segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Melhores universidades do mundo apostam na internacionalização

Redação 24 Horas News



O que faz uma universidade estar entre as melhores do mundo? A Folha analisou dados das dez instituições de ensino superior que lideram o ranking da THE (Times Higher Education) e encontrou alguns pontos em comum.

Além de todas estarem em países de língua inglesa (Estados Unidos e Inglaterra), as dez recebem muito dinheiro para fazer pesquisa (dos governos e da iniciativa privada), apostam na internacionalização de seus alunos e professores e cobram anuidades dos estudantes.

A situação é bem diferente nas duas melhores brasileiras, USP (Universidade de São Paulo, que aparece em 232º lugar no ranking) e Unicamp (Universidade de Campinas, 248º).

No Brasil, a pesquisa engatinha, o número de estudantes estrangeiros é mínimo e os cursos são gratuitos.

Enquanto na Universidade Oxford (7ª do ranking), a verba para pesquisa é a maior rubrica do orçamento (39,9% do total de R$ 2,3 bilhões), na USP ela não está nem sequer especificada.

"Não há dúvidas de que dinheiro para pesquisas é um dos fatores mais importantes para as boas universidades. É com ele que você atrai e paga os melhores profissionais do mundo para desenvolver trabalhos de ponta", diz Phil Baty, responsável pelo ranking da THE, o mais respeitado do mundo.

"E os alunos que vivem nesse ambiente, que participam desses processos, acabam tendo um desempenho futuro muito melhor."

No Instituto de Tecnologia da Califórnia, 77% dos alunos de graduação participaram de pesquisas fora de sala de aula durante o curso.

A universidade, a segunda melhor do mundo, hospeda o Laboratório de Propulsão de Jatos da Nasa.

É a pesquisa também que faz uma universidade como Cambridge (6ª no ranking), na Inglaterra, ter um recorde de 88 prêmios Nobel atribuídos a professores e ex-alunos. Vale lembrar que o Brasil não tem nenhum.

No MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), terceiro no ranking, pesquisa é tão importante quanto aulas. "Praticamente todos os nossos professores estão fazendo pesquisa simultaneamente com o trabalho em aula", diz Jennifer Hirsch, do departamento de comunicação do instituto.

De acordo com Hirsch, a captação de recursos para pesquisa é feita pelos próprios docentes, projeto a projeto _prática comum nos EUA, em que pesa tanto o nome do pesquisador quanto o do instituto.

"Não somos nós [o MIT] que recebemos uma verba "x' e saímos distribuindo. Eles vão atrás."

INTERNACIONALIZAÇÃO

Na questão da internacionalização, o Brasil também tem números acanhados.

No Imperial College (9º no ranking), de Londres, há alunos de 158 países diferentes no campus. Em Harvard, 19% são de fora dos EUA. Em Stanford, 21%. Na Unicamp, o total de estrangeiros não chega a 3%.

"Num mundo cada vez mais globalizado, é essencial o futuro profissional estar em contato com pessoas do mundo todo", diz Baty, o responsável pelo ranking.

Um agravante para o Brasil é que USP e Unicamp não planejam ministrar cursos em inglês, como fazem algumas universidades, especialmente na pós-graduação.

Por enquanto, a USP conta com apenas uma pós totalmente em língua inglesa, em Piracicaba (160 km de SP), realizada em parceria com instituições dos EUA.

Para o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia), as políticas de internacionalização brasileiras ainda são tímidas, o que é reflexo de décadas passadas. "Durante muito tempo, a política científica do país ficou fechada nela mesma", disse.

LÍNGUA E ANUIDADE

E qual a importância da língua inglesa para o sucesso das universidades? Sendo uma língua global, ela ajuda a atrair alunos e também bons professores. Além disso, conta para os rankings o número de citações.

"Isso, sem dúvida, é algo que pesa. É muito mais fácil haver citações de uma pesquisa publicada em inglês que em russo, por exemplo", afirma Baty.

Por fim, há a questão da cobrança de anuidades. Apesar do grande número de bolsas de estudo nas norte-americanas (mais de 50% em algumas delas) e dos empréstimos subsidiados do governo inglês, todas cobram dos universitários, o que ajuda a ampliar os orçamentos.

Na Inglaterra, que oferecia universidade gratuita até 1998, o aumento das anuidades gerou uma guerra entre estudantes e governo.

Há duas semanas foi aprovado um projeto que eleva o valor máximo que pode ser cobrado pelas universidades dos alunos de período integral. Passou de 3.290 libras por ano (R$ 8.900) para 9.000 (R$ 24.300).

Os estudantes têm direito a empréstimo com juros subsidiados pelo governo. O pagamento só começa depois que o aluno se forma e arruma um emprego.

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