Por Cândida Moraes
Profª Esp. Língua Portuguesa
Profª Esp. Língua Portuguesa
Os mestres também são os pais. Suas atitudes se tornam exemplos para os filhos. Pais que mentem, mesmo com “aquelas constantes mentirinhas por uma boa causa”, criam filhos que também mentem. É justificável a mentira “politicamente correta” ou a “piedosa” na educação dos filhos?
Não é tarefa fácil lidar com realidades que se originam de casa. Não vamos muito longe. Dois exemplos simples, digamos que frequentes. O telefone toca ou alguém bate à porta. Pais que não querem ser incomodados, pedem ao filho dizer que “não estão em casa” ou antes de saírem de casa, fazem inúmeras promessas para evitar o choro de seu filho. O que o filho tem como exemplo? A incoerência. Os próprios pais que fomentam discursos sobre a verdade, na prática, se comportam de modo contrário.
Há uma fase em que a criança relata fatos fantasiosos quando nada aconteceu. Consequência disto é que ela ainda não consegue dissociar fantasia e realidade. Muitas vezes os pais compreendem o feito como mentira. É importante entender que há fantasia e não mentira, mas sem deixar de apontar para o seu filho o que é realidade.
Quando a criança entende que pode escapar de um problema usando a mentira como forma mais prática de solucioná-lo, pelo menos temporariamente, o faz sabendo que não deveria fazer mas sustenta a mentira até onde consegue. Interpelação como: “Você rabiscou o documento?” Por medo ela manterá a mentira. Não perguntem se a criança rabiscou seu documento, sabendo que é dela a grafia. É mais sábio afirmar quando se tem certeza: “Você rabiscou o documento!”
Tomar providência, evitar a possibilidade de mentir, ensinar a criança refletir sobre o que fez e deixar bem claro que a mentira induz o erro constituem uma postura sábia. Evitem corrigir a criança publicamente, não expressem autoridade com agressividade. Nada de excessiva crítica, porque esse tipo de atitude obstrui a infância e destrói sonhos e esperanças. Coloquem limites, expliquem o porquê e cumpram com a palavra.
Muitas vezes pode ser doloroso para a criança aceitar, ou melhor, lidar com os “nãos”, porque é mais fácil para ela tentar manipular, usando a mentira com intuito de satisfazer suas vontades. Os pais devem entender que a criança pode tentar mentir, omitir, fingir, enganar, até encenar vitimadamente com choramingo para conseguir o que deseja ou convencer. É nesse momento que os pais devem intervir, ensinar o que é correto, o que é bom e o que não faz bem. São eles que precisam orientar e ensinar princípios, regras que dirigem sua conduta, para que a mentira não se torne consciente, estrategicamente pensada. Mentiras não corrigidas podem comprometer a conduta e atingir a formação de caráter da criança.
De casa para a escola, da escola para casa... A mentira também circula no ambiente escolar. Não é raro o professor que se depara com um aluno que mente. A mentira pode ir de um resfriado inventado para justificar uma tarefa não realizada a uma Ferrari que os pais não possuem na garagem de casa. Escola e família devem evitar fugir à responsabilidade de corrigir inverdades de nossos filhos/alunos, para que não se torne mais difícil e complicado termos valores perdidos em relação à educação que receberam ou que se transformem em mentirosos compulsivos, que colocam em risco a integridade dos outros. Ao hábito de mentir se alia a frieza, o desrespeito e a agressividade.
Afinal, é fato que nós não nascemos sabendo o que é certo ou errado, o que nos faz bem ou mal, mas aprendemos com nossos pais. E pais que mentem são exemplos de que o filho também pode ter a mesma conduta. Pais que cuidam de que o exemplo seja positivo sem mentir nem encobrir a verdade, usam do desvelamento, assumem o que fazem e dizem, ensinam e educam filhos responsáveis, sabedores de que é preciso ter coragem e autoconfiança para fazer a opção pela verdade e pela ética.
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