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Se você acompanha a novela 'Saramandaia', da Rede Globo, já deve ter
escutado muitas expressões que não estão no dicionário – são 'saramandices' como
'dexexplodir', 'respeitamento' e 'apenasmente'. As falas da trama estão
recheadas de neologismos, fenômeno linguístico que consiste na criação de uma
nova palavra, normalmente a partir de outras já existentes.
Essa e outras variações da língua portuguesa costumam aparecer não só nas
novelas, mas também nos principais vestibulares. Saiba como esse assunto pode
cair nas provas.
Você pode não perceber, mas conhece diferentes tipos de português. Um é o
idioma usado na fala cotidiana com as pessoas, conhecido como forma coloquial.
Já a forma padrão culta é a ensinada na escola e usada em textos jornalísticos,
documentos oficiais e vestibulares.
“Costumo brincar que a aula deveria ter o nome de língua estrangeira:
Português de Portugal”, conta Rodrigo Shiroma, linguista e professor de
Gramática do Poliedro em São José dos Campos (SP). Conhecer os dois é o melhor
caminho para se sair bem nas provas.
Uma coisa que não falta na literatura brasileira é variação linguística.
Prepare-se. As provas podem cobrar esse conhecimento com perguntas sobre os
livros indicados. O recomendado é localizar essas ferramentas de escrita durante
a leitura. Procure compreender os termos desconhecidos e qual o significado no
texto.
“Se o aluno conhecer a palavra, vai ser bem mais tranquilo responder essas
questões”, acredita Lélia de Oliveira Teixeira, professora de literatura do
Colégio Albert Sabin, de São Paulo.
Durante o seu estudo de variações linguísticas, não se esqueça de entender
como o recurso contribui para as obras literárias. Em “Capitães da Areia”, de
Jorge Amado, você pode notar na linguagem elementos típicos de garotos de rua da
Bahia. Outro exemplo é 'Vidas Secas', de Graciliano Ramos, que traz o universo
do sertão nordestino.
Fique sempre atento para identificar essas variações e compreender como o
uso enriquece o texto.
Não é só nas novelas que ele aparece. Neologismo é uma das variações
linguísticas e pode ser questionado em diferentes provas. Nesse caso, é
importante lembrar a aula de formação de palavras para conseguir analisar a
origem do termo.
Outra questão é compreender o sentido que ele dá ao texto. Por exemplo, no
poema “Neologismo”, Manuel Bandeira cria o verbo 'teadorar' e diz que ele é
intransitivo, ou seja, não precisa de complemento. “É uma declaração de amor
única. Significa que o único objeto de adoração é você”, explica a
professora.
Fique atento com os termos usados na redação. O recomendado é evitar o uso
de neologismos. Mas, se você realmente precisar escrever, alguns cuidados são
essenciais. “Se for utilizar um neologismo, sempre coloque entre aspas”,
recomenda Rodrigo. “Tem que ser um contexto muito específico para você marcar
que não há outra palavra para usar no lugar.”
É normal escrever palavras sem saber que elas ainda não constam no
dicionário. Se você ficar em dúvida durante os estudos, é sempre bom consultar.
Com o tempo, muitos termos podem ser incluídos nos dicionários. A versão on-line
do inglês Oxford, por exemplo, é atualizada frequentemente com a inclusão de
novas palavras, principalmente por conta das novidades tecnológicas. No Brasil,
os dicionários também costumam evoluir, nem sempre com a mesma velocidade.
Outra maneira de questionar a variação linguística é fazer uma comparação
do idioma em diferentes épocas. Segundo Rodrigo, é possível haver questões que
tragam momentos diferentes.
Por exemplo, dois recortes de jornais, um com uma reportagem atual e outro
com um texto publicado na década de 1950. “Você percebe que em mais de 50 anos
muita coisa mudou, inclusive na sintaxe”, revela o professor. Esteja preparado
para analisar a evolução da língua.
Conhecer bem as diferenças entre o português padrão e o coloquial é uma das
habilidades exigidas. É comum os vestibulares pedirem para que você altere de um
modelo para outro. Nessas horas, é importante ficar atento aos detalhes.
“É difícil. Isso envolve regrinhas bem chatas”, avalia Rodrigo. “Por
exemplo, o verbo chegar. A gente costuma utilizar no cotidiano com ‘chegar em
algum lugar’. Na norma culta, a regência do verbo é com a preposição ‘a’.”
Uma das dúvidas dos alunos é saber se as variantes linguísticas podem ser
usadas na redação. Na maioria das vezes, a resposta é não. Gírias e marcadores
de oralidade devem ser evitados.
Porém, se o texto for narrativo, você pode empregar essa técnica em falas
de personagens para caracterizar classe social ou grau de instrução. “Nesse
caso, é permitido trabalhar com uma linguagem informal. Mas, quando você coloca
a voz no narrador, não adianta. Tem que ser a língua padrão, a norma culta”,
revela o professor.
As avaliações podem fazer uma relação entre a língua portuguesa e questões
sociais. Segundo Rodrigo, é normal as provas usarem as variações linguísticas
para destacarem sotaques, modos de fala ou palavras que são usadas em algumas
regiões.
O papel do aluno é conhecer o significado e refletir sobre as
características do grupo que apresenta esse costume.
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