sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Por que tanta pressa em aprender a ler?

Seu filho já sabe ler? Seu filho ainda não sabe ler? Quando nós, os pais, vamos aprender que o tempo certo do ler não tem nada a ver com já ou ainda?

 
Quando nasce um bebê, nasce uma mãe, sabe-se, mas desconfio que a história é ainda mais complexa. Uma mãe nasce todo dia, quando aprende a amamentar, a trocar fralda, a curar machucado, a consolar. Uma mãe nasce lindamente quando o filho aprende a falar, balbucia palavras e, aí, um dia junta letrinhas e começa experimentar a leitura. Ah, esse momento é como renascer... e a mãe, entre embasbacada e realizada, precisa aprender, então, a dosar sua ansiedade para que o filho, de fato, comece a ler. E vou confessar, não é fácil! Dá uma pressa, parece, uma vontade louca de que então o filhote descubra os livros, as histórias, um desejo de dizer “meu filho já sabe ler!”

Pressa por que, vão dizer? A gente mesmo aprendeu a ler e escrever com quantos anos? Seis, sete? Mas aí, na escola infantil todo mundo fala da alfabetização moderna, fala que o velho método da cartilha era só defeito, que a “vovó-viu-a-uva” e “o a-e-i-o-u” não estimulava adequadamente. E aí têm todas as mães da pracinha comentando os brinquedos educativos recomendados pela Associação Americana de Pediatria, e têm os teclados alfanuméricos, e têm os apps e os softwares de estimulação precoce... E a gente, que é mãe de primeira viagem sim, mas superantenada e só quer o melhor pra os nossos filhos, diz: é isso, alfabetizar quanto mais cedo, melhor!

Só que, não! Sinceramente, não está comprovado que essa estratégia seja melhor, única ou ideal. Não é uma diretriz definitiva. É só acompanhar atentamente as discussões pedagógicas pra perceber que nada está consumado quando se trata de definir qual é a idade certa pra alfabetizar uma criança. No Brasil, a única coisa que está acertada por lei é que a criança deve entrar no ensino fundamental no ano que completar 6 anos e esse ajuste, que adiantou a idade mínima e incorporou o antigo pré-primário ao ensino fundamental (que por isso passou a ter 9 anos), teve muito mais a ver com a incompetência material do ensino público infantil em alfabetizar do que, de verdade, com uma diretriz pedagógica para alfabetizar antes dos 6 anos.

Na nossa casa foi assim: o João desde pequeno tinha um interesse surreal por letras e livros. Paixão igual carrinhos, massinhas, bola eram as histórias dele e as revistas e jornais que circulam aos montes pela nossa sala. Aos 4 anos juntou sílabas sozinho, lendo uma placa de rua – e nos causou espanto, mais do que alegria. Dali pra juntar letras, escrever o próprio nome foi um pulo. A Bruna, com mais livros e revistas à disposição, já que o acervo familiar incorporou a coleção do irmão também, nunca deu bola pra letrinhas. Na mesma escola, o mesmo método, o mesmo ritmo, demonstrava pra gente que queria ir mais devagar. Os coleguinhas escreviam B – N – N e a professora dizia que ali estava escrito “banana” – explicando que algumas crianças são silábicas com consoantes e outras com vogais. A Bruna desenhava a banana que era uma beleza... Mas acabou o G5, aos 6, alfabetizada: em outras palavras, entrou no ensino fundamental escrevendo seu nome e sabendo ler “vovó viu a uva”.

E na sua casa, o que pensam sobre a questão da alfabetização precoce?

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