uma notificação do colégio por seu mau comportamento é provável que seu aborrecimento não lhe permita escutar as explicações que seu filho tenta dar-lhe. Não tente escutá-lo enquanto não tiver se acalmado e puder valorizar a situação de forma objetiva.
- NÃO ZOMBE nem ignore os argumentos de seu filho.
- ESCUTE POSITIVAMENTE. Isto implica que dever escutar com os olhos além de com os ouvidos. Reserve um tempo no qual possa prestar total atenção o qual seu filho quer contar-lhe. Uma boa hora costuma ser quando estão deitados na cama antes de dormir. Escute-lhe e trate de intervir o menos possível. Qualquer interrupção, sobretudo se for para criticar-lhe, fará com que a criança se retraia.
Anime seu filho para que fala com liberdade, sem dizer-lhe nada mas escutando-lhe com interesse. Ensine-lhe que não há nada de tão ruim que não possa contar. Peça exemplos concretos dos comportamentos que lhe causam ansiedade.
SABER ESCUTAR É IMPORTANTE
PARA CONHECER SEU FILHO
Como posso ajudar?
Se seu filho padece de algum tipo de ansiedade deve levá-lo a sério. Muitos pais dão pouca importância aos medos de seus filhos e pensam que se trata de algo que desaparecerá com a idade. Outros se aborrecem com seus filhos por considerá-los muito “moles” ou covardes.
Em primeiro lugar, mantenha-se tranquila e tenha confiança em si mesma. Lembre que a ansiedade pode ser contagiosa.
Brigar com a criança ou dizer-lhe que “deixe de comportar-se como uma boba”, não costuma dar resultado e frequentemente piora as coisas. Deixar passar um tempo tampouco costuma ser uma boa estratégia.
Para ajudar seu filho a esforce-se primeiro em compreender sua ansiedade e os desagradáveis sintomas mentais e físicos que o acompanham. A seguir deverá esforçar-se em averiguar por que seu filho está ansioso e ensinar-lhe alguns procedimentos para combater os sintomas físicos e mentais da ansiedade.
Também deverá melhorar sua auto-estima para ensinar-lhe a enfrentar-se à vida com mais confiança, segurança e boa adaptação.
UMA ALTA AUTOESTIMA É UM
BOM ANTÍDOTO CONTRA
A ANSIEDADE
Do mesmo modo, as situações familiares negativas para a criança e os conflitos familiares deverão solucionar-se para que a criança encontre em sua família um ambiente relaxante, e realizar as mudanças ambientais necessárias para eliminar as fontes de ansiedade e estress inecessárias.
Pode também proporcionar a seu filho algumas habilidades e recursos para que consiga enfrentar as situações conflitivas com maior confiança.
ENSINAR-LHE A RELAXAR-SE
Uma forma de ensinar seu filho a controlar seus medos e preocupações é ensinando-lhe a relaxar.
A relação é o antídoto natural do corpo contra a ansiedade. Existem muitas formas de aprender a relaxar-se, ainda que nem todas são fáceis de aplicar com crianças. Certamente, à maioria das crianças lhes encanta que lhes ensinem técnicas de relaxamento se lhes apresentam como um jogo divertido.
Algumas das técnicas mais utilizadas (que não descrevemos por questão de espaço neste livro) são as seguintes:
- Manter-se cômodo e em silêncio em um quarto tranquilo
- Escutar algum peça musical que lhe agrade muito.
- Esticando alguns músculos e a seguir relaxando-se. Se puder, por exemplo, faça-lhe imaginar que é uma marionete com fios amarrados na cabeças mãos e pés, e faça-lhe dançar enquanto simulamos manipular os fios. A seguir simularemos que vamos cortando os fios um a um e induzindo-lhe a que relaxe.
- Criando um filme mental. Lhe pediremos que imagine o mais vivamente possível uma imagem que lhe resulte muito agradável e relaxante: estar deitado na praia sentindo o calor do sol e o barulho das ondas; deitado sobre a grama ouvindo as flores: flutuando deitado sobre uma nuvem ... qualquer imagem é válida sempre que se trata de um lugar muito pessoal onde a criança se sinta a vontade. Um lugar especial e privado ao qual pode voltar cada vez que se sente tenso ou ansioso,
- Através de imagens que se associam com um estado de relaxamento.
- Penando em uma experiência passada feliz.
- Escutando uma música com instruções especiais sobre relaxamento.
- Respirando profundamente.
Como enfrentar situações cotidianas?
Entre os 6 e os 12 anos há algumas áreas nas quais a ansiedade tem mais probabilidades de aparecer.
A – ANSIEDADE ANTE O COLÉGIO: Este tipo de ansiedade é muito comum e pode aparecer como consequência da preocupação por uma avaliação determinada, ou pela atitude de algum professor em real. Também pode reforçar-se para que a criança se sinta incapaz de superar as tarefas que deve realizar no colégio.
Em ocasiões a recusa em ir ao colégio é consequência, não do que ocorre, mas do que pode ocorrer em casa enquanto ela está ausente: por exemplo, se a mãe está doente, se há problemas entre os pais ...
- Se se sente triste e mau humorado nos últimos dias de férias.
- É mais propenso a doenças benignas durante o curo escolar.
- Chora quando tem que ir ao colégio.
- É infeliz por culpa de uma ou mais das avaliações escolares.
- Costuma voltar em casa, do colégio, de mal humor.
Nestes casos deverá averiguar se existe alguma boa razão para que a criança se comporte assim. É possível que outras crianças estejam lhe aborrecendo ou intimidando ou inclusive que o problema seja o próprio professor. Deverá, além disso, assegurar-se de que seu filho se sente capaz de realizar o trabalho escolar ou pensa que lhe resulta muito difícil.
Se seu filho mudou recentemente de colégio é possível que sinta medo aos desconhecidos: que não saiba onde estão os serviços, onde sentar-se, onde deixar sua lancheira ... nestes casos deve falar com seu filho e advertir-lhe que a princípio tudo parecerá um pouco estranho, mas que ninguém lhe importará que lhe pergunte. Uma boa medida pode ser levar seu filho ao colégio antes de que comece o curso para que o conheça, para que tenha uma idéia de onde está cada coisa e que conheça a seu professor antes de começar o curso.
MANTENHA UMA ÍNTIMA
RELAÇÃO COM OS
PROFESSORES DE SEU FILHO
Se observa em seu filho qualquer recusa de ao ir ao colégio é importante que mantenha uma íntima relação com os professores de seu filho. Fale com eles e recorra a todas as linguagens, reuniões e atividades que for possível realizadas no colégio.
Investigue se seu filho está sendo intimidado ou amedrontado por outras crianças. As crianças que estão pouco habituadas a relacionar-se com outras crianças, como por exemplo os filhos únicos, ou as crianças com algum defeito físico evidente: gordas, com óculos, gagas ... costumam ser as mais escolhidas como vítimas propiciatórias.
Se seu filho é uma vítima, não caia na armadilha de incentivar-lhe a que devolva os golpes: matricular-lhe em uma academia de karatê não é a melhor solução. Ajude-lhe, pelo contrário, a desenvolver defesas psicológicas para opor-se as tentativas de intimidação,
Não ridicularize seu filho por não saber defender-se sozinho. Não faria outra coisa a não ser aumentar sua ansiedade. O que deve fazer é aumentar a confiança em si mesmo e seu amor próprio. Para isso pode ser útil matricular-lhe em alguma atividade esportiva, como natação, montanhismo, remo ... que lhe ensine a enfrentar-se com os elementos e a adquirir maior confiança em si mesmo. Ajude-lhe a fazer amigos abrindo-lhes as portas de sua casa.
AUMENTE SUA CONFIANÇA
E
SEGURANÇA EM SI MESMO
Converse com seu filho e faça-lhe ver que a melhor forma de conseguir que não zombem dele é dar menos importância possível a estas conversas. Desta forma se converterá em uma vítima carente de interesse. Não tente convencer-lhe de que seja o “galinho” como uma criança fraca patética digna de pena mais que como a uma pessoa especial e medrosa. Que lhe conforme em lugar de fugir.
Pode, também, ensinar-lhe a utilizar técnicas de relaxamento ou imagens mentais para aumentar sua segurança e para que seja capaz de receber as ameaças e insultos sem assustar-se nem enfurecer-se.
Não recorra imediatamente a seu professores ou aos pais da criança agressiva para queixar-se. É preferível deixar que seu filho com seu apoio, resolva o problema por si próprio. Unicamente deverá intervir quando este medo se prolongue durante mais tempo ou as brigas se tornam mais violentas .
Averiguar de que habilidades sociais seu filho carece que lhe façam converter-se frequentemente na vítima dos demais.
Se não existe uma razão suficiente ou compreensível para não querer ir ao colégio então deve acentuar sua firmeza para obrigar a criança a ir. Se seu filho observa que duvida ou cede, lhe será cada vez mais difícil conseguir que vá.
É possível que seu filho se queixe dizendo estar doente ou que está com dor de barriga e inclusive que vomite. Nestes casos assegure-se de que não está doente. Se tem dúvidas coloque-lhe o termômetro. Se não tem febre, o certo é que vá ao colégio.
B – MEDO AOS EXAMES. Todos ficamos nervosos ante os exames. De fato, um certo nervosismo faz com que nosso rendimento aumente. Certamente, uma ansiedade exagerada é a razão principal pela qual muitas crianças apresentam um rendimento baixo nos exames.
Uma condição importante para o êxito nos exames é o estabelecimento: Deve fazer seu filho ver que o estudo antes de um exame se parece ao treinamento para uma prova esportiva: quanto mais cedo começar mais possibilidades de êxito terá.
Deve, pois, ajudar-lhe a estabelecer o estudo de forma que possa realizá-lo em sessões curtas e regulares distribuídas ao longo de vários dias, em lugar de “estudos bitolados” dois dias antes do exame.
Tal objetivo convém fazê-lo por escrito em um horário ou plano a colocar no quarto onde habitualmente estuda. Cada dia deverá ir registrando graficamente seus progressos. Isto aumentará sua motivação e confiança diminuindo, portanto, sua ansiedade.
Premie seu esforço durante estes dias e apoie com mil detalhes: preparando-lhe o lanche ou fazendo pequenas visitas.
Não permita que sua ansiedade ante os exames lhes contagie. Deve oferecer-lhe serenidade e facilitar-lhe um ambiente propício para o estudo. Uni-lo com os irmãos para ajudar-lhe a estudar.
Para diminuir sua ansiedade ante a situação de exame pode ajudar-lhe fazendo pequenas provas em casa. Deve assegurar-se de que a princípio as provas são o suficientemente fáceis para que possa ter êxito. Quando se sentir seguro vá incrementando progressivamente a dificuldade das provas. Pode, também, treinar seu filho a praticar o relaxamento enquanto se imagina na sala de aula no dia do exame fazendo uma prova.
É também fundamental que ensine a distribuir o tempo durante a realização das provas. Faça ver que é melhor tentar responder a todas as perguntas do exame que desenvolver muito bem apenas uma ou duas. Assegure-se de que faça ao exame com um relógio e aconselhe-lhe que controle o tempo com frequência.
Ensine-lhe a dedicar tempo à leitura dos enunciados. Este tempo é crucial para o êxito no exame. Também, antes de colocar-se a escrever deverá destacar um tempo a cada uma das perguntas e antes de começar a escrever ensine-lhe a fazer um pequeno esquema ou ideograma das idéias a desenvolver. Lhe ajudará centrar e lembrar-se e além disso, se não der tempo de terminá-lo, ao menos poderá apresentar o esquema de cada pergunta.
Aconselhe-lhe que reserve um tempo, também, a repassar cada uma das questões.
Se não souber responder ou não entender alguma pergunta, ensine-lhe a manter a calma e passar à seguinte aplicando as técnicas de relaxamento de que falamos anteriormente.
Depois do exame convém não entrar em discussões sobre o mesmo. O melhor conselho é esquecer um exame uma vez realizado e concentrar-se no seguinte.
C – ANSIEDADE ANTE OS DEBATES. A partir dos 6 anos é comum que seu filho comece a trazer deveres para casa e o cumpri-los pode originar-lhe uma considerável dose de ansiedade.
A maioria dos educadores coincidem em que os deveres são importantes para consolidar os conhecimentos adquiridos na classe e para desenvolver no aluno o hábito de estudo e a capacidade para trabalhar de forma independente
É importante que seu filho tenha um horário e se habitue a fazer seus deveres no mesmo lugar e a mesma hora todos os dias. Não permita que seu filho veja televisão antes de fazer os deveres. A televisão reduz sua capacidade de atenção e concentração. Motive-lhe para que não queira vê-la.
Criar um ambiente de estudo é fundamental para evitar as distrações. Enquanto que seu filho está fazendo os deveres procure ler ou realizar uma atividade que não lhe distraia. Se sua mãe está falando pelo telefone ou seu pai vendo o futebol é difícil que ele se concentre.
A princípio convém que comprove com ele, e lhe assegure de que compreende as atividades a realizar enquanto chega do colégio. Desta forma evitará o susto de última hora como a falta de um material quando já fecharam a livraria.
OS PAIS DEVEM ESTAR
DISPONÍVEIS MAS SEM RESOLVER-LHE
TODOS OS PROBLEMAS
Enquanto trabalha não é conveniente que esteja com ele. É importante que esteja a sua disposição durante o momento dos deveres para ajudar-lhe a resolver suas dúvidas.
Enquanto lhe ajuda, permaneça tranquilo e paciente, ainda que seu filho se engane. E não lhe dê todas as respostas. Invente problemas similares que lhe sirvam de exemplo sobre a melhor forma de encontra por si próprio as respostas.
D – ANSIEDADE ANTE A MATEMÁTICA. Dentre as avaliações escolares a matemática é a que origina maiores níveis de ansiedade nas crianças. Muitos se consideram incapazes para a matemática e reprovam sem remédio não por falta de capacidade, mas como consequência de sua ansiedade.
Se seu filho tem dificuldades com a aritmética, certamente detestará esta avaliação e poderá ficar nervoso e inseguro cada vez que tiver que enfrentá-la esta ansiedade costuma estar acompanhada de sentimentos de desvalorização e falta de auto-estima: “jamais as entenderei, nunca será capaz”.
Quando se produz esta ansiedade, a criança costuma reagir colocando em andamento uma série de mecanismos de defesa como o convite: negando-lhe a tentar resolver o problema, “não sou capaz”, ou tentando fazê-lo o mais rápido possível para fugir rapidamente da situação, com o qual cometerá erros frequentes.
Se seu filho se queixa de que não entende a matemática, não o console com o (lembrando talvez sua própria experiência) pois unicamente reforçará a imagem negativa que seu filho tem de si próprio. Pelo contrário inspire-lhe confiança em si mesmo e proporcione-lhe uma ajuda prática para resolver seu problema.
Antes de tentar ajudar-lhe faça, primeiro, seus próprios deveres: estude o tema e pratique-o em particular. Se improvisar é possível que não saiba resolvê-lo com o qual seu filho se sentirá mais ansioso ao pensar: “se mamãe não foi capaz, como eu vou ser?
OBSERVE COMO SEU FILHO TRABALHA
Revise com regularidade o trabalho de seu filho fixando-se não apenas em suas respostas, mas também nos procedimentos seguintes para chegar a essas repostas. Averigúe se existem lacunas em seu conhecimentos básicos que lhe impeçam de progredir, e ajude-lhe a recuperá-las. Analise a forma em que seu filho estabelece os problemas e faça-o ver os possíveis erros que comete no procedimento de sua resolução. Facilite-lhe a pratica necessária para resolver essas deficiências concretas. Pesquise, também, se existem erros de conceito que deva reparar.
Não se mostre ansioso nem crítico. Mantenha-se amigável e estimule-lhe em todo momento. Estabeleça-lhe questões que esteja certo que seja possível utilidade da matemática em sua vida real estabelecendo-lhe questões de tipo prático. Isto aumentará sua segurança e motivação.
UM PLANO DE AÇÃO PARA MARTA
1 – SITUAÇÃO:
Marta tem 8 anos e, como se descreveu no início do capítulo, apresenta sintomas de ansiedade que parecem originados pelo stress que supôs a mudança de domicilio, de colégio e a necessidade de fazer frente a esta situação. Neste Plano de Ação nos centraremos em seu comportamento escolar.
2 – OBJETIVOS:
GERAL: Melhorar sua adaptação escolar e seu medo a enfrentar-se a situações novas.
3 – MEIOS:
- Sua mãe dedicará tempo para conversar com ela e, em especial, a escutá-la para averiguar o que é que lhe produz ansiedade. Levará também um pequeno diário no qual anotará as ocasiões em que Marta mostra sinais de ansiedade.
- Carmem e Fernando conversarão com frequência com a tutora de Marta. Se colocarão de acordo para juntos fazer Planos de Ação que estimula a Marta.
- Averiguarão se outras meninas estão intimidando.
- Lhe ensinarão algumas técnicas de relaxamento quando sente que lhe dói a barriga ou vai vomitar. Se o fizer, não lhe darão muita importância e insistirão que vá ao colégio.
- Lhe sugerirão que convide para passear com eles alguma amiga do colégio com a qual se sinta à vontade.
4 – MOTIVAÇÃO:
- Fernando falará com Marta e lhe contará como ele era quando criança, também teve que mudar-se de cidade e os problemas que teve. Lhe tranquilizará dizendo que com o tempo passará.
- Elogiarão cada pequeno progresso de Marta. Procurarão coisas em que ela se destaca (por exemplo, o desenho) e se reforçarão.
- Carmem procurará ser menos perfeccionista: elogiar seus êxitos e restará importância a suas falhas.
5 – DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS:
Carmem levou a cabo o registro com o diário durante um mês. Ao analisá-lo comprovou que Marta se mostrava especialmente irritada e ansiosa os dias que tinha aula de inglês.
Falando com ele e com sua tutora descobriu que seu nível de inglês é muito inferior ao da classe, já que Marta vinha de um colégio onde apenas aprendia inglês costumava castigar-lhe pensando que o problema era que não prestava atenção.
Carmem e Fernando conversaram com a professora de inglês e esclareceram a situação. Desde então estabeleceu-lhe um programa personalizado para ela se sinta capaz de realizar e tudo melhorou.
Quanto aos óculos, falaram com Marta e fizeram ver que as pessoas que necessitam meter-se com outras é porque elas mesmas estão complexadas. Deve sentir pena em lugar de temê-las. Além disso, marcaram uma visita ao oftalmologista para estudar a possibilidade de usar lentes.
Trouxe uma menina em casa várias ocasiões e ultimamente mostra mais interesse por conhecer as meninas de sua cidade.
Carmem e Fernando estão contentes. Acreditam que souberam, com a ajuda de Mércia, enfrentar a situação ainda que são conscientes de que todavia lhes resta muito caminho a recorrer. Questionário de D. Lewis para detectar ansiedade
Fonte: Livro “Como resolver situações cotidianas de seus filhos de 6 a 12 anos”
TERESA ARTOLA GONZÁLEZ é doutora em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri e Mestre em Educação Familiar pelo E.I.E.S (Educational Institute of Educational Sciences). Desenvolve um amplo trabalho de pesquisa docente no campo da Psicologia Infantil e é professora da Escola Universitária Européia da Educação de Fomento de Centros de Ensino. É autora de diversas publicações, em sua maior parte dedicadas aos problemas de aprendizagem, sua avaliação e tratamento.
Publicado no Portal da Família em 24/01/2012
SITUAÇÃO FAMILIAR: Marta tem 8 anos e tem uma irmã, Lourdes, de 6 anos. Até há alguns meses era uma menina alegre e tranquila, ainda que sempre tenha sido um tanto tímida. Ultimamente, seus pais notaram que ela mudou. Toda sua antiga energia e alegria evaporou-se. Parece triste e mostra grande resistência para empreender qualquer atividade nova. Lhe custa muito dormir e quando o consegue tem frequente pesadelos. Chora com frequência e, frequentemente, sem um motivo aparente.
Converteu-se em uma menina solitária que evita suas antigas amigas e se resiste a conquistar novas amizades. Se tornou mal-humorada e irritada, ainda que ela insiste em que não tem nada.
Seus pais, Fernando e Carmem, não entendem muito bem o que é que está acontecendo. Faz seis meses que se mudaram de cidade, por motivos de trabalho de Fernando, e portanto de colégio. Certamente, não entendem que isto pudesse afetar tanto a filha. De fato, o resto da família adaptou-se muito bem: estão agora em uma cidade menor, possuem uma casa muito mais bonita, em um bairro com belos jardins onde há muitas crianças da idade de suas filhas.
Mas para Marta não lhe interessa descer para jogar. Frequentemente diz que lhe dói a cabeça e prefere ficar em casa lendo.
O colégio é também muito melhor em relação ao que frequentava antes. Cuidam mais da formação das meninas e a cada uma lhes destaca uma preceptora que colabora com os pais na educação das meninas. Mércia, a preceptora de Marta, disse que ela é uma menina muito dócil e inteligente, ainda que frequentemente fique distraída cometa erros absurdos por ser muito impulsiva. Também tiveram problemas de adaptação: lhe custa relacionar-se com suas companheiras e, em várias ocasiões, estas mexem com ela porque usa óculos para melhorar sua visão.
Nos primeiros meses faltou com frequência ao colégio pois teve muitas dores de barriga e vômitos. Seus pais, assustados, a levaram ao médico, que lhes disse que estas dores são consequência do “nervosismo”. Mas nervoso de que?, se perguntavam seus pais.
Carmem, sua mãe, é também muito nervosa e perfeccionista em excesso: gosta que tudo esteja perfeito e é muito exigente: com as notas, com a ordem. Entretanto é tremendamente sociável e já tem um montão de amigas em sua nova cidade. Não entende por que a sua filha lhe custa tanto adaptar-se.
Em casa, Marta também está muito insuportável: Chega do colégio de mau humor. Se aborrece por qualquer coisa e chora com frequência sem motivo aparente. Seus pais se perguntam se não será pela idade e esperam que com o tempo volte a ser a menina que era antes.
O que é a ansiedade e como se produz?
A ansiedade é uma resposta natural do organismo que lhe prepara para reagir (lutar ou fugir) ante um perigo real ou imaginário. É um espécie de radar que foi muito útil à humanidade em um passado perigoso.
Sem preocupações ou sem medos não poderíamos evitar as coisas potencialmente prejudiciais com as quais nos encontramos cada dia.
Se trata, portanto, de uma resposta adaptativa do organismo que lhe prepara para enfrentar uma situação de perigo: o coração bate mais depressa para contribuir maior quantidade de oxigênio, os músculos ficam tensos.
Todas estas atividades se desencadeiam como consequências da ativação do Sistema Nervoso Autônomo (SNA). Se trata de um sistema nervoso independente cuja atividade não está submetida ao controle direto do cérebro (pelo que lhe denomina autônomo). Por isso, quando o SNA se ativa, estaremos nervosos, mesmo quando nosso “cérebro pensante” nos diz que não existe perigo real e que nosso medo é irracional.
Hoje em dia, raramente a sobrevivência nos exige fugir ou lutar. Entretanto, nosso sistema nervoso continua respondendo aos sinais de perigo e pode ativar-se ante situações que não coloquem em perigo nossa sobrevivência física, mas nosso bem estar emocional ou intelectual.
Por exemplo, o SNA de uma criança pode ativar-se quando lhe perguntam na classe, quando lhe critica um professor, quando outras crianças zombam dela.
A ANSIEDADE NÃO É UMA DOENÇA,
MAS UMA REAÇÃO NATURAL DO ORGANISMO QUE OCORRE DE FORMA
INADEQUADA
Frequentemente, esta resposta se desencadeia de forma inadequada ante situações ou estímulos que não supõem nenhum risco real para a pessoa, ou melhor aparece ante situações apropriadas mas de forma excessiva: por exemplo, quase todas as pessoas experimentam um certo nervosismo ante os exames mas, se este é excessivo, falaremos de ansiedade.
Como identificar se meu filho tem um problema de ansiedade?
Nem sempre é fácil identificar se uma criança tem um problema de ansiedade.
A ANSIEDADE PODE
APRESENTAR-SE COM FREQUÊNCIA
DE FORMA DISFARÇADA
Entre os muitos aspectos que a ansiedade pode adotar estão o mau humor, a irritabilidade, o comportamento agressivo, o fracasso escolar, a obstinação, a rebeldia.
Frequentemente, as crianças ansiosas são etiquetas como “preguiçosas” ou “estúpidas”. Assim, uma criança, cujos primeiros dias de colégio estão marcados pela ansiedade, parecerá menos ágil, capacitado ou competente que seus companheiros, já que a ansiedade excessiva tem um efeito negativo sobre o rendimento. É, pois provável que seus professores o “etiquetem” como torpe ou pouco brilhante. Uma vez que ocorre isto, se requer uma enorme quantidade de provas em sentido contrário para que os professores mudem de opinião sobre a criança.
Também pode manifestar-se sob a forma de sintomas físicos como dores de barriga, vômitos, dor de cabeça, ou ser interpretado como consequência de outros conflitos como ciúmes, mau caráter, agressividade ... Todas estas manifestações são formas através das quais a criança se defende da ansiedade.
Por exemplo, se seu filho tem medo do professor de matemática, é possível que sofra vômitos ou dores de barriga cada vez que tem aula com ele.
Se estas artimanhas não lhe servem, é provável que evite mentalmente a situação, fantasiando durante a aula, com o qual seu rendimento será cada vez menor, ou melhor que quando tiver que fazer um exame responda com muita rapidez para evitar o mais cedo possível a situação (o que certamente lhe levará a cometer muitos erros absurdos).
Lhe proporemos que responda as perguntas do seguinte questionário, que pode ajudar-lhe a determinar se seu filho sofre uma ansiedade excessiva.
Questionário de D. Lewis para detectar ansiedade
1 – Dorme mal (custa para dormir ou acorda com frequência durante à noite).
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
2 – Tem pouco apetite.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
3 – Se aborrece muito pelas contrariedades.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
4 – Chora sem nenhum motivo aparente.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
5 – Padece de muitas doenças benignas (resfriados, dores de barriga ...)
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
6 – Está arisco e mal-humorado
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
7 –Resiste a tentar novos objetivos:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
8 – Sua conduta é conflitiva em casa ou no colégio.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
9 – Baixou em seu rendimento na sala de aula sem razão aparente.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
10 – Começou a fazer xixi na cama uma e outra vez.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
11 – Se cansa com facilidade.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
12 – Tem medo quando tenta realizar algo novo.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
13 – Se mostra muito sensível às críticas justificadas.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
14 – É tímido em relação aos demais.
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
15 – Gosta de estar com os amigos ou familiares:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
16 – Tem dificuldades para fazer amigos
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
17 – Pede que lhe desculpem para ausentar-se na classe determinados dias:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
18 – Tem pesadelos
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
19 – Não gosta das mudanças em sua rotina:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
20 – Lhe custa levantar-se por sua conta:
a. De vez enquando b. Às vezes c. Sempre
PONTUAÇÃO: Anotar 5 pontos para cada resposta c, 2 para cada resposta b, e 0 para cada resposta a. Se a pontuação ficou acima de 25 pontos, sugere-se que continue lendo este texto.
Como se manifesta a ansiedade?
A ansiedade pode adotar formas diversas. Geralmente se dão quatro tipos de repostas de ansiedade: a ansiedade geral difusa ou crônica, os medos, as fobias e as conduta rituais ou obsessivas.
A – ANSIEDADE CRÔNICA
Por ansiedade geral ou crônica se entende um estado de preocupação devido a uma circunstância incerta ou inespecífica que ameaça em provocar algum dano grave. Nestes casos, a angústia mental e física que experimenta a pessoa que a sofre não pode atribuir-se a uma pessoa, anima ou situação concreta. A criança tem medo mas nada de concreto; fica intranquila, ansiosa.
A pessoa que a sofre a experimenta como uma espécie de “nuvem negra” que lhe rodeia desde o momento que se desperta até o instante em que dorme. Como um estado constante de apreensão e preocupação. Como um “flutuar” no ar” como um “medo sem saber do quê”.
Este excesso de ansiedade também recebe o nome de síndrome de estresse depressivo e costuma ir acompanhado de sintomas como:
- Esgotamento, perca de energia e fadiga.
- Perca de confiança em si mesmo e interesse pelos demais.
- Diminuição das relações pessoais.
- Irritabilidade: a criança se torna cada vez mais irritada, é incapaz de suportar qualquer contratempo ou frustração e tende a valorizar mais os fracassos que os êxitos.
- Depressão: choro frequente, falta de amor próprio e sentimentos de indecisão (não posso fazer nada).
- Problemas de saúde: dores de barriga, dores musculares (costas e pescoço), dores de cabeça, vômitos.
Nas crianças, a ansiedade crônica está na base e muito problemas escolares e frequentemente dificulta a capacidade da criança para:
- Assimilar as lições.
- Resolver problemas.
- Tomar decisões.
- Aprovar exames.
- Fazer amigos.
- Relacionar-se com seus professores.
Tem também importantes efeitos negativos sobre a própria imagem, auto-estima e segurança em si mesmo da criança.
Há certas épocas na vida da criança nas quais pode estar especialmente propensa a padecer deste tipo de ansiedade:
- Ao começar a etapa escolar.
- A mudança de colégio e a necessidade de fazer novos amigos.
- Ao finalizar a educação secundária com a preparação dos temidos exames.
- Para a puberdade: sua mente e seu corpo devem adaptar-se as mudanças que têm lugar a esta idade.
Também, certos acontecimentos importantes na vida da criança podem gerar uma ampla dose de ansiedade:
- A morte de um familiar ou amigo próximo.
- A separação de seus pais.
- A perca de emprego do pai ou da mãe.
- A mudança de domicílio.
- A morte de um animal muito querido.
- O rompimento com um amigo íntimo.
ESTEJA ATENTA, NESTES MOMENTOS, SEU FILHO NECESSITA
COMPREENSÃO E APOIO
B – OS MEDOS
Os medos se referem à ansiedade provocada por algo que seu filho pode ver, ouvir ou experimentar: medo aos cachorros, aos estranhos, aos exames. Costumam estar acompanhados dos mesmos sintomas físicos e mentais que a ansiedade, se bem que costumam apresentar-se de forma mais intensa mas tão duradoura.
Os medos variam conforme a idade da criança. As crianças dentre 0 e 3 anos temem especialmente distanciar-se dos pais e desconfiam dos estranhos.
Entre os 4 e 6 anos, é a idade da imaginação transbordada, os medos aos fantasmas, os monstros, as bruxas, a escuridão. A medida que a criança se torna adulta, os medos imaginários são reempregados por outros reais.
Entre os 6 e 12 anos, alguns dos medos mais comum são os seguintes:
- Medo de ser ridicularizado, zombado, castigado, criticado ou sentir-se humilhado.
- Perder o amor ou respeito de seus pais, a não cumprir suas expectativas, ao fracasso.
- Medo a dor física, machucar-se, fazer feridas.
- Medo à morte, às guerras (por volta dos 8 anos).
- Medo ante alguns fenômeno naturais (tempestades, por exemplo ).
- Medo à relação com outras crianças: fazer novos amigos, ser ridicularizado.
- Medo à escola, aos exames, à matemática, aos esportes.
- Medo sexual, que lhe vejam nu, que não seja uma pessoa “normal”.
Geralmente, estes medos infantis constituem uma etapa passageira mas podem continuar e converter-se em um problema quando:
- A criança tem um temperamento ansioso e sensível.
- Os pais têm medos parecidos.
- A criança teve que enfrentar acontecimento estressantes.
- Após uma experiência negativa de medo na vida real.
- Não se fez nada para ajudar a criança superar seus medos.
- Se deu muita importância ao medo.
- Quando se evitam as possíveis situações que geram o medo.
COMO SEMPRE,
O MELHOR É PREVENIR
O que fazer ante estes casos? Em primeiro lugar, prevenir o medo. Isto implica que devem evitar-se as ocasiões que provocam ansiedade. Para isso é fundamental que, em sua casa, existe um ambiente de calma e serenidade. As discussões entre os pais, uma atmosfera tensa, a irregularidade habitual dos horários o nervosismo e a agitação são fatores que não contribuem ao sentimento de segurança que precisa seu filho.
UM CLIMA FAMILIAR DE CALMA E SERENIDADE É FUNDAMENTAL PARA
PREVENIR A ANSIEDADE NAS CRIANÇAS
Depois deverá tranquilizar seu filho. Tentará compreender-lhe, mostrar-lhe mais afeto e não deve zombar de seus medos. Procure um momento propício para falar-lhe deles.
A seguir deverá tentar uma reeducação progressiva. Assim, se seu filho tem medo à escuridão, lhe permitirá deixar uma luz ao princípio e irá diminuindo paulatinamente até tirar-lhe totalmente. Ao mesmo tempo irá tratando de inspirar-lhe autoconfiança e segurança em si mesmo. E tem especial cuidado em não utilizar o medo como meio educativo.
PARA SUPERAR SEUS MEDOS DEVER IR POUCO A POUCO
COMO SE ESTIVESSE SUBINDO OS DEGRAUS DE UMA ESCADA
C – AS FOBIAS
O termo “fobia” significa pânico ou medo: Diferem de outro tipo de medos em três aspectos fundamentais:
- O medo é intenso, até tal ponto que a criança não seja capaz de controlá-lo.
- O objeto temido não implica uma ameaça real (por exemplo, um rato ou um cachorro).
- O medo é tão forte que faz com que a criança trate de evitar a situação no futuro.
As fobias pelos animais e outros objetos específicos são muito comum nas criança dentre 2 e 6 anos de idade. A partir desta idade, a maioria das crianças são capazes de superar suas fobias. Se uma fobia continua até a adolescência, é provável que se mantenha na vida adulta.
A melhor forma de tratar as fobias é abordada logo, antes de que se estabeleçam. O principal problema para superá-la é que a criança fóbica tenha tanto medo que faça todo o possível para evitar o objeto temido, e desta maneira nunca pode averiguar que realmente não há nele nada a temer.
Pode ajudar seu filho fazendo-lhe enfrentar-se aos objetos ou situações temidas muito lentamente mediante pequenos passos escalonados. Programe cada passo com muito cuidado de forma que quando deve superá-lo apenas experimente uma ligeira ansiedade. Se nota que tem medo, é que vai muito depressa, ou os passos são muito grandes. Neste caso deverá voltar atrás até um passo que seu filho seja capaz de superar.
D – CONDUTAS RITUAIS E OBSESSÕES
Uma conduta ritual é uma ação repetitiva que tem um significado especial para a pessoa que a realiza. Produz uma sensação de alívio e redução da tensão. Muitas crianças dentre 5 e 10 anos apresentam condutas rituais:
- Colocar em fila seus bonecos ou jogos.
- Colocar sempre as coisas na mesma ordem.
- Não pisar nas faixas dos ladrilhos da rua.
- Repetir muitas vezes a mesma palavra ou frase .
- Fazer as coisas sempre na mesma ordem.
- Fazer sempre as coisas da mesma maneira (antes de dormir, tomar banho ...)
- Comprovar as coisas uma e outra vez.
- Tocar todos os objetos de forma reiterada.
Estes atos rituais costumam constituir uma forma através da qual a criança elimina sua ansiedade. Ao conservar as coisas iguais e familiares, a criança se sente mais segura. Certamente, em ocasiões, estes rituais podem chegar a dominar a criança. Nestes casos deverá pesquisar o que é que pode lhe produzir ansiedade e impedir de forma firme mas carinhosa em que realiza estas condutas. A princípio é normal que proteste. Mas ao longo, sua firmeza transmitirá a seu filho sentimentos de segurança e bem estar.
As obsessões são similares aos comportamentos similares mas se diferenciam destes em que se trata de pensamentos persistentes e indesejados e são mais frequentes nos adultos que nas crianças.
O que é que lhe deixa ansioso?
A ansiedade costuma ser o resultado de sentimentos de inadequação ou inferioridade. Estes podem surgir como resultado de algumas das circunstâncias que a seguir detalhamos.
PAIS EXCESSIVAMENTE CRÍTICOS, EXIGENTES E PERFECCIONISTAS:
Se você ou seus professores criticam a criança com frequência por seus erros, se os mostram excessivamente exigentes e dão a impressão de que seu carinho ou respeito depende de seu êxito, é muito provável que a pressão que a criança experimenta por cumprir suas altas expectativas gere nela ansiedade.
Neste caso, a criança está excessivamente preocupada por satisfazer as expectativas dos adultos e responder suas exigências. Isso implica uma perca de segurança, uma atitude de autocrítica, um descenso da motivação e uma imagem negativa de si mesmo.
ELOGIE SEUS ÊXITOS
E NÃO DARÁ TANTA IMPORTÂNCIA
A SEUS FRACASSOS
Quando critica uma criança com frequência por suas faltas, esta acaba sentindo-se culpada. Se torna medrosa ante as nova situações e se sente insegura em suas relações com os demais. Qualquer ameaça, critica pessoal ou sugestão desfavorável aumenta seus sentimentos de insegurança.
Em outras ocasiões, o medo ao fracasso não provém das altas expectativas dos pais, mas da própria criança; como quando deseja igualar os êxitos de seu irmão maior, ou parecer-se a seu pai.
Há crianças que podem ir muito bem ao colégio, mas o que lhes motiva é o medo ao fracasso em lugar da necessidade de êxito. Enquanto que o que motiva a criança não é o obter um êxito, mas o evitar a todo custo um fracasso, qualquer erro gerará uma notável dose de ansiedade.
PROBLEMAS FAMILIARES. Quando os pais têm problemas, discutem com frequência, têm problemas de trabalho ... as crianças podem desenvolver uma ansiedade intensa. Muitos pais pensam que seus filhos não se dão conta da existência destes problemas, já que procuram não discutir na sua presença. Deve ter em conta que seu filho tem uma espécie de “radar” e detecta facilmente qualquer problema.
AS RELAÇÕES COM OUTRAS CRIANÇAS: As relações com outras crianças podem ser, também, fonte de ansiedade. As ameaças por parte de um menino mais forte, as conversas dos companheiros, podem supor para algumas crianças uma ansiedade considerável.
INQUIETUDES SEXUAIS: Pode originar-se com frequência como consequência de cenas vistas na televisão de filmes visto às escondidas, de brincadeiras de caráter sexual de outras crianças. Os pais devem ter em conta que a melhor forma de prevenir este problema é conversando com os filhos e adiantando-se em tratar sobre os temas de educação sexual para ser os primeiros em estabelecer as idéias positivas.
PAIS INSEGUROS E ANSIOSOS: As crianças ansiosas costumam ter pais, e em especial MÃES, com altos níveis de ansiedade.
Os medos específico não se passa de pais para filhos, mas o que pode ocorrer é que a criança herde um SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO mais sensível à estimulação e, portanto, uma tendência à ansiedade, uma maior vulnerabilidade à ansiedade.
Mas, fundamentalmente, a ansiedade se transmite de pais para filhos através de seu comportamento. Quando os próprios pais são medrosos ou inseguros podem transmitir a criança seus medos. Se continuamente lhe advertimos possíveis perigos, se lhe superprotegemos e não lhe deixamos ser independentes, não é de estranhar que nosso filho se sinta inseguro e imite nosso comportamento .
LEMBRE QUE A ANSIEDADE É
CONTAGIOSA. MANTENHA A CALMA
E A SERENIDADE
Frequentemente, a ansiedade se disfarça em forma de mau humor, irritabilidade, comportamento agressivo, impulsividade e outras formas de má conduta.
Além disso, muitas crianças ocultam suas inquietudes por:
- Medo a que não se leve a sério.
- Medo a parecer bobas ou infantis ou covardes.
- Medo a que lhe repreenda, ridicularize ou humilhe.
Para averiguar com certeza o que é que está preocupando a seu filho deverá observar atentamente e aprender a escutar-lhe com uma mentalidade receptiva.
CADA CRIANÇA É DIFERENTE
CONHEÇA A SEU FILHO
Uma forma de identificar a causa das ansiedades de seu filho é que se proponha a levar um pequeno diário de seu comportamento. Não é necessário descrições longas e detalhadas. Basta que anote brevemente o que a criança fez durante o dia junto com qualquer sintoma de ansiedade: dor de barriga, perca de apetite, pesadelos, choro.
Dito em registro convém que se refira ao que ocorreu imediatamente antes e depois das manifestações de ansiedade.
Anote o que aconteceu justo antes de que seu filho mostrasse sintoma de ansiedade, o momento do dia, e o lugar onde esta se apresentou (antes da aula de ginástica, quando criticou, quando viu a determinado professor), assim como o ocorrido como consequência deste comportamento: se lhe castigou, se lhe permitiu sair com uma das suas ...
A cabo de uns dez dias releia todas as anotações e tente ver se há algo a fazer em comum: por exemplo, pode descobrir que seu filho tem dor de barriga cada vez que tem um jogo de futebol ou que fica de mau humor cada vez que tem uma festa; estas anotações lhe darão importantes pistas do que está acontecendo com a criança.
Também é fundamental que saiba ESCUTAR a seu filho: uma escuta atenta que lhe permita entender o que disse além daquilo que não disse resulta fundamental. Para isso, convém que tenha em conta as seguintes recomendações:
- DEIXE O QUE ESTÁ FAZENDO: As crianças nem sempre escolhem o momento mais oportuno em que querem ser escutadas. Se está na cozinha fazendo a torta para o jantar tem duas opções: ou deixar a torta e escutar-lhe atentamente ou dizer a seu filho que nesse momento não pode escutar-lhe com suficiente atenção e logo lhe chamará para conversar com ele. Mas NÃO FAÇA AS DUAS COISAS AO MESMO TEMPO.
- NÃO ESCUTE QUANDO ESTIVER ABORECIDA: Quando seu filho chega em casa com uma notificação do colégio por seu mau comportamento é provável que seu aborrecimento não lhe permita escutar as explicações que seu filho tenta dar-lhe. Não tente escutá-lo enquanto não tiver se acalmado e puder valorizar a situação de forma objetiva.
- NÃO ZOMBE nem ignore os argumentos de seu filho.
- ESCUTE POSITIVAMENTE. Isto implica que dever escutar com os olhos além de com os ouvidos. Reserve um tempo no qual possa prestar total atenção o qual seu filho quer contar-lhe. Uma boa hora costuma ser quando estão deitados na cama antes de dormir. Escute-lhe e trate de intervir o menos possível. Qualquer interrupção, sobretudo se for para criticar-lhe, fará com que a criança se retraia.
Anime seu filho para que fala com liberdade, sem dizer-lhe nada mas escutando-lhe com interesse. Ensine-lhe que não há nada de tão ruim que não possa contar. Peça exemplos concretos dos comportamentos que lhe causam ansiedade.
SABER ESCUTAR É IMPORTANTE
PARA CONHECER SEU FILHO
Como posso ajudar?
Se seu filho padece de algum tipo de ansiedade deve levá-lo a sério. Muitos pais dão pouca importância aos medos de seus filhos e pensam que se trata de algo que desaparecerá com a idade. Outros se aborrecem com seus filhos por considerá-los muito “moles” ou covardes.
Em primeiro lugar, mantenha-se tranquila e tenha confiança em si mesma. Lembre que a ansiedade pode ser contagiosa.
Brigar com a criança ou dizer-lhe que “deixe de comportar-se como uma boba”, não costuma dar resultado e frequentemente piora as coisas. Deixar passar um tempo tampouco costuma ser uma boa estratégia.
Para ajudar seu filho a esforce-se primeiro em compreender sua ansiedade e os desagradáveis sintomas mentais e físicos que o acompanham. A seguir deverá esforçar-se em averiguar por que seu filho está ansioso e ensinar-lhe alguns procedimentos para combater os sintomas físicos e mentais da ansiedade.
Também deverá melhorar sua auto-estima para ensinar-lhe a enfrentar-se à vida com mais confiança, segurança e boa adaptação.
UMA ALTA AUTOESTIMA É UM
BOM ANTÍDOTO CONTRA
A ANSIEDADE
Do mesmo modo, as situações familiares negativas para a criança e os conflitos familiares deverão solucionar-se para que a criança encontre em sua família um ambiente relaxante, e realizar as mudanças ambientais necessárias para eliminar as fontes de ansiedade e estress inecessárias.
Pode também proporcionar a seu filho algumas habilidades e recursos para que consiga enfrentar as situações conflitivas com maior confiança.
ENSINAR-LHE A RELAXAR-SE
Uma forma de ensinar seu filho a controlar seus medos e preocupações é ensinando-lhe a relaxar.
A relação é o antídoto natural do corpo contra a ansiedade. Existem muitas formas de aprender a relaxar-se, ainda que nem todas são fáceis de aplicar com crianças. Certamente, à maioria das crianças lhes encanta que lhes ensinem técnicas de relaxamento se lhes apresentam como um jogo divertido.
Algumas das técnicas mais utilizadas (que não descrevemos por questão de espaço neste livro) são as seguintes:
- Manter-se cômodo e em silêncio em um quarto tranquilo
- Escutar algum peça musical que lhe agrade muito.
- Esticando alguns músculos e a seguir relaxando-se. Se puder, por exemplo, faça-lhe imaginar que é uma marionete com fios amarrados na cabeças mãos e pés, e faça-lhe dançar enquanto simulamos manipular os fios. A seguir simularemos que vamos cortando os fios um a um e induzindo-lhe a que relaxe.
- Criando um filme mental. Lhe pediremos que imagine o mais vivamente possível uma imagem que lhe resulte muito agradável e relaxante: estar deitado na praia sentindo o calor do sol e o barulho das ondas; deitado sobre a grama ouvindo as flores: flutuando deitado sobre uma nuvem ... qualquer imagem é válida sempre que se trata de um lugar muito pessoal onde a criança se sinta a vontade. Um lugar especial e privado ao qual pode voltar cada vez que se sente tenso ou ansioso,
- Através de imagens que se associam com um estado de relaxamento.
- Penando em uma experiência passada feliz.
- Escutando uma música com instruções especiais sobre relaxamento.
- Respirando profundamente.
Como enfrentar situações cotidianas?
Entre os 6 e os 12 anos há algumas áreas nas quais a ansiedade tem mais probabilidades de aparecer.
A – ANSIEDADE ANTE O COLÉGIO: Este tipo de ansiedade é muito comum e pode aparecer como consequência da preocupação por uma avaliação determinada, ou pela atitude de algum professor em real. Também pode reforçar-se para que a criança se sinta incapaz de superar as tarefas que deve realizar no colégio.
Em ocasiões a recusa em ir ao colégio é consequência, não do que ocorre, mas do que pode ocorrer em casa enquanto ela está ausente: por exemplo, se a mãe está doente, se há problemas entre os pais ...
- Se se sente triste e mau humorado nos últimos dias de férias.
- É mais propenso a doenças benignas durante o curo escolar.
- Chora quando tem que ir ao colégio.
- É infeliz por culpa de uma ou mais das avaliações escolares.
- Costuma voltar em casa, do colégio, de mal humor.
Nestes casos deverá averiguar se existe alguma boa razão para que a criança se comporte assim. É possível que outras crianças estejam lhe aborrecendo ou intimidando ou inclusive que o problema seja o próprio professor. Deverá, além disso, assegurar-se de que seu filho se sente capaz de realizar o trabalho escolar ou pensa que lhe resulta muito difícil.
Se seu filho mudou recentemente de colégio é possível que sinta medo aos desconhecidos: que não saiba onde estão os serviços, onde sentar-se, onde deixar sua lancheira ... nestes casos deve falar com seu filho e advertir-lhe que a princípio tudo parecerá um pouco estranho, mas que ninguém lhe importará que lhe pergunte. Uma boa medida pode ser levar seu filho ao colégio antes de que comece o curso para que o conheça, para que tenha uma idéia de onde está cada coisa e que conheça a seu professor antes de começar o curso.
MANTENHA UMA ÍNTIMA
RELAÇÃO COM OS
PROFESSORES DE SEU FILHO
Se observa em seu filho qualquer recusa de ao ir ao colégio é importante que mantenha uma íntima relação com os professores de seu filho. Fale com eles e recorra a todas as linguagens, reuniões e atividades que for possível realizadas no colégio.
Investigue se seu filho está sendo intimidado ou amedrontado por outras crianças. As crianças que estão pouco habituadas a relacionar-se com outras crianças, como por exemplo os filhos únicos, ou as crianças com algum defeito físico evidente: gordas, com óculos, gagas ... costumam ser as mais escolhidas como vítimas propiciatórias.
Se seu filho é uma vítima, não caia na armadilha de incentivar-lhe a que devolva os golpes: matricular-lhe em uma academia de karatê não é a melhor solução. Ajude-lhe, pelo contrário, a desenvolver defesas psicológicas para opor-se as tentativas de intimidação,
Não ridicularize seu filho por não saber defender-se sozinho. Não faria outra coisa a não ser aumentar sua ansiedade. O que deve fazer é aumentar a confiança em si mesmo e seu amor próprio. Para isso pode ser útil matricular-lhe em alguma atividade esportiva, como natação, montanhismo, remo ... que lhe ensine a enfrentar-se com os elementos e a adquirir maior confiança em si mesmo. Ajude-lhe a fazer amigos abrindo-lhes as portas de sua casa.
AUMENTE SUA CONFIANÇA
E
SEGURANÇA EM SI MESMO
Converse com seu filho e faça-lhe ver que a melhor forma de conseguir que não zombem dele é dar menos importância possível a estas conversas. Desta forma se converterá em uma vítima carente de interesse. Não tente convencer-lhe de que seja o “galinho” como uma criança fraca patética digna de pena mais que como a uma pessoa especial e medrosa. Que lhe conforme em lugar de fugir.
Pode, também, ensinar-lhe a utilizar técnicas de relaxamento ou imagens mentais para aumentar sua segurança e para que seja capaz de receber as ameaças e insultos sem assustar-se nem enfurecer-se.
Não recorra imediatamente a seu professores ou aos pais da criança agressiva para queixar-se. É preferível deixar que seu filho com seu apoio, resolva o problema por si próprio. Unicamente deverá intervir quando este medo se prolongue durante mais tempo ou as brigas se tornam mais violentas .
Averiguar de que habilidades sociais seu filho carece que lhe façam converter-se frequentemente na vítima dos demais.
Se não existe uma razão suficiente ou compreensível para não querer ir ao colégio então deve acentuar sua firmeza para obrigar a criança a ir. Se seu filho observa que duvida ou cede, lhe será cada vez mais difícil conseguir que vá.
É possível que seu filho se queixe dizendo estar doente ou que está com dor de barriga e inclusive que vomite. Nestes casos assegure-se de que não está doente. Se tem dúvidas coloque-lhe o termômetro. Se não tem febre, o certo é que vá ao colégio.
B – MEDO AOS EXAMES. Todos ficamos nervosos ante os exames. De fato, um certo nervosismo faz com que nosso rendimento aumente. Certamente, uma ansiedade exagerada é a razão principal pela qual muitas crianças apresentam um rendimento baixo nos exames.
Uma condição importante para o êxito nos exames é o estabelecimento: Deve fazer seu filho ver que o estudo antes de um exame se parece ao treinamento para uma prova esportiva: quanto mais cedo começar mais possibilidades de êxito terá.
Deve, pois, ajudar-lhe a estabelecer o estudo de forma que possa realizá-lo em sessões curtas e regulares distribuídas ao longo de vários dias, em lugar de “estudos bitolados” dois dias antes do exame.
Tal objetivo convém fazê-lo por escrito em um horário ou plano a colocar no quarto onde habitualmente estuda. Cada dia deverá ir registrando graficamente seus progressos. Isto aumentará sua motivação e confiança diminuindo, portanto, sua ansiedade.
Premie seu esforço durante estes dias e apoie com mil detalhes: preparando-lhe o lanche ou fazendo pequenas visitas.
Não permita que sua ansiedade ante os exames lhes contagie. Deve oferecer-lhe serenidade e facilitar-lhe um ambiente propício para o estudo. Uni-lo com os irmãos para ajudar-lhe a estudar.
Para diminuir sua ansiedade ante a situação de exame pode ajudar-lhe fazendo pequenas provas em casa. Deve assegurar-se de que a princípio as provas são o suficientemente fáceis para que possa ter êxito. Quando se sentir seguro vá incrementando progressivamente a dificuldade das provas. Pode, também, treinar seu filho a praticar o relaxamento enquanto se imagina na sala de aula no dia do exame fazendo uma prova.
É também fundamental que ensine a distribuir o tempo durante a realização das provas. Faça ver que é melhor tentar responder a todas as perguntas do exame que desenvolver muito bem apenas uma ou duas. Assegure-se de que faça ao exame com um relógio e aconselhe-lhe que controle o tempo com frequência.
Ensine-lhe a dedicar tempo à leitura dos enunciados. Este tempo é crucial para o êxito no exame. Também, antes de colocar-se a escrever deverá destacar um tempo a cada uma das perguntas e antes de começar a escrever ensine-lhe a fazer um pequeno esquema ou ideograma das idéias a desenvolver. Lhe ajudará centrar e lembrar-se e além disso, se não der tempo de terminá-lo, ao menos poderá apresentar o esquema de cada pergunta.
Aconselhe-lhe que reserve um tempo, também, a repassar cada uma das questões.
Se não souber responder ou não entender alguma pergunta, ensine-lhe a manter a calma e passar à seguinte aplicando as técnicas de relaxamento de que falamos anteriormente.
Depois do exame convém não entrar em discussões sobre o mesmo. O melhor conselho é esquecer um exame uma vez realizado e concentrar-se no seguinte.
C – ANSIEDADE ANTE OS DEBATES. A partir dos 6 anos é comum que seu filho comece a trazer deveres para casa e o cumpri-los pode originar-lhe uma considerável dose de ansiedade.
A maioria dos educadores coincidem em que os deveres são importantes para consolidar os conhecimentos adquiridos na classe e para desenvolver no aluno o hábito de estudo e a capacidade para trabalhar de forma independente
É importante que seu filho tenha um horário e se habitue a fazer seus deveres no mesmo lugar e a mesma hora todos os dias. Não permita que seu filho veja televisão antes de fazer os deveres. A televisão reduz sua capacidade de atenção e concentração. Motive-lhe para que não queira vê-la.
Criar um ambiente de estudo é fundamental para evitar as distrações. Enquanto que seu filho está fazendo os deveres procure ler ou realizar uma atividade que não lhe distraia. Se sua mãe está falando pelo telefone ou seu pai vendo o futebol é difícil que ele se concentre.
A princípio convém que comprove com ele, e lhe assegure de que compreende as atividades a realizar enquanto chega do colégio. Desta forma evitará o susto de última hora como a falta de um material quando já fecharam a livraria.
OS PAIS DEVEM ESTAR
DISPONÍVEIS MAS SEM RESOLVER-LHE
TODOS OS PROBLEMAS
Enquanto trabalha não é conveniente que esteja com ele. É importante que esteja a sua disposição durante o momento dos deveres para ajudar-lhe a resolver suas dúvidas.
Enquanto lhe ajuda, permaneça tranquilo e paciente, ainda que seu filho se engane. E não lhe dê todas as respostas. Invente problemas similares que lhe sirvam de exemplo sobre a melhor forma de encontra por si próprio as respostas.
D – ANSIEDADE ANTE A MATEMÁTICA. Dentre as avaliações escolares a matemática é a que origina maiores níveis de ansiedade nas crianças. Muitos se consideram incapazes para a matemática e reprovam sem remédio não por falta de capacidade, mas como consequência de sua ansiedade.
Se seu filho tem dificuldades com a aritmética, certamente detestará esta avaliação e poderá ficar nervoso e inseguro cada vez que tiver que enfrentá-la esta ansiedade costuma estar acompanhada de sentimentos de desvalorização e falta de auto-estima: “jamais as entenderei, nunca será capaz”.
Quando se produz esta ansiedade, a criança costuma reagir colocando em andamento uma série de mecanismos de defesa como o convite: negando-lhe a tentar resolver o problema, “não sou capaz”, ou tentando fazê-lo o mais rápido possível para fugir rapidamente da situação, com o qual cometerá erros frequentes.
Se seu filho se queixa de que não entende a matemática, não o console com o (lembrando talvez sua própria experiência) pois unicamente reforçará a imagem negativa que seu filho tem de si próprio. Pelo contrário inspire-lhe confiança em si mesmo e proporcione-lhe uma ajuda prática para resolver seu problema.
Antes de tentar ajudar-lhe faça, primeiro, seus próprios deveres: estude o tema e pratique-o em particular. Se improvisar é possível que não saiba resolvê-lo com o qual seu filho se sentirá mais ansioso ao pensar: “se mamãe não foi capaz, como eu vou ser?
OBSERVE COMO SEU FILHO TRABALHA
Revise com regularidade o trabalho de seu filho fixando-se não apenas em suas respostas, mas também nos procedimentos seguintes para chegar a essas repostas. Averigúe se existem lacunas em seu conhecimentos básicos que lhe impeçam de progredir, e ajude-lhe a recuperá-las. Analise a forma em que seu filho estabelece os problemas e faça-o ver os possíveis erros que comete no procedimento de sua resolução. Facilite-lhe a pratica necessária para resolver essas deficiências concretas. Pesquise, também, se existem erros de conceito que deva reparar.
Não se mostre ansioso nem crítico. Mantenha-se amigável e estimule-lhe em todo momento. Estabeleça-lhe questões que esteja certo que seja possível utilidade da matemática em sua vida real estabelecendo-lhe questões de tipo prático. Isto aumentará sua segurança e motivação.
UM PLANO DE AÇÃO PARA MARTA
1 – SITUAÇÃO:
Marta tem 8 anos e, como se descreveu no início do capítulo, apresenta sintomas de ansiedade que parecem originados pelo stress que supôs a mudança de domicilio, de colégio e a necessidade de fazer frente a esta situação. Neste Plano de Ação nos centraremos em seu comportamento escolar.
2 – OBJETIVOS:
GERAL: Melhorar sua adaptação escolar e seu medo a enfrentar-se a situações novas.
3 – MEIOS:
- Sua mãe dedicará tempo para conversar com ela e, em especial, a escutá-la para averiguar o que é que lhe produz ansiedade. Levará também um pequeno diário no qual anotará as ocasiões em que Marta mostra sinais de ansiedade.
- Carmem e Fernando conversarão com frequência com a tutora de Marta. Se colocarão de acordo para juntos fazer Planos de Ação que estimula a Marta.
- Averiguarão se outras meninas estão intimidando.
- Lhe ensinarão algumas técnicas de relaxamento quando sente que lhe dói a barriga ou vai vomitar. Se o fizer, não lhe darão muita importância e insistirão que vá ao colégio.
- Lhe sugerirão que convide para passear com eles alguma amiga do colégio com a qual se sinta à vontade.
4 – MOTIVAÇÃO:
- Fernando falará com Marta e lhe contará como ele era quando criança, também teve que mudar-se de cidade e os problemas que teve. Lhe tranquilizará dizendo que com o tempo passará.
- Elogiarão cada pequeno progresso de Marta. Procurarão coisas em que ela se destaca (por exemplo, o desenho) e se reforçarão.
- Carmem procurará ser menos perfeccionista: elogiar seus êxitos e restará importância a suas falhas.
5 – DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS:
Carmem levou a cabo o registro com o diário durante um mês. Ao analisá-lo comprovou que Marta se mostrava especialmente irritada e ansiosa os dias que tinha aula de inglês.
Falando com ele e com sua tutora descobriu que seu nível de inglês é muito inferior ao da classe, já que Marta vinha de um colégio onde apenas aprendia inglês costumava castigar-lhe pensando que o problema era que não prestava atenção.
Carmem e Fernando conversaram com a professora de inglês e esclareceram a situação. Desde então estabeleceu-lhe um programa personalizado para ela se sinta capaz de realizar e tudo melhorou.
Quanto aos óculos, falaram com Marta e fizeram ver que as pessoas que necessitam meter-se com outras é porque elas mesmas estão complexadas. Deve sentir pena em lugar de temê-las. Além disso, marcaram uma visita ao oftalmologista para estudar a possibilidade de usar lentes.
Trouxe uma menina em casa várias ocasiões e ultimamente mostra mais interesse por conhecer as meninas de sua cidade.
Carmem e Fernando estão contentes. Acreditam que souberam, com a ajuda de Mércia, enfrentar a situação ainda que são conscientes de que todavia lhes resta muito caminho a recorrer. Questionário de D. Lewis para detectar ansiedade
Fonte: Livro “Como resolver situações cotidianas de seus filhos de 6 a 12 anos”
TERESA ARTOLA GONZÁLEZ é doutora em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri e Mestre em Educação Familiar pelo E.I.E.S (Educational Institute of Educational Sciences). Desenvolve um amplo trabalho de pesquisa docente no campo da Psicologia Infantil e é professora da Escola Universitária Européia da Educação de Fomento de Centros de Ensino. É autora de diversas publicações, em sua maior parte dedicadas aos problemas de aprendizagem, sua avaliação e tratamento.
Publicado no Portal da Família em 24/01/2012
Entrevista com Gley Costa
Fernanda Bagatini
Nos últimos 50 anos, os brasileiros têm-se deparado com mudanças nas relações familiares que ocorrem numa velocidade que desafia diariamente a capacidade do ser humano. Hoje, 40% das crianças experimentam o rompimento conjugal dos pais antes de completarem 15 anos e aproximadamente 80% dos pais separados voltam a se casar nos três anos seguintes. Como conseqüência da alta incidência de novos casamentos, um quarto das crianças viverá, por algum tempo, com uma família não-consangüínea. Além disso, casais homossexuais também têm optado pela paternidade. A legislação brasileira já admite a adoção de crianças por pessoas solteiras de ambos os sexos, sem questionar a orientação sexual, e Essas modificações, que preocupam pais e professores, são analisadas nesta entrevista pelo psiquiatra Gley Costa, membro titular da Associação Psicanalítica Internacional, professor da Fundação Universitária Mário Martins e autor de diversas obras, entre elas, O amor e seus labirintos, lançada recentemente pela Artmed.
De que modo a sociedade está modificando-se e promovendo novas configurações familiares?
Até a modernidade, família e sociedade influenciavam-se mutuamente, sendo a escola um dos canais de comunicação entre essas duas instituições. Isso acontecia porque era principalmente na escola que a criança e o adolescente tomavam conhecimento do outro diferente, configurado pelos colegas, por suas famílias e pelo próprio conhecimento adquirido através do professor. Contudo, atualmente, observa-se um avassalador declínio da influência familiar, a qual tende a se tornar uma mera repetidora de valores e condutas ditadas pela sociedade. Como resultado, a família tradicional adquiriu uma nova configuração, que, por suas características, pode ser denominada de família pós-moderna, marcadamente influenciada pela propaganda, que gera todos os dias novas necessidades para aquecer o consumo, e pela televisão, que funciona como um novo e persuasivo membro familiar.
Como o senhor analisa essa nova família?
Um aspecto dessa nova família tutelada pela mídia é a inversão de valores. Antes eram os pais que serviam de modelo para os filhos. Hoje, são os filhos que modelam os pais. Isso é fruto de um fenômeno típico da pós-modernidade chamado moda, que define estruturalmente a sociedade de consumo. Nesse império em que tudo se torna rapidamente obsoleto, o jovem, como se fosse um produto recém-saído da fábrica, é oferecido como um ideal de sucesso e felicidade. No passado, o importante para a sociedade era o que o adulto pensava; hoje, o importante é o que o jovem pode fazer. O novo modelo masculino e feminino cultuado pela propaganda é o físico, essencialmente o de um adolescente, não mais de um adulto. Ao mesmo tempo, o corpo não é mais o corpo da pessoa, mas o corpo da moda. Quando falamos em novas configurações familiares, também consideramos as que resultam dos casamentos realizados entre pessoas separadas ou divorciadas, juntando filhos de sua união atual aos filhos dos relacionamentos anteriores. Na falta de um melhor termo, essas famílias costumam ser chamadas de "reconstituídas". As relações entre os integrantes das famílias reconstituídas costumam ser mais tolerantes e democráticas, abrindo caminho para uma melhor aceitação das diferenças, condição fundamental de convivência em grupo que influenciará favoravelmente a vida escolar da criança e do adolescente. A idealização da família tradicional deve ser entendida como uma organização defensiva contra o medo do abandono e da dissolução. Apesar disso, a família continua sendo importante, necessária e indispensável para a estruturação psíquica do indivíduo, mas os seus verdadeiros valores podem ser resgatados na formação das novas famílias criadas pela separação.
Quais as conseqüências dessas novas configurações para o desenvolvimento de crianças e adolescentes?
As conseqüências dessa família submetida a uma verdadeira ditadura do narcisismo revelam-se na dificuldade dos jovens de manter uma relação mais profunda, consistente e duradoura com outras pessoas e com as instituições, entre as quais se inclui a escola e, mais tarde, a faculdade. Eles se encontram embriagados pelo estilo de vida de uma sociedade que estimula e estabelece como aceitável esse padrão de convivência. Faz algum tempo que os adolescentes passaram a empregar o verbo "ficar" para definir um relacionamento diferente do namoro, no qual não há compromisso, nem exclusividade, existe apenas o contato físico. Em uma única festa, é aceito que um rapaz ou uma moça fique com mais de um parceiro. O surpreendente é que tal comportamento passou a ser plagiado pelos adultos que, naturalmente, incluíram em seu discurso o "ficar" dos adolescentes.
Hoje já é muito comum que casais homossexuais tenham filhos, sejam gerados por um dos parceiros, sejam adotados. Como o fato de ser criado por pais homossexuais afeta o desenvolvimento de uma criança?
O desenvolvimento da criança depende, fundamentalmente, de que os pais cumpram suas respectivas funções; caso contrário, é como se eles não existissem. No caso da mãe, sua principal função é compreender as necessidades iniciais da criança e ajudá-la a construir uma subjetividade e, no caso do pai, transmitir as leis da cultura e da sociedade, o que implica a difícil tarefa que se observa na atualidade, que é a colocação de limites. Existem situações em que a falta ou a inadequação de um dos pais é plenamente suprida pelo outro e situações em que as funções encontram-se invertidas ou não são exercidas nem pelo pai nem pela mãe. Por outro lado, a realidade de que a maioria dos homossexuais é filho de casais heterossexuais indica que dispor de uma figura masculina para se identificar, no caso do menino, e de uma figura feminina, no caso da menina, não é suficiente: a questão da sexualidade infantil é muito mais complexa. É provável que o melhor que os cuidadores, pais ou substitutos, possam fazer é não agir de maneira intrusiva ao procurar impor as próprias características como modelo, mas permitir que a criança desenvolva-se com liberdade para explorar todas as suas potencialidades em múltiplos e variados relacionamentos, livre de preconceitos. Se um par, formado por um homem e uma mulher, ou por dois homens e duas mulheres, for capaz de exercer as chamadas "funções parentais", a criança aos seus cuidados terá as condições mínimas para se desenvolver psicologicamente de forma satisfatória.
A homossexualidade é uma realidade na escola, tanto em relação a alunos quanto a professores e pais de alunos, o que em muitos casos gera discriminação, bullying e situações de desconforto para os educadores, que não sabem como agir diante de tais casos. O que o senhor aconselha aos professores?
Diria aos professores que todas as recriminações aos indivíduos homossexuais não passam de preconceito. Em outras culturas, não se observa o mesmo fenômeno. Na verdade, ao longo dos séculos, a história tem-se mostrado cambiante em relação ao homossexualismo: ora idolatrando-o, como na Grécia Antiga, ora degradando-o, como na Idade Média. Contudo, identificado com a moral vigente, o adolescente se considerará "normal" se for heterossexual e "anormal" se for homossexual. Como resultado, um grande número de adolescentes homossexuais, contrariando sua tendência, procura manter relacionamentos heterossexuais com o objetivo de atender à expectativa da família, dos amigos e da sociedade. No entanto, essa submissão acarreta depressão e um grande sofrimento, contribuindo para a baixa auto-estima geralmente observada nos indivíduos que reprimem sua sexualidade. A falta de apoio dos pais e professores e o temor de decepcioná-los fazem com que o adolescente somente torne pública sua atração por pessoas do mesmo sexo mais tarde, por volta dos 20 anos, ou depois de um casamento heterossexual frustrado. A escola pode prestar uma importante contribuição para diminuir o sofrimento imposto aos alunos e professores homossexuais promovendo palestras e debates sobre o tema com a participação de profissionais esclarecidos.
Qual a importância dos limites na formação das crianças e dos adolescentes? Como lidar com eles na escola?
Em 50 anos, assistimos tanto em casa quanto na escola à radical transição de uma educação muito repressiva para uma educação exageradamente permissiva. Pais e educadores estão desnorteados e sentem-se divididos entre a imagem interna de seus pais e o ambiente social que os rodeia na atualidade. Contudo, não se deve colocar essas duas tendências em oposição, como se tivéssemos de optar por uma ou outra; devemos, dentro das possibilidades, procurar integrá-las. Até certo ponto, precisamos encarar a educação como as roupas que saem de moda: não devemos jogá-las fora, pois, passado algum tempo, acabam voltando a ser usadas. Mais do que tudo, não devemos esquecer que a criança precisa de um modelo não apenas para se identificar, mas também para se opor e criticar, constituindo, assim, a própria identidade, que será mais rica, sólida e verdadeira se integrar os pais do passado e do presente. Todavia, no processo educativo, não adianta apenas traçar os limites. As crianças e os adolescentes precisam saber que a disciplina está ligada à sua segurança, favorece o seu desenvolvimento e constitui uma forma de respeitar os direitos alheios. Lamentavelmente, interpretações imprecisas e generalizações das teorias psicanalíticas têm levado a muitos equívocos na educação de crianças. Um desses equívocos tem como origem o pressuposto de que a repressão dos impulsos sexuais leva à neurose, determinando uma postura excessivamente permissiva a esse respeito por parte dos pais. Outra questão relaciona-se com o impulso agressivo. Não condiz com uma boa prática educativa inibir o impulso agressivo da criança, já que é ele que nos permite ter iniciativas, competir, lutar pela vida e enfrentar as dificuldades. No entanto, seus excessos devem ser amenizados e integrados com o impulso amoroso, o qual, quando estimulado e valorizado, capacita o indivíduo para o estabelecimento de relacionamentos gratificantes e estáveis. Se um modelo de educação não levar em consideração tal premissa, é provável que o impulso amoroso seja sufocado pelo impulso agressivo, e as crianças certamente apresentarão dificuldades em sua vida social e afetiva. Cabe aos pais e professores ajudá-las a lidarem com as frustrações correspondentes às sucessivas etapas do desenvolvimento para que consigam progressivamente atingir uma verdadeira e consistente maturidade.
Muitas vezes, a escola atribui à família a responsabilidade pelo fracasso escolar, por exemplo, alegando que as crianças vão mal porque os pais estão separando-se, ou porque a criança não tem a atenção necessária em casa, entre outras razões. Como o senhor analisa essa situação e como a escola deve lidar com tais fatos, que às vezes são verdadeiros, mas não são a única causa do mau desempenho?
A realidade é que não podemos mais fechar os olhos para a possibilidade da separação, uma realidade que se concretiza em um número significativo de casamentos, estimando-se que, na atualidade, cerca de 40% das crianças experimentam o rompimento conjugal dos pais antes de completarem 15 anos. Anualmente, 200 mil crianças vêem seus pais se separarem nas regiões metropolitanas do Brasil. Além disso, aproximadamente 80% dos pais separados voltam a se casar nos três anos seguintes e mais da metade acabará em uma nova separação. Como conseqüência da alta incidência de novos casamentos, um quarto das crianças de hoje viverá, por algum tempo, com uma família não-consangüínea. Não obstante, as separações de casais, principalmente com filhos, mobilizam uma variedade de sentimentos, muitos deles conflitantes, que tornam esse processo doloroso e, freqüentemente, malsucedido. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, a separação dos pais é um estressor grave e causador de um grande número de sintomas, sobretudo nas crianças. A instabilidade familiar, o divórcio e os novos casamentos interferem no desenvolvimento emocional da criança, cujas conseqüências são observadas a curto, médio e longo prazo. Evidentemente, as reações das crianças à separação dos pais não são exatamente as mesmas em todas as faixas etárias. O ponto de vista atual predominante é de que o sofrimento dos filhos encontra-se mais condicionado à saúde mental dos pais e à forma como processam a separação do que à separação em si. Ao mesmo tempo, ao lado das inevitáveis desvantagens, tem sido possível constatar algumas vantagens obtidas pelos filhos de pais separados, destacando-se o amadurecimento mais precoce em um amplo espectro de situações quando comparados com filhos de casamentos estáveis. Além disso, em muitos casos, eles adquirem uma maior capacidade para tolerar privações e enfrentar adversidades, ambigüidades e experiências novas.
Qual o papel da escola no desenvolvimento dessa geração, fruto de relações familiares diferentes das tradicionais?
A família é uma instituição fortemente influenciada pelo contexto sociocultural, que, no momento, exige mudanças em uma velocidade que supera em muito sua capacidade de adaptação. Essa mesma aceleração é imposta aos indivíduos que são levados a antecipar as passagens da infância para a adolescência e da adolescência para a vida adulta mediante desidealizações precoces das figuras parentais, determinando, em muitos casos, variados problemas de personalidade como resultado de identificações pobres ou inadequadas ao longo do desenvolvimento. A conseqüência dessa situação são pais destituídos de uma identidade que lhe possibilite exercer com segurança as definidas funções paternas e que, para adquirir tal capacidade, teriam de resolver previamente seus conflitos infantis e adolescentes. Esses pais imaturos apresentam a tendência a permanecer em uma relação simétrica com os filhos, mobilizando rivalidades, invejas e ciúmes próprios dos vínculos fraternos. Em vez de os filhos identificarem-se com os pais, são estes que se identificam com os filhos, tornando-se pais intrusivos, quando resolvem que em casa todas as portas devem estar abertas para poderem participar da vida dos filhos, ou pais indiferentes, quando resolvem fazer a própria vida e viram as costas para os filhos. Esses jovens carecem de um modelo familiar adequado de identificação e, muitas vezes, é na escola que encontram um substituto adequado na pessoa do professor. Ao mesmo tempo, as instituições de ensino geralmente apresentam uma organização mais tradicional e, dessa forma, contribuem para a estruturação da personalidade da criança e do adolescente. Sendo assim, não constitui um exagero afirmar que, na atualidade, a escola exerce um papel fundamental e complementar na formação do indivíduo por encontrar-se menos desestruturada do que a família, estabelecendo com mais precisão as diferenças de gerações e os limites que favorecem o desenvolvimento.
Fonte: Ano XI - Nº 41 - Novos tempos, novas realidades - Fevereiro à Abril de 2007
Nos últimos 50 anos, os brasileiros têm-se deparado com mudanças nas relações familiares que ocorrem numa velocidade que desafia diariamente a capacidade do ser humano. Hoje, 40% das crianças experimentam o rompimento conjugal dos pais antes de completarem 15 anos e aproximadamente 80% dos pais separados voltam a se casar nos três anos seguintes. Como conseqüência da alta incidência de novos casamentos, um quarto das crianças viverá, por algum tempo, com uma família não-consangüínea. Além disso, casais homossexuais também têm optado pela paternidade. A legislação brasileira já admite a adoção de crianças por pessoas solteiras de ambos os sexos, sem questionar a orientação sexual, e Essas modificações, que preocupam pais e professores, são analisadas nesta entrevista pelo psiquiatra Gley Costa, membro titular da Associação Psicanalítica Internacional, professor da Fundação Universitária Mário Martins e autor de diversas obras, entre elas, O amor e seus labirintos, lançada recentemente pela Artmed.
De que modo a sociedade está modificando-se e promovendo novas configurações familiares?
Até a modernidade, família e sociedade influenciavam-se mutuamente, sendo a escola um dos canais de comunicação entre essas duas instituições. Isso acontecia porque era principalmente na escola que a criança e o adolescente tomavam conhecimento do outro diferente, configurado pelos colegas, por suas famílias e pelo próprio conhecimento adquirido através do professor. Contudo, atualmente, observa-se um avassalador declínio da influência familiar, a qual tende a se tornar uma mera repetidora de valores e condutas ditadas pela sociedade. Como resultado, a família tradicional adquiriu uma nova configuração, que, por suas características, pode ser denominada de família pós-moderna, marcadamente influenciada pela propaganda, que gera todos os dias novas necessidades para aquecer o consumo, e pela televisão, que funciona como um novo e persuasivo membro familiar.
Como o senhor analisa essa nova família?
Um aspecto dessa nova família tutelada pela mídia é a inversão de valores. Antes eram os pais que serviam de modelo para os filhos. Hoje, são os filhos que modelam os pais. Isso é fruto de um fenômeno típico da pós-modernidade chamado moda, que define estruturalmente a sociedade de consumo. Nesse império em que tudo se torna rapidamente obsoleto, o jovem, como se fosse um produto recém-saído da fábrica, é oferecido como um ideal de sucesso e felicidade. No passado, o importante para a sociedade era o que o adulto pensava; hoje, o importante é o que o jovem pode fazer. O novo modelo masculino e feminino cultuado pela propaganda é o físico, essencialmente o de um adolescente, não mais de um adulto. Ao mesmo tempo, o corpo não é mais o corpo da pessoa, mas o corpo da moda. Quando falamos em novas configurações familiares, também consideramos as que resultam dos casamentos realizados entre pessoas separadas ou divorciadas, juntando filhos de sua união atual aos filhos dos relacionamentos anteriores. Na falta de um melhor termo, essas famílias costumam ser chamadas de "reconstituídas". As relações entre os integrantes das famílias reconstituídas costumam ser mais tolerantes e democráticas, abrindo caminho para uma melhor aceitação das diferenças, condição fundamental de convivência em grupo que influenciará favoravelmente a vida escolar da criança e do adolescente. A idealização da família tradicional deve ser entendida como uma organização defensiva contra o medo do abandono e da dissolução. Apesar disso, a família continua sendo importante, necessária e indispensável para a estruturação psíquica do indivíduo, mas os seus verdadeiros valores podem ser resgatados na formação das novas famílias criadas pela separação.
Quais as conseqüências dessas novas configurações para o desenvolvimento de crianças e adolescentes?
As conseqüências dessa família submetida a uma verdadeira ditadura do narcisismo revelam-se na dificuldade dos jovens de manter uma relação mais profunda, consistente e duradoura com outras pessoas e com as instituições, entre as quais se inclui a escola e, mais tarde, a faculdade. Eles se encontram embriagados pelo estilo de vida de uma sociedade que estimula e estabelece como aceitável esse padrão de convivência. Faz algum tempo que os adolescentes passaram a empregar o verbo "ficar" para definir um relacionamento diferente do namoro, no qual não há compromisso, nem exclusividade, existe apenas o contato físico. Em uma única festa, é aceito que um rapaz ou uma moça fique com mais de um parceiro. O surpreendente é que tal comportamento passou a ser plagiado pelos adultos que, naturalmente, incluíram em seu discurso o "ficar" dos adolescentes.
Hoje já é muito comum que casais homossexuais tenham filhos, sejam gerados por um dos parceiros, sejam adotados. Como o fato de ser criado por pais homossexuais afeta o desenvolvimento de uma criança?
O desenvolvimento da criança depende, fundamentalmente, de que os pais cumpram suas respectivas funções; caso contrário, é como se eles não existissem. No caso da mãe, sua principal função é compreender as necessidades iniciais da criança e ajudá-la a construir uma subjetividade e, no caso do pai, transmitir as leis da cultura e da sociedade, o que implica a difícil tarefa que se observa na atualidade, que é a colocação de limites. Existem situações em que a falta ou a inadequação de um dos pais é plenamente suprida pelo outro e situações em que as funções encontram-se invertidas ou não são exercidas nem pelo pai nem pela mãe. Por outro lado, a realidade de que a maioria dos homossexuais é filho de casais heterossexuais indica que dispor de uma figura masculina para se identificar, no caso do menino, e de uma figura feminina, no caso da menina, não é suficiente: a questão da sexualidade infantil é muito mais complexa. É provável que o melhor que os cuidadores, pais ou substitutos, possam fazer é não agir de maneira intrusiva ao procurar impor as próprias características como modelo, mas permitir que a criança desenvolva-se com liberdade para explorar todas as suas potencialidades em múltiplos e variados relacionamentos, livre de preconceitos. Se um par, formado por um homem e uma mulher, ou por dois homens e duas mulheres, for capaz de exercer as chamadas "funções parentais", a criança aos seus cuidados terá as condições mínimas para se desenvolver psicologicamente de forma satisfatória.
A homossexualidade é uma realidade na escola, tanto em relação a alunos quanto a professores e pais de alunos, o que em muitos casos gera discriminação, bullying e situações de desconforto para os educadores, que não sabem como agir diante de tais casos. O que o senhor aconselha aos professores?
Diria aos professores que todas as recriminações aos indivíduos homossexuais não passam de preconceito. Em outras culturas, não se observa o mesmo fenômeno. Na verdade, ao longo dos séculos, a história tem-se mostrado cambiante em relação ao homossexualismo: ora idolatrando-o, como na Grécia Antiga, ora degradando-o, como na Idade Média. Contudo, identificado com a moral vigente, o adolescente se considerará "normal" se for heterossexual e "anormal" se for homossexual. Como resultado, um grande número de adolescentes homossexuais, contrariando sua tendência, procura manter relacionamentos heterossexuais com o objetivo de atender à expectativa da família, dos amigos e da sociedade. No entanto, essa submissão acarreta depressão e um grande sofrimento, contribuindo para a baixa auto-estima geralmente observada nos indivíduos que reprimem sua sexualidade. A falta de apoio dos pais e professores e o temor de decepcioná-los fazem com que o adolescente somente torne pública sua atração por pessoas do mesmo sexo mais tarde, por volta dos 20 anos, ou depois de um casamento heterossexual frustrado. A escola pode prestar uma importante contribuição para diminuir o sofrimento imposto aos alunos e professores homossexuais promovendo palestras e debates sobre o tema com a participação de profissionais esclarecidos.
Qual a importância dos limites na formação das crianças e dos adolescentes? Como lidar com eles na escola?
Em 50 anos, assistimos tanto em casa quanto na escola à radical transição de uma educação muito repressiva para uma educação exageradamente permissiva. Pais e educadores estão desnorteados e sentem-se divididos entre a imagem interna de seus pais e o ambiente social que os rodeia na atualidade. Contudo, não se deve colocar essas duas tendências em oposição, como se tivéssemos de optar por uma ou outra; devemos, dentro das possibilidades, procurar integrá-las. Até certo ponto, precisamos encarar a educação como as roupas que saem de moda: não devemos jogá-las fora, pois, passado algum tempo, acabam voltando a ser usadas. Mais do que tudo, não devemos esquecer que a criança precisa de um modelo não apenas para se identificar, mas também para se opor e criticar, constituindo, assim, a própria identidade, que será mais rica, sólida e verdadeira se integrar os pais do passado e do presente. Todavia, no processo educativo, não adianta apenas traçar os limites. As crianças e os adolescentes precisam saber que a disciplina está ligada à sua segurança, favorece o seu desenvolvimento e constitui uma forma de respeitar os direitos alheios. Lamentavelmente, interpretações imprecisas e generalizações das teorias psicanalíticas têm levado a muitos equívocos na educação de crianças. Um desses equívocos tem como origem o pressuposto de que a repressão dos impulsos sexuais leva à neurose, determinando uma postura excessivamente permissiva a esse respeito por parte dos pais. Outra questão relaciona-se com o impulso agressivo. Não condiz com uma boa prática educativa inibir o impulso agressivo da criança, já que é ele que nos permite ter iniciativas, competir, lutar pela vida e enfrentar as dificuldades. No entanto, seus excessos devem ser amenizados e integrados com o impulso amoroso, o qual, quando estimulado e valorizado, capacita o indivíduo para o estabelecimento de relacionamentos gratificantes e estáveis. Se um modelo de educação não levar em consideração tal premissa, é provável que o impulso amoroso seja sufocado pelo impulso agressivo, e as crianças certamente apresentarão dificuldades em sua vida social e afetiva. Cabe aos pais e professores ajudá-las a lidarem com as frustrações correspondentes às sucessivas etapas do desenvolvimento para que consigam progressivamente atingir uma verdadeira e consistente maturidade.
Muitas vezes, a escola atribui à família a responsabilidade pelo fracasso escolar, por exemplo, alegando que as crianças vão mal porque os pais estão separando-se, ou porque a criança não tem a atenção necessária em casa, entre outras razões. Como o senhor analisa essa situação e como a escola deve lidar com tais fatos, que às vezes são verdadeiros, mas não são a única causa do mau desempenho?
A realidade é que não podemos mais fechar os olhos para a possibilidade da separação, uma realidade que se concretiza em um número significativo de casamentos, estimando-se que, na atualidade, cerca de 40% das crianças experimentam o rompimento conjugal dos pais antes de completarem 15 anos. Anualmente, 200 mil crianças vêem seus pais se separarem nas regiões metropolitanas do Brasil. Além disso, aproximadamente 80% dos pais separados voltam a se casar nos três anos seguintes e mais da metade acabará em uma nova separação. Como conseqüência da alta incidência de novos casamentos, um quarto das crianças de hoje viverá, por algum tempo, com uma família não-consangüínea. Não obstante, as separações de casais, principalmente com filhos, mobilizam uma variedade de sentimentos, muitos deles conflitantes, que tornam esse processo doloroso e, freqüentemente, malsucedido. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, a separação dos pais é um estressor grave e causador de um grande número de sintomas, sobretudo nas crianças. A instabilidade familiar, o divórcio e os novos casamentos interferem no desenvolvimento emocional da criança, cujas conseqüências são observadas a curto, médio e longo prazo. Evidentemente, as reações das crianças à separação dos pais não são exatamente as mesmas em todas as faixas etárias. O ponto de vista atual predominante é de que o sofrimento dos filhos encontra-se mais condicionado à saúde mental dos pais e à forma como processam a separação do que à separação em si. Ao mesmo tempo, ao lado das inevitáveis desvantagens, tem sido possível constatar algumas vantagens obtidas pelos filhos de pais separados, destacando-se o amadurecimento mais precoce em um amplo espectro de situações quando comparados com filhos de casamentos estáveis. Além disso, em muitos casos, eles adquirem uma maior capacidade para tolerar privações e enfrentar adversidades, ambigüidades e experiências novas.
Qual o papel da escola no desenvolvimento dessa geração, fruto de relações familiares diferentes das tradicionais?
A família é uma instituição fortemente influenciada pelo contexto sociocultural, que, no momento, exige mudanças em uma velocidade que supera em muito sua capacidade de adaptação. Essa mesma aceleração é imposta aos indivíduos que são levados a antecipar as passagens da infância para a adolescência e da adolescência para a vida adulta mediante desidealizações precoces das figuras parentais, determinando, em muitos casos, variados problemas de personalidade como resultado de identificações pobres ou inadequadas ao longo do desenvolvimento. A conseqüência dessa situação são pais destituídos de uma identidade que lhe possibilite exercer com segurança as definidas funções paternas e que, para adquirir tal capacidade, teriam de resolver previamente seus conflitos infantis e adolescentes. Esses pais imaturos apresentam a tendência a permanecer em uma relação simétrica com os filhos, mobilizando rivalidades, invejas e ciúmes próprios dos vínculos fraternos. Em vez de os filhos identificarem-se com os pais, são estes que se identificam com os filhos, tornando-se pais intrusivos, quando resolvem que em casa todas as portas devem estar abertas para poderem participar da vida dos filhos, ou pais indiferentes, quando resolvem fazer a própria vida e viram as costas para os filhos. Esses jovens carecem de um modelo familiar adequado de identificação e, muitas vezes, é na escola que encontram um substituto adequado na pessoa do professor. Ao mesmo tempo, as instituições de ensino geralmente apresentam uma organização mais tradicional e, dessa forma, contribuem para a estruturação da personalidade da criança e do adolescente. Sendo assim, não constitui um exagero afirmar que, na atualidade, a escola exerce um papel fundamental e complementar na formação do indivíduo por encontrar-se menos desestruturada do que a família, estabelecendo com mais precisão as diferenças de gerações e os limites que favorecem o desenvolvimento.
Fonte: Ano XI - Nº 41 - Novos tempos, novas realidades - Fevereiro à Abril de 2007
sábado, 18 de fevereiro de 2012
Aprendizagem Sistêmica - Aceitando as diferenças
Aprendizagem Sistêmica - Aceitando as diferenças
Com este artigo, queremos mostrar aos professores como trabalhar habilidades sociais junto a seus alunos. Nele, falaremos sobre a importância dos alunos trabalharem juntos, como despertar a vontade entre eles, e como ensinar habilidades que melhorem o desempenho acadêmico e o convívio social.
Se pedíssemos aos nossos alunos para atuar em grupos e os deixássemos livres para escolher em sua própria equipe, certamente eles escolheriam de acordo com seus interesses, conquistas e gênero.
Se trabalharmos com equipes heterogêneas, mesmo com certa resistência dos alunos no início, designamos a eles a oportunidade de se conhecerem e se aceitarem melhor, aplicando estruturas que possibilitem o grupo a se conhecer.
Tendo despertado o interesse de trabalhar junto, precisamos trabalhar as habilidades para se trabalhar junto. Quando formamos grupos heterogêneos, temos grandes riscos de tornar alunos desmotivados, tímidos, rejeitados etc., isso pelo simples fato de algum membro do grupo não ter aptidão para trabalhar em equipe.
Suponhamos, por exemplo, que em um grupo exista uma aluna de alto desempenho, que tenha mais facilidade com certo conteúdo que está sendo aplicado. Mesmo que não seja sua intenção magoar seus colegas de grupo, a aluna começa a ditar as respostas do exercício sem antes mesmo contar com a participação dos seus pares. Neste exemplo citado, o ideal seria que a aluna explicasse , passo a passo, ensinasse, cooperasse e não simplesmente ditasse.
Atualmente, o tema Bullying tem conquistado grande importância. Diariamente vemos inúmeros comportamentos inadequados como agressões , seja de professores por alunos, seja de aluno por professores, que chocam a sociedade e afetam diretamente o rendimento escolar. Este assunto, que tem vindo à tona apenas recentemente, vem se tornando cada vez mais relevante para estudar comportamentos que atingem milhares de crianças e adolescentes.
Tendo em conta algumas manifestações psicológicas exibidas nos alunos, como agressões, baixa autoestima e depressão, entre outros, as estruturas da Aprendizagem Sistêmica trabalham habilidades sociais que estão em falta para o desenvolvimento humano. Educação é ensinar e aprender. Para isso, podemos desenvolver os alunos para um aprendizado cooperativo e não competitivo, pelo simples fato de trabalharem em grupos o tempo todo. Basta praticar!
Inúmeras estruturas auxiliam no desenvolvimento de habilidades sociais como saber escutar, esperar, elogiar, revezar, ajudar etc. São estratégias que podem ser utilizadas em qualquer conteúdo acadêmico que estimulam o trabalho em equipe, a comunicação e a liderança pessoal. Nosso maior objetivo é contribuir positivamente para os alunos que ensinamos, não só no meio acadêmico, mas para a vida.
Algumas estruturas, tais como “Roda Vida”, “Dupla Dinâmica” e “Troca Cronometrada”, desenvolvem habilidades sociais de revezamento e elogio entre os membros das equipes. Já habilidades sociais, como saber escutar, entender e ajudar, estruturas como “Coach Duplo”, “Quanto vale esta ideia” e “Ciranda”, são excelentes maneiras de estimular estes comportamentos.
O importante neste aprendizado é que o professor deverá deixar todos os alunos cientes de quais habilidades sociais eles estarão praticando naquela determinada atividade; assim, cada um estará consciente do objetivo proposto. Com as estruturas trabalhadas constantemente, rapidamente os alunos aprenderão esses comportamentos e, com o passar do tempo, as habilidades sociais estarão presentes automaticamente em seu cotidiano.
Outro ponto relevante que vale a pena ser citado é a variedade de papéis designados para um aluno desempenhar, no s qua is ele é o maior responsável em realizar aquela determinada tarefa ou ação que melhoram o trabalho em equipe. Todos estes papéis cooperativos, delegados pelo próprio professor, incentivam a liderança e ressaltam a necessidade de adquirir tais habilidades sociais.
Um papel cooperativo, citado no livro de base desenvolvido pelo psicólogo Dr. Spencer Kagan, é o papel de “Encorajador”, no qual o aluno que foi designado a realizar esta responsabilidade terá como maior objetivo motivar a sua equipe. Já o responsável pelo papel do “Parabenizador” será o aluno que trabalhará habilidades sociais, tais como elogiar seus pares ou seu grupo de trabalho, promovendo o aumento da autoestima e o clima do grupo.
“Animador de Equipe”, “Orientador”, “Guia do Foco” e “Pensador” são outros exemplos de papéis cooperativos, que trabalham habilidades como: celebrar conquistas, ajudar, manter-se focado na tarefa e refletir. Por fim, todas as estratégias da Aprendizagem Sistêmica facilitam o aprendizado acadêmico, além de oferecer oportunidades benéficas e positivas na sala de aula, contribuindo para a diminuição da violência escolar e elevando a inclusão social.
É importante enfatizar a necessidade de formar alunos que saibam, acima de tudo, respeitar as diferenças e saber conviver com elas, propondo desafios que trabalhem habilidades individuais para serem sempre praticadas e compartilhadas.
Marina Budin
marina.budin@fk1.com.br
Orientadora e Consultora do Planeta Educação. Graduada em Administração de Empresas, cursando MBA em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas.
Com este artigo, queremos mostrar aos professores como trabalhar habilidades sociais junto a seus alunos. Nele, falaremos sobre a importância dos alunos trabalharem juntos, como despertar a vontade entre eles, e como ensinar habilidades que melhorem o desempenho acadêmico e o convívio social.
Se pedíssemos aos nossos alunos para atuar em grupos e os deixássemos livres para escolher em sua própria equipe, certamente eles escolheriam de acordo com seus interesses, conquistas e gênero.
Se trabalharmos com equipes heterogêneas, mesmo com certa resistência dos alunos no início, designamos a eles a oportunidade de se conhecerem e se aceitarem melhor, aplicando estruturas que possibilitem o grupo a se conhecer.
Tendo despertado o interesse de trabalhar junto, precisamos trabalhar as habilidades para se trabalhar junto. Quando formamos grupos heterogêneos, temos grandes riscos de tornar alunos desmotivados, tímidos, rejeitados etc., isso pelo simples fato de algum membro do grupo não ter aptidão para trabalhar em equipe.
Suponhamos, por exemplo, que em um grupo exista uma aluna de alto desempenho, que tenha mais facilidade com certo conteúdo que está sendo aplicado. Mesmo que não seja sua intenção magoar seus colegas de grupo, a aluna começa a ditar as respostas do exercício sem antes mesmo contar com a participação dos seus pares. Neste exemplo citado, o ideal seria que a aluna explicasse , passo a passo, ensinasse, cooperasse e não simplesmente ditasse.
Atualmente, o tema Bullying tem conquistado grande importância. Diariamente vemos inúmeros comportamentos inadequados como agressões , seja de professores por alunos, seja de aluno por professores, que chocam a sociedade e afetam diretamente o rendimento escolar. Este assunto, que tem vindo à tona apenas recentemente, vem se tornando cada vez mais relevante para estudar comportamentos que atingem milhares de crianças e adolescentes.
Tendo em conta algumas manifestações psicológicas exibidas nos alunos, como agressões, baixa autoestima e depressão, entre outros, as estruturas da Aprendizagem Sistêmica trabalham habilidades sociais que estão em falta para o desenvolvimento humano. Educação é ensinar e aprender. Para isso, podemos desenvolver os alunos para um aprendizado cooperativo e não competitivo, pelo simples fato de trabalharem em grupos o tempo todo. Basta praticar!
Inúmeras estruturas auxiliam no desenvolvimento de habilidades sociais como saber escutar, esperar, elogiar, revezar, ajudar etc. São estratégias que podem ser utilizadas em qualquer conteúdo acadêmico que estimulam o trabalho em equipe, a comunicação e a liderança pessoal. Nosso maior objetivo é contribuir positivamente para os alunos que ensinamos, não só no meio acadêmico, mas para a vida.
Algumas estruturas, tais como “Roda Vida”, “Dupla Dinâmica” e “Troca Cronometrada”, desenvolvem habilidades sociais de revezamento e elogio entre os membros das equipes. Já habilidades sociais, como saber escutar, entender e ajudar, estruturas como “Coach Duplo”, “Quanto vale esta ideia” e “Ciranda”, são excelentes maneiras de estimular estes comportamentos.
O importante neste aprendizado é que o professor deverá deixar todos os alunos cientes de quais habilidades sociais eles estarão praticando naquela determinada atividade; assim, cada um estará consciente do objetivo proposto. Com as estruturas trabalhadas constantemente, rapidamente os alunos aprenderão esses comportamentos e, com o passar do tempo, as habilidades sociais estarão presentes automaticamente em seu cotidiano.
Outro ponto relevante que vale a pena ser citado é a variedade de papéis designados para um aluno desempenhar, no s qua is ele é o maior responsável em realizar aquela determinada tarefa ou ação que melhoram o trabalho em equipe. Todos estes papéis cooperativos, delegados pelo próprio professor, incentivam a liderança e ressaltam a necessidade de adquirir tais habilidades sociais.
Um papel cooperativo, citado no livro de base desenvolvido pelo psicólogo Dr. Spencer Kagan, é o papel de “Encorajador”, no qual o aluno que foi designado a realizar esta responsabilidade terá como maior objetivo motivar a sua equipe. Já o responsável pelo papel do “Parabenizador” será o aluno que trabalhará habilidades sociais, tais como elogiar seus pares ou seu grupo de trabalho, promovendo o aumento da autoestima e o clima do grupo.
“Animador de Equipe”, “Orientador”, “Guia do Foco” e “Pensador” são outros exemplos de papéis cooperativos, que trabalham habilidades como: celebrar conquistas, ajudar, manter-se focado na tarefa e refletir. Por fim, todas as estratégias da Aprendizagem Sistêmica facilitam o aprendizado acadêmico, além de oferecer oportunidades benéficas e positivas na sala de aula, contribuindo para a diminuição da violência escolar e elevando a inclusão social.
É importante enfatizar a necessidade de formar alunos que saibam, acima de tudo, respeitar as diferenças e saber conviver com elas, propondo desafios que trabalhem habilidades individuais para serem sempre praticadas e compartilhadas.
Marina Budin
marina.budin@fk1.com.br
Orientadora e Consultora do Planeta Educação. Graduada em Administração de Empresas, cursando MBA em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Entendendo um pouco mais sobre o comportamento violento das crianças
Este é sem dúvida um complexo e desafiante assunto para pais e educadores, que ao atingir mundialmente grande dimensão, passou a ser estudado nas esferas da política e da segurança pública.
Infelizmente não é um episódio raro, ver-se diariamente nos jornais internacionais e nacionais, notícias alarmantes sobre atos de constrangimento causados por jovens que ainda deveriam estar brincando. O vandalismo público, a violência familiar, escolar, a agressão gratuita e a autoagressão estão documentados em artigos, fotos, filmes.
Essa grande incidência do comportamento truculento entre grupos de jovens, que passam rapidamente da briga entre iguais, para o massacre físico e psicológico e cujo estudo vem preenchendo as prateleiras das livrarias, fruto da pesquisa de educadores e cientistas alarmados com as consequências do problema, não está ainda totalmente esclarecido.
Como profissional ligada à educação e à saúde, tenho constatado pessoalmente que, ao longo destes últimos anos, o fato aumentou quantitativamente e que cada vez crianças mais novas estão envolvidas nos acontecimentos e nem sempre como vítimas!
Difícil é explicar aos pais, porque até uma criança pequena pode ser autora de comportamentos impulsivos, explosivos, absolutamente fora do controle dos adultos: ataques de birra, de verdadeira ira, depredação de bens, uso de vocabulário desrespeitoso, insolência, deboche, pouco caso, crueldade, destruição de propriedade alheia, entre outros.
Infelizmente, enquanto as crianças são pequenas, por uma questão de proximidade amorosa ou até por negligência, a família vai deixando passar as melhores ocasiões de educar, repreender, orientar. Muitos pensam: “puxou pra fulano”...”eu era assim”...com o “tempo passa”...Triste engano! Tirando as patologias psiquiátricas que justificam alguns desses comportamentos, o que falta é energia a esses pais, esclarecimento sobre o desenrolar futuro do modo de agir de seu pequeno tirano.
Limites e controle, não se ganham de um momento para o outro: é preciso aprender, vivenciar respeito dentro da própria família. Infelizmente, vítimas de agressões físicas, abusos de toda ordem, mau trato emocional, rejeição, muitas crianças e jovens nem imaginam o que seja respeito ao próximo.
Presenciam seus avós serem menosprezados, humilhados e explorados em todos os sentidos, passam por experiências diárias de brigas, discussões em seus lares, assistem à valorização excessiva dos bens materiais e o rechaço aos valores morais e espirituais, a insaciável ganância, a idolatria à aparência, a falta de respeito à hierarquia, à autoridade.
Vivendo desde cedo em comunidades violentas, sem adultos que lhe dê orientação, expostos horas e horas aos filmes, jogos, brincadeiras, veiculados na TV, na internet, nas diversas publicações, o comportamento truculento e impune torna-se cada vez mais arraigado e passa a fazer parte da personalidade da criança. Assim com o tempo, com o acesso fácil ao álcool, às drogas e armas, o dinheiro fácil passa a ser o valor ambicionado, custe o que custar!
E não estou falando apenas de crianças abandonadas ou que vivem em periferias menos abonadas: sob uma capa de sofisticação, de falso modernismo, essas coisas acontecem em toda gama de classes sociais e econômicas.
É claro que o estresse socioeconômico na família, a miséria, a fome, a privação de afeto, o abandono da escola, o pouco cuidado dos pais, tornam os indivíduos mais susceptíveis à agressividade. Mas ela não é exclusiva desses ambientes, como qualquer manchete jornalística, nas páginas policiais pode nos mostrar.
Ataques de fúria, irritabilidade, impulsividade exagerada, intolerância à frustração, abandono da escola, são comportamentos que devem chamar a atenção dos pais e professores, em qualquer que seja a idade em que se apresente.
Observar bem a criança e o jovem, procurar estar mais perto, acompanhá-lo, escutá-lo, são as primeiras providências a tomar. Mas ao mesmo tempo é indispensável procurar orientação profissional, para que uma avaliação seja feita e um tratamento possa ser iniciado, para realmente ajudar essa criança a conter sua agressividade, arcar com responsabilidades e manifestar suas frustrações de maneira adequada, assim como a família deve ser orientada a melhor conduzir suas questões internas e seu modo de relação com o mundo.
Maria Irene Maluf
irenemaluf@uol.com.br
Pedagoga, especialista em Educação Especial e Psicopedagogia.
Infelizmente não é um episódio raro, ver-se diariamente nos jornais internacionais e nacionais, notícias alarmantes sobre atos de constrangimento causados por jovens que ainda deveriam estar brincando. O vandalismo público, a violência familiar, escolar, a agressão gratuita e a autoagressão estão documentados em artigos, fotos, filmes.
Essa grande incidência do comportamento truculento entre grupos de jovens, que passam rapidamente da briga entre iguais, para o massacre físico e psicológico e cujo estudo vem preenchendo as prateleiras das livrarias, fruto da pesquisa de educadores e cientistas alarmados com as consequências do problema, não está ainda totalmente esclarecido.
Como profissional ligada à educação e à saúde, tenho constatado pessoalmente que, ao longo destes últimos anos, o fato aumentou quantitativamente e que cada vez crianças mais novas estão envolvidas nos acontecimentos e nem sempre como vítimas!
Difícil é explicar aos pais, porque até uma criança pequena pode ser autora de comportamentos impulsivos, explosivos, absolutamente fora do controle dos adultos: ataques de birra, de verdadeira ira, depredação de bens, uso de vocabulário desrespeitoso, insolência, deboche, pouco caso, crueldade, destruição de propriedade alheia, entre outros.
Infelizmente, enquanto as crianças são pequenas, por uma questão de proximidade amorosa ou até por negligência, a família vai deixando passar as melhores ocasiões de educar, repreender, orientar. Muitos pensam: “puxou pra fulano”...”eu era assim”...com o “tempo passa”...Triste engano! Tirando as patologias psiquiátricas que justificam alguns desses comportamentos, o que falta é energia a esses pais, esclarecimento sobre o desenrolar futuro do modo de agir de seu pequeno tirano.
Limites e controle, não se ganham de um momento para o outro: é preciso aprender, vivenciar respeito dentro da própria família. Infelizmente, vítimas de agressões físicas, abusos de toda ordem, mau trato emocional, rejeição, muitas crianças e jovens nem imaginam o que seja respeito ao próximo.
Presenciam seus avós serem menosprezados, humilhados e explorados em todos os sentidos, passam por experiências diárias de brigas, discussões em seus lares, assistem à valorização excessiva dos bens materiais e o rechaço aos valores morais e espirituais, a insaciável ganância, a idolatria à aparência, a falta de respeito à hierarquia, à autoridade.
Vivendo desde cedo em comunidades violentas, sem adultos que lhe dê orientação, expostos horas e horas aos filmes, jogos, brincadeiras, veiculados na TV, na internet, nas diversas publicações, o comportamento truculento e impune torna-se cada vez mais arraigado e passa a fazer parte da personalidade da criança. Assim com o tempo, com o acesso fácil ao álcool, às drogas e armas, o dinheiro fácil passa a ser o valor ambicionado, custe o que custar!
E não estou falando apenas de crianças abandonadas ou que vivem em periferias menos abonadas: sob uma capa de sofisticação, de falso modernismo, essas coisas acontecem em toda gama de classes sociais e econômicas.
É claro que o estresse socioeconômico na família, a miséria, a fome, a privação de afeto, o abandono da escola, o pouco cuidado dos pais, tornam os indivíduos mais susceptíveis à agressividade. Mas ela não é exclusiva desses ambientes, como qualquer manchete jornalística, nas páginas policiais pode nos mostrar.
Ataques de fúria, irritabilidade, impulsividade exagerada, intolerância à frustração, abandono da escola, são comportamentos que devem chamar a atenção dos pais e professores, em qualquer que seja a idade em que se apresente.
Observar bem a criança e o jovem, procurar estar mais perto, acompanhá-lo, escutá-lo, são as primeiras providências a tomar. Mas ao mesmo tempo é indispensável procurar orientação profissional, para que uma avaliação seja feita e um tratamento possa ser iniciado, para realmente ajudar essa criança a conter sua agressividade, arcar com responsabilidades e manifestar suas frustrações de maneira adequada, assim como a família deve ser orientada a melhor conduzir suas questões internas e seu modo de relação com o mundo.
Maria Irene Maluf
irenemaluf@uol.com.br
Pedagoga, especialista em Educação Especial e Psicopedagogia.
Salas de aula tradicionais se adaptam ao uso das novas tecnologias
Salas de aula tradicionais se adaptam ao uso das novas tecnologias
Este é um período do ano em que professores e alunos retornam às salas de aula .Olhando a transformação pela qual passa o ensino brasileiro, não tem como passar despercebido as mudanças que estão ocorrendo nas escolas, causadas pelo impacto das novas tecnologias que estão modificando as formas de aprendizado e a relação entre professor e aluno no processo de ensino-aprendizagem.
Até há pouco tempo, com raras exceções, as escolas dispunham de quadro negro e giz, slides e livros impressos. Hoje, na era do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, sobretudo com o acesso cada vez maior à internet (rede mundial de computadores), os professores precisam se adaptar ao uso de novos instrumentos de trabalho: a antiga lousa é substituída pela lousa digital; livros dão lugar a tablets; notebooks são vistos cada vez com mais frequência sobre as carteiras e os alunos tem cada vez mais acesso a bibliotecas virtuais e a banco de dados (pesquisas) com apenas um click; telões de videoconferência diminuem as distâncias entre professores e alunos; o uso de projetor multimídia contribui para a criação de novas estratégias de aprendizado e cada vez mais pilhas de livros são substituídas por livros e apostilas baixadas da internet e os seus conteúdos são armazenados no pequeno pen drive.
A tecnologia é vista com bons olhos pela maioria dos profissionais da educação, pois os recursos tecnológicos permitem produzir e compartilhar conteúdos como textos, fotos e vídeos, criando interatividade e modificando a lógica do aprendizado. As salas de aula modernas são mais interessantes do que as tradicionais e quando os recursos tecnológicos são utilizados corretamente oferecem uma grande gama de recursos e estímulos aos alunos.
Os professores tem grandes desafios a serem superados diante de tanta tecnologia. É imprescindível que o professor de hoje esteja aberto às novas descobertas e veja as novas tecnologias como auxiliares no seu desenvolvimento educacional e, através dessas tecnologias que fazem parte do dia a dia dos seus alunos, aprendam a interagir e criar neles o gosto pela pesquisa.A comunidade virtual fornece uma aprendizagem colaborativa tanto ao aluno como para o professor, pois ao fazer debates sobre certos temas, eles podem aprofundar seus conhecimentos nos bancos de dados disponíveis na internet.
Já as escolas tradicionais que ainda têm em suas salas de aula, espaços compostos apenas por lousa, giz, carteiras, livros impressos, cadernos e ainda persistem nos métodos tradicionais de ensino onde o professor fala, o aluno escuta; o professor dita, o aluno escreve; ou seja, um ambiente pouco estimulante para as crianças e adolescentes de hoje, que vivem num mundo bombardeado por informações e interatividade, podem estar com os dias contados.
No mundo globalizado, a educação baseada no método tradicional de ensino se torna cada vez mais obsoleta e perde espaço para a nova eduçação, que tem por finalidade atender a uma crescente demanda de estudantes mais autossuficientes que passam a ver o professor como orientador. As escolas por sua vez, pressionadas por pais e alunos e pela própria sociedade, sentem-se obrigadas a se adaptarem aos crescentes avanços tecnológicos para se manterem no competitivo mercado da educação.
Nos últimos anos, muitas escolas buscaram adaptar os novos recursos tecnológicos aos seus padrões de ensino, com isso proporcionaram maior aprendizado e melhoria na qualidade do ensino. Diante desta realidade, o grande desafio para educadores e educandos é aprender a lidar com a pluralidade e aliar a tecnologia à educação, que quando bem utilizadas trazem grandes benefícios pedagógicos e proporcionam significativos avanços nas formas de ensinar e aprender.
Rosemary de Ross
rose.ross@brturbo.com.br
Formada em Letras (Funesp). Cursou Teologia para Leigos. É escritora e autora dos livros: "Mensagens e orações para diversas situações do dia a dia" e '"Uma mensagem por dia, o ano todo", da Paulinas Editora.
Este é um período do ano em que professores e alunos retornam às salas de aula .Olhando a transformação pela qual passa o ensino brasileiro, não tem como passar despercebido as mudanças que estão ocorrendo nas escolas, causadas pelo impacto das novas tecnologias que estão modificando as formas de aprendizado e a relação entre professor e aluno no processo de ensino-aprendizagem.
Até há pouco tempo, com raras exceções, as escolas dispunham de quadro negro e giz, slides e livros impressos. Hoje, na era do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, sobretudo com o acesso cada vez maior à internet (rede mundial de computadores), os professores precisam se adaptar ao uso de novos instrumentos de trabalho: a antiga lousa é substituída pela lousa digital; livros dão lugar a tablets; notebooks são vistos cada vez com mais frequência sobre as carteiras e os alunos tem cada vez mais acesso a bibliotecas virtuais e a banco de dados (pesquisas) com apenas um click; telões de videoconferência diminuem as distâncias entre professores e alunos; o uso de projetor multimídia contribui para a criação de novas estratégias de aprendizado e cada vez mais pilhas de livros são substituídas por livros e apostilas baixadas da internet e os seus conteúdos são armazenados no pequeno pen drive.
A tecnologia é vista com bons olhos pela maioria dos profissionais da educação, pois os recursos tecnológicos permitem produzir e compartilhar conteúdos como textos, fotos e vídeos, criando interatividade e modificando a lógica do aprendizado. As salas de aula modernas são mais interessantes do que as tradicionais e quando os recursos tecnológicos são utilizados corretamente oferecem uma grande gama de recursos e estímulos aos alunos.
Os professores tem grandes desafios a serem superados diante de tanta tecnologia. É imprescindível que o professor de hoje esteja aberto às novas descobertas e veja as novas tecnologias como auxiliares no seu desenvolvimento educacional e, através dessas tecnologias que fazem parte do dia a dia dos seus alunos, aprendam a interagir e criar neles o gosto pela pesquisa.A comunidade virtual fornece uma aprendizagem colaborativa tanto ao aluno como para o professor, pois ao fazer debates sobre certos temas, eles podem aprofundar seus conhecimentos nos bancos de dados disponíveis na internet.
Já as escolas tradicionais que ainda têm em suas salas de aula, espaços compostos apenas por lousa, giz, carteiras, livros impressos, cadernos e ainda persistem nos métodos tradicionais de ensino onde o professor fala, o aluno escuta; o professor dita, o aluno escreve; ou seja, um ambiente pouco estimulante para as crianças e adolescentes de hoje, que vivem num mundo bombardeado por informações e interatividade, podem estar com os dias contados.
No mundo globalizado, a educação baseada no método tradicional de ensino se torna cada vez mais obsoleta e perde espaço para a nova eduçação, que tem por finalidade atender a uma crescente demanda de estudantes mais autossuficientes que passam a ver o professor como orientador. As escolas por sua vez, pressionadas por pais e alunos e pela própria sociedade, sentem-se obrigadas a se adaptarem aos crescentes avanços tecnológicos para se manterem no competitivo mercado da educação.
Nos últimos anos, muitas escolas buscaram adaptar os novos recursos tecnológicos aos seus padrões de ensino, com isso proporcionaram maior aprendizado e melhoria na qualidade do ensino. Diante desta realidade, o grande desafio para educadores e educandos é aprender a lidar com a pluralidade e aliar a tecnologia à educação, que quando bem utilizadas trazem grandes benefícios pedagógicos e proporcionam significativos avanços nas formas de ensinar e aprender.
Rosemary de Ross
rose.ross@brturbo.com.br
Formada em Letras (Funesp). Cursou Teologia para Leigos. É escritora e autora dos livros: "Mensagens e orações para diversas situações do dia a dia" e '"Uma mensagem por dia, o ano todo", da Paulinas Editora.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Discalculia – o horror à matemática
As dificuldades de aprendizagem da matemática muitas vezes são justificadas por explicações pedagógicas não suficientemente precisas, tais como: dificuldades nas habilidades pré-requeridas; falhas na compreensão de conceitos, reforço inadequado ou insuficiente, escassas oportunidades para a prática e até mesmo dificuldades de “ensinagem”. No entanto, nem sempre estas são as causas dos insucessos na aprendizagem da matemática. A razão pode ser um transtorno chamado discalculia.
Estudo dirigido pelo matemático Brian Butterworth, mostrou que entre 1.500 crianças examinadas, de 3% a 6% delas mostravam sinais de discalculia. Outros estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, Europa e Israel mostram que a prevalência da discalculia nestes países varia ao redor de 3 a 6,5%. Apesar de quase 5% da população mundial sofrerem com os sintomas deste transtorno, a maioria das pessoas nunca ouviu falar nisso.
O que é Discalculia?
Discalculia é um transtorno estrutural da maturação das habilidades matemáticas, as quais incluem as habilidades linguísticas, perceptuais e de atenção. Não decorre de uma lesão cerebral, mas de disfunções neurológicas ou imaturidade das funções neurológicas, e está associada às dificuldades específicas no processo da aprendizagem do cálculo, que se observam entre indivíduos de inteligência normal. Decorre de falhas na representação dos fatos numéricos, na execução dos procedimentos aritméticos e respectiva representação espacial, na impossibilidade de realizar cálculos mentais, de reconhecer a relação entre os diversos conceitos e utilizá-los na resolução de situações-problema.
Como reconhecer um discalcúlico?
Os discalcúlicos têm inteligência normal ou superior. A aquisição da linguagem (oral, leitura, escrita) acontece muitas vezes de forma mais acelerada, e, não raro, apresentam habilidades poéticas. Perdem objetos frequentemente e dão a impressão de distraídos. Podem apresentar dificuldades para entender ordens e planejar estratégias em jogos, de lembrar regras e fórmulas. É comum demonstrarem dificuldades em dançar porque não lembram a sequência de passos de uma dança. Os discalcúlicos parecem ter medo de lidar com números, sentem-se incapazes de realizar cálculos mentalmente, demonstram dificuldades de entender o conceito e o manejo das operações e até mesmo de fixar a tabuada. Demoram mais para compreender as operações inversas como subtração e divisão. Embora reconheçam os números, não conseguem estabelecer relações entre eles, montar operações e identificar corretamente os sinais matemáticos. As noções de espaço e tempo também são comprometidas e demoram para aprender a ler as horas, saber a sequência dos meses, do ano, lidar com as noções temporais de dia, mês e ano, ontem, hoje, amanhã e outras.
Diagnosticando a discalculia
Detectar a discalculia, no entanto, não é fácil. Na pré-escola, já é possível notar algum sinal do distúrbio, quando a criança apresenta dificuldade em responder às relações matemáticas propostas - como igual e diferente, pequeno e grande, muito e pouco, etc. Porém, o diagnóstico nesta fase é mais complexo, uma vez que a criança ainda não foi exposta ao processo de aprendizagem dos conceitos aritméticos, que, em geral, ocorre a partir dos 7 anos de idade, época em que os símbolos matemáticos e as operações são introduzidos e os sintomas da discalculia se evidenciam. Nas fases mais adiantadas da vida escolar, este transtorno também impede a compreensão dos conceitos matemáticos e sua incorporação na vida cotidiana.
Caso não seja diagnosticada a tempo, a discalculia pode comprometer o desenvolvimento escolar em outros aspectos também. O aluno discalcúlico, devido à sua limitação, pode adquirir o medo de enfrentar novas experiências de aprendizagem por desacreditar na sua capacidade. Pode também passar a apresentar problemas de conduta, tornar-se agressivo, apático ou desinteressado. É comum que pais, professores e até colegas, por desconhecerem o que realmente acontece com o discalcúlico acabem abalando ainda mais sua autoestima com críticas e punições. Por isso, é importante que se tenha, o quanto antes, o diagnóstico, o qual poderá ser feito de forma multidisciplinar, incluindo avaliação psicopedagógica e neurológica e, assim, começar o tratamento adequado.
Quézia Bombonatto
queziabombonatto@abpp.com.br
Bacharel em Matemática, Fonoaudióloga, Psicopedagoga, Terapeuta Familiar, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).
Estudo dirigido pelo matemático Brian Butterworth, mostrou que entre 1.500 crianças examinadas, de 3% a 6% delas mostravam sinais de discalculia. Outros estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, Europa e Israel mostram que a prevalência da discalculia nestes países varia ao redor de 3 a 6,5%. Apesar de quase 5% da população mundial sofrerem com os sintomas deste transtorno, a maioria das pessoas nunca ouviu falar nisso.
O que é Discalculia?
Discalculia é um transtorno estrutural da maturação das habilidades matemáticas, as quais incluem as habilidades linguísticas, perceptuais e de atenção. Não decorre de uma lesão cerebral, mas de disfunções neurológicas ou imaturidade das funções neurológicas, e está associada às dificuldades específicas no processo da aprendizagem do cálculo, que se observam entre indivíduos de inteligência normal. Decorre de falhas na representação dos fatos numéricos, na execução dos procedimentos aritméticos e respectiva representação espacial, na impossibilidade de realizar cálculos mentais, de reconhecer a relação entre os diversos conceitos e utilizá-los na resolução de situações-problema.
Como reconhecer um discalcúlico?
Os discalcúlicos têm inteligência normal ou superior. A aquisição da linguagem (oral, leitura, escrita) acontece muitas vezes de forma mais acelerada, e, não raro, apresentam habilidades poéticas. Perdem objetos frequentemente e dão a impressão de distraídos. Podem apresentar dificuldades para entender ordens e planejar estratégias em jogos, de lembrar regras e fórmulas. É comum demonstrarem dificuldades em dançar porque não lembram a sequência de passos de uma dança. Os discalcúlicos parecem ter medo de lidar com números, sentem-se incapazes de realizar cálculos mentalmente, demonstram dificuldades de entender o conceito e o manejo das operações e até mesmo de fixar a tabuada. Demoram mais para compreender as operações inversas como subtração e divisão. Embora reconheçam os números, não conseguem estabelecer relações entre eles, montar operações e identificar corretamente os sinais matemáticos. As noções de espaço e tempo também são comprometidas e demoram para aprender a ler as horas, saber a sequência dos meses, do ano, lidar com as noções temporais de dia, mês e ano, ontem, hoje, amanhã e outras.
Diagnosticando a discalculia
Detectar a discalculia, no entanto, não é fácil. Na pré-escola, já é possível notar algum sinal do distúrbio, quando a criança apresenta dificuldade em responder às relações matemáticas propostas - como igual e diferente, pequeno e grande, muito e pouco, etc. Porém, o diagnóstico nesta fase é mais complexo, uma vez que a criança ainda não foi exposta ao processo de aprendizagem dos conceitos aritméticos, que, em geral, ocorre a partir dos 7 anos de idade, época em que os símbolos matemáticos e as operações são introduzidos e os sintomas da discalculia se evidenciam. Nas fases mais adiantadas da vida escolar, este transtorno também impede a compreensão dos conceitos matemáticos e sua incorporação na vida cotidiana.
Caso não seja diagnosticada a tempo, a discalculia pode comprometer o desenvolvimento escolar em outros aspectos também. O aluno discalcúlico, devido à sua limitação, pode adquirir o medo de enfrentar novas experiências de aprendizagem por desacreditar na sua capacidade. Pode também passar a apresentar problemas de conduta, tornar-se agressivo, apático ou desinteressado. É comum que pais, professores e até colegas, por desconhecerem o que realmente acontece com o discalcúlico acabem abalando ainda mais sua autoestima com críticas e punições. Por isso, é importante que se tenha, o quanto antes, o diagnóstico, o qual poderá ser feito de forma multidisciplinar, incluindo avaliação psicopedagógica e neurológica e, assim, começar o tratamento adequado.
Quézia Bombonatto
queziabombonatto@abpp.com.br
Bacharel em Matemática, Fonoaudióloga, Psicopedagoga, Terapeuta Familiar, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).
Artigo: Como formar um marginal?Exemplo extraído da ficção ajuda a refletir sobre a vida real
Por Carlos Alberto Barcellos, professor
Falar em ética está ficando algo distante de nossa realidade. Gloria Perez, autora da novela Caminho das Índias, apresenta para nossa reflexão um exemplo clássico de como se forma um marginal ou delinquente.
Educado por adultos inconsequentes a transgredir, o jovem personagem faz de suas vítimas verdadeiros objetos de deboche e de desprezo pelo ser humano. A cena em que ele agride a professora é carregada de realidade. A ficção proposta por Gloria Perez há muito tempo tem se constituído numa cena real de nossas escolas.
A direção dessa escola ficcional decide, então, suspender o aluno, como forma de mostrar aos demais estudantes que, naquela escola, existe disciplina e regramento, independentemente do valor da conta bancária.
Os pais, grandes estimuladores da marginalidade do filho, prontamente saem em sua defesa. O argumento usado não tem nada de ficção. Colocam uma direção de escola sem rumo em xeque ao afirmar que são eles que pagam a escola. Como já vimos esse filme na realidade, fica o dito pelo não dito. Aquele garoto volta com a certeza de que será sempre acobertado por adultos incoerentes. Imagino que, ao longo da novela, a autora deverá discutir a mudança de quadro. Também não me surpreenderia se nada mudasse, apenas para confirmar o quadro patético de vazio existencial vivido pela geração a que temos a responsabilidade de educar.
O agressor, caso do personagem da novela, está à solta em todos os cantos de nossa sociedade. Intimida a todos pelo poder do dinheiro ou pelo poder da força. O agressor sabe constituir sua turma, que o segue embevecida, como se estivesse seguindo um deus. Essa turma despreza por completo normas de convivência. A cena da novela pode ser vista todos os dias em escolas brasileiras no famoso corredor polonês. Para quem nunca viu em uma escola, duas filas de estudantes se dispõem a dar tapas naquele que foi eleito para sofrer a punição da hora. Agressores são cruéis. Perdem a noção do juízo moral. Para eles, a palavra limite inexiste. Estão acima do bem e do mal. Ofendem professores, serventes, pessoas que passam nas ruas, tanto quanto pela força dominam seus pais em casa. Esse é o quadro de uma infantocracia e adolescentocracia que desconhece a palavra não.
Gloria Perez contribui para que saibamos ler as lições da ficção. Trazê-las para a luz do dia da vida da escola é necessário. De uma maneira explícita, ela nos apresenta uma aula de como se faz bullying nessa instituição. Tiros em Columbine é um documentário-filme obrigatório de se ver.
Como lidar com agressores e seus grupos? Como minimizar as agressões de todos os níveis das vítimas de condutas recorrentes? Como aprofundar com a grande massa dos indiferentes e silenciosos, quase sempre coniventes, temas tão significativos? Que lugar essa discussão ocupa na mesa de nossas casas e nossas escolas? Perguntas que clamam por respostas que vão além da mera indignação diante do personagem da novela de Gloria Perez.
Fonte: O X da Educação
Falar em ética está ficando algo distante de nossa realidade. Gloria Perez, autora da novela Caminho das Índias, apresenta para nossa reflexão um exemplo clássico de como se forma um marginal ou delinquente.
Educado por adultos inconsequentes a transgredir, o jovem personagem faz de suas vítimas verdadeiros objetos de deboche e de desprezo pelo ser humano. A cena em que ele agride a professora é carregada de realidade. A ficção proposta por Gloria Perez há muito tempo tem se constituído numa cena real de nossas escolas.
A direção dessa escola ficcional decide, então, suspender o aluno, como forma de mostrar aos demais estudantes que, naquela escola, existe disciplina e regramento, independentemente do valor da conta bancária.
Os pais, grandes estimuladores da marginalidade do filho, prontamente saem em sua defesa. O argumento usado não tem nada de ficção. Colocam uma direção de escola sem rumo em xeque ao afirmar que são eles que pagam a escola. Como já vimos esse filme na realidade, fica o dito pelo não dito. Aquele garoto volta com a certeza de que será sempre acobertado por adultos incoerentes. Imagino que, ao longo da novela, a autora deverá discutir a mudança de quadro. Também não me surpreenderia se nada mudasse, apenas para confirmar o quadro patético de vazio existencial vivido pela geração a que temos a responsabilidade de educar.
O agressor, caso do personagem da novela, está à solta em todos os cantos de nossa sociedade. Intimida a todos pelo poder do dinheiro ou pelo poder da força. O agressor sabe constituir sua turma, que o segue embevecida, como se estivesse seguindo um deus. Essa turma despreza por completo normas de convivência. A cena da novela pode ser vista todos os dias em escolas brasileiras no famoso corredor polonês. Para quem nunca viu em uma escola, duas filas de estudantes se dispõem a dar tapas naquele que foi eleito para sofrer a punição da hora. Agressores são cruéis. Perdem a noção do juízo moral. Para eles, a palavra limite inexiste. Estão acima do bem e do mal. Ofendem professores, serventes, pessoas que passam nas ruas, tanto quanto pela força dominam seus pais em casa. Esse é o quadro de uma infantocracia e adolescentocracia que desconhece a palavra não.
Gloria Perez contribui para que saibamos ler as lições da ficção. Trazê-las para a luz do dia da vida da escola é necessário. De uma maneira explícita, ela nos apresenta uma aula de como se faz bullying nessa instituição. Tiros em Columbine é um documentário-filme obrigatório de se ver.
Como lidar com agressores e seus grupos? Como minimizar as agressões de todos os níveis das vítimas de condutas recorrentes? Como aprofundar com a grande massa dos indiferentes e silenciosos, quase sempre coniventes, temas tão significativos? Que lugar essa discussão ocupa na mesa de nossas casas e nossas escolas? Perguntas que clamam por respostas que vão além da mera indignação diante do personagem da novela de Gloria Perez.
Fonte: O X da Educação
MEC e universidades estudam planos para combater evasão
Pesquisas mostram que, mais do que por escolha errada, estudantes largam cursos por dificuldades de rendimento
Priscilla Borges, iG Brasília
Combater os altos índices de abandono dos cursos superiores é meta de instituições públicas e privadas. Para evitar que vagas financiadas pelo dinheiro público fiquem ociosas ou faculdades privadas deixem de receber, iniciativas pontuais ganharão apoio do Ministério da Educação, que ao mesmo tempo discute um plano para diminuir os índices de evasão no ensino superior brasileiro.
Leia também: Evasão de faculdades privadas em SP bate recorde
Independentemente do tipo de universidade, os números são considerados altos pela pasta. Em 2010, último dado do MEC, o índice nas públicas era de 13,2%. Nas privadas, 15,6%.
Uma das medidas, consideradas das mais importantes, é oferecer apoio aos estudantes no início dos cursos. Mais do que simples decepção com a carreira escolhida, a falta de condições – financeiras ou acadêmicas – para acompanhar o ritmo das aulas leva os universitários a desistirem do ensino superior.
João Neto trocou de curso cinco vezes: falta de informações corretas no ensino médio
“As causas são múltiplas. O importante é não deixar que um aluno pare de estudar por falta de condições. Precisamos ampliar a assistência e também criar programas de monitoria, especialmente no primeiro ano, quando muitos têm dificuldades nas disciplinas básicas”, afirma o ex-secretário de Educação Superior, Luiz Cláudio Costa, que recém assumiu a presidência do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
O projeto está em discussão com pró-reitores de universidades públicas e privadas, segundo Costa. A expectativa é que seja concluído até abril e apresentado às instituições até julho. As medidas definidas – como bolsas de assistência e monitorias – começariam a partir do segundo semestre.
Para o pesquisador Roberto Leal Lobo, do Instituto Lobo, as instituições têm de lembrar que se um aluno deixa de estudar é porque está insatisfeito ou com o curso ou com a instituição. Além de apoiar mais os estudantes, ele acredita que elas deveriam dar mais liberdade para que os universitários troquem de curso, por exemplo.
“É preciso fazer com o aluno o que gostaríamos que fizessem com nossos filhos. Acompanhar o aluno no primeiro ano; dar aula de reforço, se preciso, e garantir bom atendimento sempre”, comenta Lobo.
Apoio em disciplinas básicas
Na Universidade de Brasília (UnB), o acordo feito com o MEC para garantir a expansão da instituição pelo Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) incluiu a realização de um estudo minucioso sobre evasão. O pacto estabelecido com o ministério é ousado, como ressalta a diretora de Acompanhamento e Integração Acadêmica, Cláudia Garcia. Até 2017, a taxa de conclusão de cursos tem de chegar a 90%.
Hoje, menos de 70% dos alunos que ingressam na universidade se formam. Entre os que entraram na UnB pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) ou pelo vestibular entre 2002 e 2006, a média de evasão foi de 35,5%. Os dados preocupam a administração. “É difícil agir em cima do abandono, mas nosso objetivo é combater a evasão por rendimento”, diz.
Cláudia liderou uma análise cuidadosa dos dados que mostram as causas dos “desligamentos” dos universitários. A repetência em uma mesma disciplina ou a falta de bom rendimento de modo geral foram as maiores responsáveis pela desistência dos alunos que ingressaram nesse período na universidade (cerca de 36% dos casos).
Nos casos dos cursos de Engenharia e licenciaturas, a média supera os 40%. Os altos índices e a percepção das causas levou a diretoria chefiada por Cláudia a montar um modelo de análise curso a curso. Sem a ideia de criar “rankings” internos, eles não foram divulgados, mas devem servir de apoio para medidas específicas.
Ela conta que, no curso de Agronomia, por exemplo, o desempenho em Química foi percebido como determinante. É uma disciplina na qual os alunos são reprovados muitas vezes e é pré-requisito para quase todo o restante da grade curricular. “Será que um candidato tem essa noção quando se inscreve no vestibular? Acredito que não e é o que queremos mudar”, diz.
Falta de informação
João Nascimento Neto, 29 anos, contribuiu, diversas vezes, para que os índices de evasão no País crescessem. Ele não abandonou a ideia de fazer uma faculdade, mas trocou de curso algumas vezes. Ainda na metade do 3º ano do ensino médio, João passou no vestibular da UnB para Relações Internacionais, curso bastante disputado.
Pedro Henrique trocou Odontologia por Medicina depois de um ano e meio de curso, sob pressão da família
“Eu adoro viajar. Tinha feito um teste vocacional que não surtiu nenhum efeito. Apontou que poderia ser um curso de exatas, humanas ou biológicas”, diverte-se. Depois de cinco semestres de curso, ele criou coragem para abandonar a graduação. Na época, já cursava Direito ao mesmo tempo em uma instituição privada.
Na opinião dele, é muito difícil escolher uma profissão tão cedo. “Ninguém está preparado quando sai do ensino médio. A gente escolhe muito cedo e falta orientação sobre cursos e trabalho também”, pondera. Do Direito, João pulou para Jornalismo, também na UnB. Um ano e meio depois, percebeu que o sonho de se tornar jornalista esportivo não iria adiante.
História e Medicina foram os próximos cursos “experimentados” por João, que, no final, voltou para o Direito e se formou em 2009. Os pais, mesmo preocupados com as mudanças, não criaram conflitos com João durante esse período de dúvidas. Ele conta que os processos de transferência entre cursos na UnB eram tão difíceis que ele fazia novo vestibular a cada troca.
A pressa em iniciar um curso superior fizeram com que Pedro Henrique Gonçalves Reis, 31 anos, cursasse odontologia por um ano e meio e criasse um conflito com a mãe para abandonar a carreira. Quando terminou o ensino médio, Pedro sonhava entrar na área da saúde. Medicina e odontologia estavam na mira. A vaga em odontologia veio primeiro.
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Quando assistir às aulas ficou insuportável, Pedro avisou a mãe que queria voltar para o cursinho e insistir para ser aprovado em Medicina. “Não foi fácil. Minha mãe queria que eu fizesse cursinho e continuasse o curso. Foi bem difícil começar do zero de novo também, mas adquiri uma maturidade que eu precisava nesse período”, afirma.
Hoje, pediatra no Hospital da Criança José de Alencar em Brasília, Pedro se sente realizado. “Acho que a gente tem de ser persistente e não pensar em curto prazo. Mesmo que demore, é preciso fazer o que a gente gosta”, aconselha.
Índices mais altos
Até pouco tempo atrás, os números eram ainda mais inflados. De acordo Costa, havia duplicação no censo. “Antes, um estudante que trocava de curso era considerado evadido. Agora, a análise é feita por CPF. A evasão não é o que se achava, mas é maior do que deveria ser ”, admite.
O pesquisador ressalta que, no ensino privado, é preciso cuidar para não misturar a quantidade de vagas não-preenchidas todos os semestres com a evasão. “As duas são altas, mas a ociosidade é maior ainda”, diz. Ele acredita que é preciso investir ainda mais em financiamentos estudantis para mudar o cenário.
Pesquisa destaca atraso no ensino
Mariana Mandelli
O Estado de S. Paulo
Cerca de um terço (31,29%) dos alunos mais "ricos" do ensino público de São Paulo conclui o ensino fundamental sem ter aprendido os conteúdos de matemática referentes ao 5.º ano desse mesmo nível de ensino. No caso de língua portuguesa, essa taxa é de 19,6% do total de alunos de classe mais alta que estuda em escolas estaduais e municipais.
Entre os alunos mais pobres das redes públicas de São Paulo, 40,24% chegaram ao 9.º ano sem saber o que foi ensinado em matemática no 5.º. Esse porcentual é de 22,43% em português.
Os dados fazem parte de uma pesquisa apresentada ontem, durante o Seminário Líderes em Gestão Escolar, organizado pela Fundação Lemann. São recortes da Prova Brasil 2009 e levam em conta o desempenho na avaliação (de português e matemática) e as respostas dadas nos questionários socioeconômicos que acompanham a prova. São consideradas apenas escolas públicas.
No caso da rede estadual paulista, as taxas são ainda maiores do que a média: 20,39% dos alunos com maior poder aquisitivo do 9.º ano não aprenderam nem os conteúdos de português do 5.º. Em matemática, esse porcentual sobe para 32,33%. "Os números são chocantes e refletem problemas que a rede pública de ensino tem", afirma a pesquisadora em educação Paula Louzano, coautora da pesquisa, realizada com Ernesto Martins Faria, da Fundação Lemann.
A Secretaria Municipal de Educação afirmou que desconhece a pesquisa. Já o governo estadual afirma que seus indicadores de desempenho superaram as metas do Ministério da Educação (MEC) para todos os níveis de ensino em 2007 e em 2009.
O Estado de S. Paulo
Cerca de um terço (31,29%) dos alunos mais "ricos" do ensino público de São Paulo conclui o ensino fundamental sem ter aprendido os conteúdos de matemática referentes ao 5.º ano desse mesmo nível de ensino. No caso de língua portuguesa, essa taxa é de 19,6% do total de alunos de classe mais alta que estuda em escolas estaduais e municipais.
Entre os alunos mais pobres das redes públicas de São Paulo, 40,24% chegaram ao 9.º ano sem saber o que foi ensinado em matemática no 5.º. Esse porcentual é de 22,43% em português.
Os dados fazem parte de uma pesquisa apresentada ontem, durante o Seminário Líderes em Gestão Escolar, organizado pela Fundação Lemann. São recortes da Prova Brasil 2009 e levam em conta o desempenho na avaliação (de português e matemática) e as respostas dadas nos questionários socioeconômicos que acompanham a prova. São consideradas apenas escolas públicas.
No caso da rede estadual paulista, as taxas são ainda maiores do que a média: 20,39% dos alunos com maior poder aquisitivo do 9.º ano não aprenderam nem os conteúdos de português do 5.º. Em matemática, esse porcentual sobe para 32,33%. "Os números são chocantes e refletem problemas que a rede pública de ensino tem", afirma a pesquisadora em educação Paula Louzano, coautora da pesquisa, realizada com Ernesto Martins Faria, da Fundação Lemann.
A Secretaria Municipal de Educação afirmou que desconhece a pesquisa. Já o governo estadual afirma que seus indicadores de desempenho superaram as metas do Ministério da Educação (MEC) para todos os níveis de ensino em 2007 e em 2009.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Tecnologia sem pedagogia
Primeiro o governo compra os tablets, depois pensa em que e como serão usados
O Estado de S. Paulo
Embora a presidente Dilma Rousseff tenha prometido converter a educação em prioridade de sua gestão, seu governo vem mantendo, neste setor, a tradição iniciada por seu antecessor, de agitar bandeiras muito mais vistosas do que eficazes. A última iniciativa do Ministério da Educação (MEC ) é prova disso. Sem análises técnicas aprofundadas sobre o uso pedagógico de aparelhos eletrônicos em sala de aula, o órgão acaba de abrir uma licitação para adquirir 900 mil tablets, que serão distribuídos na rede pública de ensino básico.
Indagadas a respeito de como o material será utilizado, as autoridades educacionais limitaram-se a afirmar que o método pedagógico será definido depois da chegada das máquinas. Em outras palavras, o MEC pretende gastar mais de R$ 330 milhões num projeto de contornos imprecisos e metas vagas. A ideia é que, depois de aprenderem a manusear os tablets, os professores da rede pública disseminem em sala de aula tudo o que aprenderam em matéria de tecnologias digitais.
Contudo, de que adianta dar material eletrônico de última geração a alunos que mal sabem escrever o nome, não são capazes de escrever uma redação e, em matemática, não conseguem ir muito além das quatro operações aritméticas? Faz sentido gastar com tablets e outros equipamentos de informática quando as instalações físicas de muitas escolas da rede pública se encontram deterioradas por falta de recursos para manutenção? Não seria mais eficiente valorizar o objetivo básico do sistema educacional - que é ensinar a ler, a escrever e a calcular -, do que desperdiçar recursos com modismos pedagógicos? Por que gastar tanto dinheiro em técnica de comunicação se o conteúdo do que é comunicado continua sendo objeto de livros didáticos medíocres, muitos dos quais com erros elementares, falhas conceituais e nítido viés ideológico?
Até mesmo os educadores favoráveis ao uso de tecnologias digitais nas salas de aula da rede pública de ensino básico criticam o açodamento das autoridades educacionais na aquisição dos 900 mil tablets. Eles lembram que, para fundamentar a decisão, o MEC realizou apenas uma audiência pública, em agosto do ano passado. E, mesmo assim, os debates giraram mais em torno de aspectos técnicos - como tamanho de tela - do que de questões educacionais.
O fato é que a compra de 900 mil tablets poderá ter a mesma trajetória do projeto Um aluno por Computador, lançado pelo presidente Lula. Inspirado nas ideias do americano Nicholas Negroponte, que propôs no Fórum Econômico de Davos de 2005 a distribuição de computadores pessoais de baixo custo nos países em desenvolvimento como o primeiro passo para uma revolução educacional, o projeto era oportuno, mas foi implantado com graves falhas de gestão. Relatório feito pela UFRJ, a pedido da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), afirma que o projeto está em situação "caótica". Dos 600 mil computadores que foram oferecidos no ano passado a Estados e municípios, só a metade foi comprada. Uma parte dos computadores adquiridos encontra-se subaproveitada. O índice de laptops quebrados é alto.
Diz ainda o relatório que, como não passaram por programas de capacitação para utilizar tecnologia digital em sala de aula, os professores receberam a inovação como "ameaça". Cerca de 20% dos docentes guardaram o equipamento numa gaveta ou num armário. "O desenho do projeto subestimou as dificuldades de apropriação da tecnologia pelos professores do ensino fundamental e médio em comunidades relativamente carentes, o que levou a um subaproveitamento dos computadores em sala de aula", diz o relatório da SAE, depois de afirmar que o projeto teve "custos elevados" e que seus resultados ficaram "aquém do esperado".
Ninguém põe em dúvida a importância da tecnologia como instrumento de educação. O que se pergunta é se não seria mais urgente cuidar dos gargalos da educação pública, como a melhoria do ensino de disciplinas básicas, nas quais o desempenho da maioria dos estudantes nas avaliações do MEC continua abaixo da crítica.
Câmara pode liberar abatimento do IR de gasto com material escolar
Texto em tramitação permite abater despesas até limite equivalente hoje a R$ 772,84
Agência Câmara
Um projeto de lei apresentado na Câmara pelo deputado Mendonça Filho (DEM-PE) autoriza o contribuinte pessoa física a deduzir da base de cálculo do Imposto de Renda (IRPF) o valor gasto com a compra de material escolar para uso próprio ou de dependentes.
De acordo com o projeto, poderá ser deduzido com material escolar até 25% do limite anual de dedução das despesas com educação. No ano-calendário de 2012, esse percentual corresponderia a R$ 772,84, já que o limite anual de dedução para despesas com educação é de R$ 3.091,35.
Segundo a proposta, o Poder Executivo editará regulamento para definir as condições para a dedução, como o tipo e a quantidade por item de material escolar. Mendonça Filho afirma que essa regulamentação evitará abusos por parte do contribuinte.
Tramitação
O texto tramita em conjunto com o projeto de lei 6552/06, que tem caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
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