sexta-feira, 21 de março de 2014

Bullying. Não sofra. Fale.


Por Cândida Moraes
Profª Esp. Língua Portuguesa

O bullying é um tema que ultimamente vem sendo bem discutido com intuito de disseminar informações sobre o fenômeno e inibir ações de violência de forma direta ou indireta. Campanhas lançadas pela mídia deixam bem claro que o objetivo é alertar toda a sociedade para o grave problema que é essa violência entre pares.

Estudos mais aprofundados sobre o fenômeno têm sido desenvolvidos por especialistas, psicólogos, pedagogos voltados para a educação orientando que é um problema sério e que não deve ser tratado como brincadeira despretensiosa, mas caso de violência que estimula a delinquência, onde o espaço é ocupado por vítimas, agressores, culpados e inocentes. O fato não se restringe somente às escolas, mas às outras instâncias da sociedade.  Fora da escola, na rua, no trabalho, nos centros comerciais, enfim.

Quando nos referimos à violência nas escolas, logo pensamos em agressões a professores ou vandalismo. Esquecemos que as escolas têm experimentado uma violência mais cruel, silenciosa, por vezes ignorada por pais e professores.

O que antes era um conjunto de atitudes remediado pelo  “Não dê importância! Ignore. Logo eles se cansam!”  hoje recebe o nome  “bullying”. Uma prática perversa de exclusão, perseguição e humilhação. Violência  implícita que se amplifica nos apelidos inconvenientes usados para as pessoas conforme suas particularidades físicas, nas gozações que constrangem, na imposição física para obter vantagens, nas atitudes racistas e até mesmo homofóbicas.

O perfil de quem é agredido pode ser entendido por fugir, segundo seus agressores, dos padrões comuns à turma – o mais inteligente, o filhinho de papai, o mais pobre, o gordinho, o mais magrinho, o que usa óculos ou a cor da pele.  As velhas brincadeiras compreendidas somente como “sem graças”, na verdade afetam emocionalmente e podem deixar marcas profundas naquele que não consegue reagir, porque não é capaz de demonstrar seu sofrimento por conta de sua timidez.

O isolamento intencional é um dos primeiros sinais de quem sofre com bullying. A situação se agrava mais quando, para a vítima, a escola torna-se um ambiente angustiante, repentinamente as dificuldades surgem no aprendizado apontando para o baixo rendimento escolar, as ausências se tornam constantes e ainda há insistência para mudar de escola. Os sintomas se manifestam sob a forma de estado depressivo, sentimento de vingança, baixa autoestima, ansiedade, sentimentos negativos, problemas interpessoais, evasão escolar, déficits de atenção e concentração, stress, ideações suicidas, alterações do humor. Em razão disso, são vítimas que não se sentem amparadas, são inseguras porque também sentem dificuldades em ser aceitas pelo grupo.

Por outro lado, os agressores se definem bem.  São os líderes da turma, os mais fortes, os mais populares, os que não respeitam as diferenças e proliferam um repertório de gozações, humilhando os colegas mais frágeis. Os agressores são agentes que devem ser identificados, encaminhados a tratamento profissional, para que futuramente não se tornem adultos violentos com forte tendência para atitudes criminosas. A família deve estar atenta a esse tipo de comportamento.

Segundo especialistas, há dois caminhos para que o trabalho preventivo se efetive.

O primeiro caminho é pela educação; o segundo é impor limites através do diálogo e, principalmente, do exemplo. Importa dizer que limites nunca fez mal a alguém. Impor limites é educar. Não impô-los é investir no desrespeito às diferenças, é ser conivente, é contribuir para que ações violentas se disseminem até a delinquência, ao limiar da criminalidade.

É de máxima urgência o trabalho preventivo nas escolas e a esperança nesse instante é que não caminhem solitárias no processo de investimento e esforço permanente contra a prática do bullying no âmbito escolar. É fundamental a participação efetiva da família, o amparo da comunidade jurídica e o apoio de equipes de atendimento. O envolvimento dos pais, alunos e escola em busca de inibir as práticas de violência é indispensável no desenvolvimento de estratégias no combate a agressões veladas.

Não é demais reforçar a afirmação anterior de que o problema é muito sério e não surgiu recentemente na escola do bairro, nas escolas das cidades, nas escolas do nosso país. Bullying é um problema mundial e vai mais longe. Não se resolve da noite para o dia. Nenhuma escola está livre do bullying. E mais. Adultos não são testemunhas. Alunos sim.

Aos pais, fica a orientação de que sejam sempre abertos a ouvir, a conversar com seus filhos e a orientá-los sobre esse tipo de situação, deixando bem claro que não é normal a prática do bullying. Ainda devem se atentar às bruscas mudanças de comportamento de seus filhos no ambiente doméstico. Os filhos sentem-se mais confiantes quando percebem que o primeiro passo pode ser dado com a denúncia sem pressões, medo, julgamentos ou críticas.

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